Os gráficos que mostram os paradoxos da expectativaaposta jogovida no Brasil:aposta jogo

Crédito, Getty Images
A expectativaaposta jogovida ao nascer estima quanto um bebê deve viver se as condiçõesaposta jogoum determinado lugar continuarem as mesmas
Em suma, a expectativaaposta jogovida é indicador que avalia quantos anos um indivíduo que acabaaposta jogonascer deve viver se as condições econômicas, sociais, políticas eaposta jogosaúde público permanecerem as mesmas daliaposta jogodiante.
Ou seja: espera-se que um brasileiro que veio ao mundo no diaaposta jogohoje, dianteaposta jogotodos os fatores atuais, viva 74 anos,aposta jogomédia.
Esse limite pode subir ou cair, a dependeraposta jogocomo a realidade e as políticas públicas mudem — para melhor ou para pior.
A seguir, você confere quatro gráficos compilados pela BBC News Brasil a partiraposta jogodados do Banco Mundial e da Organização das Nações Unidas (ONU). Eles revelam algumas das principais contradições da expectativaaposta jogovida no paísaposta jogocomparação com aaposta jogooutros locais com similaridades econômicas e geográficas.
Top 10 economias
Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Índia, Reino Unido, França, Itália, Brasil e Canadá formam hoje o grupo das dez maiores economias do mundo.
Quando o assunto é expectativaaposta jogovida, há assimetrias gritantes entre essas nações.
Segundo as estatísticas da ONU e do Banco Mundial, espera-se que um japonês vivaaposta jogomédia 84,6 anos e um italiano chegue aos 82,3. Já um brasileiro alcança ao redoraposta jogo74 e um indiano os 70,1.
Falamos, portanto,aposta jogodiferenças que superam uma décadaaposta jogovidaaposta jogoacordo com a nação onde um indivíduo nasce.
A figura se inverte quando analisamos a mudança relativa na expectativaaposta jogovida — ou quanto esses números subiram entre 1960 e 2020.
Nas nações historicamente mais ricas (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Alemanha, França e Itália), esse crescimento fica abaixo dos 20%. A única exceção é o Japão, que ampliou o índiceaposta jogo25% nas últimas seis décadas.
Já nos três países emergentes, essa aceleração é bem mais rápida: no Brasil, a expectativaaposta jogovida cresceu 40% nesse meio tempo. A porcentagem é ainda maior na Índia (55%) e na China (134%).
Para ter ideia, um chinês vivia 33,2 anosaposta jogo1960. Em 2020, essa média estavaaposta jogo78 anos.

A demógrafa brasileira Márcia Castro, professora da Escolaaposta jogoSaúde Pública da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, explica que essas subidas aceleradasaposta jogoBrasil, Índia e China podem ser explicadas pelo impacto que algumas medidas têmaposta jogoregiões menos desenvolvidas.
"Falamosaposta jogopaísesaposta jogoque a carga das doenças infecciosas e da mortalidade infantil era muito alta, o que impactava na expectativaaposta jogovida", contextualiza.
"Portanto, quando você cria políticasaposta jogoredução da mortalidade infantil,aposta jogovacinação,aposta jogosaneamento eaposta jogoatenção básicaaposta jogosaúde, o efeito é amplo e as pessoas acabam vivendo mais anos", ensina.
E isso, poraposta jogovez, faz a média da expectativaaposta jogovida da nação subir.
Nos países mais ricos — Reino Unido, França, Itália, Japão… — problemas como as doenças infecciosas e a alta frequênciasaposta jogoóbitos precocesaposta jogocrianças já foram superados há tempos, bem antes dos anos 1960.
O principal desafio deles, então, é lidar com os ajustes finos das doenças crônicas não transmissíveis, que são típicas do envelhecimento e do estiloaposta jogovida moderno, como a obesidade, o câncer, a hipertensão e o diabetes.
E, mesmo se eles tiverem programasaposta jogodiagnóstico e tratamento muito eficazes para essas enfermidades, o efeito dessa melhora no tempoaposta jogovida dos cidadãos será naturalmente mais tímido.
"Afinal, há um limiteaposta jogoquanto tempo o ser humano consegue viver. Com isso, os países que já têm expectativasaposta jogovida maiores tendem a crescer menos na médiaaposta jogoanos recentes", complementa a médica e epidemiologista Ligia Kerr, vice-presidente da Associação Brasileiraaposta jogoSaúde Coletiva (Abrasco).

América do Sul
Ao longo das seis últimas décadas, Chile, Uruguai e Argentina mantiveram a dianteira da América do Sul quando o assunto é expectativaaposta jogovida.
Apesaraposta jogoser a maior economia da região, o Brasil sempre esteve nas últimas posições desse ranking, ao ladoaposta jogoBolívia e Peru.
Para ter ideia, um argentino vivia uma médiaaposta jogo63,9 anosaposta jogo1960, enquanto o brasileiro só chegava até os 52,6 — uma diferençaaposta jogo11 anos.
A situação começou a mudaraposta jogofigura a partir dos anos 1990, quando essa disparidadeaposta jogorelação a alguns vizinhos sul-americanos começou a ficar cada vez menor.
Enquanto a expectativaaposta jogovida do Brasil subiu 5,3% na décadaaposta jogo1990, essa taxa se elevouaposta jogo2,7% na Argentina e 2,2% no Uruguai.
Mesmo assim, esses países ainda têm índices superiores: hojeaposta jogodia, espera-se que um argentino viva por 75,8 anos, enquanto um brasileiro chegue aos 74.

