O agente congolês na cracolândia, a boliviana no SUS, o angolano no 'rapa' e outras históriasbet365 cadastro 2022recomeço no Brasil:bet365 cadastro 2022

Uma delas é a Iabas (Institutobet365 cadastro 2022Atenção Básica e Avançada à Saúde), entidade social que administra unidadesbet365 cadastro 2022saúde no centro e na zona norte da cidade. Segundo a organização, 50 dos seus 3.078 funcionários são estrangeiros, entre médicos, agentesbet365 cadastro 2022saúde ebet365 cadastro 2022administração.

Um deles é o boliviano Jorge Lopez,bet365 cadastro 202262 anos. Ele percorre diariamente as ruas do Bom Retiro para checar como anda a saúdebet365 cadastro 2022milharesbet365 cadastro 2022estrangeiros que povoam o tradicional bairro do centro da cidade.
Naturalbet365 cadastro 2022La Paz, Lopez veio para o Brasil no final dos anos 1980, desiludido com a diverticulite que pôs um fim precoce abet365 cadastro 2022carreirabet365 cadastro 2022jogadorbet365 cadastro 2022futebol. Trabalhoubet365 cadastro 2022oficinasbet365 cadastro 2022costura enquanto estudava modelagembet365 cadastro 2022uma universidade particular.

O trabalho no Sistema Únicobet365 cadastro 2022Saúde (SUS) chegoubet365 cadastro 20222005 depoisbet365 cadastro 2022várias tentativas frustradas. "Fiz três provas e cinco entrevistas para entrar", conta.
Lopez foi um dos primeiros estrangeiros na unidadebet365 cadastro 2022saúde que fica no coração do Bom Retiro, local conhecido por historicamente abrigar imigrantes judeus, bolivianos e coreanos. Cercabet365 cadastro 202240% dos pacientes do posto são estrangeiros, segundo o Iabas.
O boliviano foi escolhido para facilitar a entradabet365 cadastro 2022seus compatriotas no SUS, movimento às vezes complicado pelo medo. "Os bolivianos são tímidos, têm receiobet365 cadastro 2022sairbet365 cadastro 2022casa e, muitas vezes, medobet365 cadastro 2022serem deportados por faltabet365 cadastro 2022documentos", conta.
Sua colega Jeanneth Orozco afirma que os colegas bolivianos se sentem mais à vontade quando conversam com agentes do país deles. "Os brasileiros visitavam as casas e as pessoas abriam só uma frestinha da porta", diz a agente, que chegou no Brasilbet365 cadastro 20222004 e está no SUS desde 2009. Ela já foi responsável pelo auxíliobet365 cadastro 2022saúdebet365 cadastro 202225 grávidas no Bom Retiro.
Para Lopez, os agentes estrangeiros acabam funcionando como uma espéciebet365 cadastro 2022conselheiros dos recém-chegados. "Explicamos que o SUS é gratuito, porque muita gente acha que precisa pagar. Também falamos onde dá para tirar os documentos, onde tem posto da Polícia Federal, escola, hospital", afirma.
No mesmo posto, trabalha a médica Lourdes Ojeda, bolivianabet365 cadastro 202227 anos. Sua trajetóriabet365 cadastro 2022imigração foi um pouco diferente dos colegasbet365 cadastro 2022unidade: formadabet365 cadastro 2022uma universidade pública, Ojeda teve dificuldadebet365 cadastro 2022encontrar empregobet365 cadastro 2022seu país. "Há muitos médicos na Bolívia e os salários são ruins. Por isso, decidi viver no Brasil", conta.

