De lavadorpoker esportecarros aos 13 anos a empreendedor milionário:poker esporte

Crédito, Phil Clarke Hill/BBC Brasil
Mas fatos como esse não lhe causam espanto. "Já fui pobre e também discriminado. Mas ao ascender, nada mudou. Vejo muito poucos negros como eu e, por isso, confundo as pessoas."
Santos é o quarto dos cinco filhospoker esporteuma mãe empregada doméstica e um pai sargento da Marinha. Nasceu no subúrbio do Riopoker esporteJaneiro e, aos 13 anos, passou a ganhar a vida como lavadorpoker esportecarros.
Um dia, foi convidado a trabalharpoker esporteuma concessionária. Ali nasceu apoker esporteprimeira empresa, confirmando o espírito empreendedor do futuro empresário. "Eu tinha uns 20 anos e convidei meus amigos para me ajudar na lavagem. Foi assim que montei minha primeira equipepoker esportetrabalho", relembra.
De empregado a empreendedorpoker esportesérie

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Após concluir o equivalente ao atual ensino médio, Santos entrou para a faculdadepoker esporteDireito. Para pagar a mensalidade, largou o negóciopoker esportelavagem e passou a trabalhar como segurançapoker esporteprédio.
"Mas o emprego não me permitia cursar a faculdade. Para pagar o curso, trabalhava três turnospoker esporte24 horas durante toda a semana. Não tinha folga", relembra. "Por isso, abandonei."
Tudo mudou ao virar segurança particularpoker esporteuma família rica. "O salário que me pagavam era cinco vezes maior do que eu ganhava no emprego anterior, pois trabalhavapoker esportetempo integral e dormia no emprego", afirma.
Durante os seis anos na função, tornou-se encarregadopoker esporteadministrar todos os empregados da casa. Foi aí que teve a ideiapoker esporteabrir uma empresapoker esporteconservação e limpeza, com a qual passou a fazer a manutençãopoker esportetodas as empresas do patrão.
Os negócios prosperaram. De empregado, passou a ser patrão, mas acabou fechando o negócio após uma sériepoker esporteproblemas pessoais.
"Fui embora para a Europa atráspoker esporteuma namorada alemã. Lá, tive acesso a um novo mundo, a novas tecnologias e a uma outra língua. Isso abriu minha cabeça. Ao voltar para o Brasil, já tinha mais ideiaspoker esportenegócio e retomei meus estudos", conta.
Santos abriu então uma consultoria e assessoriapoker esporteaviação - tinha feito um cursopoker esportedireito aeronáutico na Alemanha. "Por coincidência, meu irmão mais velho, que era militar, estava trabalhando nesta área. E juntos abrimos esta empresa."

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Mais uma vez foi bem-sucedido e, com o lucro, iniciou um segundo negócio: a vendapoker esporteresíduospoker esportelixo.
"Era o ano 2000. Estava assistindo a uma reportagem na TV sobre a vidapoker esporteuma senhora catadorapoker esportelixo. Aquilo me tocou, e me perguntei o que eu poderia fazer para ajudar essas pessoas. Foi aí que criei um projeto sobre este tema e, ao tentar ajudar outros, foi o projeto que acabou me ajudando."
Santos percebeu o enorme potencial daquele negócio ao entender que a grande quantidadepoker esportelixo recolhido por aquelas pessoas, se reciclada, poderia ser vendida para a indústria.
"Deu certo. Estou há 16 anos neste mercado, dei formação a inúmeros catadores e domino toda a logística."
Estranhamento
É como empresário que ele se destaca e transitapoker esportemeio à elite. Viaja constantemente a trabalho e estápoker esportecontato com diretorespoker esportemultinacionais.
Ao explicar seu projeto a um alto executivopoker esporteum desses encontros, voltou a sentir na pele o estranhamento por ser um negropoker esporteposiçãopoker esportecomando.
"O tal diretor franzia a testa o tempo todo e, por fim, perguntou como eu era capazpoker esportepensarpoker esportetudo aquilo se ele mesmo, com toda a formação que tinha, não conseguia fazer o que eu fazia."

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Para Emerson Rocha, sociólogo e pesquisador na Universidadepoker esporteBrasília (UnB) sobre a presença do negro na riqueza, histórias como apoker esporteSantos jogam por terra o mitopoker esporteque a discriminação no Brasil é mais social do que racial.
"A ideiapoker esporteque o negro qualificado ou que ascende socialmente é visto como branco é equivocada. Mais do que nunca, ele é um negro e fora do lugar", explica.
"É por isso que é muito comum a ele ser confundido como ladrãopoker esporteseu próprio carropoker esporteluxo, já que não se espera que ele possua um. Ou é muito comum alguém custar a acreditar que aquele negro possa ser engenheiro, juiz, médico ou arquiteto, porquepoker esportepessoas negras não se esperam ocupar tais posições. Daí o espanto."
Ainda segundo Rocha, é no espaço do mercadopoker esportetrabalho privado que a discriminação ocorre mais - principalmentepoker esportepostospoker esportedireção, entre gestores e gerentes. E isso refletepoker esporteuma maior desigualdade racial no topo da pirâmide.
"O funcionalismo público já é um segmento com elevada renda média e responsável por inserir muitas pessoas nos estratos mais ricos da sociedade. Não havendo a subjetividadepoker esporteum recrutadorpoker esporteaceitar ou não um candidato pelo critério da cor, fica mais fácil haver uma maior presençapoker esportenegros no setor público do que no privado."
Santos chegou ao 1% mais rico pelo empreendedorismo, mas nota a ausênciapoker esportemais empresários negros no mercadopoker esportemédio e grande porte.
"Alémpoker esportemim, conheço apenas mais um. Tenho negóciospoker esporteNova York e trato com muitos empresários negros. Mas no Brasil infelizmente isso ainda não acontece", reconhece.
Segundo Rocha, histórias positivas como a do empresário servem muitas vezes a discursos que tentam negar a existênciapoker esportebarreiras e mesmo do racismo. Apesar desse risco, são trajetórias que precisam ser destacadas para mostrar que, sim, a superação é possível.
Esta reportagem faz partepoker esporteuma série sobre a vidapoker esportenegros que fazem parte do 1% mais rico da população brasileira - leia aqui, aqui e aqui os outros textos.
Segundo dados do IBGE, o totalpoker esportenegros nesse grupo aumentou cinco pontos percentuais nos últimos 12 anos (de 12,4% para 17,4%), mas ainda está longepoker esporterepresentar o peso da população declarada negra (pretos e pardos), que corresponde a 53,6% dos brasileiros.








