Do chá ao jiu-jitsu: as influências japonesas na cultura do Brasil:jogo aposta copa

Bandeiras japonesa e brasileira se fundindo

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Legenda da foto, Em 2018, são celebrados os 110 anos da imigração japonesa no Brasil

Na paisagem urbana, bairros como o da Liberdade,jogo aposta copaSão Paulo, e cidades, como Bastos, no interior do Estado paulista, e Assaí, no Paraná, foram fundados por imigrantes japoneses e conservam até hoje características do país oriental.

Neste Dia da Imigração Japonesa, lembramos as principais influências da imigração japonesa na cultura brasileira:

Bairro da Liberdade,jogo aposta copaSão Paulo

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Legenda da foto, Brasil abriga a maior populaçãojogo aposta copaorigem japonesa fora do Japão

Artes marciais

Para o doutorjogo aposta copaHistória das Artes Marciais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Tiago Oviedo Frosi, a relação que se desenvolveu entre as culturas japonesa e brasileira é uma das experiências bem-sucedidasjogo aposta copaintegração entre povos que ocorreram no século 20.

Frosi defende que coube às artes marciais, prática capazjogo aposta copasuperar barreiras linguísticas ejogo aposta copacomunicação, a primeira ponte estabelecida nessa improvável relaçãojogo aposta copaculturas tão diferentes quanto foi Brasil-Japão.

O judô chegou no Brasiljogo aposta copa1914, trazido pelo mestre japonês Mitsuyo Maeda (1878-1941), que viajava o mundo desafiando lutadores. Até então, os brasileiros conheciam poucas modalidadesjogo aposta copacombate, sendo as mais populares o pugilismo e a capoeira.

"Por exigência do Instituto Kodokan (a 'meca' mundial desta arte marcial, no Japão), Maeda foi proibidojogo aposta copausar o nome judô para identificarjogo aposta copatécnica fora do Japão. Usava, então, o nome da antiga arte japonesajogo aposta copacombate desarmado que deu origem ao seu judô, o ju-jutsu. Com o tempo e os equívocosjogo aposta copagrafia na Europa e na América, o nome 'jiu-jitsu' se popularizou", explica Frosi.

Dois homens lutam jiu-jitsu brasileiro

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Legenda da foto, Jiu-jitsu brasileiro tem cercajogo aposta copameio milhãojogo aposta copapraticantes atualmente no Brasil

Outro fator que influenciou na disseminação das artes marciais entre os brasileiros foi a adoção dessas lutas nas forças policiais e Forças Armadas do Brasil.

"Mesmo diante desses vários exemplos, o jiu-jitsu é, a meu ver, a principal contribuição dessa relação Brasil-Japão, visto que o esporte foi trazido por um grande mestre japonês e aprimorado aqui, por brasileiros", analisa o pesquisador.

E, aos poucos, "os brasileiros foram sendo incluídos nos gruposjogo aposta copapráticasjogo aposta copaartes marciais e se integrando por intermédio dos treinamentos e dos eventos da área à comunidade japonesa recém-chegada no Brasil".

Hoje, segundo ele, o judô tem cercajogo aposta copa2 milhõesjogo aposta copapraticantesjogo aposta copatodo território nacional. Depois, vêm o jiu-jitsu brasileiro e o karatê, com cercajogo aposta copameio milhãojogo aposta copapraticantes cada.

Embora as diferenças culturais tenham mantido o ensino e a organização das artes marciais na mão dos imigrantes e descendentes por muito tempo, "muitos brasileiros se graduaram nessas artes, se tornando também grande atletas e instrutores. Atualmente, há descendentes e brasileiros liderando juntos federações e escolasjogo aposta copaartes marciais japonesas, provando que os aspectos mais gerais da cultura japonesa já estão bem integrados à cultura e ao dia-a-dia do brasileiro", agrega o pesquisador.

"Não é nenhum exagero dizer que as artes marciais foram a principal portajogo aposta copaacesso dos brasileiros à formajogo aposta copapensar e agir dos japoneses."

Espiritualidade e filosofia nipônicas

No campo das religiões trazidas pelos imigrantes japoneses, há destaque para o budismo, que veio para o Brasil no começo do século 20, mas foi perseguido por causa do preconceito com as religiões orientais e por causa da barreira linguística. Para conseguirem imigrar, monges japoneses entravam no país vestidosjogo aposta copaagricultores, como eram a maioria dos imigrantes orientais.

Até hoje, o budismo não é a religiãojogo aposta copaparte significativa da população brasileira - no Censojogo aposta copa2010, 243,9 mil pessoas,jogo aposta copaum universojogo aposta copa190,7 milhões, se declararam budistas.

No entanto, para o doutorjogo aposta copaCiência da Religião pela PUC-SP Rafael Shoji, a estética e os valores que acompanham as religiões orientais influenciam a cultura nacional até hoje.

Monge ora diantejogo aposta copaestátuajogo aposta copaBuda

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Legenda da foto, Budismo chegou ao Brasil no começo do século 20

"A influência do budismo enquanto númerojogo aposta copainstituições e convertidos é ainda relativamente pequena, mas vejo que há grande interesse na espiritualidade oriental a partir das artes marciais, festivais japoneses, ikebana etc", comenta Shoji.

