Nova classe trabalhadora não está satisfeita com governo Lula. É um fenômeno de classe, diz cientista político André Singer:esportes paralímpicos

Fotoesportes paralímpicosAndré Singer sentadoesportes paralímpicosuma cadeira com uma grande prateleiraesportes paralímpicoslivros atrás dele.

Crédito, Fernando Cavalcanti/BBC

Legenda da foto, O cientista político André Singer foi porta-voz do primeiro governo Lula

"O PT é herdeiro da tradição da classe trabalhadora organizada. E ele tem dificuldades dianteesportes paralímpicosuma classe trabalhadora profundamente desorganizada, eu diria até estruturalmente desorganizada", diz ele, autoresportes paralímpicosOs sentidos do lulismo (2012) e O lulismoesportes paralímpicoscrise (2018).

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Poucos dias após esta entrevista concedidaesportes paralímpicosSão Paulo, a chamada crise do Pix se instaurou, pressionando o Planalto.

Em meio a fake news e boatosesportes paralímpicosque o Pix seria taxado ou que o monitoramento levaria a uma maior tributação, o governo precisou recuar da medida tomada, que aumentava a fiscalização das transações.

Algo acrescentar sobre o tema?, perguntou a reportagem a Singer logo depois. Ele disse que ainda era cedo para uma posição mais substantiva sobre a crise, mas frisou: "A polêmica mostra como o tema do trabalho informal por parteesportes paralímpicospequenos empreendedores ganhou relevância no Brasilesportes paralímpicoshoje."

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Na conversa, além dos destinosesportes paralímpicosLula e seu partido, Singer também falou das perspectivas da direita e da direita radical para 2026.

Confira os principais trechos da entrevista:

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos Somente cercaesportes paralímpicosum terço dos brasileiros aprova o governo Lula, segundo o Datafolha, e ele não consegue subir esse percentual, apesaresportes paralímpicosindicadores econômicos, como o baixo desemprego. Por quê?

esportes paralímpicos André Singer - Se olharmos os resultadosesportes paralímpicosapoio ao governo por renda, a gente observa que, entre os que ganham até dois salários mínimosesportes paralímpicosrenda familiar mensal, que é a base da pirâmide social, o apoio [ao governo] vai para 46%. Portanto, poderíamos dizer que se a sociedade brasileira fosse só composta desse setor, que é quase a metade da população, as condiçõesesportes paralímpicosgoverno estariam bem melhores. Porque a partiresportes paralímpicos50% [de aprovação] você começa a considerar que um governo está indo para as condiçõesesportes paralímpicosreeleição, e 46% está bastante pertoesportes paralímpicos50%. Portanto, eu diria que isso mostra que o realinhamento eleitoralesportes paralímpicos2006, que diz respeito ao lulismo, está funcionando.

Houve um realinhamento por meio do qual a base da sociedade brasileira colocou o Lula como seu representante. E o Lula, poresportes paralímpicosvez, se tornou o representante desse setor. É isso que eu chamoesportes paralímpicoslulismo. Isso estáesportes paralímpicospé.

Porém, daí para a frente, ele cai abruptamente pra cercaesportes paralímpicos27% [de aprovação]. Perde 20 pontos percentuais quando você passa dos eleitores que ganham até dois salários mínimosesportes paralímpicosrenda familiar mensal, para os que ganhamesportes paralímpicosdois a cinco salários mínimos. Isso é impressionante.

E o que acontece, a meu ver, é um fenômenoesportes paralímpicosclasse. Você está transitando do subproletariado para o proletariado. Esse setor que está mais integrado, que é, vamos dizer, o proletariado, não está satisfeito.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - Por quê?

esportes paralímpicos Singer - Acho que um dos elementos da insatisfação tem a ver com o custoesportes paralímpicosvida, que esteve significativamente alto o tempo todo, e não baixa. Agora, com o que aconteceu nos Estados Unidos, ou seja, a derrota do Biden, dá para ver que esse é um fenômeno mundial. Tem um problema mundialesportes paralímpicosaumento do custoesportes paralímpicosvida, que está pegando, provavelmente, as cadeias produtivas desde a Covid, que foram desorganizadas e, possivelmente, essa desorganização foi potencializada pela guerra na Ucrânia, que aumentou o preço dos combustíveis.

