Racismo contra indígenas é alimentado o tempo todo, diz artista do povo Yepá Mahsã :jogo de cartas em ingles blackjack

Ela afirma que a forma como os indígenas sempre foram — e continuam sendo — representados na arte é parte central desse processojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackdesumanização que resultajogo de cartas em ingles blackjacktragédias.

“O racismo é alimentado dentrojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcasa, na escola, nas mídias o tempo inteiro”, diz a artista, que foi destaque na 34ª Bienaljogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackSão Paulo, foi temajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackmostras na Pinacoteca, no Masp e no Museu Nacional da República e agora passou a ser representada comercialmente pela galeria Millan,jogo de cartas em ingles blackjackSão Paulo, onde inaugurou a mostra Amõ Numiã, que ficajogo de cartas em ingles blackjackcartaz até 11jogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackmarço.

“Se esse racismo, essa violência continuam acontecendo no território, se essas pessoas são assassinadas, é porque a arte no livrojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackhistória, na escolinha, no museu, te diz que índio bom é índio morto ou ajoelhado diantejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackuma cruz”, diz Daiarajogo de cartas em ingles blackjackentrevista à BBC News Brasil.

A artista hoje morajogo de cartas em ingles blackjackBrasília, mas nasceujogo de cartas em ingles blackjackSão Paulo quandojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackfamília — do povo Yepá Mahsã, da região do alto Rio Negro, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela — estava na cidade para a mobilização indígena para a Assembleia Constituintejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjack1987-1988.

Hospedada na capital paulista para criar obras exclusivas parajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackmostra, Daiara conversou com a BBC News Brasil, entre outras coisas, sobre as narrativas femininas na cultura Tukano, o usojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackayahuasca por não indígenas, a crise yanomami e o papel dos museus no processojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcolonização e genocídio dos povos das Américas.

Leia abaixo trechos selecionados da entrevista.

jogo de cartas em ingles blackjack BBC News Brasil - A gente tem visto mais exposiçõesjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackartistas indígenasjogo de cartas em ingles blackjackmostras e museus que historicamente mostraram povos originários na visão do branco europeu ou a arte indígenajogo de cartas em ingles blackjackmuseus etnográficos. E agora você está sendo representada por uma galeria comercial. Como é essa relação?

jogo de cartas em ingles blackjack Daiara Tukano - A arte tem uma importância política, ela constrói narrativas. A maneira como os povos indígenas foram representados antes mesmojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackserem conhecidos... como aqueles seres dos quais não se reconhece humanidade durante tantos séculos. Você vê aquelas gravurasjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjack1500 mostrando indígenas como se fossem monstros demoníacos. A construção da imagem desse povo originário no imaginário serve para justificar os processos coloniais inclusive dentro da própria Europa. Serve para reforçar essas dinâmicasjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackviolência ejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackpoder. Esta construção estájogo de cartas em ingles blackjacktodos os museus. Até porque o museu também nasce do processo colonial — nasce desses gabinetesjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcuriosidades, que é o lugar onde se colocam os troféusjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackguerra dos povos que foram subjugados. Essa representação faz parte do processojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackgenocídio contra os povos das Américas, que foram literalmente dizimados.

Então os museus são espaços a serem retomados. A gente usa muito essa palavra “retomar”. Agora todos os espaços são nossos também e a gente tem que ter muita coragem para entrar neles, porque não foram feitos para nós. Eles são cheiosjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackarmadilhas para fazer você entrar nessa ondajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackachar que a nossa arte é menor. Foram construídos para nos negar.

Essa imagemjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackque índio bom no Brasil é morto ou ajoelhado na frente da cruz já deu. Agora a gente estájogo de cartas em ingles blackjackpé e ninguém vai ficar tratando a gente desse jeito. A gente tem que escancarar as portas do museu, porque são espaços extremamente coloniais. A gente tem entrado nesses espaços para questionar e jogar na cara da galera, é um movimentojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackconstrangimento. Não só no sentido jogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackfalar “olha, nossa arte tem valor”, masjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackevidenciar que existe uma dinâmicajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackpoder colonial dentro desses espaços e que isso não é mais aceito.

Foi muito esforço e muito diálogo para poder chegar nesse espaço, e chegar na galeria faz parte disso. É mostrar que nós continuamos aqui, nós somos a prova viva que essa colonização não é plena, não é completa.

