'Deixavaquero jogar jogos grátiscomer para pagar dívidas': o vícioquero jogar jogos grátiscomprar, que atinge ricos e pobres:quero jogar jogos grátis

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Ele diz quequero jogar jogos grátissituação só não ficou pior porque "não tinha mais dinheiro".

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Já Elis* sempre foi uma mulher bem-sucedida, com duas faculdades, empresária desde os 17 anos. Mas quanto mais dinheiro tinha, maior eraquero jogar jogos grátisganância para adquirir negócios e imóveis - até ver R$ 300 milquero jogar jogos grátissuas reservas acumuladasquero jogar jogos grátisquatro anos irem pelo raloquero jogar jogos grátisuma empresa que acabou quebrandoquero jogar jogos grátispouco tempo. Seu fundo do poço chegou quando teve a casa penhorada com oficiaisquero jogar jogos grátisJustiça batendo à porta, e um desespero que a fez pensarquero jogar jogos grátissuicídio.
Para amenizar a situação, pegava pãesquero jogar jogos grátismel consignados com uma doceira e ia vender na porta da Igreja.
As histórias desses que são chamados "gastadores compulsivos" se repetem e caracterizam uma doença pouco conhecida e geralmente ignorada pelas próprias vítimas dela. São homens, mulheres, jovens, velhos, mais ricos ou mais pobres, que têmquero jogar jogos grátiscomum um passado com problemas sociais e/ou psicológicos, e encontraram no cartãoquero jogar jogos grátiscrédito o alívio e o prazer momentâneosquero jogar jogos grátisque precisavam.
"É bem parecido com a dependência química. Você começa a fumar primeiro com o cigarro dos amigos, depois vai comprar seu próprio maço, até passar a fumar todo dia. Você percebe uma expansão daquele comportamento na vida da pessoa. Não é o objetoquero jogar jogos grátissi, mas é o atoquero jogar jogos grátiscomprar", explicou a psicóloga Tatiana Zambrano, psicóloga que atua nesta área há 14 anos e é coordenadora do tratamento para compradores compulsivos no Hospital das Clínicas,quero jogar jogos grátisSão Paulo.

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"A pessoa tem necessidadequero jogar jogos grátisadquirir demais e não tem um planejamento adequado. Esse transtorno compulsivo independe da condição socioeconômica. O que vai acontecer é que a pessoa vai acumular dívidas proporcionais ao seu nível econômico".
Doença
A chamada oniomania é a doença que se caracteriza por um vícioquero jogar jogos grátiscomprar ou gastar dinheiro. A pessoa não consegue controlar seus impulsos e acaba gastando mesmo quando já está cheiaquero jogar jogos grátisdívidas.
É como se o atoquero jogar jogos grátiscomprar trouxesse uma libertação, explica a especialista. Quem tem esse vício sente um mistoquero jogar jogos grátispoder com prazer na horaquero jogar jogos grátispassar o cartãoquero jogar jogos grátiscrédito que faz com que se esqueçaquero jogar jogos grátisqualquer saldo negativo no banco. É uma sensação que seduz e leva os gastadores compulsivos a caírem na tentação e a fazerem mais e mais dívidas.
As desculpas para os gastos podem serquero jogar jogos grátistodo o tipo. "Vou comprar esse sapato porque PRECISO"; "vou me dar esse terno porque MEREÇO"; "está na promoção, metade do preço, NÃO DÁ PARA NÃO comprar", são alguns exemplos, conforme explica a psicóloga Tatiana Zambrano. O problema chega com a fatura do cartão - que vem acompanhadaquero jogar jogos grátisuma taxaquero jogar jogos grátisjuros bem alta, caso não seja paga no valor integral.
"Eu sempre achava que,quero jogar jogos grátisalguma forma, alguém iria pagar aquilo para mim. A fatura ia chegar, e alguém ia acabar pagando", contou Larissa.
Quando começouquero jogar jogos grátisrecuperação, ela cortou todos os cartõesquero jogar jogos grátiscrédito e gastava só o dinheiro que tinha na carteira. Mas um dia teve seu celular roubado e se permitiu uma nova compra a prazo para substituí-lo.