Para revalidar seu diplomabet365 cadastro 2022Medicina, ela precisou fazer duas provas - oral e escrita,bet365 cadastro 2022português. "Tivebet365 cadastro 2022vir antes para aprender e me acostumar com a língua", diz.
Segundo Marcelo Haydu, coordenador do Institutobet365 cadastro 2022Reintegração do Refugiado, uma das principais dificuldades para estrangeiros conseguirem emprego no Brasil é a burocracia para a revalidação dos diplomas universitários.
"Algumas provasbet365 cadastro 2022proficiênciabet365 cadastro 2022português, como a da USP, são muito complicadas. Desconfio que até brasileiros teriam dificuldadebet365 cadastro 2022passar", diz Haydu.
Para Leonardo Cavalcanti, professor da Universidadebet365 cadastro 2022Brasília e coordenador do Obmigra, imigrantes enfrentam um fenômeno conhecido como "inconsistênciabet365 cadastro 2022status", ou seja, quando chegam ao Brasil, eles não conseguem trabalharbet365 cadastro 2022suas áreasbet365 cadastro 2022formação.
"Normalmente, os imigrantes têm formação média ou superior, pois os pobres sem estudo nem conseguem migrar", explica. "Porém, quando chegam aqui, enfrentam as dificuldades burocráticasbet365 cadastro 2022revalidação dos diplomas, um processo que exige uma sériebet365 cadastro 2022documentos. Tem muito imigrante com formação superior trabalhandobet365 cadastro 2022auxiliarbet365 cadastro 2022pedreiro."
Haydu conta um casobet365 cadastro 2022um refugiado sírio que não consegue revalidar seu cursobet365 cadastro 2022engenheiro porque a USP exige um documento que sequer existe na Síria. "Não há normas claras reguladas pelo Ministério da Educação, cada universidade tembet365 cadastro 2022regra", diz.
'Como uma criança'

Um desses casos é o do refugiado Tresor Balingi, congolêsbet365 cadastro 202230 anos. Formadobet365 cadastro 2022Direito mas sem conseguir revalidar o diploma no Brasil, ele trabalhabet365 cadastro 2022atendente no CAT (Centrobet365 cadastro 2022Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo), órgão da prefeiturabet365 cadastro 2022São Paulo.
O problema, no entanto, não o incomoda: ele gosta do serviço. Balingi chegou ao Brasilbet365 cadastro 20222013 sem falar sequer uma palavrabet365 cadastro 2022português. "Quando você chega num país diferente, começa tudobet365 cadastro 2022novo, como uma criança", explica sobre seu períodobet365 cadastro 2022adaptação.
Ele trabalha ao ladobet365 cadastro 2022dois compatriotas, os atendentes Hidras Tuala e Mabiala Nkombo. Segundo a prefeitura, eles foram contratados para atender refugiados e imigrantes africanos, cada vez mais numerosos na cidade. O trio faz carteirasbet365 cadastro 2022trabalho, habilitaçãobet365 cadastro 2022seguro desemprego e auxíliobet365 cadastro 2022contratações.

