'Como foto da minha bebê que nasceu morta me ajudou a enfrentar o luto':probabilidade dos jogos de hoje

Crédito, Getty Images
No Reino Unido, é comum hospitais oferecerem fotos às mães que perdem bebê ao nascer. Registros são importantes para o processoprobabilidade dos jogos de hojeluto, dizem psicólogos
- Author, Nathalia Passarinho
- Role, Da BBC News Brasilprobabilidade dos jogos de hojeLondres
- Twitter,
Alerta: Essa reportagem contem depoimentos e imagens que podem sensibilizar ou entristecer.
Sara Tonkin e o marido passaram dez anos tentando engravidar até que decidiram fazer fertilização in vitro. Dos quatro embriões viáveis, um deles foi implantado. A expectativa era grande para saber se tinha dado certo, se Sara estava grávida.
Quando o testeprobabilidade dos jogos de hojefarmácia deu positivo, a alegria foi enorme. "Eu ia ao banheiro a toda hora fazer exameprobabilidade dos jogos de hojenovo, mesmo sabendo que estava grávida, que tinha dado certo. Foi uma felicidade imensa."
Sara é brasileira e moraprobabilidade dos jogos de hojeLondres com o marido inglês. Ela conta que a gestação foi tranquila, sem intercorrências.
“Eu era saudável, fazia exercícios, não tive problema nenhum. A nossa bebê estava muito saudável e nos preparamos para um parto normal.”
Quando estava com 40 semanasprobabilidade dos jogos de hojegravidez, o hospital marcou uma indução.
“A indução foi marcada para quando eu estava com 41 semanas e meia. Fui ao hospital num sábado à tarde e a médica me disse que eu não precisava fazer a indução e que eu poderia ir para casa e esperar até segunda pelas contrações, porque estava tudo bem.”
Sara foi para casa e as contrações começaram. Ela ligou para o hospital, que a orientou a esperar até que o intervalo entre as contrações fosseprobabilidade dos jogos de hojetrês minutos para voltar. “Tomei banho e esperei, até que estava sentindo muita dor e fui ao hospital. Era domingo.”
Depoisprobabilidade dos jogos de hojechegar, ficou um tempo na salaprobabilidade dos jogos de hojeespera até ser atendida por uma enfermeira, que trouxe um aparelho para ouvir os batimentos do bebê. “Não conseguiam achar os batimentos. Até que trouxeram uma pequena máquinaprobabilidade dos jogos de hojeultrassom. Mais uma vez, nadaprobabilidade dos jogos de hojebatimentos.”
Foi então que Sara ouviu da enfermeira a notícia mais temida por uma mulher prestes a dar à luz. “Ela disse: 'mãe, me desculpa, mas o batimento não está aqui.'”

