Investigadas pela morteblackjack evolutionMarielle, milícias podem ser um problema maior que o tráfico no Rio:blackjack evolution

  • Letícia Mori
  • Da BBC Brasilblackjack evolutionSão Paulo
Favela na zona oeste do Rioblackjack evolutionJaneiro

Crédito, AFP

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Milícias ocupam diversas comunidades no Rio Janeiro

blackjack evolution Após maisblackjack evolutionum mês do assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL do Rio, as investigações apontam para envolvimentoblackjack evolutionmilícias no crime. É o que afirmou o ministro da Segurança Pública Raul Jungmann, nesta segunda-feira.

"As investigações avançam. Estão partindoblackjack evolutionum grande conjuntoblackjack evolutionhipóteses e afunilando. E uma das possibilidades que têm crescido é que seja um crime ligado às milícias", disse o ministro.

O combate à violência, especialmente a cometida por policiais e por milícias, era uma das principais causas da vereadora. Marielle, e seu motorista, Anderson Gomes, foram mortos na noiteblackjack evolution14blackjack evolutionmarço, na região central da cidade. O carro dos criminosos emparelhou com o da vereadora, que deixava um evento, e os autores do crime atiraram ao menos 9 vezes contra o veículo.

Mas, afinal, o que são milícias e o que fazer quando o criminoso é agente do Estado?

'Patrulhasblackjack evolutionSegurança Informais'

As milícias são uma face peculiar da violência que atinge o Estado no Rioblackjack evolutionJaneiro: policiais, ex-policiais, bombeiros, guardasblackjack evolutionpresídios e agentesblackjack evolutionsegurança começaram, aos poucos, a ocupar bairros pobres como 'patrulhasblackjack evolutionsegurança' informais. Pareciam oferecer um serviço às comunidades oferecendo algum tipoblackjack evolutionvigilância onde normalmente o Estado não chega.

"Eles eram tolerados pelo governo e a potencial ameaça que representam à segurança pública foi ignorada por estudiosos", diz o especialistablackjack evolutionsegurança e desenvolvimento Robert Muggah, criador do Instituto Igarapé e professor afiliado da Universidadeblackjack evolutionOxford.

O retrato da formaturablackjack evolutionMarielle na estante da sala na casa dos pais
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Assassinatoblackjack evolutionMarielle teve envolvimentoblackjack evolutionmilícias, segundo o ministro da Segurança Pública

Aos poucos, no entanto, começaram a exercer controle sobre esses territórios. As milícias funcionam como uma máfia: cobram dos moradores pela suposta proteção que oferecem e por serviços que o Estado deveria fornecer. Têm transporte por vans, vendablackjack evolutionbotijãoblackjack evolutiongás e até sistemasblackjack evolutioninternet e TV a cabo piratas. Corrompem agentes do poder público e atacam inimigos com violência.

Investigações ligaram as milícias à pelo menos seis execuções politicamente motivadas antes das eleiçõesblackjack evolution2016.

Embora não haja conclusões sobre o assassinatoblackjack evolutionMarielle Franco, o coordenador criminal do Ministério Público Federal no Rioblackjack evolutionJaneiro, o procurador José Maria Panoeiro, disse à BBC Brasil que uma análise do caso aponta para o possível envolvimentoblackjack evolutionpoliciais ou agentes milicianos no crime.

Um problema maior que o tráfico

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O problema existe desde os anos 1970, mas se intensificou nos últimos vinte anos. Em 1997, só uma comunidade do Rio era dominada por milicianos. Em 2008, a Secretariablackjack evolutionSegurança Pública do Rioblackjack evolutionJaneiro já listava 161 comunidades ocupada por milícias na região metropolitana da capital carioca.

Hoje, ao menosblackjack evolution165 favelas estão sob controleblackjack evolutionmilicianos, que chegam a dominar bairros inteiros. No início do ano, o Ministério Público Estadual do Rio investigava a atuaçãoblackjack evolutionmilícias que teriam tomado controleblackjack evolution21 estaçõesblackjack evolutionônibus do BRT na zona oeste da capital.

Para o sociólogo José Cláudio Souza Alves, da Universidade Federal do Rioblackjack evolutionJaneiro, as milícias já se tornaram um problema maior que o tráfico no Rio.

A atitude do públicoblackjack evolutionrelação à milícia inicialmente erablackjack evolutionsimpatia. "Eles eram vistos pela população como uma opção bem melhor do que os traficantes, como uma quase legítima formablackjack evolution'auto-defesa comunitária'", explica Muggah.

Milícias e o Poder Público

Em uma entrevista à Rede Globoblackjack evolution2006, o então candidato a prefeito Eduardo Paes elogiou a ação da milíciablackjack evolutionJacarepaguá e disse que "polícia mineira" (gíria para milícia) era bem melhor que o tráficoblackjack evolutiondrogas. O ex-governador Sérgio Cabral, hoje preso por corrupção passiva, lavagemblackjack evolutiondinheiro e participaçãoblackjack evolutionorganização criminosa, também chegou a se encontrar com líderes milicianos famosos.

