Brasil está sentadocbet gg'bomba-relógio', diz especialista sobre febre amarela:cbet gg

Vacinação

Crédito, AP

Legenda da foto, Governo recomenda vacinaçãocbet ggquem mora ou vai viajar para áreas rurais ecbet ggmata

"Precisamos entender o riscocbet ggreintroduçãocbet ggfebre amarela urbana, o que seria uma enorme tragédia, talvez maior do que zika, dengue e chikungunya juntas - porque ela mata quase 50% das pessoas que não são tratadas."

A febre amarela é considerada endêmica nas regiões rurais ecbet ggmata do Brasil, onde é transmitida por mosquitoscbet ggespécies diferentes, como o Haemagogus e o Sabethes, para macacos e, ocasionalmente, para humanos não vacinados. Mas não há registrocbet ggcasoscbet ggáreas urbanas - onde o vetor é o mosquito Aedes aegypti - desde 1942.

O Ministério da Saúde notificou a OMS (Organização Mundial da Saúde) dos casos, seguindo recomendação do Regulamento Sanitário Internacionalcbet gginformar à organização ocorrências importantescbet ggsaúde pública.

Em 2016, o Brasil teve seis casos da doença confirmados, segundo o governo. O último surto da febre amarela silvestre ocorreu entre 2008 e 2009, quando 51 ocorrências foram confirmadas.

Aedes aegypti

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Especialistas temem que vírus chegue às cidades, onde poderia ser espalhado pelo Aedes aegypti, também transmissorcbet ggdoenças como a dengue e a zika

A pasta também afirmou que enviou duas equipes e cercacbet gg285 mil dosescbet ggvacina contra a febre amarela para Minas Gerais para controlar a doença. Pessoas nas áreas onde há registrocbet ggcasos serão vacinadas, e,cbet ggseguida, moradorescbet ggmunicípios vizinhos.

Emcbet ggfase inicial, que duracbet ggtrês a cinco dias, a febre amarela causa calafrios, febre, dorescbet ggcabeça e no corpo, cansaço, perdacbet ggapetite, náuseas e vômitos. Emcbet ggfase mais grave, a doença provoca hemorragias e insuficiência nos rins e no fígado, o que pode levar à morte.

Macacos

Atualmente, 15 municípios mineiros estãocbet ggsituaçãocbet ggalerta para a febre amarela. Também estão sendo monitoradas cidades onde ainda não houve casoscbet gghumanos, mas que registraram mortescbet ggmacacos possivelmente causadas pela doença.

O monitoramento ocorre normalmente no Brasil todos os anos, especialmente entre dezembro e maio, considerado o períodocbet ggmaior probabilidadecbet ggtransmissão da febre amarela.

A bióloga Marcia Chame, coordenadora da Plataforma Institucionalcbet ggBiodiversidade e Saúde Silvestre na Fiocruz Rio, diz que as autoridadescbet ggsaúde no Brasil já haviam percebido que os surtos extravasam o ambiente das florestas aproximadamente a cada sete anos e atingem mais seres humanos no interior do país.

"Este surto maior é cíclico e, por isso, já há atenção sobre isso. Isso tem relação com todas as atividades humanas que invadem a floresta. E no Brasil também temos um processo importantecbet ggperdacbet ggambientes naturais", disse à BBC Brasil.

Segundo ela, o aumento das mortescbet ggmacacos - principais hospedeiros do vírus no ciclocbet ggtransmissão silvestre - é o principal indicativocbet ggque o surto pode estar se aproximando das populações humanas.

"Desde 1940 não temos ciclos, no Brasil,cbet ggtransmissão deste vírus pelo Aedes aegypti, só pelo Haemagogus. A mortecbet ggmacacos pertocbet ggpessoas mostra que um ciclo que deveria estar limitado ao ambiente das matas está mais perto das áreas onde vivem humanos. E quando eles estão próximos, é mais fácil para o mosquito passar o vírus para uma pessoa", explica.

Marcia Chame

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, A bióloga Marcia Chame explica que macacos são uma espéciecbet gg'sentinela', cujas mortes avisam humanos sobre a proximidadecbet ggum surto

"Em 2009, no Rio Grande do Sul, as pessoas chegaram a matar os macacos, achando que eles transmitiam a doença, mas ele nos presta um serviço, porque é o sentinela. É importante notificar as autoridades dessas mortes."

