'Quando visto meu jaleco, me torno um sonho possível para as crianças da favela', diz estudante negrajogo de sinuca onlineMedicina:jogo de sinuca online
- Luis Barrucho - @luisbarrucho
- Da BBC Brasiljogo de sinuca onlineLondres

Crédito, Bocajogo de sinuca onlineFavela
"Você não tem carajogo de sinuca onlinemédica", ouviu Mirna Moreira
jogo de sinuca online A carioca Mirna Moreira,jogo de sinuca online22 anos, lembra-se da reação dos colegas no diajogo de sinuca onlineque obteve nota máxima na disciplinajogo de sinuca onlineAnatomia, a mais temida por alunos recém-ingressados no cursojogo de sinuca onlineMedicina da Uerj (Universidade Estadual do Riojogo de sinuca onlineJaneiro)
"Eu e uma outra menina ─ branca ─ gabaritamos a prova dessa matéria. Ninguém se surpreendeu com o desempenho dela, mas comigo foi diferente. Algumas pessoas ficaram surpresas. Ouvi a frase 'Como assim você conseguiu?'", recorda.
Negra e cotista, Mirna nasceu e cresceu no Complexo do Lins, conjuntojogo de sinuca onlinefavelas na zona norte do Rio onde vive até hoje com a família.
Filhajogo de sinuca onlineuma telefonista ejogo de sinuca onlineum bombeiro, diz se considerar "privilegiada" diante da realidade hostil que a cerca. Mas não se esquece das raízes.
"Quero devolver à minha comunidade o que vou aprender no cursojogo de sinuca onlineMedicina. Quando ponho meu jaleco, prescrevo sonhos", diz ela sobre a perspectivajogo de sinuca onlinefuturo que diz mostrar às crianças da favela.
Recentemente, um post da página Bocajogo de sinuca onlineFavela no Facebook sobre Mirna viralizou. Foram quase 79 mil curtidas e maisjogo de sinuca online17 mil compartilhamentos.
Em depoimento à BBC Brasil, ela falou sobre pobreza, racismo, negritude e empoderamento feminino. Confira:
" jogo de sinuca online Nasci e cresci no Complexo do Lins, conjuntojogo de sinuca onlinefavelas na Zona Norte do Riojogo de sinuca onlineJaneiro. Hoje, aos 22 anos, me sinto uma privilegiada. Por esforço dos meus pais ─ ele, bombeiro, ela telefonista ─ consegui ter acesso ao estudo e foi por causa deles que hoje faço Medicina.
É até engraçado falarjogo de sinuca onlineprivilégio nas minhas circunstâncias. jogo de sinuca online Mas não são todas as pessoas daqui que têm um sonho e podem concretizá-lo. Sou uma exceção à regra. Fala-sejogo de sinuca onlinemeritocracia, mas ela é inexistente a partir do momento que nem todo mundo tem as mesmas oportunidades.
Com exceção do primário, sempre estudeijogo de sinuca onlinecolégio particular. Ganhava bolsas parciais e meus pais se esforçavam para pagar o resto. Quando fiz curso pré-vestibular, a mensalidade erajogo de sinuca onlineR$ 2 mil. Nunca teria esse dinheiro. Mas conviver com essas duas realidades completamente diferentes me permitiu ter maior senso crítico. jogo de sinuca online Conto nos dedos das mãos, por exemplo, os amigos que frequentavam minha casa durante a escola.
É desafiador ser negro e morarjogo de sinuca onlineuma favela no Brasil. jogo de sinuca online Vivo um preconceito duplo. Vez ou outra, sou seguida por segurançasjogo de sinuca onlinelojas.

Crédito, Mirna Moreira
Post sobre Mirna Moreira, que morajogo de sinuca onlinefavela na zona norte do Riojogo de sinuca onlineJaneiro, viralizou nas redes sociais
Medicina
E quando decidi cursar Medicina, embora sempre tenha tido o apoio dos meus pais, muita gente próxima questionou minha escolha. Me perguntavam: jogo de sinuca online 'Você quer isso mesmo? Você não tem carajogo de sinuca onlinemédica'.
Entendojogo de sinuca onlineparte esse pensamento. A sociedade diz a nós, negros, que não vamos conseguir. Além disso, continuamos sofrendo com a faltajogo de sinuca onlinerepresentatividade. Você entrajogo de sinuca onlineum hospital e vê poucos médicos negros. Atores negros ainda são uma minoria nas novelas. E tudo isso apesarjogo de sinuca onlinesermos a maioria da população.