Mas o que explica essa retomadaaposta jogonosso país nas últimas três décadas?
"Os anos 1990 marcam a estabilização da economia, a criaçãoaposta jogoprogramas direcionados à população mais vulnerável e a implementaçãoaposta jogoum sistemaaposta jogosaúde público e universal", lista Castro.
"O Sistema Únicoaposta jogoSaúde (SUS) foi, e continua a ser, um dos maiores mecanismosaposta jogoreduçãoaposta jogodesigualdade, acesso à saúde e diminuição da mortalidade já criados no Brasil", diz ela.
A professoraaposta jogodemografia aponta que vários trabalhos científicos mostram exatamente isso: a construçãoaposta jogouma redeaposta jogosaúde pública espalhada pelo país permitiu melhorar vários dos indicadores populacionais, como a própria expectativaaposta jogovida.
O SUS se encaixa, portanto, numa daquelas intervenções universais que produzem um impacto gigantesco, como explicado no tópico anterior.
"Antes do SUS, muitas pessoas dependiam quase exclusivamente da caridade das Santas Casasaposta jogoMisericórdia", reforça Kerr, que também é professora da Universidade Federal do Ceará.
A epidemiologista também chama a atenção para as políticasaposta jogotransferênciaaposta jogorenda nesse contexto.
"Uma das coisas que mais impacta a qualidade e a expectativaaposta jogovida é a desigualdade", pontua.
"Temos inúmeros estudos mostrando como programas no estilo Bolsa Família são capazesaposta jogoreverter situaçõesaposta jogopobreza e ameaças à saúde", complementa.
Mas isso, claro, não quer dizer que todos os problemas do país estejam resolvidos e tenhamos atingido um teto na expectativaaposta jogovida.
"Ainda temos os chamados bolsõesaposta jogoinequidade, que muitas vezes ficam mascarados numa grande média nacional", conta Castro.
"Há municípios e regiões inteiras do Brasil com altos índicesaposta jogomortalidade infantil ou doenças infecciosas que necessitamaposta jogopolíticas públicas voltadas aos mais vulneráveis", completa.
Agir nesses locais específicos, portanto, é um dos caminhos para ampliar ainda mais a expectativaaposta jogovida do brasileiro — e se aproximar ou até superar o que é observado entre os vizinhos sul-americanos.

Crédito, Getty Images
Mudanças nas políticas públicas têm influência direta na expectativaaposta jogovidaaposta jogoum povo
Brics
Quando analisamos especificamente os Brics — o bloco composto pelas economias emergentesaposta jogoBrasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — é possível ver como as curvas aposta jogoexpectativaaposta jogovida podem melhorar ou piorar com o passar do tempo.
Neste grupoaposta jogonações, o Brasil é a que mantém uma trajetória ascendente, sem grandes subidas ou descidas.
Mas repare bem o que acontece com os demais, especialmente com China e Rússia.
Enquanto os chineses têm um saltoaposta jogo134% na expectativaaposta jogovidaaposta jogoseis décadas, os russos chegam a ter um decréscimoaposta jogo4,2% neste indicador ao longo dos anos 1990.
Isso faz com que a expectativaaposta jogovida da Rússia tenha uma janelaaposta jogomenosaposta jogoquatro anos entre o que foi registradoaposta jogo1960 (67,4 anos) e 2020 (71,3).
Nos demais integrantes do Brics, essa diferença é bem maior: aconteceram "pulos"aposta jogo12 anos na África do Sul,aposta jogo21 no Brasil,aposta jogo24 na Índia eaposta jogo44 na China.

Segundo as especialistas ouvidas pela BBC News Brasil, esse fenômeno reflete todo o turbilhão político pelo qual este país passou no período, com o fim da União Soviética.
"Os eventosaposta jogosaúde estão diretamente relacionados com a situação socialaposta jogoque as pessoas vivem", contextualiza Kerr.
"O fim da União Soviética representou a perdaaposta jogoempregos,aposta jogodireitos eaposta jogotoda uma organização social que eventualmente impactaram a expectativaaposta jogovida dos russos", complementa a médica.
Castro concorda: "O colapsoaposta jogotodo um sistema político e econômico gerou rupturasaposta jogovárias dimensões, que afetaram inclusive a saúde e o bem-estar das pessoas e causaram um choqueaposta jogomortalidade."
Esse tal choqueaposta jogomortalidade, inclusive, também pode ser visto mais recentementeaposta jogoescala global, com a pandemiaaposta jogocovid-19.
Em todos os gráficos, é possível ver que vários países apresentaram uma queda na expectativaaposta jogovidaaposta jogo2020, primeiro anoaposta jogoespalhamento do coronavírus mundo afora.
A tendência é que essa trajetóriaaposta jogodescenso apareça tambémaposta jogo2021 e 2022, mas os dados ainda estão sendo compilados por Banco Mundial e ONU.
Segundo pesquisas publicadas por Castro, a covid-19 reduziu a expectativaaposta jogovida do brasileiroaposta jogoquase dois anos e interrompeu aquela trajetória da curva nacional, que se manteve ascendente por quase seis décadas.
"Mas é preciso destacar a cargaaposta jogodesigualdade, pois o choqueaposta jogomortalidade foi diferenteaposta jogoacordo com o Estado ou o sexo", resume.
"E essa foi uma mudança muito dramática e inesperada", conclui a professora.