Ainda tem maisjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjack300 culturas indígenas no Brasil, são quase 200 línguas vivas e cada cultura, cada povo, cada língua é um universo tão completo, tão complexo, tão antigo e tão legítimo como qualquer outro.

jogo de cartas em ingles blackjack BBC News Brasil - Você falou das armadilhas e recentemente teve um episódio no Theatro Municipaljogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackSão Paulojogo de cartas em ingles blackjackque você não conseguiu fazer o que queria. Como foi isso?

jogo de cartas em ingles blackjack Tukano - Em 2022 a gente teve os 100 anos da Semanajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackArte Moderna, que marca o modernismo no Brasil e que é um momento muito importante dentro das artes brasileiras porque é a construção da visãojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackum Brasil moderno sobre si mesmo. Meu trabalho, do Jaider (Esbell importante artista makuxi mortojogo de cartas em ingles blackjack2021), a gente bateu muito nos modernistas, Máriojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackAndrade, Tarsila do Amaral — essa galera que era uma elite branca e urbana que se apropriou da figura do índio, que pegou aquilo tudo como uma espéciejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackfetiche exotizante.

As artes indígenas sempre foram muito apresentadas usando como referência os parâmetros do modernismo. Mas nada do que eu faço está baseadojogo de cartas em ingles blackjackestá baseado na Tarsila do Amaral, nos Andrade. Nosso trabalho parte da nossa narrativa,jogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacknosso povo,jogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacknossa história,jogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacknosso pensamento. Não parte a partir da narrativa do branco. Então tem essa questão e outras questões que o povo está começando a entender.

Eu fui convidada para participarjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackuma exposição que marcou a Semanajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackArte Moderna no Theatro Municipaljogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackSão Paulo.

Eu cheguei naquele salão dourado, que é obsceno, porque esse ouro vem da terra indígena, esse ouro marca a história do genocídio nas Américas e na África. Até hoje a gente tem 80 mil garimpeiros na terra yanomami e outros milhares na terra munduruku, no Pará. A gente tem populações inteiras que foram devastadas pela febre do ouro, essa doença do ouro, que é a doença do branco.

Lá tinha esse quadrojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackum pintor neoclássico que foi pintor oficial do Estado e fez aquela cenajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackteatro grego, ruínas gregas, uns atores grego, um burro entediado e umas pessoas assistindo... Me convidaram para fazer uma releitura dessa tela — que tem dez metrosjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacklargura e que ocupa o teto todo. Eu falei para a curadora: se você quer que eu faça uma releiturajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackuma tela que tá num salão dourado, eu quero pelo menos fazer uma do mesmo tamanho. Mas o orçamento ficou muito alto, porque a sala é toda tombada, não pode encostarjogo de cartas em ingles blackjacknada, teria que criar uma estrutura.

Eu falei, ok, então me dá o chão, me dá uns espelhos, eu desenho nos espelhos. Mas o chão também não poderia, porque é um tapete dos irmãos Campana etc etc.

Aí eu fui lá na papelaria Kalunga, comprei um rolojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackpapel Kraft, estendi aquele rolo e comecei a fazer uma cartajogo de cartas em ingles blackjackformatojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcobra. Na montagem eu pedi para colocar a carta na escadaria. Eu li e o pessoal ficou emocionado, porque era uma fala que contestava todos esses espaçosjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackpoder.

Eu fiz usando o material mais barato, mais frágil e menos valorizado naquele salão dourado. Tinha muitas obras que queriam ser celebradas e a única que não estava correndo atrás dessa glória era eu com meu papel craft e meu canetão vermelho. A cobra depois ficou penduradajogo de cartas em ingles blackjackvolta das outras obras e ela é tão frágil que o pessoal foi caminhando por cima e foi rasgando. O pessoal do museu tentava juntar os pedaços, mas não lia e ficava trocando as palavrasjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacklugar. O pessoal ficava olhando para aquele dourado do salão e nem presta atenção no que está no chão — é uma uma leiturajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcomo nós andamos num mundo mesmo. A gente não olha o que está no chão e o que está realmente globalizado hoje é o lixo.

jogo de cartas em ingles blackjack BBC News Brasil - Você citou os yanomami. A crisejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacksaúde dos yanomami é uma situação que tem sido denunciada há muito tempo, mas ganhou maior repercussão com a atenção dada pelo novo governo. O que essa diferençajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacktratamento mostra?

jogo de cartas em ingles blackjack Tukano - A situação é dramática desde o momento do contato. Agora estamosjogo de cartas em ingles blackjackum momentojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackvirada históricajogo de cartas em ingles blackjackque finalmente o Estado brasileiro não poderá mais ser omisso, pois existe um órgão do Poder Executivo que é o Ministério dos Povos Originários, não mais somente a Funai.

