'Daqui a três dias, infelizmente, já cairá no esquecimento', diz ex-diretor do Museu da Língua Portuguesa sobre comoção com incêndio:betano entrar

betano entrar Antonio Carlos Sartini - Passam tantas coisas na cabeçabetano entrarum brasileiro que preza pela cultura e pelabetano entrarhistória, tantos pensamentos. Primeiro, uma tristeza muito grande, que beira quase uma raiva: abetano entrarperdermos um acervo tão importante. Em seguida, vem a reflexão: este acervo, do Museu Nacional, era ligado a uma universidade federal. É isso que vem sendo feito com nossas universidades federais?

betano entrar BBC News Brasil - Como o senhor compara o ocorrido agora com o que aconteceu no Museu da Língua Portuguesa?

betano entrar Sartini - É importante lembrar que eu era diretor-técnico do Museu da Língua Portuguesa. Havia uma equipe específica no museu para a infraestrutura e salvaguarda.

betano entrar BBC News Brasil - Mas, como diretor, o que o senhor pensou na época?

betano entrar Sartini - Não existem palavras que possam definir ou que possam realmente espalhar o que sente um diretorbetano entraruma instituição museológica, o que pensa um diretorbetano entrarmuseu, quando vêbetano entrarinstituição sendo consumida pelas chamas. Imagino a situação do Museu Nacional. Em nosso acervo, no Museu da Língua, o conteúdo não era material, pois tudo estava preservadobetano entrarregistrobetano entraráudio e vídeo. Tivemos uma perda humana, um bombeiro civil que trabalhava conosco. Mas eu imagino a situação do diretor do Museu Nacional. Deubetano entrarvida, lutou, batalhou pela preservação, da melhor maneira possívelbetano entraritens importantíssimos do acervo - e todos esses itens acabaram consumidosbetano entrarquestãobetano entrarminutos, horas. Por um incêndio. Uma sensação que eu acho absolutamente inexplicável.

betano entrar BBC News Brasil - O Brasil vive um momentobetano entrarcrise econômica e política. Como imaginar investimentosbetano entrarculturabetano entrarum cenário como o atual?

betano entrar Sartini - Todos sabemos que o País vive uma crise sem precedentes. Ontem mesmo vi publicado nas redes sociais um quadro com os investimentos feitos no Museu Nacional, com recursos dos últimos anos. Não sei se os dados eram verdadeiros ou não. Mas sóbetano entrarolharmos aquele quadro já conseguimos ter um bom entendimento do que acontece, da faltabetano entrarrecursos financeiros.

betano entrar BBC News Brasil - E tudo isso ainda considerando um prédio histórico...

betano entrar Sartini - Um prédio antigo, com faltabetano entrarinvestimentos. Em edifícios históricos, investimentos precisam sempre ser feitos e refeitos. Há toda uma questãobetano entrarequipamentos,betano entrarsegurança contra incêndios,betano entrarcapacitaçãobetano entrarfuncionários que trabalhambetano entrarprevenção e manutençãobetano entrarequipamentos. O Brasil é um país que prefere investir milhõesbetano entrarnovos museusbetano entrarvezbetano entrarolhar para os que já existem.

betano entrar BBC News Brasil - O sentimento é que não se olha para o que já existe?

betano entrar Sartini - No próprio Riobetano entrarJaneiro há bons exemplosbetano entrarinstituições que foram recém-inauguradas, com arquiteturas fantásticas, arquitetos estrangeiros. Verdadeiras obras-primas. Ao mesmo tempo, se esquece daqueles museus que fazem parte da nossa história, que fazem parte do nosso dia a dia, que abrigam nossa memória. Essa é uma grande falha dos administradores culturais, dos nomes responsáveis pela cultura no Brasil inteiro. Todos procurando novidades. Museus e equipamentos culturais novos aparecendobetano entrartodos os lugares, cheiosbetano entrartecnologias, enquanto aqueles mais antigos, que abrigam a nossa história, estão esquecidos, no anonimato. Isto é muito grave. Acredito que estamosbetano entrarum belo momento para se pensarbetano entraruma mudançabetano entrarpolíticas públicas e culturais.

betano entrar BBC News Brasil - O sentimento ébetano entrartristeza, impotência?

betano entrar Sartini - É uma tristeza muito grande estarmos perdendo, dia a dia, nossa memória, nosso rico patrimônio. E pensarmos que este acervo estava sob a guardabetano entraruma universidade federal ebetano entraruma universidade do Riobetano entrarJaneiro. Precisamos repensar as políticas públicasbetano entrareducação, construídas ao longobetano entrardécadas neste país. Vimos a criaçãobetano entraruma sériebetano entraruniversidades federais novas e importantes, mas o esquecimento total, a penúria, daquelas que já existiam. Ao mesmo tempo, uma sériebetano entrarmuseus novos,betano entrarencher os olhos, que atraem turistas e permitem aos patrocinadores a exposição da marca, que acabam viabilizando negócios aos milhões. Mas que acabam desviando recursosbetano entrarinstituições tradicionais, que merecem e precisam da nossa atenção. Foi um pouco da História do Brasil que se consumiu naquelas chamas.

betano entrar BBC News Brasil - Acredita que esta comoção pode trazer algum resultado?

betano entrar Sartini - Em tragédias sempre vemos uma grande comoção, atualmente nas redes sociais, muitas manifestações e isto é importante. Muita indignação. Daqui a três dias, infelizmente, já cairá no esquecimento. É preciso uma postura mais firme, cobrando dos governos federal, estadual e municipal. Estamosbetano entrarperíodo eleitoral. E chegou a horabetano entrarfalarmos um 'basta' para os políticos que vierem com projetosbetano entrarnovas obras, novas instituições. Não queremos mais. Queremos que eles olhem pelo que já existe e que não está sendo cuidado. Queremos que os recursos sejam utilizados para recuperar patrimônios como o Museu Nacional. Chegou o momentobetano entrarmudar a política pública e o comportamento das pessoas, principalmente daqueles que têm a responsabilidade da cultura neste País.

betano entrar BBC News Brasil - De modo prático: o que fazer para evitar tragédias como a do Museu Nacional ou mesmo do Museu da Língua?

betano entrar Sartini - Sem dúvida nenhuma, investimento. E investimento adequado. Digo, capacitaçãobetano entrarmãobetano entrarobra,betano entrartodos os níveis. E acho que esta mudançabetano entrarpostura tanto por parte daqueles que fazem nossas políticas públicas como da parte das pessoas que atuam na área pública. É preciso um 'chega'. Não precisamosbetano entrarmais teatros, mais museus, mais lindas e mirabolantes bibliotecas. É o momentobetano entrarpararmos. Diantebetano entraruma crise profunda que o país vive e continuará vivendo nos próximos anos, é horabetano entrarfazermos uma análisebetano entrarcomo estão os equipamentos culturais.

betano entrar BBC News Brasil - Não precisamosbetano entrarnovidades, é isso?

betano entrar Sartini - É esta a questão: precisamosbetano entrarnovidade ou é melhor cuidar daquilo que nós temos, olhar com uma lupa como estão nossas instituições culturais, nossos acervos, nossa história, nossa memória? Vamos pararbetano entrarser um paísbetano entrarnovidades e pensar um pouco a nossa História. Mais do que nunca é isto que é extremamente importante.