"Existe uma admiração pela cultura e religiões japonesas, que passam para o brasileiro a ideiajogo aposta copadisciplina, tradição e perseverança, ilustrada tambémjogo aposta copapráticas como karatê, judô, aikidô etc. Muitos festivais japoneses também são realizadosjogo aposta copacidades brasileiras usando essa combinação estética e atraindo grande público."

Frosi lembra que o sucesso da práticajogo aposta copaartes marciais japonesas no Brasil se deu,jogo aposta copapartes, porque ela foi adotada pela cultura brasileirajogo aposta copadois níveis: tanto como prática esportiva como prática filosófica.

"Há incontáveis gruposjogo aposta copapraticantesjogo aposta copaartes marciais menos como atividades físicas e mais como práticas filosóficas, como o aikidô e o kendô, que têm muitos adeptos no nosso país por oferecerem filosofiasjogo aposta copavida cativantes", explica.

Mangá, artes plásticas e sandálias

O trabalhojogo aposta copagrandes cartunistas nipônicos, como ojogo aposta copaClaudio Seto, japonês naturalizado brasileiro que introduziu o estilo mangá nos quadrinhos nacionaisjogo aposta copa1967, fez com que a estética japonesa permanecesse no Brasil.

Nas artes plásticas, o pintor nipo-brasileiro Tikashi Fukushima (1920-2001) foi um dos pioneiros no Brasil do movimento abstracionista, seguido por grandes nomes da atualidade, como a japonesa naturalizada brasileira Tomie Ohtake, responsável por diversos painéis e esculturas que compõem a paisagem urbanajogo aposta copaSão Paulo.

Em entrevista à BBC News Brasiljogo aposta copajaneirojogo aposta copa2017, o curador do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada, classificou Tomie como um ícone múltiplo, "que contempla, a um só tempo: a singularidade da cultura nipo-brasileira desenvolvida no último século; a importância e ousadia das artistas mulheres na modernidade nacional; e o potencial inventivojogo aposta copacriadores que não cabem na alcunhajogo aposta copa'jovens'".

No campo da moda, as sandálias brasileirasjogo aposta copadedo mundialmente famosas foram inspiradas nas tradicionais sandálias japonesas "zori", feitasjogo aposta copapalhajogo aposta copaarroz. Na versão brasileira, a matéria-prima para os chinelos passou a ser a borracha.

Dieta mais verde e chás

O habitojogo aposta copaconsumir hortaliças nas principais refeições no Brasil foi um costume herdado dos primeiros imigrantes japoneses.

Folhasjogo aposta copachá preto com colherjogo aposta copamadeira e cerâmica oriental ao fundo

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Legenda da foto, Plantio do chá preto teve início com imigrantes japoneses no Brasil no Vale do Ribeirajogo aposta copa1935

Além disso, na lavoura, principal lugar onde estiveram os japoneses nos anosjogo aposta copa1910 e 1920, muitas técnicasjogo aposta copaplantiojogo aposta copafrutas que hoje estão inseridas na mesa do brasileiro foram trazidas pelos imigrantes.

Na região paulista, por exemplo, o plantio do pêssego e do morango foi iniciado por famílias nipônicas. Diversas outras frutas, como a maçã Fuji e o caqui, foram trazidas pelos japoneses. Elas não apenas eram parte da dieta japonesa como seu plantio representou uma chancejogo aposta copalucro mais rápido do que o plantio e comérciojogo aposta copacafé, até então popular no Brasil.

Para o consumo próprio, os japoneses trouxeram nos navios sementes que não eram consumidas aqui, introduzindo na dieta brasileira a soja, o arroz cateto, o feijão azuki, a couve japonesa, o pepino, a acelga, o nabo, o rabanete, a batata-doce, o inhame e a cebolinha, entre outros.

O consumojogo aposta copachás também pode ser atribuído aos imigrantes do oriente. O plantio do chá preto teve início no Brasil no Vale do Ribeira, regiãojogo aposta copaSão Paulo,jogo aposta copa1935.

Para o plantio, colheita e comercialização das mudasjogo aposta copachá, as famílias japonesas construíram na região as Casasjogo aposta copaChá, fábricas erguidasjogo aposta copaacordo com a arquitetura japonesa à provajogo aposta copaterremotos: construções feitas somente do encaixejogo aposta copamadeira, sem a utilizaçãojogo aposta copapregos e parafusos.

A Fábricajogo aposta copaChá Shimabukuro, a Fábricajogo aposta copaChá Amaya, Fábricajogo aposta copaChá Kawagiri, a Fábricajogo aposta copaChá e Residência Shimizu, localizadas na região da cidadejogo aposta copaRegistro (SP), assim como o Engenho, Sede Social e Residência Colônia Katsura, na cidadejogo aposta copaIguape (SP), são exemplos dessas construções tradicionais japonesas ainda existentes no Brasil e que podem ser visitas pelo público.

* A versão original desta reportagem afirmava que o "Kasatu Maru" aportou no Estado do Paraná, mas foi corrigidajogo aposta copa24/06/2019.