Tem uma onda, não só inflacionária, mas especificamente do aumento do custoesportes paralímpicosvida para as pessoasesportes paralímpicosbaixa renda.

O outro fator tem a ver com a mudança do mercadoesportes paralímpicostrabalho no Brasil. Depois do impeachment da presidente Dilma, tivemos a reforma trabalhista com perda acentuadaesportes paralímpicosdireitos e praticamente dez anosesportes paralímpicosintensa transformação tecnológica,esportes paralímpicosque o trabalho por plataformas entrou com uma força que não existia até então. E com isso você tem uma fragmentação da antiga classe trabalhadora que ganha agora uma forma nova. Você tem levasesportes paralímpicostrabalhadores,esportes paralímpicosboa parte jovens, mas não só, que não têm a experiência do trabalhoesportes paralímpicosfábrica, do trabalho sindicalizado ou sindicalizável. Você tem essa nova modalidade que se usa chamaresportes paralímpicosempreendedorismo, mas que na prática é uma inserção precária no mercado do trabalho, marcada pela superexploração.

O problema é que isso tem um efeito perverso. As pessoas que não passaram pela experiência anterior acham que o mundo é assim e que, portanto, é preciso se virar por conta própria. Essas pessoas se tornam razoavelmente vulneráveis a uma ideologiaesportes paralímpicosextrema direita que vai na direçãoesportes paralímpicoseliminação do Estado.

Daí para frente, você tem um terceiro fenômeno, que é a oposição ao governo. Sempre existiu, e se não houver oposição, não tem democracia. E [neste caso] é a oposição da classe média, que não enxerga nesse governo o seu governo. Historicamente, era assim quando o PSDB era forte, mas vai se radicalizando até chegar ao pontoesportes paralímpicoseleger o [ex-presidente Jair] Bolsonaro. Essa base, que era uma base do PSDB, se deslocou para a extrema direita. E,esportes paralímpicosparte, ainda está lá.

Foto dos protestos golpistasesportes paralímpicos8esportes paralímpicosjaneiroesportes paralímpicos2023esportes paralímpicosBrasília.

Crédito, André Borges/EPA

Legenda da foto, Para Singer, se for necessárioesportes paralímpicos2026, o PT repetirá a criaçãoesportes paralímpicos"uma grande frenteesportes paralímpicostodos os que quiserem salvar a democracia"

esportes paralímpicos BBC News Brasil - Não é um paradoxo o Partido dos Trabalhadores não conseguir dialogar com essa classe trabalhadora que está crescendo cada vez mais?

esportes paralímpicos Singer - Eu não acho que seja um paradoxo. Eu preferiria chamaresportes paralímpicosum efeito perverso, da maneira pela qual o capitalismo está se desenvolvendo no mundo. Essas coisas nunca são deliberadas, porque não existe uma pessoa orientando o capitalismo. O que existe é o resultado, como diria [Karl] Marx, do desenvolvimento das forças produtivas.

O capitalismo contemporâneo está dissolvendo a antiga classe trabalhadora, à medida que vai havendo a desindustrialização. O PT é um partido herdeiro da tradição da classe trabalhadora organizada. E ele tem dificuldades dianteesportes paralímpicosuma classe trabalhadora profundamente desorganizada, eu diria até estruturalmente desorganizada. Porque é isso que o capitalismo contemporâneo está fazendo.

