'Capoeira gospel' cresce e gera tensão entre evangélicos e movimento negro:copa betpix
"Hoje é difícil você ir numa roda que não tenha um (capoeirista evangélico), e vários capoeiristas viraram pastores. É um instrumento lindocopa betpixevangelização porque é alegre, descontraído, traz saúde, benefícios sociais", afirma Eltocopa betpixBrito, seguidor da Igreja Cristã Evangélica do Brasil e um dos palestrantes do evento.
Praticantecopa betpixcapoeira há 40 anos e convertido há 25, Suíno é líder do movimento "Capoeiristascopa betpixCristo", que estima reunir cercacopa betpix5 mil pessoas no país. Ele realiza encontros nacionaiscopa betpixGoiânia há 13 anos - a ediçãocopa betpix2018 será pela primeira vezcopa betpixBrasília.
O mestre calcula ainda que já existem cercacopa betpix30 "ministérios"copa betpixcapoeira, ou seja, grupos diretamente ligados a igrejas.
"Há um cuidado para não chocar com as visões da igreja. Cuidado com a roupa, com o linguajar, com as músicas, mas que "não necessariamente tem que ser só música que falacopa betpixevangelho,copa betpixDeus", explica.
Críticas
O crescimento da prática, porém, tem gerado incômodo entre capoeiristas tradicionalistas e o movimento negro, que veem na novidade uma formacopa betpixapropriação cultural e apagamento da raiz afrobrasiliera da capoeira, prática que surgiu como formacopa betpixresistência entre escravos, a partir do século 18.
Eles também reclamam quecopa betpixalgumas dessas rodas haveria discursoscopa betpix"demonização" contra a capoeira tradicional e as religiões do candomblé e da umbanda.
O Colegiado Setorialcopa betpixCultura Afrobrasileira, que faz parte do Conselho Nacionalcopa betpixPolíticas Culturais do Ministério da Cultura, chegou a divulgarcopa betpixmaio a "Cartacopa betpixrepúdio à 'capoeira gospel' e à expropriação das expressões culturais afrobrasileiras".
O documento, uma reação ao 3º Encontro Nacionalcopa betpixCapoeira Gospel convocado para junho deste ano,copa betpixJoão Pessoa (PB), reconhece que seguidorescopa betpixqualquer credo podem praticar capoeira, mas cobra "respeito" acopa betpixtradição.
"Temos lutado contra o racismocopa betpixsuas diversas e perversas manifestações. A demonização perpetrada por pastores, mestres ou professorescopa betpix'capoeira gospel', ensinando o ódio e a intolerância contra as raízes da capoeira e contra seus praticantes não evangélicos, é um crimecopa betpixódio que fere a liberdade e a dignidade humana", diz a carta.
Patrimônio
A capoeira, que no passado chegou a ser proibida, recebeucopa betpix2014 o títulocopa betpixPatrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco, órgão da ONU para educação. O Iphan, órgão responsável porcopa betpix"salvaguarda" no Brasil, reconhececopa betpixdocumentocopa betpix"ligação com práticas ancestrais africanas".
A antropóloga Maria Paula Adinolfi, técnica do Iphan, diz que "não é possível impedir a capoeira gospel", mas explica que o órgão está focadocopa betpix"fortalecer ações que vinculam a capoeira à matriz africana" como "uma políticacopa betpixreparação do processocopa betpixapagamento da memória afrobrasileira ecopa betpixgenocídio do povo negro".
Organizador do evento na Paraíba, Ricardo Cerqueira, o contramestre Baiano, recebeu, além da cartacopa betpixrepúdio, algumas ligações com críticas e até mesmo ameaçascopa betpixprocesso. Seguidor da Igreja Batista, ele diz reverenciar os grandes mestres da capoeira, como os baianos Bimba, Pastinha e Waldemar, já falecidos, mas argumenta que a "capoeira não pertence à cultura africana".
"O país é laico. Acho que cada um tem liberdade para fazer acopa betpixcapoeira da forma que quiser", defendeu.
"Colocamos o nome gospel sem intençãocopa betpixdescaracterizar a capoeira, até porque nós usamos todos os instrumentos e cantamos também música secular", disse ainda.
Diferenças
Além das músicas e orações, mais alguns detalhes diferenciam a capoeira evangélica da "capoeira do mundo", explicou à reportagem Gilson Araújocopa betpixSouza, pastor evangélico e mestre capoeiristacopa betpixManaus.
Em geral, rodas evangélicas não chamam a trocacopa betpixcordacopa betpix"batismo" porque o termo deve ser usado apenas no seu sentido religioso,copa betpixse converter e receber o Espírito Santo. Além disso, alguns capoeiristas também evitam o usocopa betpixapelidos, que, segundo Souza, tem origem na época que a capoeira era perseguida.
"No mundo cristão, Deus nos chama pelo nome. Antes, eu era conhecido como mestre Gil Malhado, hoje sou chamadocopa betpixmestre pastor Gilson. Não preciso me camuflar", explica ele, que faz parte da Igrejacopa betpixCristo Ministério Apostólico.
"Anos atrás, eu enfrentei muita dificuldade para levar a capoeira para a igreja. O pastor batia a porta na minha cara, dizia que era coisa da macumba, que não podia. Hoje eu sou pastor e as portas se abriram", conta também.
Segundo o mestre Suíno, a adoção do termo "gospel" fez parte desse processocopa betpixquebrar resistências. Era uma forma, observa,copa betpixconvencer os pastores que a capoeira podia ser praticada dentro dos valores cristãos.
Hoje ele próprio repudia esse "rótulo" por causa da polêmica que tem gerado. Suíno afirma que, apesarcopa betpixhaver algumas práticas próprias da capoeira cristã,copa betpix"essência"copa betpixcapoeira é a mesma.
"Não existe capoeira gospel! Não queremos bagunçar a capoeira. Nós respeitamos os mestres, respeitamos os fundamentos da capoeira, respeitamos as tradições, e vamos defender porque quem não defende a capoeira não tem direitocopa betpixser capoeirista", discursou, empolgado, durante o evento no Gama, cujo lema era "minha cultura não atrapalha a minha fé".
Constante mutação
Diante da polêmica, o historiador da capoeira Matthias Röhrig Assunção ressalta que a prática já passou por muitas transformações desde seu surgimento.
Hoje, há três vertentes principais: a angola (mais lenta e gingada, tida como a mais próxima da "original"), a regional (mais acelerada, que incorpora movimentoscopa betpixlutas marciais) e a contemporânea - uma mistura das duas primeiras que surgiu no Sudeste a partir dos anos 70 e foi o estilo que conquistou o mundo.
"Acho que capoeira tradicional não existe mais, todos (os estilos) são modernizados", resume Assunção, que é professor do departamentocopa betpixhistória da Universidadecopa betpixEssex, na Inglaterra.
Embora não simpatize com a ideiacopa betpixuma capoeira evangélica, o professor afirma que não se trata do primeiro processocopa betpix"apropriação" da prática.
"A capoeira gospel me parece ser mais uma estratégia desses grupos religiososcopa betpixocuparem espaços ecopa betpixganhar adeptos, mas não vejo como parar isso, não tem como proibir", observou.
"Historicamente, houve muitas apropriações da capoeira. Há uma apropriação nacionalista forte, rodas no exterior com as bandeiras do Brasil, o verde e o amarelo, por exemplo,copa betpixque a origem da capoeira, a históriacopa betpixresistência e a ligação com os africanos escravizados muitas vezes não têm destaque algum", pondera.
