'O diatudo sobre roleta de cassinoque Gabriel García Márquez me fez uma listatudo sobre roleta de cassinopróprio punhotudo sobre roleta de cassinoseus clássicos essenciais da literatura':tudo sobre roleta de cassino

E ele estava certo. Não só era delicioso, mas também, como ele me disse, era o sorvete que recebiatudo sobre roleta de cassinoFidel Castro todos os anos como presentetudo sobre roleta de cassinoaniversário. Veio da famosa sorveteria Coppeliatudo sobre roleta de cassinoHavana, que era a preferida do romancista que - para minha descrença - era meu anfitrião.

A primeira colher me foi oferecida alguns minutos antes, depois que ele abriu cerimoniosamente o freezer. Eu estava fazendo contas mentais: a grande caixa branca estava armazenada há maistudo sobre roleta de cassinoum mês. O aniversáriotudo sobre roleta de cassinoGarcía Márquez foi no dia 6tudo sobre roleta de cassinomarço e aquela tarde foitudo sobre roleta de cassino8tudo sobre roleta de cassinoabril.

Eu ainda não conseguia acreditar na minha sorte. Eu estava almoçando com um dos homens que mais admirava etudo sobre roleta de cassinoesposa, Mercedes Barcha, na cozinha do apartamentotudo sobre roleta de cassinoque moravamtudo sobre roleta de cassinoCartagena, num prédio que as pessoas chamavamtudo sobre roleta de cassino"A Máquinatudo sobre roleta de cassinoEscrever".

E ele, sendo um bom contadortudo sobre roleta de cassinohistórias, não só compartilhou o que considerava o melhor sorvete do mundo, mas também os detalhes da relação que mantinha com Fidel.

Obviamente, também achei que era o melhor sorvete do mundo. Lembro-metudo sobre roleta de cassinoser sabor baunilha, excepcionalmente cremoso, e eu estava morrendotudo sobre roleta de cassinovontadetudo sobre roleta de cassinocontinuar comendo todas as colheres que ele me oferecia.

Mas fui criado como um "cachaco", que é como as pessoas da costa caribenha chamam os nascidostudo sobre roleta de cassinoBogotá. E nós, "cachacos", somos ensinados a não revelar muito os nossos gostos, a não dizer tudo o que pensamos, e que uma bolatudo sobre roleta de cassinosorvete é suficiente. Finalmente, cedi.

Até hoje lembro como um dos meus almoços preferidos, para o qual estranhamente fui convidado devido à minha relutânciatudo sobre roleta de cassinoapreciar a literatura clássica.

A pergunta

Tudo começou algumas semanas antes, quando meu chefe e primeiro mentor jornalístico, Mauricio Vargas Linares, me disse que eu representaria a revista Semana no primeiro workshop da Fundação Gabo, então chamada Fundação para um Novo Jornalismo Ibero-americano, ou FNPI. Tinha sido fundada por García Márquez alguns meses antes, com o objetivotudo sobre roleta de cassinomelhorar a formaçãotudo sobre roleta de cassinojornalistastudo sobre roleta de cassinolíngua espanhola.

Eu tinha visto García Márquez uma vez, quando ele visitou a revista. Nunca havíamos nos falado, mas ele sempre foi particularmente carinhoso com aquelestudo sobre roleta de cassinonós que estávamos apenas começando a entender a profissãotudo sobre roleta de cassinojornalista.

Jamais esquecerei quando, durante um dos fartos almoços organizados ocasionalmente pelo dono da revista, chegou García Márquez. Apesartudo sobre roleta de cassinoter um lugar reservado para ele na mesa principal com ministros e celebridades, percebeu que havia espaço na mesa mais distante, aquela ocupada pelos membros mais jovens da equipe editorial, e disse, apontandotudo sobre roleta de cassinonossa direção: "obrigado, mas vou sentar lá com os repórteres."

O workshop da FNPI seria sobre crônicas jornalísticas, e a professora seria a jornalista mexicana Alma Guillermoprieto.

Eu tinha acabadotudo sobre roleta de cassinocompletar 23 anos e tentava aprender tudo o que podia com o seleto grupotudo sobre roleta de cassinojornalistas experientes que produziam a influente revista semanal onde eu trabalhava. Eu não falava inglês e não tinha ideia do que era a revista The New Yorker, muito menos quem era Guillermoprieto.

