É justo as mulheres se aposentarem aos 65 anos, como os homens?:qual o melhor sportingbet ou bet365

qual o melhor sportingbet ou bet365 Depois que sai do trabalho, a paulistana Agnes Milan,qual o melhor sportingbet ou bet36538 anos, pega os filhos na escola, prepara o jantar, põe os meninos na cama, limpa a casa e, já na madrugada, produz as tiaras que vende a R$ 5 na avenida Paulista,qual o melhor sportingbet ou bet365São Paulo.

Dorme às 2h. Acorda às 5h. Seu marido não participa da maioria das tarefas - e ela diz não entender por que poderá ter que se aposentar da mesma forma que um homem.

"Nós trabalhamos fora e dentroqual o melhor sportingbet ou bet365casa. Temos que ser mãe, esposa, companheira. As responsabilidades são maiores."

A dúvidaqual o melhor sportingbet ou bet365Agnes é compartilhada por muitas brasileiras.

Igualar a idadequal o melhor sportingbet ou bet365aposentadoria e o tempoqual o melhor sportingbet ou bet365contribuição entre homens e mulheres é um dos pontos da propostaqual o melhor sportingbet ou bet365Reforma da Previdência anunciada pelo governo. Em discussão na Câmara dos Deputados, o texto estabelece um mínimoqual o melhor sportingbet ou bet36565 anosqual o melhor sportingbet ou bet365idade e 25 anosqual o melhor sportingbet ou bet365contribuição para ambos os sexos.

Hoje, os números são menores para elas: 30 anosqual o melhor sportingbet ou bet365contribuição ou 60 anosqual o melhor sportingbet ou bet365idade contra os 35 anosqual o melhor sportingbet ou bet365contribuição ou 65qual o melhor sportingbet ou bet365idade dos homens.

O argumento do governo Michel Temer é que as mulheres vivem mais -qual o melhor sportingbet ou bet365média até os 79,1 anos -, e acabam recebendo o benefício por mais tempo. Estabelecer os mesmos limites corrigiria essa distorção.

A justificativa oficial não é consenso entre especialistas. Defendida por parte dos economistas como medida necessária para amenizar o rombo previdenciário, é considerada por outros como ameaça à qualidadequal o melhor sportingbet ou bet365vida das mulheres.

A BBC Brasil conversou com os dois lados. Ambos reconhecem a posição mais vulnerável da mulher no mercadoqual o melhor sportingbet ou bet365trabalho, mas discordam na horaqual o melhor sportingbet ou bet365dizer se mexer na Previdência é a melhor formaqual o melhor sportingbet ou bet365atenuar essas disparidades.

qual o melhor sportingbet ou bet365 L qual o melhor sportingbet ou bet365 ógica da solidariedade

Para os críticos à proposta do governo, estabelecer os mesmos critérios previdenciários significa aumentar a desigualdade entre os sexos. Eles dizem que não é possível partir do pressupostoqual o melhor sportingbet ou bet365que homens e mulheres têm direitos iguais - e aí cobrar os mesmos deveres.

Números do IBGE mostram a diferença no mercadoqual o melhor sportingbet ou bet365trabalho. Segundo dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios)qual o melhor sportingbet ou bet3652015, as brasileiras trabalham mais, ganham menos e ocupam vagas piores.

Permitir a aposentadoria mais cedo, dizem esses especialistas, seria um jeitoqual o melhor sportingbet ou bet365amenizar as diferenças.

"Estamos quebrando a lógica da solidariedade. Você não tem um grauqual o melhor sportingbet ou bet365cooperação só entre as gerações novas e antigas, mas entre homens e mulheres. Elas têm uma inserção no mercado muito mais instável. Evidentemente a maternidade dificulta", diz a economista do trabalho e professora da UFRJ (federal do Rio) Lena Lavinas.

A extensão da jornada é uma das principais discrepâncias citadas.

Aindaqual o melhor sportingbet ou bet365acordo com os dados do IBGE, as brasileiras trabalham,qual o melhor sportingbet ou bet365média, 55 horas por semana, incluindo os afazeres domésticos. Os homens dispendem 50,5 horas.

Baseadas nesse parâmetro, acadêmicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) produziram um artigoqual o melhor sportingbet ou bet365que defendem que equiparar as regrasqual o melhor sportingbet ou bet365acesso à Previdência fará a mulher trabalhar mais.

Segundo seus cálculos, a cada ano as mulheres trabalham,qual o melhor sportingbet ou bet365média, 12% a mais do que os homens. De acordo com a lógica, um tempo mínimoqual o melhor sportingbet ou bet365contribuiçãoqual o melhor sportingbet ou bet36525 anos, como propõe a reforma do governo, representaria 28 anosqual o melhor sportingbet ou bet365trabalho para as brasileiras.

A mestranda Fernanda Félix e as professoras Luana Myrrha e Cristiane Corrêa escreveram ainda que o descontoqual o melhor sportingbet ou bet365cinco anos concedido hoje nas regras "ainda é insuficiente para compensar a dupla jornada".