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"Eu queria comprar um iPhone, aí fiz outro cartãoquero jogar jogos grátiscrédito. Quando o recebi, me senti muito poderosa. Fui para o shopping extasiada, meu namorado me ligou, eu nem atendi, estava animadíssima: vou comprar um iPhone, serei a pessoa mais feliz do mundo! Quando peguei o celular, me senti muito bem, uma adrenalina que não cabiaquero jogar jogos grátismim", relatou.
Não precisou muito tempo para o sentimento se inverter. "Você começa a se sentir culpada. E fica se martirizando: 'por que eu fui fazer isso? Como eu vou pagar esse celular agora?'".
Tatiana Zambrano explica que, ao contrárioquero jogar jogos grátisvícios como o da droga ou do álcool, que são muito condenados pela sociedade, o atoquero jogar jogos grátiscomprar é algo "socialmente aceito" e, por isso, não costuma ser associado com uma doença.
"É tão socialmente aceito que tem até um incentivo ao consumo, então você acaba demorando para perceber que tem o problema. Normalmente você só percebe porque tem muita briga, desconfiança entre a família e os amigos. Tem até casamento que acaba nessas situações", explica.
'Problemas financeiros'
Segundo dados estimativos da Organização Mundial da Saúde, cercaquero jogar jogos grátis8% da população mundial sofrequero jogar jogos grátisoniomania. No entanto, é muito comum as pessoas terem a condição e não admitirem o vício.
Susana*, por exemplo, sempre gostouquero jogar jogos grátisgastar, mas também sempre achou que, no diaquero jogar jogos grátisque quisesse "parar" e controlar melhor o seu dinheiro, conseguiria facilmente. Ela buscou ajudaquero jogar jogos grátisjaneiro, depoisquero jogar jogos grátister passado um ano inteiro tentando segurar os gastos sem sucesso.