Até 1979 nós éramos considerados totalmente incapazes. Na Constituinte teve uma participação indígena muito expressiva. Teve a figura do Mário Juruna como o primeiro deputado indígena, teve o (cacique) Raoni, teve o Ailton (Krenak) que defendeu essa pauta ao longo dos anos 1970.

A Constituição então garantiu o direito à nossa cultura e ao nosso território, porque os dois são interdependentes. A cultura só existe por conta do território e o território só se mantém também por conta da cultura. O Estado assumiu o compromissojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackdemarcar os territórios, mas isso nunca foi feito. A maior parte dos territórios demarcados está na Amazônia, mas existe uma população indígena enorme no Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste que ficamjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackfora e até hoje sofrem esbulho.

E a disputa por terra gera uma sériejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackviolências e inegáveis e violentíssimas, terríveis. A situaçãojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackmuitos povos é praticamente uma situaçãojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackguerra. Por exemplo, a situação dos Guarani Kaiowájogo de cartas em ingles blackjackMato Grosso do Sul: é quase a Faixajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackGaza do Brasil. Você tem populações enormes à beira da estrada e levando é bala cotidianamente. Há crianças e idosos, todo mundo sendo violentado constantemente.

Com a criação do Ministério dos Povos Originários, essa situação ganha uma visibilidade maior, chega mais à população. Porque tem uma ministra que dá visibilidade.

Tem outra dimensão o Estado admitir que existe, sim, um estadojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcalamidade públicajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackextrema violação dos direitos humanos que acontece secularmente no Brasil e pelo qual somos todos responsáveis.

jogo de cartas em ingles blackjack BBC News Brasil - O que você sentiu com a mudançajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackgoverno?

jogo de cartas em ingles blackjack Tukano - Eu fico feliz, mas ao mesmo tempo entendo que é um grande desafio porque o desmonte não é apenasjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackquatro anos. É um processo muito durojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackconstrução desses direitos civis, da compreensãojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackque os povos originários também são humanos e portanto também temos direitos a serem respeitados e que devem ser sujeitosjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackpolíticas públicas. É muito bom a gente ter um órgão no Executivo para executar essas políticas, que têm que ser direcionadas pelo sujeitos delas que são os próprios indígenas.

É um momento muito especial, mas ao mesmo tempo é muito desafiador para o próprio movimento indígena assumir esses lugares. Porque os movimentos sociais estão ali para questionar o Estado, para demandar políticas públicas. E a partir do momento que os movimentos sociais ascendem a esse lugarjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackparticipar do governo, pode haver confusões.

jogo de cartas em ingles blackjack BBC News Brasil - Diante desse cenário tão grave, tem muita gente que acha que a discussão sobre arte, sobre a representação dos indígenas na cultura e sobre apropriação cultural é menos importante.

jogo de cartas em ingles blackjack Tukano - Reconhecer a cultura, ter respeito pelas expressões culturais do mundo também nos leva a respeitar os corpos dessas pessoas e os territórios dessas pessoas — as coisas são profundamente ligadas.

Na Rádio Yandê (rádio indígena criadajogo de cartas em ingles blackjack2013), a gente falou várias vezes o quão problemático e racista era o “dia do índio” na escola e também a figura do “índio” no carnaval e na televisão naqueles programasjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcomédia no finaljogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacksemana. Falamos dos estereótiposjogo de cartas em ingles blackjackcima dos corpos indígenas, especialmente o da sexualização da mulher indígena, que é sempre sujeita ao abuso ou ao estupro. E isso desde a construção das primeiras alegorias românticas, da Iracema, da Moema.

O racismo é alimentado dentrojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcasa, na escola, nas mídias o tempo inteiro. A gente não debate política no vazio. Se esse racismo, essa violência continuam acontecendo no território, se essas pessoas são assassinadas, é porque a arte no livrojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackhistória, na escolinha do museu, te diz que índio bom é índio morto ou ajoelhado diantejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackuma cruz. Ainda hoje tem um montejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackgente matando índio, um montejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackgente achando que vai evangelizar a índio, tem missionários entrandojogo de cartas em ingles blackjackterra indígenas.

