Tim Vickery: Como nasceu a 'dolce vita' italiana nos anos 1950:pré aposta bet

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Isso tem tradição. Não sou o único entre os meus conterrâneos a pensar assim. O próprio Karl Marx acusou os inglesespré aposta betsofrerpré aposta bet"silly italianism", mas quando se cresce num clima cinzento isso é uma armadilha fácil.
Sou vítima das minhas circunstâncias. Lembropré aposta bettardespré aposta betdomingo chuvosos na minha infância quando estavam passando na televisão um daqueles filmes da época "Hollywood no rio Tibre", a épocapré aposta bet1953 a 1963, quando os americanos foram para Roma para contar histórias cheiaspré aposta betsol epré aposta betleveza. Plantaram uma semente.

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Nunca consegui ir para lá. Duas vezes estava com a passagem na mão. Na primeira,pré aposta bet2011, apareceu, bem na hora, uma nuvempré aposta betcinzas vulcânicas que impediu o voo. E na segunda, cinco anos mais tarde, tive problemas durante a recuperaçãopré aposta betuma cirurgia e fui obrigado a cancelar. Recebo isso como uma mensagem dos deuses romanos - a realidade não vai corrensponder ao sonho. Melhor ficar com o sonho.
Claro que a imagem da la dolce vita não passapré aposta betum mito, uma visão glamorizada. O filme (La Dolce Vita, com Mastroianni e Anita Ekberg,pré aposta betFederico Fellini, foi lançado no iníciopré aposta bet1960) funciona por um lado como uma condenação da vida moderna e da superficialidadepré aposta betseus valores. Mas, como é tão frequente com grandes obraspré aposta betarte, há uma ambiguidade no ar.
Enquanto o roteiro critica, a câmera está apaixonada pela vitalidade desse novo mundo; adora a energia e esperteza dos paparazzi (uma palavra que o filme inventou e apresentou ao mundo) e se encanta com a Via Veneto, com o glamourpré aposta betsuas celebridades.
Fellini se empolgou com a ideiapré aposta betfazer o filme exatamente 60 anos atrás, agostopré aposta bet1958, quando brigas entre fotógrafos e atores fizeram manchetes. Ele foi atraído justamente pela novidadepré aposta bettudo.
Aquelas Vespas, sem o que fica impossível imaginar a Roma da época, começaram a ser fabricadas somentepré aposta bet1946. O filme A Princesa e o Plebeu,pré aposta bet1953, foi importantepré aposta betdivulgar e popularizar essa nova formapré aposta bettransporte urbano.
Nesse filme, Gregory Peck ainda está vestindo um terno dos velhos tempos, tão grande que daria para uma família inteira se esconder ali dentro. Elegância zero. Jápré aposta betLa Dolce Vita, Mastroianni veste o modelo mais novo, mais colado ao corpo da marca Brioni, uma empresa que abriu somente depois da Segunda Guerra Mundial.
Aliás, a noçãopré aposta betestilo italiano pertence ao pós-guerra, uma invençãopré aposta betum visionário que entendeu que o país era capazpré aposta betproduzir linhaspré aposta betroupas coloridas e informais, mais alinhadas com o gosto americanopré aposta betcomparação com a friezapré aposta betParis, que dominava o cenário da moda até então.

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Dez anos antes, seria impossível conceber um filme italiano explorando temas da modernidade e problemas existenciais da prosperidade.
Os filmes italianos no final da décadapré aposta bet40 mergulharam nos assuntos da pobreza e foram feitos no estilo "neorrealista" que teve grande influência numa geraçãopré aposta betcineastas brasileiros.
Nada a ver com La Dolce Vita,pré aposta betque Fellini estava fascinado com os exagerospré aposta betuma época nova. Ele estava observando um país enfim livre das restrições do fascismo e da guerra, uma sociedadepré aposta betque avanços tecnológicos estavam trazendo novas maneiraspré aposta betviver e pensar, que estavapré aposta betpleno desenvolvimento, passando pelo período conhecido como il boom (a explosão,pré aposta bettradução livre).
Quase 30% da população migrou, geralmente do sul agrário para o norte industrial. Esse período ficou conhecido como "a era da malapré aposta betpapelão". Mas os agora ex-camponeses contribuíram para um crescimento, durante os anos 1950,pré aposta betmaispré aposta bet100% da produção industrial epré aposta bet78% do PIB italiano.
Impressiona bastante a velocidade da mudança, a maneira que 1958 foi tão diferentepré aposta bet1948, apenas dez anos antes. Impressiona e também inspira.
Seria muito bom se fosse possível capturar essa energia e trazê-la para nossa realidade. Vou continuar sonhando com uma dolce vita para todos!
*Tim Vickery é colunista da BBC News Brasil e formadopré aposta betHistória e Política pela Universidadepré aposta betWarwick.
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