Em 2008, o vereador Jerônimo Guimarães Filho e seu irmão e deputado estadual Natalino José Guimarães foram presos sob a acusaçãoblackjack evolutionoperar uma das milícias mais famosas do rio, a Liga da Justiça.

"As milícias conseguiram se infiltrar com sucessoblackjack evolutionparte do governo municipal e estadual", diz Muggah. Segundo ele, a opinião pública só começou a mudar depoisblackjack evolutionepisódios altamente visíveisblackjack evolutionviolência, como o caso Batan - quando três jornalistas do jornal O Dia foram torturados por milicianos na favela do Batan, no Realengo.

"A revolta do público depois do episódio abriu um caminho para começar a lidar com o problema", explica o especialista. "Políticos prontamente começaram a distanciarblackjack evolutionimagem pública dos grupos e (no mês seguinte) foi instaurada uma CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio."

As milícias não são a única situaçãoblackjack evolutionque os criminosos são agentes do Estado: crimes cometidos por policiais que não necessariamente estão ligados a esses grupos são outro grande problema no Rioblackjack evolutionJaneiro.

Segundo um relatório da Anistia Internacional com dados do Institutoblackjack evolutionSegurança Pública, as polícias civil e militar foram responsáveis por 1,1 mil homicídios no Estado do Rioblackjack evolution2017. Isso é equivalente a 20% das mortes intencionais violentas no Rio.

Mas afinal, o que é possível fazer quando o crime é cometido por pessoas com uma ligação tão próxima ao Estado - muitas vezes trabalhando para ele?

Federalizar o combate

Uma das ideias é federalizar o combate a esse tipoblackjack evolutioncrime. Um projetoblackjack evolutionLei que aguarda votação na Câmara dos Deputados propõe justamente isso.

A proposta, já aprovada pelo Senado, propõe que a Polícia Federal se responsabilize pelas investigaçõesblackjack evolution"crimes praticados por organizações paramilitares e milícias armadas, quando delas faça parte agente pertencente a órgãoblackjack evolutionsegurança pública estadual".

Se aprovada, a proposta prevê que casos anteriores àblackjack evolutionaprovação possam ser analisados pela PF.

Atualmente, é possível federalizar crimes contra os direitos humanos, mas é preciso que a Procuradoria Geral da República faça o pedido, que então precisa ser aprovado pelo Superior Tribunalblackjack evolutionJustiça (STJ).

Para Muggah, do Instituto Igarapé, é essencial federalizar as investigações.

"A Polícia Civil e a PM dos Estados têm poucos incentivos para agir contra esses grupos. Em alguns casos, as próprias instituições estaduais estão envolvidasblackjack evolutioncrimes. Em outros, podem temer represálias", diz Muggah.

Essa também é a posição do Instituto Brasileiroblackjack evolutionCiências Criminais (IBCCrim), com sedeblackjack evolutionSão Paulo, que acompanhou a tramitação do projetoblackjack evolutionlei.

"Temos um sistema com um índiceblackjack evolutionresoluçãoblackjack evolutionmortes violentas muito baixo. É preciso priorizar a resolução dessas mortes violentas, principalmente as cometidas pela polícia", diz o jurista Cristiano Maronna, presidente da entidade.

"São casos ainda mais graves porque os criminosos se aproveitamblackjack evolutionum aparatoblackjack evolutionforça do Estado, que deveria proteger os cidadãos, não violentá-los", diz Maronna.

Além disso, as relações promíscuas entre políticos e milícias dificultam o combate ao problema nos Estados. A CPI das Milícias,blackjack evolution2008, apontoublackjack evolutionseu relatório final diversas dessas conexões: do deputado Jorge Babu, condenado a 7 anosblackjack evolutionprisãoblackjack evolution2010, ao ex-secretárioblackjack evolutionsegurança do Rio Marcelo Itagiba.

Segundo Maronna, um investigadorblackjack evolutionfora, sem relação com esse grupos estaduais, teria mais chancesblackjack evolutionconseguir lidar com o problema.

Operação na Favela do Kelson

Crédito, Fernando Frazão/Agência Brasil

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A intervenção federal foi anunciada como disposição da Uniãoblackjack evolutiontomar para si a responsabilidade sobre a segurança pública do Estado

Especialistas ressaltam, porém, que não basta a lei estabelecer competência federal na investigação a esses crimes, é preciso que haja real interesse do governoblackjack evolutioninvestir no combate a milícias.

A intervenção federal foi anunciada pelo governo Temer como uma disposição da Uniãoblackjack evolutiontomar para a responsabilidade sobre o problemablackjack evolutionsegurança pública do Estado. Em seu início, no entanto, as operações da intervenção receberam críticas por não se concentrarem no combate aos milicianos.