Na Fiocruz, a equipe liderada por Chame tenta entender o que causa esses surtoscbet ggmaior proporção na tentativacbet ggevitar, também, que o vírus volte às cidades.

"Estamos modelando a ocorrênciacbet ggfebre amarela contra 7,2 mil parâmetros ambientais, climatológicos e outros, para tentarmos identificar que variáveis que causam isso, mas é muito complexo", explica.

"Elas acontecemcbet ggambientes diferentes, com espéciescbet ggmacacos ecbet ggmosquitos vetores diferentes. Precisamos que a população nos ajude a identificar esses animais e o que está ao redor dos locais onde são encontrados - empreendimentos imobiliários, construções."

O receio, diz ela, é que com a diminuição das áreas florestais, animais que foram infectados frequentem cada vez mais os centros urbanoscbet ggbuscacbet ggalimento e abrigo. Lá, eles também poderiam ser picados pelo Aedes aegypti, abundante nas cidades brasileiras.

Retorno

Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda que todas as pessoas que moram ou têm viagem planejada para áreas silvestres, rurais oucbet ggmata verifiquem se estão vacinadas contra a febre amarela. Em geral, a vacina passa a fazer efeito após um períodocbet ggdez dias.

O riscocbet ggque moradorescbet ggáreas endêmicas e até ecoturistas contraiam o vírus e o levem para cidades maiores é a principal preocupação dos especialistas. Na verdade, eles ainda tentam descobrir por que isso não ocorreu até agora.

"Ainda é um desafio entender como a febre amarela não voltou para os centros urbanos, já que temos um grande númerocbet ggpessoas que vão a áreas endêmicas para turismo ou a trabalho e voltam para cidades infestadascbet ggAedes aegypti", diz Eduardo Massad.

Eduardo Massad

Crédito, Reprodução/USP

Legenda da foto, Para Eduardo Massad, um desafio é entender por que a doença ainda não voltou às cidades

O médico e pesquisador Carlos Brito, da Universidade Federalcbet ggPernambuco (UFPE), concorda. "Dizemos que a febre amarela só não voltou ainda às cidades porque Deus é brasileiro. É uma preocupação real."

Os pesquisadores tentam compreender se o Aedes aegypti teria, por exemplo, menos competência como vetor da febre amarela do que da dengue, da chikungunya e da zika, outros vírus da mesma família.

"Hoje os deslocamentoscbet ggpessoas pelo país são muito mais rápidos. Por isso, estes vírus se disseminam com mais facilidade. O fatocbet gga febre amarela ainda não ter se disseminado no país todo é um alento, que dá expectativacbet ggque não aconteça o mesmo que ocorreu com zika e chikungunya nos últimos dois anos", afirma Brito.

"Mas uma coisa é fato: secbet gg30 anoscbet ggdengue batemos recordescbet ggnúmeroscbet ggcasoscbet gg2015 ecbet gg2016, não é porque a população brasileira cresceu. Isso mostra que perdemos o controle do mosquito."

Vacina

O Ministério recomenda a vacina para pessoas a partircbet ggnove mesescbet ggidade que vivem nas áreas endêmicas ou viajarão para lá e a partir dos seis meses,cbet ggsituaçõescbet ggsurto.

Segundo a pasta, todos os Estados estão abastecidos com a vacina e o país tem estoque suficiente para atender a todas as pessoas nestas condições.

Vacina

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Especialistas defendem que vacinação deveria ocorrercbet ggtodo o país

Para Massad, no entanto, o governo deveria elaborar uma estratégia para ampliar a vacinação contra a febre amarelacbet ggtodo o país, incluindo as zonas costeiras, onde estão alguns dos maiores centros urbanos, que não são consideradas endêmicas.

De acordo com o ministério, apenas os Estadoscbet ggCeará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo e Riocbet ggJaneiro estão fora da Área com Recomendação para Vacinação (ACRV)cbet ggfebre amarela.

Mas enquanto ainda não se explica como o vírus se manteve fora das cidades durante os últimos 75 anos - mesmo com o aumento da infestação pelo Aedes aegypti - o pesquisador continua preocupado.

"A probabilidadecbet gglevar uma picadacbet ggAedes aegypti no Rio durante o Carnaval é 99,9%. É inescapável. As pessoas ficaram preocupadas com Olimpíada, Copa do Mundo. Isso é besteira. Imagine se chega alguém com febre amarela no Rio no Carnaval."