Também nunca tinha ouvido falar do Diário do Ano da Peste,tudo sobre roleta de cassinoDaniel Defoe, o livro que tínhamos que ler antestudo sobre roleta de cassinoir para Cartagena.

Trata-setudo sobre roleta de cassinoum relato romanceado da peste que devastou Londres e seus arredores entre 1664 e 1666, que, como descobri mais tarde, García Márquez considerava um dos maiores relatos da história.

Durante aquela semanatudo sobre roleta de cassinoworkshop, Alma Guillermoprieto me ensinou que não é preciso ser pretensioso para ser profissional, que rigor é inegociável e que a melhor formatudo sobre roleta de cassinotratartudo sobre roleta de cassinoquestões importantes é atravéstudo sobre roleta de cassinohistórias específicas, como ela tinha feito nas 13 cartas da América Latina originalmente publicadastudo sobre roleta de cassinoinglês na The New Yorker e compiladas no livro At the foot at the volcano I write (Ao pé do vulcão eu escrevo), que tinha acabadotudo sobre roleta de cassinoser traduzido para o espanhol.

García Márquez tinha plena consciência da admiração e da adulação que despertava nos dez jovens jornalistas selecionados para o workshop, mas fez o possível para baixar a temperatura emocional e a formalidade das sessões.

Ele nos tratou como se nos conhecesse desde sempre, e não creio que seja exagero dizer que um observador desavisado poderia facilmente dizer que ele era o mais entusiasmadotudo sobre roleta de cassinotodos.

Para comemorar o fim do workshop, ele nos convidou para jantar na sexta-feira no La Vitrola, naquela época o restaurante onde a grande boemia cartagena se reunia, cenáriotudo sobre roleta de cassinonoites e conversas lendárias entre ele e artistas como Alejandro Obregón e Enrique Grau, apenas para citar alguns.

Passei boa parte da noite pensando qual seria o momento ideal para confessar a García Márquez que achava a literatura clássica terrivelmente chata e, por mais que tentasse me aprofundar nela, ela produziatudo sobre roleta de cassinomim um tédio espantoso. Queria perguntar a ele se eu realmente precisava ler todos os clássicos para melhorar minhas habilidades jornalísticas.

Mas como diabos eu poderia admitir para ele minha simplicidade intelectual?

Enquanto lutava mentalmente contra minhas inseguranças,tudo sobre roleta de cassinomeio ao barulhotudo sobre roleta de cassinopratos, copos e música ensurdecedora, ele pareceu se despedirtudo sobre roleta de cassinotodos os alunos.

"Professor, mais uma coisa", eu disse ansiosamente enquanto me levantava da cadeira e tentava irtudo sobre roleta de cassinodireção a ele.

Ele ergueu as sobrancelhas e senti que ele me deu permissão para continuar.

"Eu queria perguntar a você sobre literatura clássica e o que devo fazer para conseguir lê-la."

"Quanto tempo você vai ficartudo sobre roleta de cassinoCartagena?", ele perguntou.

"Decidi ficar e curtir o fimtudo sobre roleta de cassinosemana", eu disse.

"Muito bem, me ligue amanhã."

"Mas eu não tenho seu númerotudo sobre roleta de cassinotelefone..."

"650143", ele ditou…

Numa das muitas coisas idiotas que fiz quando jovem, decidi tentar memorizar o número sem anotá-lo.

"O que hátudo sobre roleta de cassinoerrado com você, repórter?", ele disse com um sorriso enquanto me ofereciatudo sobre roleta de cassinocaneta. "Anotetudo sobre roleta de cassinoum pedaçotudo sobre roleta de cassinopapel, ou você esquecerá e se arrependerá pelo resto da vida."

A lista

Naquela noite dormi pouco. A cada 20 minutos, eu verificava se já era um horário civilizado para ligar. Quando o relógio finalmente deu nove da manhã, ousei discar os números anotados.

"Merce, temos planos para o almoço?" — perguntou o escritor à esposa, interrompendo brevemente nossa conversa.

"Tudo bem, então direi a Alvarez para vir", acrescentou.

Assim que aceiteitudo sobre roleta de cassinooferta, liguei ansiosamente para meu chefe.

"O que devo fazer? O que devo levar? Como devo me vestir?"

"Não seja idiota, nada do que você trouxer ou fizer irá impressioná-lo. Não pense nisso, vá e seja você mesmo, não finja ser outra pessoa e aproveite o almoço", ele sabiamente me aconselhou.