Nkombo,bet365 cadastro 202223 anos, explica que a facilidade com várias línguas foi determinante parabet365 cadastro 2022contratação. "O CAT percebeu que havia muita dificuldadebet365 cadastro 2022comunicação com os estrangeiros. Nós falamos seis línguas fluentemente", diz ele, citando português, inglês, francês, espanhol, lingala e criolo. "Os africanos acabam naturalmente confiando maisbet365 cadastro 2022nós."
Seu colega Tuala,bet365 cadastro 202224 anos, não esconde a vontadebet365 cadastro 2022voltar ao Congo um dia. "A gente sempre pensa que amanhã vai ser melhor. Esse dia ainda não chegou", diz ele, que melhoroubet365 cadastro 2022formação cursando comunicação visualbet365 cadastro 2022uma universidade do Brasil.
'Terminar os estudos'
Estudar no Brasil foi o que motivou a vinda do angolano Antonio Coteo,bet365 cadastro 202221 anos. "Sempre gostei do Brasil e queria muito terminar a faculdadebet365 cadastro 2022engenharia elétrica", conta. Ele estudabet365 cadastro 2022uma faculdade particularbet365 cadastro 2022São Paulo com bolsa integral.
Enquanto finaliza seu curso, Coteo trabalha como assistentebet365 cadastro 2022fiscalização do comércio ambulante, serviço popularmente conhecido como "rapa". Vários funcionários dessa área no centro da cidade são imigrantes africanos.
Por outro lado,bet365 cadastro 2022ruas com forte comércio ambulantes, como a 25bet365 cadastro 2022Março, a presençabet365 cadastro 2022africanos como camelôs é bastante alta. Quando um comerciante é irregular, seus produtos são apreendidos pelo "rapa".
Coteo diz que nunca houve conflito com colegas africanos por causabet365 cadastro 2022seu trabalho. "Minha relação com meus 'irmãos' é muito boa, não trato ninguém mal. Explico o que eles precisam fazer para regularizar a situação e conseguir os documentos. Sou uma espéciebet365 cadastro 2022tradutor", diz.
Os refugiados
Segundo a Coordenação Nacionalbet365 cadastro 2022Imigração, órgão do Ministério do Trabalho, o Brasil deu 311 mil autorizações para estrangeiros trabalharem no país entre 2011 e 2016. Pouco maisbet365 cadastro 2022200 mil carteirasbet365 cadastro 2022trabalho foram emitidas nesse período.
Por outro lado, a autorizaçãobet365 cadastro 2022vistosbet365 cadastro 2022refúgio continua um processo lento -bet365 cadastro 2022média, ela demora dois anos. A fila chega a 86 mil pessoas e tende a crescer por causa da massabet365 cadastro 2022venezuelanos que diariamente chega ao Brasil.
Quando pousoubet365 cadastro 2022São Paulo, o congolês Kanga Heroult,bet365 cadastro 202238 anos, já tinha o documento que autorizava seu refúgio político no país. Era uma outra época,bet365 cadastro 20222008, quando o númerobet365 cadastro 2022pedidosbet365 cadastro 2022refúgio era bem menor.
Hoje, Heroult trabalha como agentebet365 cadastro 2022saúde na região da cracolândia, áreabet365 cadastro 2022consumo e vendabet365 cadastro 2022crack no centro da cidade. Ele auxilia dependentes químicos a entrar no serviço municipalbet365 cadastro 2022recuperação, o Redenção.

Ele fez três provas para entrar no serviço público. "A gente cuida e orienta (os usuáriosbet365 cadastro 2022crack), me dou bem com todos", conta ele. "Muitas pessoas que estão na rua hoje são da Nigéria, Tanzânia, Congo..."
A trajetóriabet365 cadastro 2022Heroult até o Brasil é dramática. Em 2007, ele se filioubet365 cadastro 2022um partidobet365 cadastro 2022oposição à ditadura que governa o Congo. Acabou preso depoisbet365 cadastro 2022participarbet365 cadastro 2022algumas manifestações contra o assassinatobet365 cadastro 2022um líder estudantil. "Por um mês e 15 dias eu fui torturado", diz, emocionado.
Heroult conta que, naqueles dias na prisão, dez pessoas eram levadas todos os diasbet365 cadastro 2022uma van. Nunca mais eram vistas. Um dia, chegou abet365 cadastro 2022vez.
"Eu sabia que iria morrer. Então comecei a cantar uma música sobre Deus. Um dos soldados ouviu e reconheceu a letra. Ele se aproximou e disse quebet365 cadastro 2022família era da mesma igreja que a minha", conta.
O congolês foi levado na van com outros nove prisioneiros. "O carro parou ao ladobet365 cadastro 2022um rio. As outras pessoas foram retiradas, mas eu fiquei. Ouvi o barulho delas sendo mortas e jogadas no rio. O motorista abriu a porta do carro e disse que nunca mais queria me ver. Eu estava livre."
Heroult escapou da morte e, dias depois, embarcou para o Brasil.