"Sempre achei que era uma questãoquero jogar jogos grátisquerer. Mas depoisquero jogar jogos grátisum ano tentando e não conseguindo, precisei admitir que havia algoquero jogar jogos grátiserrado", afirmou.
O processoquero jogar jogos grátisaceitação do problema pode levar anos ou uma vida inteira até. Para evitar encarar a realidade - ou ser confrontada com ela por familiares ou amigos -, o gastador compulsivo começa a mentir e, às vezes, até mesmo a esconder suas compras para não ter que dar satisfação sobre elas.
"Tem muito comprador compulsivo que não usa as coisas que compra. Ele deixa tudo com etiqueta, guardado no armário, e não quer usar para a família não perguntar se é novo. Ou seja, o prazer começa a virar uma prisão", explica Zambrano.
Larissa se viu mentindo para a mãe, que a ajudava a controlar o dinheiro fazendo uma planilha com todos os seus gastos. "Eu inventava as coisas para justificar meus gastos. E quando ela descobria, me dizia que eu não estava mentindo para ela, mas sim para mim mesma".
O processoquero jogar jogos grátisnegação do comprador compulsivo muitas vezes persiste até mesmoquero jogar jogos grátisgruposquero jogar jogos grátisajuda, como o do "Devedores Anônimos", fundado por antigos participantes dos Alcoólicos Anônimos e que tem o mesmo intuitoquero jogar jogos grátisajuda mútua entre os membros para evitar uma eventual recaída.
Foi o casoquero jogar jogos grátisVívian*, que frequenta as reuniões do grupo há dois anos e, até o início do mês, achava que seu caso era diferente da situação dos outros ali.
"Eu olhava para aquelas pessoas e pensava: eu não sou assim; para eles, é fácil gastar, porque eles têm dinheiro. Eu não achava que eu era uma devedora, eu achava que ganhava mal e tinha problemas financeiros", disse.
Recuperação
O tratamento para o vícioquero jogar jogos grátisgastar passa por duas áreas: a psicológica, para tratar o problema emocional que leva a pessoa a comprar, e a financeira, para ela começar a planejar cada centavo que saiquero jogar jogos grátissua carteira e tentar uma renegociaçãoquero jogar jogos grátisdívidas, para aliviar o fardo carregado diante do acúmuloquero jogar jogos grátisdébitos.
Na salaquero jogar jogos grátisreunião dos Devedores Anônimos,quero jogar jogos grátisSão Paulo, todos os encontros semanais começam com o que eles chamamquero jogar jogos grátis"Oração da Serenidade" que pede "Serenidade para aceitar o não podemos modificar, coragem para modificar o que podemos e sabedoria para distinguir uma das outras".
Em cada partilhaquero jogar jogos grátisexperiências, eles repetem o mantra "Obrigada, 24 horas", reiterando que o esforço para se manterem sóbrios - no caso, solventes, como eles chamam as pessoas que alcançam o equilíbrio financeiro e conseguem pagar suas dívidas - por mais um dia.
No D.A., os participantes podem escolher um "padrinho" ou "madrinha" (alguém que já esteja no grupo há alguns anos) para ajudá-los com um planejamento financeiro adequado às suas necessidades. Há também reuniões pessoais chamadasquero jogar jogos grátis"alívioquero jogar jogos grátispressão",quero jogar jogos grátisque o participante expõe uma situação que o incomoda e pede ajuda dos padrinhos para resolvê-la.
O segredo para começar a resolver as dívidas está principalmentequero jogar jogos grátisanotar todos os gastos, conforme eles descrevem.
"Eu não tinha a menor noção do quanto eu gastavaquero jogar jogos grátisquê ouquero jogar jogos grátispra onde ia meu salário. Quando comecei a anotar, percebi que estava gastando R$ 800 por mêsquero jogar jogos grátiscomidinhas na rua, aquelas paradasquero jogar jogos grátispadarias para um café. Logo no primeiro mês, consegui reduzir isso para 180", explicou Vívian, que hoje não tem cartãoquero jogar jogos grátisdébito, nemquero jogar jogos grátiscrédito, e só usa o dinheiro que tem na carteira. "Eu não posso ter cartão, percebi isso. Com dinheiro vivo, eu vejo ele saindo e sei quando estou ficando sem, é mais fácil controlar."

O cartãoquero jogar jogos grátiscrédito, aliás, é o grande vilão para todos eles - e a primeira coisa a ser, literalmente, cortada, quando começa a recuperação.
"A pessoa perde a noção do que está pagando. O cartãoquero jogar jogos grátiscrédito promove isso, eu compro e depois eu vejo como eu pago. Isso contribui muito para você perder o controle. Já vi um paciente que tinha 19 cartõesquero jogar jogos grátiscrédito e se endividouquero jogar jogos grátistodos eles", contou Tatiana Zambrano.
A psicóloga aconselha pessoas que eventualmente percebam característicasquero jogar jogos grátisgastadores compulsivosquero jogar jogos grátisseus familiares e amigos, que tentem ajudá-los mostrando a eles textos, livros, filmes (como Os Delíriosquero jogar jogos grátisConsumoquero jogar jogos grátisBecky Bloom) que descrevam a condição, para que se identifiquem com ela e busquem ajuda.
"O sofrimento do paciente é muito marcante. A gente fica sensibilizado não só pela quantidadequero jogar jogos grátisproblemas, mas pela depressão. Muitos pensamquero jogar jogos grátissuicídio, acham que nunca vão se livrar daquilo, é muito sofrimento. Uma vez ouviquero jogar jogos grátisuma mulher que ela se sentia como uma garotaquero jogar jogos grátisprograma, porque se tivesse que se vender pra comprar, ela se venderia. Outros que perderam esposa, perderam até guardaquero jogar jogos grátisfilho por causa do problema. Então o ideal é não criticar, não julgar, e tentar mostrar para a pessoa como ela pode se libertar", finalizou.
*Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados








