Naufrágio na Grécia foi tratado 'como sendo desprovidoo pixbetprotagonistas e heróis', diz professora:o pixbet

Barco com cercao pixbet700 imigrantes anteso pixbetnaufragar, no dia 14

Crédito, Guarda Costeira da Grécia

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Barco com cercao pixbet700 imigrantes anteso pixbetnaufragar, no dia 14; há críticaso pixbetque cobertura e interesse foram inferiores à tragédia com Titan

Agora, a diferença na cobertura midiática e o interesse global mobilizados pelas duas tragédias marítimas têm sido alvoo pixbetdiscussões, tanto entre especialistas quanto nas redes sociais - com críticas à atuação da imprensa e ao destaque desigual dado Titano pixbetcomparação ao drama dos imigrantes que se arriscam no mar.

Priyamvada Gopal, professorao pixbetestudos pós-coloniais da Faculdadeo pixbetInglês da Universidadeo pixbetCambridge, é uma dessas críticas, argumentando que certas vidas individuais têm ganhado destaque enquanto outras são “relegadas às margens da história humana”.

“Acho que a imprensa certamente temo pixbetdar um passo atrás e se questionar a respeitoo pixbetquais histórias deseja contar e o que trata como sendo ou nãoo pixbetinteresse”, diz.

‘Anônimos sem rosto’ x ‘protagonistas heróicos’

Flores no portoo pixbetNewfoundland,o pixbetonde havia partido o Titan

Crédito, PA Media

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Flores no portoo pixbetNewfoundland,o pixbetonde havia partido o Titan; história dos tripulantes do submersível foi amplamente contada

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Sobo pixbetperspectivao pixbetestudiosao pixbetcrítica literária, Gopal acha que alguns elementos-chave contribuíram para consolidar o que chamao pixbet“anonimato sem rosto” dos refugiados no Mediterrâneo, contra o “protagonismo” concedido aos cinco tripulantes do Titan.

“Pensando a respeitoo pixbetquais histórias nos interessam e por quê, e nas histórias que nos são entregues pela mídia, acho que a grande diferença entre os dois casos é que um deles (o dos migrantes) foi tratado essencialmente como sendo desprovidoo pixbetum protagonista, desprovidoo pixbetheróis”, diz Gopal à BBC News Brasil.

“Então só temos uma espécieo pixbetnúmero vago - centenas, talvez 600 ou 800 -o pixbetpessoas que estavam a bordo desse navio que afundou e elas morreram. E vimos muito pouco interesseo pixbetquem essas pessoas eram como indivíduos. Vimos pouco interesse ou evocaçãoo pixbetsuas famílias a respeito do seu luto e do que aconteceu.”

Em contrapartida, argumenta ela, “nas notícias a respeito do Titan, houve um grande interesse a respeitoo pixbetquem seus passageiros - agora lamentavelmente mortos - eram como indivíduos, como pessoas com um rosto, um nome, uma história, com interesses e paixões. Em apenas 24 horas, fomos alimentados com muitas informações sobre eles.”

Ela conclui:

“Os que morreram no Mediterrâneo na semana passada também são indivíduos, com interesses e históriaso pixbetvida provavelmente muito interessantes, que simplesmente não ficaram disponíveis para nós. Como crítica literária, me interesso a respeitoo pixbetcomo nossas histórias são construídas e quem decidimos tratar como indivíduos e quem simplesmente se torna parteo pixbetuma massa anônima”.

Suspense e 'reality show'

Mas será que a diferençao pixbetatenção às duas tragédias não se deve ao elemento do suspense da história do submersível Titan?

O mesmo, aliás, aconteceu com duas enormes operaçõeso pixbetbusca que se desenrolaram praticamenteo pixbettempo real: o desastre dos mineiros chilenos,o pixbet2010, e a história dos meninos presoso pixbetuma caverna na Tailândia,o pixbet2018.

Lembrando que, agora, se tratavao pixbetuma expedição ao naufrágio mais famoso da história, o do Titanic - e que o público pôde acompanharo pixbetdetalhes a corrida contra o tempo para tentar resgatar a tripulação do Titan antes que seu estoqueo pixbetoxigênio chegasse ao fim.

“Obviamente que esse é, sim, o caso - eu também me vi clicandoo pixbet‘refresh’ (nas notícias do caso) para saber o que estava acontecendo. Nós estamos muito acostumados a reality shows e a testemunhar coisaso pixbettempo real. Então há esse elementoo pixbetsuspense, esse ‘o que será que vai acontecer?’ no estilo Hollywood. Mas isso também é fabricado”, defende Gopal.

Ela argumenta que o navio naufragado no Mediterrâneo também havia passado várias horas no mar sob escrutínio das autoridades, assim como acontece com outros barcos semelhantes levando migrantes - mas, nao pixbetvisão, “são histórias das quais não escutamos” as individualidades.

“O que teria acontecido se a cobertura aérea do navio no Mediterrâneo tivesse sido feita ao vivo? Não sabemos exatamente qual foi a conversa entre os passageiros e a Guarda Costeira (grega), que afirmou que o barco não queria ser ajudado e que rumava para a Itália. O que teria acontecido se tudo isso - o suspense e a fascinação - tivesse sido mobilizado para as 700 pessoas naquele navio? (...) Também é interessante (a diferença) entre quando nos decidimos tornar testemunhas e quando decidimos virar nossas costas.”