Crédito, ONG Remember my baby
TT, a bebêprobabilidade dos jogos de hojeSara, nasceu sem vida
Uma autópsia depois revelaria que havia mecônio no corpo da bebê - as fezes do feto que, se eliminadas no líquido aminiótico antes do nascimento, podem ser perigosas tanto para a mãe quanto para a criança.
A filhaprobabilidade dos jogos de hojeSara possivelmente havia morrido por asfixia, pelo contato com o fluído com mecônio.
Sara conta que, a partir dali, viveu o momento mais traumáticoprobabilidade dos jogos de hojesua vida. A dor física das contrações se misturavam ao desesperoprobabilidade dos jogos de hojeter perdido a filha. Ela já estava com dez centímetrosprobabilidade dos jogos de hojedilatação e foi encaminhada para concluir o parto normal.
“Ali eu já comecei a gritar, porque já estava com bastante dor e ao mesmo tempo a emoçãoprobabilidade dos jogos de hojeouvir que eu tinha perdido a minha filha, minha filha que eu tanto quis.”
A foto
Quando a bebê finalmente nasceu, perguntaram se ela queria ver e segurar o corpinho. Mas, no momentoprobabilidade dos jogos de hojechoque e dor, Sara disse que não.
“Foi muita emoção. Era demais. Na minha cabeça, eu só queria sair daquele hospital.”
Também perguntaram se ela queria uma foto e lembranças da filha, como fiosprobabilidade dos jogos de hojecabelo e a digital dos pezinhos.
“No choque, eu recusei tudo. Na horaprobabilidade dos jogos de hojeir embora, eu pedi para ver a minha filha. E, quando eu segurei ela, eu desmoronei. Eu me agarrei a ela e chorei. Mas aí eu já estava indo embora e meu marido tentou me levar”, contou Sara.
“Eu não passei muito tempo com ela e eu me arrependo muito disso, mas eu estavaprobabilidade dos jogos de hojechoque.”
Alguns dias depoisprobabilidade dos jogos de hojechegarprobabilidade dos jogos de hojecasa, Sara foi visitada por uma enfermeira especializadaprobabilidade dos jogos de hojeluto, um serviço oferecido pelo NHS, o serviço públicoprobabilidade dos jogos de hojesaúde britânico.
No Reino Unido, a práticaprobabilidade dos jogos de hojetirar fotosprobabilidade dos jogos de hojebebês que nascem mortos para oferecer às mães virou orientação oficialprobabilidade dos jogos de hojevários hospitais públicos.
Enfermeiras são treinadas para fazer o registro ou trabalhamprobabilidade dos jogos de hojecontato com ONGs que oferecem fotografias profissionais.

Crédito, ONG Remember my baby
No hospital, ofereceram a Sara uma caixinha com fotos e lembranças da bebê, como marca do pezinho e pedaço do cabelo
“Ela me explicou sobre uma ONG chamada Remember my Baby que tirava as fotos gratuitamente e enviava. E disse: 'Sara, eu vou estar lá e vou garantir que eles vão cuidar bem daprobabilidade dos jogos de hojefilha e que ela vai usar a roupinha que você escolheu.'”
A empatia da enfermeira emocionou Sara e ela concordouprobabilidade dos jogos de hojetirar as fotos eprobabilidade dos jogos de hojepedir a caixinhaprobabilidade dos jogos de hojememórias que o hospital havia oferecido.
A bebê permanecia no hospital porque faria uma autópsia e o funeral ocorreu algumas semanas depois.
“Eu decidi ir ao hospital no dia das fotos. Tomei coragem e fui. A sessãoprobabilidade dos jogos de hojefotos já tinha terminado, mas eu pude segurar a TT (apelido dado por Sara à filha, que depois foi registrado como nome) mais uma vez e repararprobabilidade dos jogos de hojedetalhes que eu não tinha visto antes, as mãozinhas, o cabelo. Ela realmente era linda.”

Crédito, Arquivo pessoal
Sara pôde segurar aprobabilidade dos jogos de hojefilha e tirar uma foto com ela antesprobabilidade dos jogos de hojese despedir.
‘É tudo o que tenho dela’
Dias depois, as fotos da bebê, que durante a gestação era chamada pelo casalprobabilidade dos jogos de hojeTT ou Tiny Tonkin (pequena Tonkin), chegaram à casaprobabilidade dos jogos de hojeSara. Ela conta que foi um momentoprobabilidade dos jogos de hojemuita emoção para ela e o marido.
“Eu sou muito grata por essas fotos terem sido tiradas. Foi muito importante para meu processoprobabilidade dos jogos de hojeluto. As fotos são tudo o que eu tenho dela.”
Sara passou a integrar gruposprobabilidade dos jogos de hojeapoio para mães que tiveram bebês natimortos e explica que falar sobre o tema, ter as fotos, reconhecer a existência e a perdaprobabilidade dos jogos de hojeTT, foram etapas importantes para processar o luto.
“Eu quero falar sobre a TT, quero mostrar a foto dela. Quando estou num momento difícil ou com muita saudade, eu abro, vejo as fotos, mostro.”
Sara conta que montou um cantinho na casa com as fotos da bebê. Um ano depois ela teve outra filha, que hoje está com três anos, eprobabilidade dos jogos de hoje2022, teve outra bebê, hoje com sete meses.
“Eu mostrei para a minha filha mais velha e expliquei: essa é a TT,probabilidade dos jogos de hojeirmã mais velha, que faleceu”, conta Sara.
“Um dia eu estava triste e a Luna (filhaprobabilidade dos jogos de hoje3 anos) me perguntou o que eu tinha. Eu disse: ‘Estou com muita saudade da TT’. Ela pegou as fotos, levou até mim, apontou para a imagem e disse: ‘não fica triste mamãe, a TT está aqui.’”

