Brasil deveria aumentar impostos sobre bebidas açucaradas para combater a obesidade?:blaze com jogar

  • Mariana Della Barba
  • Da BBC Brasilblaze com jogarSão Paulo
Jovem tomando uma bebidablaze com jogargarrafa PET

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Bebidas açucaradas são apontadas como um dos vilões das altas taxasblaze com jogarobesidade, especialmente entre jovens

blaze com jogar Um copoblaze com jogarrefrigerante oublaze com jogarsuco artificial é mais prejudicial à saúde que um cupcake, ao pontoblaze com jogarmerecer ser alvoblaze com jogarmais impostos na luta contra a obesidade?

Para a populaçãoblaze com jogaralgumas cidades americanas, a resposta é sim. Em referendos na última eleição, eles aprovaram a criaçãoblaze com jogarum imposto sobre bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos artificiais.

Isso porque, diferentementeblaze com jogarbolinhosblaze com jogarchocolate vistosos, essas bebidas não são automaticamente vistas como uma ameaça à saúde.

Ou seja, quando uma pessoa come bolo ou bombons, ela costuma ter a consciênciablaze com jogarque está ingerindo algo que pode ser prejudicial, o que geralmente não ocorre com uma caixinhablaze com jogarsucoblaze com jogarpêssego ou uma bebida à baseblaze com jogarcafé com caramelo ou outras misturas açucaradas.

Em San Francisco, Oakland, Albany (Califórnia) e Boulder (Colorado), haverá um aumentoblaze com jogaraté 20% no preçoblaze com jogardiversos tipos dessas bebidas doces - apontadas como um dos principais vilões para os altos índicesblaze com jogarobesidade, especialmenteblaze com jogarcrianças e jovens.

A criação do imposto está alinhada com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que tem promovido uma verdadeira cruzada contra essas bebidas e recomendou, no mês passado, que os países criem impostos sobre elas.

Copoblaze com jogarrefrigerante

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Segundo OMS, aumento no impostoblaze com jogarbebidas como refrigerantes teria como resultado a redução dos índicesblaze com jogarsobrepeso e obesidade

Segundo a organização, um aumentoblaze com jogar20% no preço já resultablaze com jogarreduções no consumo desses produtos e, consequentemente,blaze com jogarproblemas como sobrepeso, obesidade, diabetes tipo 2 e cáries.

No entanto, para a Associação Brasileira das Indústriasblaze com jogarRefrigerantes eblaze com jogarBebidas Não-alcoólicas (Abir), que reúne as principais marcasblaze com jogarrefrigerante e sucos artificiais no país, esse tipoblaze com jogarimposto não traz resultados reais e fere a liberdade individual do consumidor.

Resistência no Brasil

Essa taxação já foi aprovada ou estáblaze com jogarvigorblaze com jogarpaíses como Reino Unido, México, Dinamarca e Hungria.

No Brasil, porém, a discussão sobre essa taxablaze com jogarrefrigerantes e outras bebidas açucaradas inexiste no governo e enfrenta a resistência das associações do setor.

A agênciablaze com jogarsaúde da ONU afirmou à reportagem que vem trabalhando com o governo brasileiro.

"Temos compartilhado com o Brasil algumas experiências bem-sucedidasblaze com jogaroutros países, para que juntos possamos ver quais se adequam melhor à realidade local", disse a coordenadora da Unidadeblaze com jogarFamília, Gênero e Cursoblaze com jogarVida da OPAS/OMS no país, Haydee Padilla.

Garotinho tomando sucoblaze com jogarcaixinha

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Nutricionista considera bebidas açucaradas perigosas porque muitas vezes a pessoa pode não perceber tratar-seblaze com jogarum produto que pode ser prejudicial à saúde

Questionado pela BBC Brasil, o Ministério da Saúde disse entender que "o consumo excessivoblaze com jogaraçúcar é fatorblaze com jogarrisco ao desenvolvimento da obesidade", mas não detalhou nenhuma discussão sobre taxasblaze com jogarbebidas, como recomenda a OMS, afirmando apenas que "a criaçãoblaze com jogarnovos impostos éblaze com jogarresponsabilidade da área econômica do governo, mais especificamente do Ministério da Fazenda".

Procurados, Ministério da Fazenda e Receita Federal informaram que a iniciativablaze com jogarse criar impostos não parte deles.

Epidemia

Após a divulgação da pesquisa Vigilânciablaze com jogarFatoresblaze com jogarRisco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do governo federal, o peso dos brasileiros passou a ser uma das principais preocupações da áreablaze com jogarsaúde.

Isso porque o problema está diretamente ligado ao surgimentoblaze com jogardoenças que estão entre as principais causasblaze com jogarmorte no país, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, depressão e alguns tiposblaze com jogarcâncer, como oblaze com jogarintestino grosso, mama, endométrio (camada interna útero), rim e esôfago.

Segundo o levantamento, 52,5% da população adulta no país está acima do peso e, dessa parcela, 17,9% estão obesos. No geral, o númeroblaze com jogarbrasileiros acima do peso subiu 10%blaze com jogaroito anos.

E ao se olhar os índices entre crianças e adolescentes, o cenário segue desolador. Tanto que, nos Estados Unidos, essa geração morrerá mais cedo que ablaze com jogarseus pais - algo que nunca aconteceu antes. E o principal motivo são os problemas decorrentes da obesidade.

Homem tomando bebida à baseblaze com jogarcafé com chantilly

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Bebidas à baseblaze com jogarcafé também estão na mirablaze com jogarorganizações que promovem a saúde, já que podem ter até 20 colheres (chá)blaze com jogaraçúcar

No Brasil, segundo o IBGE, umablaze com jogarcada três crianças com idade entre 5 e 9 anos está acima do peso. Comparado com pesquisas anteriores, o excessoblaze com jogarpeso entre as crianças mais do que triplicou desde 1974: passoublaze com jogar9,7% para 33,5% atualmente.