Em uma perspectivaesportes paralímpicosfuturo longínqua, é possível imaginar que ela vai acabar se organizando, mas vai demorar muito tempo. Porque as condições são totalmente adversas. Vamos imaginar o tempoesportes paralímpicosque o Marx escreveu. Não é o sindicato que organiza os trabalhadores. O sindicato serveesportes paralímpicosveículo para uma organização que já existe. É o próprio capitalismo que organiza o trabalhador na fábrica. É por isso que o Marx diz que o capitalismo produz os seus coveiros.

Só que agora não tem mais isso. O sujeito que trabalha por plataforma compete com o colega. Primeiro que ele não sabe quem são os competidores, eles não se encontram, eles não dividem o trabalho, cada um faz o seu. Não há uma linhaesportes paralímpicosprodução dividida, não há como fazer automaticamente uma greve.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos Nesse sentido, existe uma críticaesportes paralímpicosque o PT não abraçou necessariamente a pauta do fim da escala 6 por 1, um tema caro aos trabalhadores.

esportes paralímpicos Singer - De fato, é uma questão sobre a qual o partido devia se aplicar mais, porque eu acho que ele justamente fala para esse setor,esportes paralímpicosdois a cinco salários mínimosesportes paralímpicosrenda familiar mensal. Da mesma maneira como me parece que a propostaesportes paralímpicosisenção do Impostoesportes paralímpicosRenda para quem ganha até 5 mil reaisesportes paralímpicosrenda familiar mensal, fala para esse setor também.

O PT não pode aderir a uma ideologia do empreendedorismo do salve-se quem puder. Isso é contra os seus próprios princípios. É contra aquilo que ele veio para propor para a sociedade brasileira.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - Mas isso está na mesa?

esportes paralímpicos Singer - Eu noto que há uma certa perplexidade,esportes paralímpicosparticular com o que aconteceuesportes paralímpicosSão Paulo, onde isso foi muito nítido, o apelo do Pablo Marçal [ esportes paralímpicos o ex-coach que foi candidato à Prefeituraesportes paralímpicosSão Pauloesportes paralímpicos2024 esportes paralímpicos pelo PRTB]esportes paralímpicosrelação, por exemplo, aos moto-entregadores. E dentro dessa perplexidade, por vezes eu vejo inclinações a querer adotar certas propostas, ideias que não fazem sentido para um partidoesportes paralímpicosesquerda. Como se fosse possível simplesmente trazer essas propostas. Há um limite que é dado pela própria razãoesportes paralímpicosser do partido.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos A ampliação da faixaesportes paralímpicosisenção do Impostoesportes paralímpicosRenda e da contribuição para quem tem renda superior a R$ 50 mil por mês foram, ao seu ver, medidas bem comunicadas? Acha que as pessoas estão sabendo?

esportes paralímpicos Singer - É... Acho que as pessoas não estão... Talvez não estejam sabendo. Mas eu não sei se o problema aí éesportes paralímpicoscomunicação. O projetoesportes paralímpicoslei não foi ainda enviado ao Congresso. E estamos dianteesportes paralímpicosum Congressoesportes paralímpicosque a maioria conservadora é nítida. Portanto, uma medida como essa não vai ter vida fácil. O eleitorado,esportes paralímpicosmodo geral, não está muito interessado no processo, mas sim no resultado.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos A direita radical se comunica muito bem. Bolsonaro fazia lives toda semana para falar com seus eleitores e dizer o que estava fazendo, e usa bem as redes sociais...

esportes paralímpicos Singer - Acho que há uma confusão nessa formulação. Não é que o Bolsonaro se comunica bem. É que a internet é muito favorável, como o rádio foi na época do fascismo histórico, para um tipoesportes paralímpicoscomunicação muito direta e muito altissonante. Porque isso chama muito a atenção.

Vou dar o exemploesportes paralímpicosnovo do Trump, que por ser distante é mais fácil. Ele fala coisas absurdas. E uma parte das coisas que ele fala tem só a funçãoesportes paralímpicoschamar atenção. Porque chamar atenção é o próprio objetivo.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos O Bolsonaro fazia o mesmo...

esportes paralímpicos Singer - Acontece que a esquerda não pode fazer isso. É contra, digamos, a missão da esquerda. A esquerda quer um passo além do capitalismo e da civilização capitalista. Se você começa a comunicar coisas absurdas, você está jogando tudo para trás, o que a extrema direita faz. É regressivo. Se a esquerda adotar esse tipoesportes paralímpicosconduta, ela se nega enquanto esquerda. Ela não pode fazer isso. É uma questãoesportes paralímpicospara quê ela existe. Aí o problema não éesportes paralímpicoscomunicação.

A extrema direita encontrou um espaço neste mundo porque o capitalismo fez as condições regredirem a um tal ponto que propostas absurdas têm um lugar. Porque,esportes paralímpicoscerta forma, o capitalismo contemporâneo transformou a realidadeesportes paralímpicosuma situação absurda. Então, propostas absurdas têm lugar, mas se a esquerda cede a isso, ela deixaesportes paralímpicosexistir enquanto esquerda.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos Falandoesportes paralímpicosPablo Marçal, os chamados esportes paralímpicos outsiders esportes paralímpicos da política estão ventilando uma possível candidaturaesportes paralímpicos2026 novamente, incluindo o candidato à Prefeituraesportes paralímpicosSão Paulo esportes paralímpicos e até o esportes paralímpicos cantor sertanejo Gusttavo Lima esportes paralímpicos (ainda sem partido). Na visão do senhor, o PT tem se preparado para esse tipoesportes paralímpicosembate?

esportes paralímpicos Singer - A candidatura do Pablo Marçalesportes paralímpicosSão Paulo mostrou duas coisas: a primeira é que a extrema direita tem apelo eleitoral. Ainda que São Paulo não seja o Brasil,esportes paralímpicosalguma medida as eleiçõesesportes paralímpicosSão Paulo são algo nacionalizadas e, feitas uma sérieesportes paralímpicosmediações, expressam um pouco o que acontece no Brasil.

Dado esse contexto, eu diria que a candidatura do Marçal mostrou a vitalidade da extrema direita, porque ele praticamente chegou ao segundo turno sem apoio partidário nenhum, tempo no horário eleitoral gratuito zero, só com base numa presença anterior na internet e numa articulação cênica, digamos assim,esportes paralímpicosaltíssima competência. Não é tanto, digamos, a habilidade pessoal dele, e sim, a meu ver, a expressãoesportes paralímpicosum espaço político que existe.

Ao mesmo tempo, a eleição mostrou que, isoladamente, a extrema direita não estáesportes paralímpicoscondiçãoesportes paralímpicosvencer hoje. É claro que daqui a dois anos as coisas podem mudar, não estou fazendo uma previsão. Mas não só o Pablo Marçal acabou não indo para o segundo turno:esportes paralímpicosvárias capitaisesportes paralímpicosque fenômenos do tipo Marçal, só que aí no caso, apoiados pelo Bolsonaro, como foi Goiânia [com Fred Rodrigues, do PL], Fortaleza [com o deputado federal André Fernandes, PL] Curitiba [com Cristina Graeml, do PMB] e Belo Horizonte [com o deputado estadual Bruno Engler, do PL],esportes paralímpicostodos esses casos você teve fenômenos tipo Marçal, que chegaram ao segundo turno, praticamente empatando com políticos com grande apoioesportes paralímpicosmáquinas. Mas todos perderam. Ou seja, a extrema direita tem chance, desde que ela se una à direita.

Essa minha conclusão está respaldada pelas declarações que foram dadas logo após a eleição por duas lideranças do campo da direita, que foram o Gilberto Kassab (PSD) e o Valdemar Costa Neto (PL), posicionados, neste momento,esportes paralímpicoscampos distintos, porque o Kassab está no campo da direita e o Valdemar Costa Neto está no campo da extrema direita. Os dois viram que, sozinha, a direita não ganha e a extrema direita também não. Há então um problema aíesportes paralímpicosunidade. Eu diria que, diante disso, especificamente, o PT não tem muito o que fazer, porque é um problema do outro campo.

O que você poderia dizer éesportes paralímpicosque medida o PT está lidando com o problema da extrema direita, que é o caso do Marçal. Eu diria que a saída para isso já foi dadaesportes paralímpicos2022 e, se a situação se mostrar parecida, eu acho que ela vai ser colocada novamente como saída: uma grande frenteesportes paralímpicostodos os que quiserem salvar a democracia. Isso já foi feitoesportes paralímpicos2022 e não me parece que haja nenhuma dúvida dentro do PT que, se houver a mesma situação, isso vai voltar a se colocar.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - Marçal veioesportes paralímpicosum partido pequeno, sem tempo na TV, repetindo o que já havíamos vistoesportes paralímpicos2018 com a candidaturaesportes paralímpicosBolsonaro, que não se aliou a ninguém e mesmo assim venceu...

esportes paralímpicos Singer - Em 2018, o que aconteceu foi que a extrema direita arrastou a direita. O eleitoradoesportes paralímpicosdireita foi arrastado para o voto no Bolsonaro. Isso foi uma onda, que se configurou enquanto onda quando ele sofreu o atentado. Até então, as chances do [Geraldo] Alckmin [então candidato à presidência pelo PSDB] eram razoáveis. Bolsonaro estavaesportes paralímpicosuma ligeira queda e o Alckmin numa ligeira ascensão.

Eu não estou atribuindo tudo ao atentado, mas é que essas circunstâncias, por vezes, potencializam tendências. Não foi o que se viuesportes paralímpicos2022, quando houve a formaçãoesportes paralímpicosum bloco político-social novo,esportes paralímpicosque o bolsonarismo se apresentou como uma alternativa, não foi uma onda.

Onda é quando uma parte do eleitorado é tomada por um impulsoesportes paralímpicoscampanha. Tanto é assim que,esportes paralímpicos2018, muita gente que fez campanha na periferia relatava que as pessoas diziam: "Eu sei que o Bolsonaro tem esses problemas, mas se ele der errado, a gente tira." Isso é uma formaesportes paralímpicospensar que a pessoa está tomada por um impulso momentâneo. Os estudos eleitorais captam isso.

Jáesportes paralímpicos2022 foi diferente, foi uma opção mais organizada pelo Bolsonaro, que quase empatou a eleição.

Estamos dianteesportes paralímpicosum outro tipoesportes paralímpicoscenário, que é: sozinha, a extrema direita não vence. E queria acrescentar um elemento. O Bolsonaro está inelegível. E, estando inelegível, isso cria um grande problema para a extrema direita, porque ele é o candidato da extrema direita.

Bolsonaro é um homem que tem carisma, dialoga com os setores populares no Brasil. Isso não é pouca coisa. Eu diria que o único outro político que tem um diálogo com os setores populares intenso é o presidente Lula.

Agora, ao ser postoesportes paralímpicoslado, ele se transformaesportes paralímpicosuma vantagemesportes paralímpicosum problema. Primeiro porque ele não podendo ser candidato, cria um vácuo. E ele, por razões táticas dele, não quer e não vai deixar esse vácuo ser preenchido facilmente. Então ele está criando, e, a meu ver, vai continuar criando, problemas para que esse vácuo seja preenchido. Isso leva a extrema direita para uma situação difícilesportes paralímpicos2026.

Fotoesportes paralímpicosAndré Singer sentado com um livro nas mãos, olhando para a câmera.

Crédito, Fernando Cavalcanti/BBC

Legenda da foto, André Singer: 'O PT tem interesses enquanto partido, que não são exatamente iguais aos interesses do presidente, porque o presidente está apoiado numa vastíssima coalizão'

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos Lula apareceu pouco nas esportes paralímpicos eleições municipaisesportes paralímpicos2022. esportes paralímpicos Houve uma questão relacionada à saúde, mas é só isso? Ou pode ter sido uma opção política também?

esportes paralímpicos Singer - Eu não sei qual foi a estratégia que ele desenhou especificamenteesportes paralímpicosrelação a alguns locais. Mas eu entendi que ele decidiu concentrar o esforço deleesportes paralímpicosSão Paulo. A meu ver, o fez. Os resultados acabaram não sendo os esperados, porque ele não conseguiu transferir a baseesportes paralímpicos[quem tem] até dois salários mínimosesportes paralímpicosrenda familiar mensal para o [Guilherme] Boulos [candidato do PSOL na chapa com o PT], que acabou ficando mais com o Ricardo Nunes. Em outros locais, ele tomou uma decisão que é a seguinte:esportes paralímpicoslocaisesportes paralímpicosque havia disputa dentro da base do governo, ele preferiu ficar afastado. Por razões que, do pontoesportes paralímpicosvista do presidente, são compreensíveis.

É preciso fazer uma distinção. Os interesses do presidente e do PT não são idênticos. O PT tem interesses enquanto partido, que não são exatamente iguais aos interesses do presidente, porque o presidente está apoiado numa vastíssima coalizão. E ele está, a meu ver, olhando para 2026 com uma análiseesportes paralímpicosque se ele não levar essa coalizão para 2026, ele pode ter dificuldade.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos Mas existe uma certa resistência da ala mais à esquerda do PTesportes paralímpicosse aliar a partidos do centrão.

esportes paralímpicos Singer - Você tem que distinguir duas coisas. Uma, é a frente democrática para derrotar uma opção autoritária. Eu acho que isso ninguém questionou dentro do PT. A outra coisa é, vamos dizer, uma frente mais orgânica que envolva uma mudançaesportes paralímpicosposição do próprio partido.

Aqui eu acho importante recolocar as coisas numa perspectiva histórica. O PT é um partido que tem o socialismo no seu programa. Se o PT continua sendo efetivamente socialista, é uma discussão. Mas isso está no programa e na origem do PT, um partidoesportes paralímpicosesquerda no seu programa. O que estáesportes paralímpicosdebate, e não é um debate significativo, é uma eventual mudança da identidade do PT.

Uma coisa é um partidoesportes paralímpicosesquerda entender que é preciso fazer uma frente tática para derrotar um inimigo maior e comum. Isso faz parte da tradição histórica da esquerda. Por isso que eu digo que não vejo nenhuma dificuldade dentro do PTesportes paralímpicosrelação a isso. O que há divergência é sobre a mudança da identidade do PT. O que eu chamaria aquiesportes paralímpicosuma aliança mais orgânica com o centro e até mesmo com o campo da direita. Tem partidosesportes paralímpicosdireita, como, por exemplo, o Republicanos e o PP, que estão no governo.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos O PT vai passar por eleiçõesesportes paralímpicosjulho para definir seu novo presidente. Até o momento, Edinho Silva, ex-prefeitoesportes paralímpicosAraraquara, está sendo ventilado como o favoritoesportes paralímpicosLula para assumir o postoesportes paralímpicosGleisi Hoffmann. Isso pode mudar os rumos do partidoesportes paralímpicos2026?

esportes paralímpicos Singer - Eu não gostariaesportes paralímpicosme referir a nomes nesse momento, mas acho que talvez possa haver uma alteração. Não é muito claro, porque acho que as candidaturas não foram ainda apresentadas com clareza. Mas eu percebo dentro do partido um debate por vezes subliminar que vai nessa direção,esportes paralímpicosem que medida o partido deveria fazer um deslocamento mais ao centro com vistas, digamos, a ter supostamente maior sucesso eleitoral.

Pode ser que essa sucessão partidária coincida com um debate que acabe tendo algum resultado maior. Mas não dá para afirmar isso antesesportes paralímpicosentender como essa competição vai realmente se estruturar.