No caso da tragédia com o barcoo pixbetrefugiados, uma investigação do BBC Verify colocouo pixbetxeque o relato oficial da Guarda Costeira grega, que alegou que o barco recusou ajuda e não estavao pixbetperigo até pouco anteso pixbetafundar.

Uma análise da BBC sobre a movimentaçãoo pixbetbarcos na área da tragédia indica que o pesqueiro superlotado ficou ao menos sete horas sem se mover anteso pixbetter afundado.

A Guarda Costeira, porém, sustenta que durante esse período o barco estava a caminho da Itália e sem precisaro pixbetresgate.

'Vida das pessoas ricas'

Protesto dianteo pixbetembaixada gregao pixbetIstambul, contra tragédia na costa

Crédito, EPA

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Protesto dianteo pixbetembaixada gregao pixbetIstambul, contra tragédia na costa

A BBC Urdu, serviço paquistanês da BBC, tem feito uma cobertura extensa do ocorrido, uma vez que a maioria das vítimas era do Paquistão. O país declarou luto nacional pela tragédia.

Para Farah Zia, diretora da Comissãoo pixbetDireitos Humanos do Paquistão, é natural que a notícia do submersível tenha recebido tanta atenção global, se tratandoo pixbetum grupoo pixbettripulantes financeiramente influente - entre eles havia bilionários e exploradores marítimos.

“Ao redor do mundo, quando uma tragédia acontece com pessoas ricas, isso ganha muita importância, porque as pessoas se interessam pelas vidas delas e é natural que a imprensa cubra isso”, disse ela à BBC Urdu, agregando que a tragédia deveria serviro pixbetoportunidade para "vozes mais diversas" serem incluídas nas coberturas.

Ao mesmo tempo, o comentarista paquistanês Zarrar Khuhro destacou as manifestaçõeso pixbetrua registradaso pixbetAtenas depois da tragédia,o pixbetprotesto contra a atuação da Guarda Costeira. Outras cidades também registraram protestos dianteo pixbetembaixadas gregas.

“Talvez pela primeira vez, vemos uma demonstração grande puramente para condenar a perdao pixbetvidaso pixbetmigrantes”, disse Khuhro ao serviço Urdu. “Depoiso pixbetuma tragédia, simultaneamente vemos o melhor e o pior que a humanidade tem a oferecer.”

A comissáriao pixbetDireitos Humanos do Conselho Europeu - principal órgãoo pixbetdireitos humanos do continente -, Dunja Mijatovic, poro pixbetvez, se disse “chocada pelo nível alarmanteo pixbettolerância a graves violaçõeso pixbetdireitos humanos contra refugiados e migrantes pela Europa”.

O naufrágio do Mediterrâneo, ela agregou, “é mais um lembreteo pixbetque, apesaro pixbetmuitas advertências, as vidas das pessoas no mar continuam sob risco diante da capacidade insuficienteo pixbetresgate e coordenação, da faltao pixbetrotas seguras e legais,o pixbetsolidariedade e da criminalizaçãoo pixbetONGs que tentam oferecer assistência”.

'Noções pré-concebidas'

Paquistanês Waheed mostra a foto do irmão Mohammad Imran, que está entre os desaparecidos do barco que naufragou perto da costa grega

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Maioria das vítimas da tragédia na costa grega ficaram no anonimato, diz acadêmica; acima, paquistanês Waheed mostra a foto do irmão Mohammad Imran, que está entre os desaparecidos do barco que naufragou perto da costa grega

Nessa linha, Gopal,o pixbetCambridge, acha que as histórias dos imigrantes que tentam a sorte no Mediterrâneo são encaixadaso pixbetnarrativas pré-concebidas, que também limitam o interesse por histórias individuais.

“Achamos que já conhecemos seus relatos: ‘bem, são pessoas desesperadas ou imigrantes econômicos gananciosos’, que é uma das histórias que os governos nos dizem, pelo menos aqui no Reino Unido”, diz.

“Então achamos que não há nadao pixbetinteressante nisso e os encaixamoso pixbetembalagenso pixbethistórias já conhecidas,o pixbetvezo pixbethistórias únicas. Mas cada um daqueles 700 passageiros tinha uma história e um contexto próprio. (...) E, mais uma vez, voltamos à questãoo pixbeto que decidimos tornar parteo pixbetuma história sem rosto ouo pixbetuma história que mereça ser contada. Me pergunto, se tivéssemos uma cobertura parecida à do Titan, se haveria uma mudança no discurso público relacionado a imigrantes - e que talvez não haja um investimentoo pixbetmudar o discurso público relacionado aos migrantes.”

Um exemplo que fugiu dessa norma, destaca Gopal, foi o caso do menino sírio Alan Kurdi,o pixbet2 anos, encontrado sem vidao pixbetuma praia turcao pixbet2015, depoiso pixbetsua família tentar escapar da guerra na Síria.

“Esse caso se destaca justamente porque foi a exceção - quanto se tratao pixbetmigrantes, ele é literalmente o único que tem nome. É a exceção que prova a regra. Acho que se deve à forte imagemo pixbetcomo ele foi encontrado e à crençao pixbetque crianças não deveriam morrer assim. Porém, para a maioria dos imigrantes mortos no mar, tratamos isso como normal, cotidiano, e não merecedor da nossa atenção.”