As diferenças - e semelhanças – entre o separatismo do sul do Brasil e o da Catalunha:cruzeiro betfair

Crédito, BBV
O grupo ficou nacionalmente conhecido no começo do ano com a circulaçãocruzeiro betfairum "mascote" do grupo chamado Sulito, que virou alvocruzeiro betfairpiada nas redes sociais. A organização do Sul é Meu País afirma que Sulito foi uma "brincadeiracruzeiro betfairinternet" e não é o mascote oficial do grupo, apesarcruzeiro betfairreconhecer que ele ajudou a divulgar a ideia.

Na consulta, os participantes deveriam responder à pergunta "Você quer que o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul formem um país independente?".
Para realizar o processo, foram espalhadas urnascruzeiro betfairlocais públicoscruzeiro betfaircercacruzeiro betfair900 cidades dos três Estados com um custocruzeiro betfairR$ 25 mil, segundo o próprio grupo.
A expectativa era a participaçãocruzeiro betfairao menos 1 milhãocruzeiro betfairpessoas. Em 2016, 616 mil eleitores participaram do mesmo plebiscito. No dia 7cruzeiro betfairoutubro, porém, 340 mil pessoas responderam à pergunta e 95,74% disseram ser favoráveis à separação. Isso corresponde a menoscruzeiro betfair2% do númerocruzeiro betfaireleitores nos três Estados, que écruzeiro betfair21 milhões, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.
Diferenças
A participação modesta do separatismo sulista é considerada uma das principais diferenças entre os dois movimentos, segundo especialistas.
"Não consigo ver um movimento sério com menoscruzeiro betfair2% dos eleitores participando, na Catalunha foi 43%", diz Luis Augusto Farinatti, professorcruzeiro betfairHistória da Universidade Federalcruzeiro betfairSanta Maria (UFSM) especializadocruzeiro betfairfronteira sul do Brasil.
"Não vejo esse sentimento separatista difundido, sério, engajado no Sul como o da Catalunha, que vem há muito tempo, foi alimentado pelo regime franquista e agora estourou. Aqui, a reativação do separatismo é um reflexocruzeiro betfairmovimentos mundiais, mas é um pálido reflexo", explica.
"O movimento do sul do Brasil ainda é muito fraco, quase simbólico e anedótico, com uma participaçãocruzeiro betfair300 e poucos mil sulistascruzeiro betfairuma população estimadacruzeiro betfair30 milhões, tem muito pouco impacto", diz Paulo Velasco, professorcruzeiro betfairPolítica Internacional na Universidade Estadual do Riocruzeiro betfairJaneiro (UERJ).
Celso Deucher, um dos fundadores do Sul é Meu País, defende a validade do Plebisul e diz que a menor participaçãocruzeiro betfairrelação a 2016 se deve ao fatocruzeiro betfairque neste ano foi pedido que os participantes assinassem um Projetocruzeiro betfairLeicruzeiro betfairIniciativa Popular (PLIP) para propor um plebiscito consultivo junto às eleiçõescruzeiro betfair2018 sobre o tema "independência do Sul". "Acreditamos que a população do sulcruzeiro betfairfato apoia a proposta", disse à BBC Brasil.

Deucher afirma que a organização foi criadacruzeiro betfair1992cruzeiro betfairLaguna (SC), "terra da Anita Garibaldi, uma terra especial para nós do sul", diz. Anita foi companheira do guerrilheiro italiano Giuseppe Garibaldi - ambos lutaram pela independênciacruzeiro betfairdiversos Estados na península itálica e também na Guerra dos Farrapos.
Ele também rejeita a acusaçãocruzeiro betfairque movimentos separatistas do sul do país se baseaiamcruzeiro betfairdiscursos xenófobos e/ou racistas que defendem algum tipocruzeiro betfairsuperioridade do "povo sulino" com base na forte imigração europeia na região. Segundo Deucher, o Sul é o Meu País é contra qualquer tipocruzeiro betfairdiscriminação.
"Existe uma diferença cultural [do sulcruzeiro betfairrelação ao resto do país], mas nunca defendemos questões étnicas. Nós não temos problema com povo nenhum do Brasil, o nosso problema é com Brasília", diz.
"A nossa identidade é mais no sentidocruzeiro betfairque nos consideramos povo e portanto somos nação, se somos nação, temos direito a criaçãocruzeiro betfairum Estado que nos represente. O Brasil nunca foi nação, sempre foi um Estado. Se o Brasil se considera nação, porque o Sul também não pode?", defende Deucher.
Em um artigo publicado no The International Journal of Human Rights sobre os aspectos legais e econômicos dos movimentos separatistas do sul e do sudeste do Brasil, Alexandre Andrade Sampaio, advogado mestrecruzeiro betfairSociologiacruzeiro betfairDireitos Humanos pela London School of Economics (LSE) afirmou que as pessoas dessas regiões não podem ser consideradas povos e, portanto, não teriam legitimidade para exigir a separação.
"O direito internacional, segundo nossa interpretação [dele e do coautor do estudo Luís Renato Vedovato], reserva o direitocruzeiro betfairautodeterminação para povos. Não estou dizendo que não existam povos no sul, mas a argumentaçãocruzeiro betfairque existe um povo uníssono é falha", disse à BBC.
"A lei internacional que fala sobre autodeterminação possibilitacruzeiro betfairforma muito mínima a separaçãocruzeiro betfaircasos muito extremoscruzeiro betfaircompleto desrespeito às vontades políticascruzeiro betfairpovos oucruzeiro betfaircasocruzeiro betfairsistemática violaçãocruzeiro betfairdireitos humanos", explica.
"Você começa a falarcruzeiro betfairculturas diferentes querendo se desvencilharcruzeiro betfairestados e formar novos por interesses puramente econômicos. Todas as regiões poderiam fazer isso apenas por ter culturas diferentes, criando um regime internacional extremamente xenófobo, separatista sem equiparaçãocruzeiro betfairpadrõescruzeiro betfairvida", afirma.
Sampaio argumenta que a separação do sul do país pode ser considerada inconstitucional e ilegal. "O Estado é composto pela indivisão dos Estados", diz. "O Supremo Tribunal Federal (STF) entende que povo é população brasileira. A separação do Estado só pode ser feita por um povo". "As pessoas têm o direitocruzeiro betfairse expressar, eu não vejo ilegalidade no sentidocruzeiro betfairliberdadecruzeiro betfairexpressão, mas se for se basear no sentido constitucional, o movimento é inconstitucional".
Para Paulo Velasco, professorcruzeiro betfairPolítica Internacional na Universidade Estadual do Riocruzeiro betfairJaneiro (UERJ), a questão cultural não é uma base forte para o ideal separatista do sul do Brasil.
"A grande diferença entre os dois movimentos é que no sul do país não há um sentimentocruzeiro betfairunidadecruzeiro betfairtermos culturais, é uma região formadacruzeiro betfaircontribuições muito diversas, muitas vezescruzeiro betfairimigrantes, não há uma unidade cultural linguística como há na Catalunha", disse à BBC.
Semelhanças
Isso não quer dizer que os dois grupos não tenham nadacruzeiro betfaircomum. Deucher, por exemplo, vê semelhanças e diz que o grupo não apenas pode ser comparado com o da Catalunha como o apoia.
"A comparação nossa com a Catalunha é que o sonho deles é o mesmo que o nosso, certo? Transformar-secruzeiro betfairum Estado independente para poder atender às demandas do seu próprio povo", diz.
"Nesse sentido, estamos unidos com Catalunha, Quebec, Escócia, vários outros movimentos do mundo que conhecemos, temos parceria", acrescenta.
Semelhanças
Velasco também vê similaridades nos argumentoscruzeiro betfairambos.
"Os movimentos separatistas e nacionalistas mundo afora têm um forte componente econômico, todos eles", diz.
"A semelhança principal está numa dimensão econômica, na Catalunha há uma base econômica muito forte, não é por acaso que tenha acontecido na esteira da crise que a Espanha tem passado há alguns anos. O movimento do sul do Brasil também se valecruzeiro betfairum argumento econômico, eles se sentem desprezadoscruzeiro betfairtermos fiscais pelo governo federal, alegam que estariam melhor economicamente separados do Brasil", completa.

Crédito, O Sul é Meu País
A questão dos impostos é parecidacruzeiro betfairambos. Os catalães dizem que pagam mais impostos proporcionalmente do que recebecruzeiro betfairtroca por meiocruzeiro betfairbenefícios. A Catalunha é uma região ricacruzeiro betfaircomparação com o resto da Espanha. Ela tem 16% da população do país, mas representa 19% do Produto Interno Bruto (PIB, somacruzeiro betfairriquezas produzidas por um país) espanhol e maiscruzeiro betfairum quarto das exportações.
Já a região sul do Brasil tem uma participaçãocruzeiro betfair16,2% no PIB, metade dacruzeiro betfairSão Paulo, Estado responsável por um terço da economia brasileira. Mas o argumento tributário é semelhante.
"A União leva 82%cruzeiro betfairtributo e fica com ela, não aparece mais aqui, a desculpa é que é para mandar para lugares mais pobres do Brasil, mas isso não acontece, quando acontece vai para obras das oligarquias", diz Deucher.
"Os três Estados do sul são colôniacruzeiro betfairBrasília, continuamos tendo esse colonialismo interno, uma instituição que só tira dinheiro da população e não devolve o serviço", acrescenta.
Alvo: Brasília
O principal alvo do Sul é Meu País, segundo seu porta-voz, é o governo federal.
"Estado mínimo é um dos princípios que acreditamos, quanto menos Estado se metendo na economia, mais próspero é o país", defende Deucher.
"Temos princípios liberais, desde o trabalho até questões familiares. Liberalismo é o único sistema que defende minorias, onde é possível que minorias possam se expressar", acrescenta.
Na Catalunha, por outro lado, a coalizão independentista é formada majoritariamente por partidoscruzeiro betfaircentro, centro-esquerda e extrema-esquerda.
Outra palavra repetida por ambos é "autonomia".
A situação atual da Espanha começou a ser desenhadacruzeiro betfair2010, quando o país vivia uma profunda crise econômica. Quatro anos antes, os catalães haviam aprovadocruzeiro betfairplebiscito um estatuto que definia a Catalunha como uma nação dentro da Espanha.
Em meio à crise, porém, o conservador Partido Popular apresentou um recurso no tribunal constitucional espanhol retirando boa parte dessa autonomia e proibindo o uso da palavra nação. Isso levou milharescruzeiro betfaircatalães às ruascruzeiro betfairBarcelona e, a partir daí, a luta pela independência ganhou força.
O Sul é Meu País também exige mais autonomia.
"A constituição estadual não pode legislar sobre praticamente nada, não há autonomia, não é federação. Por exemplo, Santa Catarina se quisesse ter penacruzeiro betfairmorte, ela não pode ter porque a Constituição Federal veda. É um Estado Unitário disfarçadocruzeiro betfairfederação", diz Deucher.

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Em termoscruzeiro betfairhistória, Deucher comenta a supressãocruzeiro betfairlínguas faladas no sul durante a ditaduracruzeiro betfairGetúlio Vargas. Sob o regime do general Franco, na Espanha, o catalão foi proibido ao longocruzeiro betfair40 anos.
"Na décadacruzeiro betfair1940, durante a Segunda Guerra, o Brasil tomou uma atitude drástica contra nós do sul que foi nos proibircruzeiro betfairfalar a línguacruzeiro betfairnossos antepassados, seja ela guarani, alemão, seja qual for", diz o cofundador do grupo.
"Fomos forçados através do sistema educacional e da proibição das línguas a virar brasileiros na marra, não tinha como ficar no país e não assumir o português", acrescenta.
O historiador Luis Augusto Farinatti vê algum sentido nessa comparação - com ressalvas.
"Há semelhança no sentidocruzeiro betfairrepressãocruzeiro betfairparticularismos locais, só que as línguas alemã, russa, polonesa, italiana não eram uma língua difundida nesses três Estados, elas estavamcruzeiro betfairdiversos pontos localizados. Não dá para dizer que os habitantes desses Estados falavam essa línguacruzeiro betfairuma maneira geral."
"A única semelhança que eu vejo écruzeiro betfairser uma região que se acha mais rica e desfavorecida na questão da riqueza que gera. Na questão da construção históricacruzeiro betfairbuscacruzeiro betfairautonomia, o sul não tem uma basecruzeiro betfairidentidade nacional construída no século passado ou retrasado, como é o caso da Catalunha há muito tempo", conclui.