Fotoesportes paralímpicosLula no meio da multidão no diaesportes paralímpicosque foi solto,esportes paralímpicosnovembroesportes paralímpicos2019.

Crédito, Amanda Perobelli/Reuters

Legenda da foto, "O PT tem todas as condiçõesesportes paralímpicoscontinuar sendo um partido muito importante no Brasil", mesmo após a morteesportes paralímpicosLula, afirma Singer.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - E como o partido está formando sucessores? O PT tem debatido sucessão?

esportes paralímpicos Singer - O problema da sucessãoesportes paralímpicosum líder carismático é sempre muito difícil. É aquilo que o [Max] Weber chamavaesportes paralímpicosrotinização do carisma. Na verdade, quando isso acontece, você tem uma transição completa,esportes paralímpicoscerta forma.

O Lula é um líder carismático que é excepcional e confirma, aliás, a própria definição conceitual do que é carisma. Qualquer que seja o resultado, ele vai ser difícil nessa sucessão. E não seriaesportes paralímpicosse esperar que houvesse imediatamente um outro líder carismático que pudesse substituir esse líder.

Quando Lula não for mais candidato, vai se formar um vácuo. E como ele vai ser preenchido, eu não sei. O PT, eu tenho a impressão que seria natural que ele tivesse, e imagino que já tenha, uma sérieesportes paralímpicosquadros, porque é um partido grande, enraizado regionalmente, tem vários governadores e governadoras, prefeitos e prefeitas com experiência política, capacidade administrativa, visãoesportes paralímpicosmundo.

O problema, e eu diria que acontece sempre que você tem a situaçãoesportes paralímpicosuma liderança carismática, é a sucessão dessa liderança carismática. Sempre é,esportes paralímpicoscerta forma, traumático.

esportes paralímpicos BBC News Brasil - esportes paralímpicos Existe um risco do PT perder relevância quando Lula morrer?

esportes paralímpicos Singer - É impossível predizer o que aconteceria quando Lula sair da política. O PT tem todas as condiçõesesportes paralímpicoscontinuar sendo um partido muito importante no Brasil. Não tem nenhum outro partido com o grauesportes paralímpicosapoio que o PT tem no Brasil. É claro que há muita rejeição também, mas isso faz parte do jogo, porque um partido da importância do PT também é natural que ele seja muito rejeitado. E o PT é o partido mais sólido que existe hoje no Brasil.

Então,esportes paralímpicostese, o PT não deveria perder relevância. Aí a questão talvez sejaesportes paralímpicospensar não na sucessão do Lula enquanto liderança carismática, mas pensar na direção do partido. Lula também orienta o partido e ele tem uma visão da política. Para dirigir um partido como o PT, precisa ter muita sabedoria no sentidoesportes paralímpicosachar o caminho.

A minha análise da política brasileira é que você tem, fundamentalmente, três grandes campos, que não se confundem com um partido, mas os partidos navegam nesses campos: um campo popular, um campoesportes paralímpicosclasse média e aquilo que eu chamoesportes paralímpicospartido do interior, que é um conglomerado que,esportes paralímpicosmodo geral, coincide com o centrão.

O PT é o principal partido do campo popular. Em condições democráticas, o campo popular não vai deixaresportes paralímpicosexistir. Ele existe desde que o Brasil se democratizou,esportes paralímpicos1945. E vai continuar existindo, se houver democracia.

O grande problema é que as tentativasesportes paralímpicosgolpe, às vezes bem-sucedidas, às vezes malsucedidas, como aconteceuesportes paralímpicos2022, são para que o campo popular seja excluído da política.

No Brasil, uma parte das classes dominantes preferiria, às vezes com mais intensidade, às vezes com menos, que não houvesse essa competição eleitoral. Mas, havendo, e o PT sabendo se colocar, acho que não haveria por que ele perder relevância.