'Tem 150 pessoas enterradas aqui, e conhecia quase todas. Só eu sobrei': o inferno da guerra esquecida no Sudão:aposta ganha código

Soldados do exército na traseiraaposta ganha códigouma caminhonete dirigindo por uma rua destruídaaposta ganha códigoOmdurman

Crédito, Dany Abi Khalil / BBC

Legenda da foto, A maioria dos veículos que circulam pelas ruasaposta ganha códigoOmdurman são militares
  • Author, Feras Kilani (no Sudão) e Mercy Juma (no Chade)*
  • Role, BBC News

Pessoas apanhadasaposta ganha códigomeio à guerra civil do Sudão relataram à BBC casosaposta ganha códigoestupro, violência étnica e execuções nas ruas. Nossos jornalistas conseguiram chegar à linha da frente dos combates perto da capital, Cartum.

Um alto funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU) descreveu o conflito como uma "guerra oculta" que mergulhou o paísaposta ganha códigoum "dos piores pesadelos humanitários da história recente”, enquanto outros alertam que pode desencadear a maior criseaposta ganha códigofome no mundo.

Há também receiosaposta ganha códigoqueaposta ganha códigoDarfur, no oeste do país, possa estar começando a acontecer uma repetição daquilo que os EUA chamaramaposta ganha códigogenocídio há 20 anos.

aposta ganha código AVISO: este artigo contém relatosaposta ganha códigoviolência física e sexual.

Do nada, uma enorme explosão sacode a estradaaposta ganha códigoOmdurman. As pessoas berram e corremaposta ganha códigotodas as direções, gritando: “Voltem, voltem, vai ter outra”. Uma fumaça espessa cobre tudo.

Momentos antes, a rua arrasada estava repletaaposta ganha códigopedestres que compravam arroz, pão e legumes nos mercados, que só recentemente começaram a reabrir.

Em meadosaposta ganha códigofevereiro, o Exército sudanês retomou a cidade — uma das três ao longo do Rio Nilo que compõem a região metropolitana da capital do Sudão, Cartum.

Os civis já começaram a regressar, mas morteiros, como o lançado no meio desta rua principal, ainda caem diariamente.

Para os meiosaposta ganha códigocomunicação internacionais, tem sido difícil obter acesso para cobrir a guerra civil que eclodiuaposta ganha códigoabril do ano passado — mas a BBC conseguiu chegar à linha da frente. Encontramos o outrora movimentado centroaposta ganha códigoOmdurman transformadoaposta ganha códigoum terreno baldio escassamente povoado.

Mukhtar al-Badri Mohieddin

Crédito, Dany Abi Khalil / BBC

Legenda da foto, ‘Só eu sobrei’, diz Mukhtar al-Badri Mohieddin, listando amigos e conhecidos que agora estão enterradosaposta ganha códigosepulturas improvisadas
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O violento embate pelo poder entre os militares do país e seu antigo aliado, o grupo paramilitar Forçasaposta ganha códigoApoio Rápido (RSF, na siglaaposta ganha códigoinglês), matou pelo menos 14 mil pessoasaposta ganha códigotodo o país — possivelmente muito mais.

Há quase um ano, o Exército e as RSF lutam por Cartum e pelas cidades vizinhas.

As RSF assumiram o controleaposta ganha códigoáreas ao sul da capital, assim comoaposta ganha códigograndes partesaposta ganha códigoDarfur, que vive há anosaposta ganha códigoturbulência devido à violência entre suas várias comunidades africanas e árabes.

Mulheres que fugiramaposta ganha códigoDarfur para o Chade, país vizinho, contaram à BBC terem sido estupradas — às vezes, diversas vezes — por milicianos. Os homens nos acampamentos disseram que tinham escapadoaposta ganha códigoexecuções e raptos nas ruas.

Incorporada à linhaaposta ganha códigofrenteaposta ganha códigocombate junto ao Exércitoaposta ganha códigoOmdurman, a equipe da BBC teve seus movimentos cuidadosamente controlados — havia uma espécieaposta ganha códigoguarda-costas com a gente, e não tínhamos autorização para filmar atividades militares.

