Africanos temem perdastake apostas siteespaço no novo governo brasileiro:stake apostas site

O antropólogo congolês Kabengele Munanga

Crédito, STF

Legenda da foto, Antropólogo Kabengele Munanga diz temer mudança da postura brasileira

No governo Lula (2003-2010), o Brasil inaugurou 19 das 37 embaixadas que mantém na África, tornando-se o país com a quinta maior presença diplomática no continente. O comércio do Brasil como os países africanos passoustake apostas siteUS$ 6 bilhões,stake apostas site2003, a US$ 26,5 bilhões,stake apostas site2012.

No período, empresas brasileiras - entre as quais Odebrecht, Camargo Correia e Vale - também expandiramstake apostas siteatuação no continente, muitas vezes amparadas por empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).

O ministro das Relações Exteriores, José Serra, durante coletiva sobre açõesstake apostas sitesegurança nas fronteirasstake apostas site25stake apostas sitemaiostake apostas site2016

Crédito, Ag. Brasil

Legenda da foto, Serra sinalizou que pode fechar algumas embaixadas

Acadêmicos e diplomatas dizem que a aproximação com a África foi crucial para que o Brasil conseguisse eleger os atuais diretores-gerais da OMC (Organização Mundial do Comércio), Roberto Azevêdo, e da FAO (agência da ONU para agricultura), José Graziano. Com a estratégia, o Brasil também esperava contar com o apoio africano a uma reforma do Conselhostake apostas siteSegurança da ONU que incorporasse o Brasil como membro permanente.

Serra diz que a África não perderá espaço no novo governo. Em 28stake apostas sitemaio, emstake apostas sitesegunda viagem como chanceler, ele visitou Cabo Verde, ex-colônia portuguesa considerada um "casostake apostas sitesucesso" no continente.

'Política diferenciada'

O antropólogo congolês Kabengele Munanga, professor visitante da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, diz se preocupar não só com a extinção das missões, mas com uma mudança na postura que o Brasil mantevestake apostas siterelação à África na última década.

"Era uma política diferenciada porque sentíamos que, ainda que não haja relações sem interesse, era uma relaçãostake apostas siterespeito, solidariedade e consideração com os países africanos", ele diz à BBC Brasil.

Munanga diz que, diferentementestake apostas sitepotências, o Brasil se relaciona com países do continente "sem complexostake apostas sitesuperioridade". Ele descreve o clima festivo numa recepção a Lula no Benin, quando o presidente esteve acompanhado por seu chanceler, Celso Amorim, e pelo então ministro da Cultura, Gilberto Gil. "Todos estavam muito à vontade. Gil vestia uma bata africana e dançava. Nunca vi isso entre diplomatas europeus."

Lulastake apostas siteJohannesburgo, na Áfica do Sul,stake apostas site2010

Crédito, Ag. Brasil

Legenda da foto, Lula fez várias visitas à África durante seu governo

Em 2005, numa das várias visitas que fez ao continente, Lula pediu perdão pelos africanos escravizados enviados ao Brasil.

Munanga também diz temer cortes nos programasstake apostas siteintercâmbio estudantil que o Brasil mantém com países africanos. Desde o início do século, milharesstake apostas sitejovens africanos ganharam bolsas para estudarstake apostas siteuniversidades públicas brasileiras.

Segundo Munanga, a maioria dos estudantes pertence a famílias pobres, já que as mais ricas costumam mandar seus filhos para universidades na Europa ou nos EUA. O antropólogo afirma que esses jovens criam laços com o Brasil e, ao voltar à terra natal, assumem posiçõesstake apostas sitedestaque, ajudando a estreitar a relação com o país que os acolheu.

Para o sociólogo brasileiro Alex André Vargem, que pesquisa temas africanos, a relação do Brasil com o continente "deve ser pensada a partir do reconhecimentostake apostas siteque mais da metade dos brasileiros tem antepassados africanos".

"O Brasil ainda não enxerga a África como partestake apostas sitesua própria história", ele diz. Para Vargem, fechar embaixadas no continente iria na contramãostake apostas siteações para reparar injustiças históricas contra os negros, como a criaçãostake apostas sitecotas raciais.

Marisa Letícia, Lula, Gilberto Gil e Celso Amorim na inauguraçãostake apostas siteembaixada brasileirastake apostas siteSão Tomé e Príncipe

Crédito, Ag. Brasil

Legenda da foto, Africano relembra clima festivostake apostas siterecepções a Lula no continente

Segundo ele, ao dizer que a "África moderna não pede compaixão", Serra ignora cicatrizes ainda abertas na relação do Brasil com o continente, que remontam à escravidão. O sociólogo afirma que a extinçãostake apostas sitepostos também dificultaria a idastake apostas siteimigrantes e regufiados africanos ao Brasil. Segundo o IBGE, havia 15 mil africanos no Brasilstake apostas site2010. Acredita-se que o número seja bem maior.

Um diplomata africano que já atuou no Brasil e hoje servestake apostas siteWashington disse à BBC Brasil que países que tiverem embaixadas fechadas podem encarar a ação como um "ato hostil". Muitas das nações onde o Brasil abriu missões nos últimos anos retribuiram o gesto, inaugurando embaixadasstake apostas siteBrasília.

"São países muito pobres, mas que mesmo assim investiram tempo e recursos nessa relação", ele afirma. "Vai parecer que todo o esforço foistake apostas sitevão e pode fazer o país desconfiar se o Brasil tentar alguma reaproximação no futuro."

Se levar o plano adiante, não seria a primeira vez que o Itamaraty fecha embaixadas na África. No governo Fernando Henrique Cardoso, foram fechados postos na Zâmbia, República Democrática do Congo e Tunísia - todos reabertos nos anos Lula.

'Maior ativo diplomático'

Mesmo dentro do Itamaraty, o fechamentostake apostas sitepostos é polêmico.

Um diplomata diz que a redestake apostas siteembaixadas do Brasil é um dos maiores "ativos diplomáticos" do país. Uma embaixada num país pequeno, afirma ele, gera custos relativamente baixos e oferece vantagens expressivas. Nesses locais, segundo o diplomata, muitos embaixadores têm o celular do chanceler ou do próprio presidente, o que facilita negociaçõesstake apostas siteinteresse do país.

Outros diplomatas defendem enxugar a operação na África e no Caribe.

Dilma Rousseff desembarcastake apostas sitePretória, na África do Sul,stake apostas site2011

Crédito, Ag. Brasil

Legenda da foto, Diplomata afirma que países africanos se decepcionaram com os anos Dilma

Um embaixador afirma à BBC Brasil que "talvez tenhamos expandido demais" o númerostake apostas sitepostos. Para ele, algumas embaixadas não geraram os benefícios esperados e não há justificativas para mantê-las num cenáriostake apostas sitefaltastake apostas siterecursos.

O diplomata diz que, mais importante que manter todas as embaixadas é revitalizar os programasstake apostas sitecooperação com nações caribenhas e africanas. Segundo ele, muitos países dessas regiões já estão decepcionados com a reduçãostake apostas siterecursos nos anos Dilma.

No fim do governo Lula, o orçamento da Agência Brasileirastake apostas siteCooperação (ABC), que coordena esses programas, alcançava US$ 100 milhões. Sob Dilma, o montante despencou para US$ 6 milhões.

O diplomata defende que as embaixadas sejam fechadasstake apostas sitemaneira "inteligente", oferecendo aos países algostake apostas siteque necessitem, como treinamento profissional ou ações para o aprimoramento da agricultura.