Essa discussão sobre a apropriação cultural é muito importante porque ela nos ajuda na desconstrução dessas narrativas e dessas práticas colonialistas que nós temos introjetadas, que faz partejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackuma violência estrutural.

Se a gente não combater o racismo cultural, a gente não vai conseguirjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackfato combater essa violência física.

jogo de cartas em ingles blackjack BBC News Brasil - E o que você pensajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjacksabedorias indígenas sendo usadas por não índios, como por exemplo o uso da ayahuasca, que é tão importante para o seu povo e diversos outros?

jogo de cartas em ingles blackjack Tukano - Para nós, a ayahuasca é uma medicina sagrada. Tenho um amigo que explica assim: é uma medicina fitoterapêutica, um chá feitojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackduas plantas que você ferve durante horas e horas e faz um chá grosso. Esse chá tem DMT, que é uma substância que já tem no nosso organismo. A gente tem dois grandes impulsosjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackDMT na vida: quando ela começa e quando acaba. No resto do tempo tem um bloqueador. E o que esse chá faz é tirar um pouquinho desse bloqueio. É uma coisa totalmente natural, que não é alheia ao nosso corpo, que não gera toxina, que não vicia. Ela facilita o acesso às memóriasjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcada um, ajuda lidar com os traumas.

E essa medicina teve contato com os não indígenas dentro do panorama do ciclo da borracha, um dos momentos que marcou o maior extermínio indígena na Amazônia, não apenas no Brasil, mas na Colômbia, no Equador, no Peru, na Venezuela. Com mãojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackobra escrava, gente alimentada só com farinha e água, morrendojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackmalária.

Para a nossa cultura, quando você recebe alguém você recebe numa festa, você recebe com todas as honras. E a ayahuasca é nossa medicina mais sagrada. Então você imagina esses brancos católicos, com roupinhas brancas, chegando naquela festa cheiajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackgente nua, vendo o corpo dos homens e mulheres e ainda tomando um negócio que faz defecar, vomitar... Tem um disco que foi gravado pelos missionários católicos no Rio Negro das músicasjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackmeu povo tucano que eles chamaramjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjack“inferno verde”. Porque imagina esse pessoal saindo das guerras mundiais e indo para um lugar que eles achavam totalmente absurdo e tendo mirações. E padre quando tem visões, veem o que? O demônio. Então a cerimônia mais sagrada do meu povo se tornou a cerimônia do diabo para eles.

Então existiu um genocídio cultural na nossa região muito forte. São pouquíssimas famílias que mantiveram esse conhecimento.

E no Acre foi quando surgiu o Santo Daime, quando o mestre Irineu, que era retirante, preto, nordestino e chegou lá morrendojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackfome. Aí o Irineu conhece lá os os ashaninka, toma a ayahuasca e começa a ter as visões e surge a igreja do Santo Daime, que também foi muito perseguida no início dos anos 1920. Mas foi um processojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackcristianização dessa espiritualidade, que tem uma base indígena, mas que é cristianizada para se comunicar com o branco. E depois teve nos anos 1960 a revolução psicodélica, com o pessoal voltando da Guerra do Vietnã, um montejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackgente fugindo desses traumasjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackguerra, e o movimento hippie... Eles começam a provar esses alucinógenos.

Hoje a ayahuasca é uma medicina que foi globalizada - da mesma forma e com os mesmos riscos que outras medicinas que também sofreram por esse tipojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackesbulho. A primeira medicina roubada foi o tabaco - que é consumidojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackdiversas formas, mas nunca deve ser tragado, porque faz mal. E como fizeram para consumir? Tragando. Aconteceu o mesmo com a coca, que é uma super sagrada para o meu povo e para as culturas andinas e foi transformadajogo de cartas em ingles blackjackum veneno que gera uma sériejogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackciclosjogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackviolência (a cocaína).

A medicina é para curar, para se você não sabe usar bem, ela pode matar. Se você não usa com o devido estudo, com o devido respeito e com cuidado, se você não tiver uma ética médica, você pode matar também.

Então o risco é acontecer isso com a ayahuasca se entrar nessa dinâmica aceleradajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackmercado. Quando a gente falajogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackapropriação cultural, é isso: não é unicamente um roubo, é uma descontextualização. Quando você coloca aquilo no contextojogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackmercado,jogo de cartasjogo de cartas em ingles blackjackingles blackjackfaturamento, o risco (do mau uso) é muito grande.