O Exército teme que informações sobre suas atividades sejam vazadas.

Quando nosso cinegrafista começa a filmar as consequências da explosão do morteiro, homens armadosaposta ganha códigotrajes civis o cercam — um deles aponta uma arma para a cabeça dele.

Acabou que eles eram integrantes do serviçoaposta ganha códigointeligência militar, mas é um sinalaposta ganha códigoquão alta a tensão está.

Mapaaposta ganha códigoOmdurman e Cartum

Apesar da recente conquista do Exércitoaposta ganha códigoOmdurman, ainda ouvimos trocasaposta ganha códigotiros na regiãoaposta ganha códigovezaposta ganha códigoquando.

Parte da linhaaposta ganha códigofrente está agora ao longo do Nilo, que separa Cartum, no lado leste,aposta ganha códigoOmdurman, que fica a oeste do rio.

Os militares dizem para a gente que atiradores das RSF estão posicionadosaposta ganha códigoblocosaposta ganha códigoapartamentos do outro lado do rio,aposta ganha códigorelação ao Exército sudanês, posicionado no prédio do Parlamento, seriamente danificado.

O antigo mercadoaposta ganha códigoOmdurman, outrora movimentado com visitantes e moradores locais , estáaposta ganha códigoruínas — e suas lojas foram saqueadas. A maioria dos veículos nas estradas são militares.

Maisaposta ganha códigotrês milhõesaposta ganha códigopessoas fugiram do estadoaposta ganha códigoCartum nos últimos 11 meses, mas alguns moradoresaposta ganha códigoOmdurman se recusaram a sair. A maioria que encontramos são idosos.

Sepulturas improvisadasaposta ganha códigoOmdurman

Crédito, Dany Abi Khalil / BBC

Legenda da foto, Pedras e tábuas com números marcam os locaisaposta ganha códigosepultamentoaposta ganha códigoum terreno pertoaposta ganha códigouma mesquitaaposta ganha códigoOmdurman

A menosaposta ganha códigoum quilômetro da linha da frente, Mukhtar al-Badri Mohieddin caminha com um cajado pertoaposta ganha códigouma mesquita com a torre danificada.

A área aberta do lado oposto está coberta por sepulturas improvisadas — montesaposta ganha códigoterra marcados com pedaçosaposta ganha códigotijolos quebrados, tábuas e placasaposta ganha códigoconcreto.

"Há 150 pessoas aqui. Conhecia muitas delas, Mohamed, Abdullah... Jalal", diz ele, fazendo uma longa pausa dianteaposta ganha códigoum nome, Youssef al-Habr, um conhecido professoraposta ganha códigoliteratura árabe.

“Só eu sobrei”, acrescenta.

Os militares sudaneses têm sido criticados pelo uso intensivoaposta ganha códigobombardeios aéreos, incluindoaposta ganha códigoáreas civis onde os combatentes das RSF se escondem — embora afirmem que tomam as "precauções necessárias" para proteger os civis.

As pessoas aqui responsabilizam ambos os lados pela destruição dentro e ao redor da capital.

Mas muitas acusam as RSFaposta ganha códigosaques e ataques durante o períodoaposta ganha códigoque controlavam a área.

“Eles retiraram pertences das casas, roubaram carros, aparelhosaposta ganha códigoTV, espancaram pessoas idosas, até mesmo mulheres”, conta o morador Muhammad Abdel Muttalib.

“As pessoas morreramaposta ganha códigofome, tirei algumasaposta ganha códigosuas casas para que os corpos não apodrecessem lá dentro”, acrescenta.

Ele diz que é “de conhecimento geral” que mulheres foram estupradasaposta ganha códigosuas casas — e apalpadas durante verificaçõesaposta ganha códigosegurança.

Afaf Muhammad Salem

Crédito, Dany Abi Khalil / BBC

Legenda da foto, Afaf Muhammad Salem diz que combatentes das RSF saquearamaposta ganha códigocasa e atiraram na perna do seu irmão

Afaf Muhammad Salem, com quase 60 anos, vivia com os irmãosaposta ganha códigoCartum quando a guerra começou.

Ela diz que se mudou para Omdurman, do outro lado do rio, depoisaposta ganha códigoterem sido atacados por combatentes das RSF, que, segundo ela, saquearamaposta ganha códigocasa e atiraram na perna do seu irmão.

“Eles estavam espancando mulheres e idosos, e ameaçavam meninas inocentes”, relata.

Em uma referência velada à violência sexual, que é um tema considerado tabu no Sudão, ela acrescenta:

“Insultar a honra causa mais danos do que levar dinheiro”.

'Uma armaaposta ganha códigovingança'

As vítimasaposta ganha códigoestupro podem enfrentar uma vida inteiraaposta ganha códigoestigma e marginalização por parte das suas próprias famílias e comunidades. Muitas genteaposta ganha códigoOmdurman não qui discutir o assunto.

Silhuetaaposta ganha códigoAmina

Crédito, Marek Polaszewski / BBC

Legenda da foto, Amina espera desesperadamente queaposta ganha códigofamília nunca saiba que ela pediu para fazer um aborto

Mas a maisaposta ganha código1.000 quilômetros a oeste, nos extensos camposaposta ganha códigorefugiados ao longo da fronteira com o Chade, o volumeaposta ganha códigorelatosaposta ganha códigoviolência sexual que estão surgindo, está forçando um novo e sombrio nívelaposta ganha códigoabertura.

Amina, cujo nome alteramos para protegeraposta ganha códigoidentidade, foi até uma clínica temporária administrada pela organização Médicos Sem Fronteiras,aposta ganha códigobuscaaposta ganha códigoum aborto. Ela nos cumprimenta sem olhar para cima.

A jovemaposta ganha código19 anos, que fugiuaposta ganha códigoDarfur, no Sudão, só descobriu que estava grávida um dia antes. Ela espera desesperadamente queaposta ganha códigofamília nunca descubra.

“Não sou casada e era virgem”, diz Amina, hesitante.

Em novembro, milicianos pegaram ela, com a tia e os primos, enquanto fugiam daaposta ganha códigocidade natal, Ardamata, para a cidade vizinhaaposta ganha códigoGeneina.

“Os outros escaparam, mas eles ficaram comigo por um dia inteiro. Eram dois, e um deles me estuprou várias vezes antesaposta ganha códigoeu conseguir escapar”, diz ela.

O domínio crescente das RSFaposta ganha códigoDarfur, apoiado pelas milícias árabes aliadas, trouxe consigo um aumentoaposta ganha códigoataquesaposta ganha códigoorigem étnica contra a população negra africana, especialmente o grupo étnico Masalit.

Mapa mostrando as localizaçõesaposta ganha códigoCartum, Omdurman, Porto Sudão e Ardamata e Geneina,aposta ganha códigoDarfur, assim como áreasaposta ganha códigocontrole do exército sudanês e das RSF.

A históriaaposta ganha códigoAmina é apenas um dos muitos relatosaposta ganha códigoataques contra civis ocorridos por voltaaposta ganha código4aposta ganha códigonovembro, quando as RSF e seus aliados tomaram uma base militar sudanesaaposta ganha códigoArdamata.

De acordo com um relatório recente da ONU, ao qual a BBC teve acesso, acredita-se que maisaposta ganha código10 mil pessoas tenham sido mortas na região desde abril.

A ONU documentou cercaaposta ganha código120 vítimasaposta ganha códigoviolência sexual relacionada com o conflitoaposta ganha códigotodo o país, o que considera ser “uma vasta sub-representação da realidade”.

O relatório afirma que homens uniformizados das RSF e homens armados afiliados ao grupo foram denunciados como responsáveis por maisaposta ganha código80% dos ataques. Separadamente, também houve alguns relatosaposta ganha códigoagressões sexuais por parte dos militares sudaneses.

Campoaposta ganha códigorefugiadosaposta ganha códigoAdre, no Chade

Crédito, Marek Polaszewski / BBC

Legenda da foto, Centenasaposta ganha códigomilharesaposta ganha códigopessoas fugiram do Sudão para o Chade

Do ladoaposta ganha códigofora do mesmo acampamento, que fica na cidadeaposta ganha códigoAdré, na fronteira, cercaaposta ganha código30 mulheres e meninas se reúnemaposta ganha códigouma cabana ao meio-dia.

Balões rosa e azuis estão pendurados no teto, junto a cartazes feitos à mão. “O estupro não é destino; é uma prática que pode ser interrompida”, lê-se.

As lágrimas escorrem livremente enquanto as mulheres falam das suas experiênciasaposta ganha códigoviolência física e sexual.

Maryamu (nome fictício) contou que foi estupradaaposta ganha códigonovembro dentroaposta ganha códigosua casa,aposta ganha códigoGeneina, por homens armados que usavam uma espécieaposta ganha códigoturbante na cabeça, típicos dos combatentes árabes na região.

Depois disso, ela teve dificuldade para andar, contou ela soluçando, enquanto descrevia o processoaposta ganha códigofuga:

"As pessoas estavam correndo, mas a gente não podia, porque minha avó não consegue correr. Eu também estava sangrando."

Mulheres chorando

Crédito, Marek Polaszewski / BBC

Legenda da foto, Mulheres choraram no encontro, à medida que experiênciasaposta ganha códigoviolência física e sexual eram compartilhadas

Zahra Khamis, uma assistente social que também é refugiada, dirige o grupo.

Tanto Amina quanto Maryamu sãoaposta ganha códigocomunidades negras africanas — que, segundo Khamis, estão sendo alvoaposta ganha códigoataquesaposta ganha códigoDarfur, especialmente o grupo étnico Masalit.

Durante a guerraaposta ganha códigoDarfur, há 20 anos, uma milícia árabe chamada Janjaweed — na qual as RSF têm suas raízes — foi mobilizada pelo antigo presidente Omar al-Bashir para esmagar uma rebeliãoaposta ganha códigogrupos étnicos não-árabes.

A ONU afirma que 300 mil pessoas foram mortas, e o estupro foi amplamente utilizado como formaaposta ganha códigoaterrorizar as comunidades negras africanas e forçá-las a fugir. Alguns líderes da Janjaweed e Bashir foram indiciados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) sob a acusaçãoaposta ganha códigogenocídio e crimes contra a humanidade. Eles negaram as acusações — e ninguém foi condenado.

Khamis acredita que o estupro está sendo usado neste conflito “como armaaposta ganha códigovingança”.

Cartazaposta ganha códigoárabe e inglês dizendo 'estupro não é destino, é uma prática que pode ser interrompida'

Crédito, Marek Polaszewski / BBC

Legenda da foto, Balões e cartazes decoram a cabana onde as mulheres compartilham suas experiências

“Eles estão fazendo isso com as mulheres porque o estupro causa impacto na sociedade e na família”, acrescenta.

Em um raro vislumbre sobre as atitudes que levam à violência contra as mulheres, um membro das RSF que se descreve como um “comandanteaposta ganha códigocampo” publicou um vídeo nas redes sociaisaposta ganha códigonovembro.

“Se estuprarmosaposta ganha códigofilha ouaposta ganha códigogarota, é olho por olho. Este é o nosso país, e este é o nosso direito, e nós fazemos valer”, diz ele no vídeo, que agora foi excluído.

Em resposta às perguntas da BBC sobre os casosaposta ganha códigoestupro e outros ataques, as RSF dizem que a inteligência militar sudanesa estava "recrutando pessoas para usarem roupas das RSF e cometerem crimes contra civis, para que se possa dizer que as RSF estão cometendo crimes, abuso sexual e limpeza étnica".

“Talvez um ou dois incidentes tenham sido cometidos por combatentes das RSF, e eles foram responsabilizados”, declarou Omran Abdullah Hassan, da assessoria do líder das RSF, à BBC.

No ano passado, as RSF disseram que iriam abrir um processo para investigar supostas violaçõesaposta ganha códigodireitos humanos cometidas por suas forças, mas a ONU afirma que não foram fornecidos detalhes.

'Se você é Masalit, eles te matam'

Em outro abrigo no mesmo acampamento, as mãosaposta ganha códigoAhmat tremem enquanto ele assiste a um vídeo no celular, que foi verificado pela BBC, mostrando cinco homens desarmados enfileiradosaposta ganha códigouma ruaaposta ganha códigoArdamata,aposta ganha códigonovembro.

“Vou acabar com eles”, grita uma vozaposta ganha códigoárabe sudanês, antesaposta ganha códigoos homens serem alvejados por disparosaposta ganha códigoum rifleaposta ganha códigoassalto à queima-roupa.

"Este é o Amir, e este é o Abbas...", diz Ahmat, com uma lágrima escorrendo pelo rosto.

 Imagem mostrando grupoaposta ganha códigohomens enfileiradoaposta ganha códigouma rua

Crédito, .

Legenda da foto, O vídeo postado nas redes sociais mostra os homens enfileiradosaposta ganha códigouma rua

Esta é a primeira vez que o homemaposta ganha código30 anos, cujo nome mudamos, vê o vídeo do momentoaposta ganha códigoque foi baleado. O mesmo foi filmado, aparentemente por um dos homens armados, no dia 5aposta ganha códigonovembro — um dia depoisaposta ganha códigoas RSF terem tomado a base militar — e publicado online.

Ahmat conta que seu primo Amir e seu amigo Abbas morreram na hora, mas ele e os outros dois sobreviveram.

Uma grande cicatriz nas costas marca o orifícioaposta ganha códigosaída da bala que atravessou seu ombro. Ele diz que era professor antes da guerra — e que todos os cinco eram civis.

“Deitamos como se estivéssemos mortos”, recorda.

"Me lembroaposta ganha códigoter rezado. Achava que era o fim."

Ahmat conta que foi sequestrado pertoaposta ganha códigosua casa por membros das RSF e seus aliados. O vídeo mostra homens vestidos no estilo típico dessas forças.

Dois outros homens relaramaposta ganha códigoforma detalhada à BBC terem sido raptados e feridos por homens armados que acreditam estarem ligados às RSF durante o mesmo períodoaposta ganha códigoArdamata.

Um deles, Yussouf Abdallah,aposta ganha código55 anos, nos disse que conseguiu escapar depoisaposta ganha códigoser mantido por homens armados. Ele relatou que viu eles matarem uma mulher e o filho recém-nascido.

Cicatriz no ombroaposta ganha códigoAhmat

Crédito, Marek Polaszewski / BBC

Legenda da foto, Ahmat mostra a cicatriz do ferimentoaposta ganha códigosaída da balaaposta ganha códigoseu ombro

“Eles perguntaram se somos da comunidade Masalit e, se você for, eles matam você automaticamente”, acrescentou.

O Sudão entrou num novo períodoaposta ganha códigoinstabilidadeaposta ganha código2019, quando protestosaposta ganha códigorua e um golpe militar puseram fim ao governoaposta ganha códigoquase três décadasaposta ganha códigoBashir.

Foi estabelecido então um governo civil-militar conjunto, que foi derrubado por outro golpe do Exército e das RSFaposta ganha códigooutubroaposta ganha código2021.

Mas os dois aliados discordaram sobre a propostaaposta ganha códigomudança para um regime civil — e sobre como as RSF deveriam ser integradas às Forças Armadas convencionais.

Em abril do ano passado, as RSF reposicionaram seus membros por todo o país. O Exército sudanês viu a movimentação como uma ameaça, e a violência começou, com nenhum dos lados querendo abdicar dos lucrativos dividendos do poder.

'À beira da fome'

Quase um ano depois, as agências humanitárias alertam para uma situação humanitária que está ficando foraaposta ganha códigocontrole — e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirma que algumas comunidades estão à beira da fome.

Manasek,aposta ganha códigotrês anos, é uma entre centenasaposta ganha códigomilharesaposta ganha códigocrianças que já sofremaposta ganha códigodesnutrição grave. Ela não tem forças para andar, e mal consegue manter a cabeça erguida.

A mãe, Ikram, nina a filhaaposta ganha códigoum hospital da Unicefaposta ganha códigoPorto Sudão, uma cidade no Mar Vermelho onde milharesaposta ganha códigopessoas que fugiram dos combatesaposta ganha códigoCartum procuraram refúgio — e para onde a maioria das instituições governamentais e organizações humanitárias também se mudaram.

Ela não sabe se Manasek tem uma doença subjacente — e não pode pagar por exames médicos para descobrir.

Ikram com a filha, Manasek, no colo

Crédito, Dany Abi Khalil / BBC

Legenda da foto, Manasek,aposta ganha códigotrês anos, sofreaposta ganha códigodesnutrição grave —aposta ganha códigomãe, Ikram, diz que os preços dos alimentos dispararam

“Perdemos as nossas vidas, perdemos os nossos empregos”, diz ela, explicando que o marido foi para o norte do Sudãoaposta ganha códigobuscaaposta ganha códigotrabalho agrícola, e como os preços dos alimentos dispararam, ficaram inacessíveis. Ela abaixa a cabeça, enxugando as lágrimas, incapazaposta ganha códigodizer mais nada.

Visitamos uma escolaaposta ganha códigoPorto Sudão. As salasaposta ganha códigoaula onde os alunos outrora estudavam, estão agora lotadasaposta ganha códigofamílias desesperadas.

Um córregoaposta ganha códigoesgoto passa pela lateral do pátio, onde crianças brincam descalças pertoaposta ganha códigopilhasaposta ganha códigolixo. Nos disseram que cinco pessoas morreramaposta ganha códigocólera aqui.

Zubaida Ammar Muhammad, mãeaposta ganha códigooito filhos, tosse ao nos contar que tem leucemia — e sente dores desde abril, quando seus remédios acabaram. Ela não foi capazaposta ganha códigoconseguir mais quando a guerra eclodiu, e a família fugiu da regiãoaposta ganha códigoCartum.

O marido dela se voluntariou para lutar com os militares sudaneses, e ela não tem notícias dele há dois meses. A mãe dela, a avó e os três filhos que ficam com elas não podem fazer praticamente nada, a não ser ver aaposta ganha códigosaúde se deteriorar.

Zubaida sentada com a avó e uma das filhas

Crédito, Dany Abi Khalil / BBC

Legenda da foto, Zubaida (ao centro) tem leucemia e está abrigadaaposta ganha códigouma escola com a avó (à esquerda), a mãe e três dos oito filhos

Em Porto Sudão, também encontramos um grupoaposta ganha códigocristãos coptas que fugiram da capital, para escapar das ameaças e ataques das RSF, e dos bombardeios aéreos militares.

“A força aéreaaposta ganha códigoCartum nos destruiu”, diz Sarah Elias, que faz parte do grupo.

Ela conta que um ataque aéreo matou seu marido, e outro atingiu a casaaposta ganha códigoum vizinho, matando nove pessoas, enquanto os militares tinham como alvo combatentes das RSF escondidosaposta ganha códigoáreas residenciais e igrejas.

Os EUA afirmam que ambos os lados cometeram crimesaposta ganha códigoguerra, e que as RSF e suas milícias aliadas também cometeram crimes contra a humanidade e limpeza étnica.

Ambos os lados negam as acusações.

Em onze mesesaposta ganha códigoguerra, há poucos sinaisaposta ganha códigoque haja qualquer vontadeaposta ganha códigoambos os ladosaposta ganha códigopôr fim ao conflito.

A maioria das pessoas que podiam, fugiram do país. E, à medida que o conflito, a fome e as doenças avançam, muita gente aqui se pergunta o que vai restar para alguém declarar vitória.

* Reportagem adicionalaposta ganha códigoPeter Ball e Mohamed Ibrahim, verificaçãoaposta ganha códigoPeter Mwai.