Prestei vestibular por três anos até conseguir passar no cursojogo de sinuca onlineMedicina. Entrei por cotas, mas não estudei menos por isso. Nas vezes que fui reprovada, fiquei muito mal. Sabia que meus pais tinham outras contas para pagar e não poderiam me bancar nessa situação. jogo de sinuca online Mas eles não desistiram do meu sonho. Nem eu.
Escolhi Medicina pela artejogo de sinuca onlinecuidar do outro. E pretendo ser médicajogo de sinuca onlinefamília. Não se tratajogo de sinuca onlineuma especialização muito divulgada e é até desprezada pelos próprios médicos.
Mas acho que meu envolvimento com essa área diz muitojogo de sinuca onlineonde eu venho. jogo de sinuca online Quero devolver à minha comunidade o que me foi dado e atender a quem realmente precisa.
Racismo
Não vou generalizar, mas jogo de sinuca online sempre tem alguém que me olha torto na faculdade. Porque sou negra, moradorajogo de sinuca onlinefavela e cotista.
No primeiro período, por exemplo, aconteceu um episódio do qual não me esqueço.
Eu e uma menina branca fomos as únicas a gabaritar a prova teóricajogo de sinuca onlineAnatomia, uma das disciplinas mais temidas pelos alunos. Alguns colegas ficaram surpresos. Disseram que 'escondi o jogo' e me perguntaram como eu tinha tirado uma nota daquelas. Por quê? Se as pessoas mal se conheciam, por que tanta surpresa com o meu desempenho e não com o dela?
Recentemente, também fui alvojogo de sinuca onlineum ataque racista na internet. Uma página moderada pelos alunos da Uerj, sem vínculo com a universidade, decidiu fazer um concursojogo de sinuca onlinebeleza. Cada curso tinha uma representante - e eu fui escolhida para representar o cursojogo de sinuca onlineMedicina.
Minha foto recebeu vários comentários racistas. Li coisas do tipo: jogo de sinuca online "Como assim essa preta tá fazendo Medicina?" ou "Você vota na negra mas não alimenta macaco no zoológico".
Decidi registrar uma denúncia na polícia. Mas não houve investigação. Se você não é artista, demora bastante.
Negritude
Acho que essa minha iniciativa foi um reflexo da minha maturidade. Me sinto mais consciente sobre meus direitos. jogo de sinuca online E também resolvi assumirjogo de sinuca onlinevez minha negritude, começando pelo meu cabelo.
Desde criança, alisava os fios. Hoje, percebo que fazia isso porque queria me enquadrar. Na escola, minhas amigas eram brancas e tinham cabelo liso.
Mas resolvi parar. Não queria mais ser refémjogo de sinuca onlinealgo que não me fazia bem. E foi uma ótima surpresa. Meu cabelo é lindo e amo os meus cachos. Antigamente, me embranquecia. Isso acabou. jogo de sinuca online Tenho orgulhojogo de sinuca onlineser negra.
E hoje tenho cada vez mais certeza disso. Há alguns meses, participeijogo de sinuca onlineuma ação sobre sexualidade na adolescência para escolas públicas no Morro dos Macacos. Na saídajogo de sinuca onlineuma delas, as meninas negras pediram para tirar fotos comigo e elogiaram meu cabelo crespo. Elas me viram como referência.
Isso porque, jogo de sinuca online quando entro na favelajogo de sinuca onlinejaleco, não prescrevo apenas remédios, prescrevo sonhos. Mostro para essas meninas que elas podem ter um futuro.
Coincidentemente, porém, no dia dessa ação na escola, voltei no mesmo ônibus que uma aluna. E quando desci no mesmo ponto que ela aqui pertojogo de sinuca onlinecasa, ela perguntou: 'o que você tá fazendo aqui'?
Chorei muito. Mas isso só me fez ter mais consciência da minha função social. Com o perdão do trocadilho, jogo de sinuca online quero poder dar uma 'injeçãojogo de sinuca onlineânimo' nessas pessoas.
Reconheço que aqui os sonhos são muitas vezes limitados pela faltajogo de sinuca onlineoportunidades. Mas espero que um dia todos nós tenhamos chances iguais.
Não vai ser fácil, mas sei que é possível."