Crédito, ONG Remember my baby
“Eu quero falar sobre a TT, quero mostrar a foto dela. Quando estou num momento difícil ou com muita saudade, eu abro, vejo as fotos, mostro.”
A importância das fotos no luto
A psicóloga Daniela Bittar, especializadaprobabilidade dos jogos de hojeluto materno, explica que o contato da mãe com o bebê e o acesso a fotos dele, são importantes para processar a perda.
Ela explica que, no Brasil, muitas pessoas e até médicos obstetras acham, por desconhecimento, que o melhor para amenizar a dorprobabilidade dos jogos de hojeuma mãe que perde o bebê ao nascer é limitar o contato dela com o filho que partiu.
“Muitas vezes recomendam que a mãe não veja o corpinho do bebê, fazem cesárea e dizem coisas como: você vai superar, já, já vem outro filho. Não pensa nisso.”
No choque, muitas mulheres não querem ver o corpo do neném ou seguem o conselho dos médicos,probabilidade dos jogos de hojenão segurarem o bebê. Mas, depois, essa ausênciaprobabilidade dos jogos de hojedespedida dificulta o processoprobabilidade dos jogos de hojeelaboração do luto, diz a psicóloga.
“A grande maioria das mulheres que não tiveram contato com o filho se arrepende. Muitas entram num luto traumático, ficando estagnadas num loop, pensandoprobabilidade dos jogos de hojecomo era o rosto do bebê, querendo ‘desenterrar a criança’, pensando no que poderia ter dito para ela”, explica.
As fotos ajudam a mulher que, no choque da perda não quis ver o filho, a se despedir posteriormente, a reconhecer a existência daquele filho e iniciar o processoprobabilidade dos jogos de hojeluto, diz Bittar.
Fotógrafa oferece fotos gratuitasprobabilidade dos jogos de hojeMG
Enquanto no Reino Unido a práticaprobabilidade dos jogos de hojetirar fotosprobabilidade dos jogos de hojebebês natimortos é bem difundida, no Brasil o tema é pouco discutido. O único projeto que existe foi iniciado pela fotógrafa Paula Beltrão,probabilidade dos jogos de hojeMinas Gerais.
Juntamente com a psicóloga Daniela Bittar e a obstetra Mônica Nardy, ela fundou o Grupo Colcha, para oferecer fotografias e apoio psicológico a mulheres que perderam seus bebês.
Também formaram um grupoprobabilidade dos jogos de hojeapoio para que possam compartilhar suas experiências.
“Com nossos, filhos, a gente tem fotosprobabilidade dos jogos de hojetodas as situações. Tiramos foto quando são recém-nascidos, quando começam a andar. Uma mãe que perde o filho no parto, ela vai ter um único momento com o filho. Então, a fotografia vem justamente para registrar essa única memória”, explicou Beltrão à BBC News Brasil.