Há 10 dias, a Polícia Civil do Rio coordenou uma operação contra esse tipoblackjack evolutionorganizaçãoblackjack evolutionque prendeu,blackjack evolutionuma só vez, 149 pessoas – segundo a polícia, eram todos suspeitosblackjack evolutionenvolvimento com milícias na zona oeste da cidade.

O Secretárioblackjack evolutionSegurança Pública do Rio, general Richard Nunes, declarou que outras açõesblackjack evolutioncombate à milícia serão realizadas.

No casoblackjack evolutionMarielle, a Polícia Federal chegou a oferecer auxílio nas investigações, mas a Polícia Civil recusou a ajudablackjack evolutionum primeiro momento. Agora, no entanto, a Polícia Federal está cooperando com a Civil na tentativablackjack evolutionsolucionar o caso.

Paiblackjack evolutionMarielle com o retrato da filha: 'Ela desabrochou com a idade', diz ele
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Paiblackjack evolutionMarielle com o retrato da filha: 'Ela desabrochou com a idade', diz ele

Supondo que o combate ao crime fosseblackjack evolutionfato federalizado, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal teriam condiçõesblackjack evolutionarcar com a tarefa?

Para os especialistas, é questãoblackjack evolutionvontade política. "A PF e o MPF têm muito mais recursos (para lidar com as milícias) do que as instituiçõesblackjack evolutionsegurança estaduais", afirma Muggah.

"Eles também são mais bem treinados e considerados mais profissionais. Os maiores desafios que iriam enfrentar não são faltablackjack evolutiondinheiro oublackjack evolutioncapacidade, mas oposiçãoblackjack evolutionpolíticos e policiais corruptos que resistiriam à uma interferência externablackjack evolutionsuas redes criminais."

Procurada pela BBC Brasil, a Polícia Federal disse que não se pronunciaria sobre a federalização, por se tratar "de uma questão que compete ao Legislativo decidir".

Melhorar a polícia estadual e regular a segurança privada

Outra medida importante para lidar com as milícias é a puniçãoblackjack evolutionpoliciais estaduais envolvidos com os grupos - quer seja diretamente, quer seja com suporte indireto.

Isso só seria possível com grande vigilância interna e externa sobre a atuação da polícia e uma políticablackjack evolutionzero tolerância contra a corrupção, segundo Muggah.

Um dos órgãos encarregados desse trabalho é o Ministério Público Estadual. "O MP tem o deverblackjack evolutionfazer o controle da policial", diz Cristiano Maronna, do IBCCrim.

"Eles deveriam ser cobrados dessa responsabilidade e ter garantidos os recursos e a proteção necessária para a função", acrescenta Muggah.

O caminho também passa por reduzir os incentivos para que policiais se envolvam com grupos como esses. "É evidente que a força precisablackjack evolutiondiversas reformas urgentes. É preciso melhorar os salários e repensar as horasblackjack evolutiontrabalho para que os policiais não precisem assumir nenhum trabalho adicional", diz Muggah.

Favela da Rocinha, no Rioblackjack evolutionJaneiro

Crédito, Fernando Frazão/Agência Brasil

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Milícias se tornaram um problema tão grande quanto o tráfico

O problema das milícias está diretamente ligado ao processoblackjack evolutionprivatização das forçasblackjack evolutionsegurança públicas, segundo alguns especialistas - diante do vácuo do Estado, os mais ricos contratamblackjack evolutionprópria segurança e os mais pobres ficam à mercê da extorsãoblackjack evolutiongrupos paramilitares.

O antropólogo Luiz Eduardo Soares já descreveu as milícias como uma "degradação metastática" desse processoblackjack evolutionprivatização. Ou seja, um câncer que apareceblackjack evolutionum corpo já doente.

Para Muggah, a melhora na regulaçãoblackjack evolutionempresasblackjack evolutionsegurança privada vai ajudar a combater as milícias e reduzir seu acesso às armas e munições.

"Muitas dessas empresas do Rio são operadas por policiais na ativa ou recém-aposentados", diz ele. "São grupos poucos regulados e monitorados, e ocasionalmente ligados à operações milicianas."

O que diz a secretariablackjack evolutionsegurança

A Secretariablackjack evolutionEstadoblackjack evolutionSegurança do Rioblackjack evolutionJaneiro afirma que "atua com rigor no combate aos grupos paramilitares" por meio das polícias Civil e Militar.

"Todos os casos que são encaminhados pelo Disque-Denúncia são analisados e investigados", diz a entidade,blackjack evolutionnota. "De 2006 a abrilblackjack evolution2018 foram efetuadas 1.514 prisõesblackjack evolutionsuspeitosblackjack evolutionenvolvimento com grupos paramilitaresblackjack evolutionações das forçasblackjack evolutionsegurança do Estado."

O órgão também afirma que no períodoblackjack evolution2010 a 2017, houve um aporteblackjack evolutioncercablackjack evolution15,2 milhõesblackjack evolutionreaisblackjack evolutionoperaçõesblackjack evolutioninteligência.