Decidi vestir minha camiseta e jeanstudo sobre roleta de cassinosempre e esperei ansiosamente pelo meio-dia para me dirigir ao encontrotudo sobre roleta de cassinoseu apartamento.

Comemos peixe frito, banana frita e arroztudo sobre roleta de cassinococo no almoço e, depois do sorvete, finalmente me atrevi a falar.

"Professor, devo confessar que fico terrivelmente entediado com os clássicos e não consegui ler nenhum deles."

Ele me contou que quando jovem também via os clássicos com desdém, até que uma vez ouviutudo sobre roleta de cassinoum mentor que ele nunca se tornaria um grande escritor se não conhecesse os clássicos gregos.

E me disse que, quando os descobriu, se apaixonou por eles. Ele faloutudo sobre roleta de cassinosua obsessão por Édipo etudo sobre roleta de cassinocomo sempre foi seduzido pela históriatudo sobre roleta de cassinoum homem que queria investigar quem havia matado seu pai, apenas para concluir tragicamente que o próprio era o assassino.

Pediu que eu fizesse um esforço para superar o tédio que a língua antiga geravatudo sobre roleta de cassinomim e me concentrar nas histórias fabulosas que contavam.

"E se você tivesse que fazer uma lista dos clássicos essenciais, quais estariam incluídos?", perguntei.

"Vamos fazer a lista", disse ele entusiasmado enquanto abria rapidamente seu cadernotudo sobre roleta de cassinorepórter e começava a escrever a lista que ilustra esta história e que transcrevo abaixo como ele a escreveu (traduzida para o português):

1. A Bíblia

2. Mil e Uma Noites

2a Platão e Aristóteles

3. A Odisseia

3a Os Filósofos Ilustres. Diógenes Laércio

4. Sófocles: Édipo

5. Os Doze Césares (Suetônio)

6. Plutarco

7. A Divina Comédia (Inferno)

8. Horácio (Poesia)

9. El mio cid (Romances)

10. Amadis da Gália

11. Dom Quixote

12. Poesia: Idadetudo sobre roleta de cassinoOuro Espanhola

13. Gargântua e Pantagruel

14. Paraíso Perdido - Milton

15. Cronistas das Índias

16. -

Isso é o que eu tenho. Até hoje, lamento o grande erro que cometi ao não anotar o que ele me contava sobre cada obra enquanto ele fazia a lista. Não me lembro por que ele usou 2a e 3a, por exemplo. Qual era a lógica por trás dessa subdivisão? Também não me lembro por que o número 16 permaneceu vazio.

Estou cientetudo sobre roleta de cassinoque esta lista, que decidi compartilhar hoje, no décimo aniversário datudo sobre roleta de cassinomorte, teria sido mais útil se contivesse observações mais precisas sobre o motivo pelo qual incluiu cada obra. Talvez seja por isso que sempre tive uma certa relutânciatudo sobre roleta de cassinocompartilhá-la.

Mas, recentemente, ao ver a emoção que a lista penduradatudo sobre roleta de cassinouma das paredes da minha casa despertou numa amiga bibliófila, pensei que, independentetudo sobre roleta de cassinoquaisquer erros jornalísticos na história que conto, poderia ter algum valor anedótico para aqueles que vierem a conhecê-la.

Também lembrei da grande frase que o próprio García Márquez disse ao publicar suas memórias: "A vida não é o que se viveu, mas o que se lembra e como se lembra para contar".

Ao longo dos anos, li algumas Crônicas das Índias, Édipo, Mil e Uma Noites, A Odisseia, passagens da Bíblia, da Divina Comédia e alguns poemas da Idadetudo sobre roleta de cassinoOuro. Mas creio que o autor daquela lista maravilhosa e improvisadatudo sobre roleta de cassinouma tardetudo sobre roleta de cassinoabril não teria ficado descontente comigo por eu não ter dado o devido respeito a cada umatudo sobre roleta de cassinosuas recomendações.

É o que penso, a títulotudo sobre roleta de cassinoconsolo, quando me lembrotudo sobre roleta de cassinooutro conselho que ele me deu naquela tarde inesquecível, quando,tudo sobre roleta de cassinooutra confissão constrangedora, admiti que ainda não tinha conseguido ler Dom Quixote: "O que recomendo é que você deixe o livrotudo sobre roleta de cassinocima do vaso sanitário, para cada vez que você sentar lá você ler um pouco."