Crédito, Paula Beltrão
Paula Beltrão criou projeto para oferecer fotos e apoio a mães e pais que tiveram bebês natimortos
Segundo Beltrão a fotografia também tem a funçãoprobabilidade dos jogos de hojegarantir às mães um registro que “comprove” ou torne “mais real” a parentes e amigos a existência do filho que morreu antesprobabilidade dos jogos de hojenascer.
“Essas mães que perdem os bebês ainda muito novinhos ou ainda na barriga, elas já são mães e elas querem e têm o mesmo orgulhoprobabilidade dos jogos de hojefalar,probabilidade dos jogos de hojemostrar o filho delas como qualquer outra mãe”, diz.
“A fotografia, ela ajuda a tampar a lacuna daquele vazio, daquele silêncio, daquele luto invisível. Ajuda no reconhecimento daquele bebê que existiu, mas que a sociedade não viu.”
A psicóloga Daniela Bittar explica que é comum parentesprobabilidade dos jogos de hojemulheres que tiveram filhos natimortos não entenderem a dimensão da dor delas.
Isso porque esses familiares e amigos não tiveram a oportunidadeprobabilidade dos jogos de hojeconhecer a criança e criar memórias afetivas com ela.
Mas a mãe do bebê já desenvolveu, ao longo da gestação, uma conexão emocional e biológica com ele.
“O trauma muitas vezes não vem do eventoprobabilidade dos jogos de hojesi. Ele advém do fatoprobabilidade dos jogos de hojeesse filho não ter o reconhecimento. Ele vira um bebê fantasma”, explica.
Reconhecer a perda para processar o luto
Segurar o filho e ter fotos dele ajudam no processoprobabilidade dos jogos de hojeluto, porque o luto passa primeiro pelo reconhecimento daquela pessoa que partiu, explica a psicóloga.
“Quando uma mãe perde um filho com dois, três anos, as pessoas se comovem exatamente por se colocarem no lugar dela e perceberem o tamanho dessa dor com nitidez. Essa criança tinha nome, tinha memórias afetivas com várias pessoas”, exemplifica.
“Quando o bebê morre intraútero, esse bebê não foi visto, não construiu memória afetiva com ninguém, a não ser com essa mãe. Essa mulher está ali completamente atrelada a essa criançaprobabilidade dos jogos de hojeforma psíquica, visceral, mas não tem a dor e o luto compreendidos pela sociedade.”
Segundo Bittar, muitas mulheres que, no momentoprobabilidade dos jogos de hojechoque, não seguraram seus filhos e que não tiveram a oportunidadeprobabilidade dos jogos de hojeter fotos deles, acabam presas num loopprobabilidade dos jogos de hojeculpa por não terem estado com seus bebês, olhado para eles e se despedido.
“Por isso, é tão importante ter profissionaisprobabilidade dos jogos de hojesaúde treinados nas maternidades para explicar sobre as fotos, fazer os registros e ajudar a mãe a processar o que aconteceu.”

Crédito, Paula Beltrão
Segurar o filho e ter fotos dele ajudam no processoprobabilidade dos jogos de hojeluto, porque o luto passa primeiro pelo reconhecimento daquela pessoa que partiu, diz psicóloga
Sara Tonkin conta que, pouco após a filha nascer sem vida, ela viajou ao Brasil. Lá, percebeu que amigos e parentes tentavam evitar o assunto, por considerarem que falar sobre a morteprobabilidade dos jogos de hojeTT iria deixá-la mais deprimida.
“Ninguém sabia como lidar comigo, porque eles não queriam falar do assunto. Eles achavam que se falassem iriam me magoar. Mas eu achei pior, porque para mim eles tinham esquecido da TT. Ninguém queria falar sobre ela. E eu gosto quando as pessoas falam dela.”
Foiprobabilidade dos jogos de hojegruposprobabilidade dos jogos de hojeapoio, compartilhandoprobabilidade dos jogos de hojeexperiência e ouvindo outras mães, que Sara primeiro encontrou acolhida e espaço para falar da filha.
E as fotos a ajudaram a comunicar para os outros a dor e saudade que sentia, mas também todo o amor que tem por TT.
“Para mim, é muito importante manter a memória dela viva. Ela viveu dentroprobabilidade dos jogos de hojemim por 41 semanas e meia. Ela nasceu morta, mas ela existiu. Ela é amada e quero que seja lembrada.”