Para a economista e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Hildete Melo, a matemática da expectativaqual o melhor sportingbet ou bet365vida, segundo a qual as mulheres são privilegiadas porque vivem mais, é enganosa. O cálculo não só exclui as tarefas domésticas, diz a professora, como ignora a reprodução.

"Alémqual o melhor sportingbet ou bet365carregarmos um filho na barriga, quando ele coloca a cabeça no mundo é tudo responsabilidade feminina", diz Melo, editora da revista Gênero, da UFF, onde o trabalho será publicado.

Ser a principal responsável pelas crianças também prejudica as brasileiras na busca e na manutenção do emprego, afirma Melo.

Em 2015, havia cercaqual o melhor sportingbet ou bet36554 milhõesqual o melhor sportingbet ou bet365pessoas fora do mercadoqual o melhor sportingbet ou bet365trabalho - 69% eram mulheres.

A professora diz que a grande presença feminina no mercado informal também é alimentada pela dificuldadequal o melhor sportingbet ou bet365conciliar família e carreira.

Desempregada há um ano, Elineiaqual o melhor sportingbet ou bet365Moura,qual o melhor sportingbet ou bet36527 anos, perdeu várias entrevistas porque o filho estava doente. Enquanto não arranja uma vaga, "se vira" como pode.

"Faço bolo, faço torta, lavo para fora. Troco com as vizinhas a roupa que não serve mais, troco arroz por açúcar. A gente vai se virando."

Temendo deixar os filhos com desconhecidos enquanto o marido procura emprego, a vendedora Agnes Milan prefere não ter carteira assinada. Assim pode escolher seus horários e faltar quando for preciso.

"Tenho um meninoqual o melhor sportingbet ou bet365três anos e uma meninaqual o melhor sportingbet ou bet365quatro. Por eles, não aceito algo fixo. Se ficam doentes, vou prejudicar os patrões. Quem nessa crise vai querer isso?"

Sem registro, nem Elineia nem Agnes contribuem para o INSS. Esse dinheiro faria muita falta, dizem

Vulnerabilidade

Com tantas mulheres às margens da formalidade, o riscoqual o melhor sportingbet ou bet365serem maioria entre os que não conseguem se aposentar é grande, afirma Jorge Félix, professor convidado do USP e autorqual o melhor sportingbet ou bet365vários livros sobre o tema.

Segundo ele, a chance delas terem um emprego formal cai a partir dos 25 anos.

"Os dados mostram que a vulnerabilidade da mulher vai aumentandoqual o melhor sportingbet ou bet365acordo com a idade. Aos 60 anos, só 10% estão no formal. O fatoqual o melhor sportingbet ou bet365igualar as idades mínimas intensifica esse problema, e cresce o riscoqual o melhor sportingbet ou bet365ela não se aposentar."

Mesmo que recebam o benefício no futuro, o tipoqual o melhor sportingbet ou bet365posto e os salários são problemáticos no presente, dizem os especialistas.

A professora Hildete Melo, da UFF, lembra que um dos bolsões do emprego feminino é a funçãoqual o melhor sportingbet ou bet365doméstica.

"Ainda é uma das principais formasqual o melhor sportingbet ou bet365trabalho das brasileiras. 93% das empregadas são mulheres."

Melo destaca ainda a áreaqual o melhor sportingbet ou bet365serviços, que recebeu muitas mulheres durantequal o melhor sportingbet ou bet365expansão nos governos petistas e é marcada por saláriosqual o melhor sportingbet ou bet365até 1,5 salário mínimo. Elas se tornaram cabeleireiras, manicures, auxiliaresqual o melhor sportingbet ou bet365limpeza, às vezes entrando no mercado formal por meio desses cargos.

Ao ocupar postos menos prestigiados, a vulnerabilidade das mulheres aumenta, diz Maria Rosa, socióloga e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.

"São pessoas que estão à beira do formal. Grande parte do tempo elas ficam na informalidade, sem direito a auxílio desemprego e outros benefícios."

Parte da "legiãoqual o melhor sportingbet ou bet365manicures" citada por Rosa, Naelma Lima tem 26 anos e só contribui para a Previdência há um ano.

Ela tem um pequeno salão com a tia e paga como MEI (Microempreendedor Individual) um valor para o INSSqual o melhor sportingbet ou bet365R$ 50 mensais. O que a atraiu foi o fatoqual o melhor sportingbet ou bet365ter algum seguro, como pensão por morte ou aposentadoria por invalidez, já quequal o melhor sportingbet ou bet365profissão não lhe dá garantias.

"É um ofícioqual o melhor sportingbet ou bet365que a pessoa sente muita dor nos braços, tem tendinite, não dá para ficar muito tempo."

Alémqual o melhor sportingbet ou bet365não oferecerem proteção às trabalhadoras, essas vagas pagam mal, o que joga a média salarial para baixo. Segundo o IBGE, a mulher recebe,qual o melhor sportingbet ou bet365média, 76% do rendimento dos homens. No mercado informal é ainda menos: 68%.

