'Só liberar dinheiro não resolve a crise nas prisões do Brasil':jogo do dado pixbet

Compaj, penitenciáriajogo do dado pixbetManaus

Crédito, AFP

Legenda da foto, Em menosjogo do dado pixbetum mês, ao menos 138 presos morreram na guerra entre facções criminosas que disputam o tráfico no norte do Brasil

De acordo com o mais recente Levantamento Nacionaljogo do dado pixbetInformações Penitenciárias (Infopen),jogo do dado pixbetdezembrojogo do dado pixbet2014, o Brasil tem a quarta maior população penitenciária do mundo, atrásjogo do dado pixbetEstados Unidos (2.217.000), China (1.657.812) e Rússia (644.237).

O relatório ainda traça um perfil dos detentos brasileiros: 55% têm entre 18 e 29 anos, 61,6% são negros e 75,08% completaram o ensino fundamental. Além disso, 40% estão presos provisoriamente, ou seja, ainda não foram condenados pela Justiçajogo do dado pixbetprimeira instância.

Mobilização

Foi neste contexto que o governo anuncioujogo do dado pixbet6jogo do dado pixbetjaneiro um Plano Nacionaljogo do dado pixbetSegurança - o quarto desde 2000.

O novo plano prevê construir cinco presídios federais, acelerar na liberaçãojogo do dado pixbetverba para o fundo penitenciário — R$ 32 milhões para cada Estado, aprovados no fim do ano passado para erguer novos presídios e que serão liberados agora — e transferir presos envolvidos nos massacres no Amazonas ejogo do dado pixbetRoraima.

"Este plano não traz nadajogo do dado pixbetnovo, nada importante. É apenas contingencial e não soluciona o problema", critica Mingardi.

Guaracy Mingardi

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Legenda da foto, A faltajogo do dado pixbetcomunicação entre as polícias, o Ministério Público e o Judiciário é um ponto crítico do sistema brasileiro, diz Mingardi

Os três pontos prioritários, segundo o governo, são: reduzir homicídios, feminicídios e a violência contra a mulher; combater o crime organizado, principalmente o tráficojogo do dado pixbetdrogas ejogo do dado pixbetarmas; e modernizar e racionalizar os presídios.

"Quando acontecem crisesjogo do dado pixbetsegurança pública no Brasil, todo mundo se mobiliza, mas, depoisjogo do dado pixbetdois meses, isso passa. Nunca são propostas mudanças estruturais", afirma Mingardi.

Para o analista criminal, o mais imediato a ser feito é "separar os presos por tipojogo do dado pixbetcrime, periculosidade, idade e tipojogo do dado pixbetpena" para impedir que grupos rivais continuem se matando.

Cemitériojogo do dado pixbetTarumã,jogo do dado pixbetManaus

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Legenda da foto, Presos mortos na rebelião no Compaj,jogo do dado pixbetManaus, foram enterradosjogo do dado pixbetuma quadra nos fundos do Cemitériojogo do dado pixbetTarumã

Mingardi aponta a faltajogo do dado pixbetcomunicação entre as polícias, o Ministério Público e o Judiciário como um ponto crítico do sistema brasileiro.

Em 2015, ele trabalhou no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e, após um anojogo do dado pixbetestudos, elaborou uma proposta para interligar o sistemajogo do dado pixbetinteligência penitenciária do Brasil.

Um bancojogo do dado pixbetdados permitiria a trocajogo do dado pixbetinformações entre autoridadesjogo do dado pixbetsegurança pública. O projeto foi entregue ao governo federaljogo do dado pixbetagosto.

'Depósitosjogo do dado pixbetpresos'

O analista criminal defende ainda que "o Estado tinha todos os indícios" sobre a mais recente crise no sistema prisional e "não fez nada por incompetência". "O Estado nunca controlou as prisões."

A cadeia normalmente é um ambiente regido pelo governo, que decide como o preso come, dorme, por onde anda, a que horas toma sol ou não. Segundo Mingardi, não é isso o que acontece no Brasil.

"São depósitosjogo do dado pixbetpresos que o Estado nunca controlou, onde existem acordos tácitos entre líderesjogo do dado pixbetfacções criminosas e as autoridades penitenciárias."

Prisãojogo do dado pixbetAlcaçuz, Rio Grande do Norte

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Legenda da foto, Membro do Fórum Brasileirojogo do dado pixbetSegurança Pública, Mingardi afirma que 'o Estado nunca controlou as prisões brasileiras'

Ele acrescenta que, na maior parte das prisões do país, ninguém determina os horários e a rotina dos presos. "O chefe deste ou daquele grupo criminoso é quem decide."