Se continuarmos nessa marcha, o Brasil pode se tornar o país mais obeso do mundoblaze com jogar15 anos.

Esse aumento do peso, assim como observadoblaze com jogartodo o mundo, está relacionado principalmente aos hábitos decorrentes da vida moderna: má alimentação e sedentarismo.

Vilões?

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Episódios

Fim do Podcast

Para a nutricionista do Instituto Brasileiroblaze com jogarDefesa do Consumidor (Idec), Ana Paula Bortoletto, não é possível apontar para um único alimento responsável pela epidemiablaze com jogarobesidade. Mas ela afirma que já está comprovado cientificamente que as bebidas açucaradas são, sim, vilãs da saúde.

"Primeiro porque elas têm calorias vazias (sem nenhum outro nutriente importante, como vitaminas, minerais e fibras). Muitas também têm um altíssimo índiceblaze com jogaraçúcar."

Uma latablaze com jogarrefrigeranteblaze com jogarcola tem o equivalente a 7 colheres (chá)blaze com jogaraçúcar e, segundo o Idec, um copoblaze com jogarnéctar artificialblaze com jogaruva tem 5. Achocolatados e bebidas lácteas (daquelas que não precisamblaze com jogarrefrigeração) e sucoblaze com jogarpó também estão entre os principais vilões, segundo a nutricionista.

Outro produto polêmico são as bebidas à baseblaze com jogarcafeína. Na Inglaterra, a ONG Action on Sugar fez um levantamento que revelou que algumas bebidas vendidasblaze com jogarredesblaze com jogarcafés têm quantidadesblaze com jogaraçúcar iguais ou superiores a uma latablaze com jogarrefrigerante.

Garrafasblaze com jogarbebidas coloridas com canudos

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Para associaçãoblaze com jogarbebidas, imposto não deve ajudar a reduzir obesidade e é uma interferência na liberdadeblaze com jogarescolha do consumidor

Um dos campeões no açúcar entre as maisblaze com jogar130 bebidas analisadas é o mochablaze com jogarchococolate branco com chantilly do Starbucks. O copo maior contém 18 colheres (chá)blaze com jogaraçúcar, segundo a organização britânica.

Outra crítica dirigida às cafeterias é o fatoblaze com jogarmuitas não divulgarem a listablaze com jogaringredientes das bebidas ou a quantidade específicablaze com jogaraçúcar - apenas os carboidratos totais. Procurado pela BBC Brasil, o Starbucks no país não quis se pronunciar.

Na Inglaterra eblaze com jogaroutros países onde o imposto está entrandoblaze com jogarvigor, organizaçõesblaze com jogarpromoçãoblaze com jogarsaúde criticam o fatoblaze com jogaressas bebidas com café não entrarem na listablaze com jogarprodutos taxados.

'Perplexidade'

O presidente da Associação Brasileira das Indústriasblaze com jogarRefrigerantes eblaze com jogarBebidas Não-alcoólicas (Abir), Alexandre Jobim, disse ter reagido "com perplexidade" à recomendação da agência da ONU.

"Com todo respeito à OMS, mas é preciso mudar a educação alimentar e não taxar produtos", afirmou Jobim à BBC Brasil.

"Essa medida interfere na liberdadeblaze com jogarescolha do indivíduo e penaliza a escolha do consumidor, pesando contra os mais pobres. Alguns ingerem bebidas açucaradas como parteblaze com jogaruma dieta necessária para eles, éblaze com jogaronde tiram as calorias que precisam consumir."

Latablaze com jogarrefrigerante cheiablaze com jogaraçúcar

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Apesar da queda no consumo dos refrigerantes nos últimos anos, 21% dos jovens brasileiros disseram beber o produto cinco vezes por semana

Para a nutricionista do Idec, Ana Paula Bortoletto, a afirmação não se justifica, já que "no Brasil ainda é mais barato comprar alimentos saudáveis e in natura (hortaliças, frutas...) do que ultraprocessados, como bebidas lácteas".

O presidente da Abir reiterou afirmações no site da associação que dizem que "o único consenso existente no meio acadêmico-científico é que o crescimento das doenças associadas à obesidade não é decorrente do consumo responsávelblaze com jogarsiblaze com jogarprodutos consideradosblaze com jogarbaixo teor nutricional. [...] Em verdade, o que é condenável é o mau consumoblaze com jogarqualquer produto".

Jobim ressalta ainda que "o importante é não jogar a culpa integralmente no açúcar, mas, se isso acontecer, a culpa não é do refrigerante, é do conjuntoblaze com jogarhábitos" e afirma que apenas 4% da dieta do brasileiro é composta pelo produto.

No entanto, uma pesquisablaze com jogar2015 do Ministério da Saúde apontou que, apesar da queda no consumo dos refrigerantes nos últimos anos, 21% dos entrevistados disseram beber o produto cinco vezes por semana.

Uma outra pesquisa do governo, o Estudoblaze com jogarRiscos Cardiovascularesblaze com jogarAdolescentes, revelou que 56% dos jovens consomem bebidas açucaradas, sendo 45%, refrigerante.

A bebida aparece entre os seis itens mais presentes na dieta dessa faixa etária, à frenteblaze com jogarhortaliças, por exemplo. Frutas nem aparecem no rankingblaze com jogar20 alimentos e bebidas.

"Até o momento, nenhum país foi capazblaze com jogarreverter os índicesblaze com jogarobesidade. Se não mexermos no ambiente como um todo, inclusive no preço, não vamos reverter esse números", afirma Bortoletto, do Idec.