Elas também aceitam pagamentos menores para a mesma função, acrescenta a professoraqual o melhor sportingbet ou bet365economia da PUC-SP Anita Kon. O motivo? Os filhos.

"Está aumentando o númeroqual o melhor sportingbet ou bet365famílias que são chefiadas por figuras femininas. E isso agrava a situação, porque elas ficam sozinhas com as crianças e então aceitam trabalho com menor remuneração, sem carteira. Não podem ter muitas exigências."

Corrigir pela Previdência?

A professora Anita Kon faz parte do grupoqual o melhor sportingbet ou bet365economistas que considera necessário ter regras únicas para todos. Para ela, se a reforma não for postaqual o melhor sportingbet ou bet365prática, nenhum brasileiro vai receberqual o melhor sportingbet ou bet365aposentadoria.

"O que a gente debate agora não é o mundo que gostaríamosqual o melhor sportingbet ou bet365ter, mas o mundo que a gente consegue ter para a Previdência se efetivar. Cada membro da sociedade vai perder alguma coisa."

Ela concorda que as mulheres podem ser mais prejudicadas, dadas as desvantagens citadas acima, mas não acha que mudar a idade mínima vá solucionar o problema. A maneira mais adequada, diz, seria por meioqual o melhor sportingbet ou bet365políticas públicas, como o aumento do auxílio-maternidade ou a melhora do sistemaqual o melhor sportingbet ou bet365creches.

As diretrizes empresariais também precisariam ser repensadas, opina o professor da FEA-USP José Roberto Savoia, para que as profissionais fossem mais valorizadas.

Savoia considera a equalização entre os sexos não só necessária, mas razoável.

Ele explica que a renda menor das mulheres é compensada porqual o melhor sportingbet ou bet365maior expectativaqual o melhor sportingbet ou bet365vida. Enquanto elas ganham 24% menos dos que os colegas homens, costumam receber o benefício por um tempo 25% maior - a média deles équal o melhor sportingbet ou bet36516 anos após a aposentadoria e a delas, 21 anos.

"Elas acabavam recebendo por um prazo extremamente longo. Dessa forma, você produz um maior equilíbrio da renda dos dois sexos."

Savoia destaca a importânciaqual o melhor sportingbet ou bet365políticas públicas que promovam as mesmas oportunidadesqual o melhor sportingbet ou bet365carreira. Caso não haja um compromisso do governoqual o melhor sportingbet ou bet365diminuir os prejuízos para o público feminino, ele vê um quadro social desfavorável para a mulher.

Envelhecimento

Para parte dos entrevistados, esse cenário desfavorável consistiriaqual o melhor sportingbet ou bet365brasileiras que, trabalhando mais equal o melhor sportingbet ou bet365condições ruins, teriam menos filhos. Isso aceleraria o envelhecimento populacional do país e repercutiria na própria Previdência - com mais idosos exigindo a aposentadoria e menos jovens ativos para mantê-la.

"Vai ser um tiro no pé. Com a aprovação da reforma, as mulheres já terão menos filhos do que estão tendo, porque vão ter a perspectivaqual o melhor sportingbet ou bet365trabalhar sem parar e atéqual o melhor sportingbet ou bet365não se aposentar", diz Jorge Felix.

Segundo dados do IBGE, a taxaqual o melhor sportingbet ou bet365fecundidade no país no ano passado eraqual o melhor sportingbet ou bet3651,72 filho por mulher. A partirqual o melhor sportingbet ou bet3652010, o indicador começou a se aproximar dosqual o melhor sportingbet ou bet365países desenvolvidos. Hoje, fica pouco acima da taxaqual o melhor sportingbet ou bet365fecundidade total dessas nações entre 2010 e 2015: 1,67.

Os filhos da vendedora Agnes Milan poderiam ter sido dois a menos nessa conta. Se tivesse que escolher hoje, a vendedora não sabe se teria engravidado. A primeira gravidez foi desejada. Na segunda,qual o melhor sportingbet ou bet3652012 e com a crise se aproximando, chorou por três dias logo após fazer o teste.

Mais do que a vida reprodutiva das mulheres, as transformações na Previdência podem devolvê-las mais cedo ao lar, opina a economista e professora da UFRJ Lena Lavinas.

Com mais brasileiros não conseguindo se aposentar ou na labuta até idade avançada, são elas que cuidarão dos maridos e pais na velhice, diz a professora.

Agnes diz se identificar com a situação.

"Vou ter três criançasqual o melhor sportingbet ou bet365casa, incluindo meu marido, que tem 65 anos. Ele não consegue um emprego. Vou precisar cuidar dele também, porque com a ajuda do governo não dá para contar. Tudo vai dependerqual o melhor sportingbet ou bet365mim", afirma, enquanto continua colando miçangas na tiaraqual o melhor sportingbet ou bet365produção.