"Por exemplo, há muito tempo não se consegue que os presos voltem para as suas celas. Foi possível ver isso acontecendo no Amazonas ejogo do dado pixbetRoraima. As autoridades penitenciárias não conseguem trancá-losjogo do dado pixbetvolta."

Diante deste quadro, o analista considera não ser exagero dizer que o Estado está ausente das cadeias brasileiras.

Guerra pelo tráfico

O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) diz não ter dados oficiais e recentes sobre as facções criminosas no Brasil.

Mas um levantamento feito pelo jornal alemão Deutsche Welle com basejogo do dado pixbetrelatóriosjogo do dado pixbetCPIs, mapeamentos recentesjogo do dado pixbetestudiosos do tema e dados da Polícia Federal e secretariasjogo do dado pixbetsegurança pública estaduais estima haver 83jogo do dado pixbetatuação no país.

A maior e mais poderosa é o Primeiro Comando da Capital (PCC), que teria cercajogo do dado pixbet10 mil homens sójogo do dado pixbetSão Paulo e estaria presentejogo do dado pixbet22 dos 26 estados do país, segundo Mingardi.

A segunda força criminosa é o Comando Vermelho (CV), com base no Riojogo do dado pixbetJaneiro. As mortes recentes nos presídios estão relacionadas a uma guerrajogo do dado pixbetpoder entre essas facções.

Mingardi explica que o PCC controla a rota do tráficojogo do dado pixbetdrogas do Paraguai desde junho do ano passado, após o assassinato do traficante Jorge Rafaatjogo do dado pixbetPedro Juan Caballero, cidade paraguaia vizinha a Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

Agora, o PCC busca ganhar força na região Norte para dominar a rota do tráfico do rio Solimões, na fronteira com Peru e Colômbia.

Cadeia Públicajogo do dado pixbetManaus

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Legenda da foto, Presos foram transferidos para a Cadeia Públicajogo do dado pixbetManaus, reativada para receber quem foi transferido após massacre no Compaj

A região é, no entanto, dominada pela Família do Norte (FDN), aliada do CV que tem resistido às investidas do PCC.

O analista criminal acredita que o mais urgente a fazer no caso brasileiro é conhecer bem as organizações criminosas que atuamjogo do dado pixbetcada Estado, separar os presos para evitar novas matanças e criar um programa para recuperar o controle dos presídios.

'Prendemos errado'

Mingardi compara a segurança pública brasileira com os modelos europeus e latino-americanos e afirma que isso deixa clara a ineficácia da polícia investigativa e a necessidade da desmilitarização da Polícia Militar (PM).

O ex-policial diz que atualmente a PM é separada da sociedade por estar ligada ao Exército e uma Justiça exclusiva, que submete seus membros a um regime disciplinar incompatível com a vida civil.

"Nós prendemos muito, mas prendemos errado. Se você trabalha para derrotar uma organização criminosa, não adianta prender quem distribui droga na rua. Vai encher a cadeia e não vai nem atenuar o problema", ele argumenta.

Mingardi diz que o surgimento do conceitojogo do dado pixbetpresídios "até foi um grande avançojogo do dado pixbetum determinado período". "Porque, antes, o que havia era a punição física: marcar o sujeito a ferro, enforcar. Passar para uma prisão é um certo graujogo do dado pixbetevolução", afirma.

"Porém, essa proposta tinha três objetivos: ressocializar, afastar do convívio quem comete determinado crime e punir. Nossos presídios fazem só a última parte - e mal".

Quanto à ressocialização dos presos, Mingardi lembra que ela ocorre por meio da educação e do trabalho, mas ainda é um desafio a nível global.

"Pode ser que a ressocialização funcionejogo do dado pixbetalguns lugares, mas, na maioria dos países, não dá certo. Aqui no Brasil, com certeza não funciona. Há lugaresjogo do dado pixbetque se consegue afastar o preso da vidajogo do dado pixbetcrimes. Aqui, não:jogo do dado pixbetSão Paulo e no Rio, há gente que continua a controlarjogo do dado pixbetdentro da cadeia a criminalidade do ladojogo do dado pixbetfora".

Ele insiste que cadeia não diminui os índicesjogo do dado pixbetcriminalidade. "Nosso sistema penitenciário é comandado por grupos bem organizados. Cada garoto que você manda para a cadeia pode se tornar mais um recruta do PCC ou do CV, porque eles são mais influenciáveis que sujeitosjogo do dado pixbet30 ou 35 anos".

O retrato que Mingardi faz da situação prisional brasileira é desalentador, e parece não haver saída a curto prazo. Mas, diante desse cenário, por que o Brasil prende tanto? "Só Deus sabe. Ninguém sabe".