Como é a rotina dos trabalhadores que passam quase um terço do dia dentroapostador esportivoônibus, metrô ou trem:apostador esportivo
Esse é o último trecho do caminho da gestoraapostador esportivouma biblioteca comunitária após um diaapostador esportivotrabalho e faculdade, intercalados por uma sagaapostador esportivo5 horas dentroapostador esportivoseis ônibus diferentes antesapostador esportivorever o marido e o filhoapostador esportivo9 anos.
"A sensação éapostador esportivodesespero. Mulheres foram estupradas neste caminho e a minha irmã já foi assaltada. Ontem mesmo ouvi um barulho vindo da mata e saí correndo desesperada até chegarapostador esportivocasa", conta. Ela disse que o marido não vai buscá-la no pontoapostador esportivoônibus porque prefere que ele fiqueapostador esportivocasa cuidando do filho.
"Fizemos este acordo porque entendemos que é mais perigoso uma criança ficarapostador esportivocasa sozinha do que eu andar na escuridão. Sem opção, eu não ligo o celular para não chamar a atenção e torço para que pelo menos tenha alguém para me acompanhar. Se alguma coisa acontecer, não tem sinalapostador esportivocelular para pedir ajuda nem pessoas perto para pedir socorro. A única saída é fugir para o mato".
Durante uma semana, a BBC News Brasil acompanhou o trajeto diárioapostador esportivotrês trabalhadores que passam até um terçoapostador esportivosuas vidas dentroapostador esportivoônibus ou trem. Uma pesquisa feitaapostador esportivoparceria pelo Ibope e a Rede Nossa São Pauloapostador esportivosetembroapostador esportivo2018 revelou que o tempo médioapostador esportivodeslocamento dos paulistanos éapostador esportivo2h43 por dia.
Mas a rotina do zelador Ludovico Jesus Tozzo,apostador esportivo58 anos, se descola desses números. Ele conta que quase nunca vê a luz do dia ao lado da mulher,apostador esportivoseus dois filhos e netos porque passa cercaapostador esportivo7hapostador esportivoseu dia no trajetoapostador esportivoida e volta do trabalho. Quando há um acidente, chove ou é época escolar, passa facilmente das 8h - um terço da vida sendo enxergada por meioapostador esportivouma janelinhaapostador esportivoônibus.
Às 4h40, ele dá um beijo na mulher, guarda a marmita na mochila e anda apressado pelas ruas sem calçada do Jardim do Sol,apostador esportivoSão Mateus (extremo lesteapostador esportivoSão Paulo),apostador esportivodireção ao pontoapostador esportivoônibus. Em 15 minutos, ele chega à primeira das três conduções que usaapostador esportivoseu trajeto até a Vila Andrade, na zona sul.

Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil
São 40 km que separam a casa do zelador - três horas para ir e outras quatro para voltar. Logo no primeiro micro-ônibus, ele se junta a dezenasapostador esportivooutros trabalhadores rumo à estação Itaquera do metrô - da casa dele. Até lá, são 40 minutosapostador esportivopé no transporte.
Desde o último domingo, as pessoas que moram longe enfrentam ainda mais uma barreira no transporte público paulistano. Desde então, as passagensapostador esportivoMetrô, trens e ônibus passaramapostador esportivoR$ 4 para R$ 4,30. A integração entre os modais, usada por quem mora longe, foiapostador esportivoR$ 6,96 para R$ 7,48.
Horas perdidas
O urbanista especializadoapostador esportivotrânsito Flamínio Fichman diz que os trabalhadores entrevistados pela reportagem "são como escravos", pois o tempo que eles gastam com trabalho e transporte praticamente os impedeapostador esportivoter lazer e cultura.
Para Fichman, entretanto, a melhor solução para resolver o problema da mobilidade não é investir prioritariamenteapostador esportivotransporte público, mas, sim,apostador esportivoreduzir a distância entre o empregado e o emprego.
"Temos sim que aumentar nossa malhaapostador esportivotrem, metrô e corredoresapostador esportivoônibus, mas isso só vai remediar temporariamente. A solução é aproximar as empresas e o comércio do domicílio, mudar o uso do solo. Isso porque a gente está com uma cidade muito grande, que passou do limite. É necessário levar o trabalho para onde as pessoas residem atravésapostador esportivouma legislação que reduza impostos e incentive o deslocamentoapostador esportivoempresas para as periferias. Também é necessário construir mais habitações populares no centro", afirmou.

Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil
Questionado, o Governoapostador esportivoSão Paulo afirmou que vai construir 3.683 moradias populares no centro da capital "justamente para aproximar o localapostador esportivomoradia do localapostador esportivotrabalho". Em nota, a Secretaria Estadual da Habitação disse que "80% das unidades do projeto serão para inscritos que moram fora da área central e que tenham pelo menos um membro da família trabalhando no centro da cidade".
A Secretaria Estadualapostador esportivoTransportes, porapostador esportivovez, diz que vai fazer uma "expansão significativa" dos transportesapostador esportivomassa, mas sem dizer quanto vai aumentar até o fim da gestão. A prefeitura promete construir 72 kmapostador esportivocorredores até 2020.
A gestão municipal informou ainda que 35 imóveis localizados no centro expandido serão destinados para a moradia social. A prefeitura diz que também implantará um plano que propõe aumentar a população na região, com incentivo à ofertaapostador esportivoempregos e serviços.
O urbanista entrevistado pela BBC News Brasil explica que a superlotação nos transportes foi causada principalmente por uma valorização constante das áreas centrais da cidade. Isso fez a população mais pobre morar cada vez mais longe por não conseguir comprar um imóvel na região e necessitar se deslocar por horas para ter acesso a serviçosapostador esportivoqualidade, como parques, museus e shoppings.
"As pessoas fazem muitas compras no centro expandido. É necessário reforçar os subcentros localizadosapostador esportivoáreas mais distantes, como Itaquera, São Miguel Paulista e Tucuruvi. Investirapostador esportivomercados municipais, comércio local e serviços mais distantes do centro. O poder público também deve descentralizar as atividades culturais, bibliotecas e levar opçõesapostador esportivolazerapostador esportivoqualidade para a periferia", afirmou.
A prefeitura diz que há 83 parquesapostador esportivoáreas consideradas periféricas e que oferece incentivos fiscais para empresas na zona leste, "com o objetivoapostador esportivoaumentar a ofertaapostador esportivoempregosapostador esportivolocais densamente povoados da periferia". Segundo a administração, maisapostador esportivo20 empresas se instalaram na região por meio desse programa.
Outra solução, segundo Flamínio Fichman, é o incentivar o home office, o trabalhoapostador esportivocasa.

Crédito, Felix Lima/ BBC News Brasil
"Isso tem que ser considerado pelas empresas porque tem muita gente saindoapostador esportivocasa para trabalhar sem necessidade. Gente que pode ficarapostador esportivocasa com seu notebook está se deslocando à toa. Os serviçosapostador esportivoentregas e o e-commerce também devem receber incentivos, pois contribuem para evitar deslocamentos desnecessários", disse.
A gerenteapostador esportivobiblioteca Sidinéia iniciaapostador esportivojornada diária às 8hapostador esportivodireção à biblioteca comunitária onde trabalha no bairro Colônia, no mesmo distrito onde mora,apostador esportivoParelheiros. De lá, às 17h, ela pega um ônibus até a faculdade onde cursa administração,apostador esportivoSanto Amaro, também na zona sul. No trajetoapostador esportivoida e volta são seis conduções, que totalizam cinco horas por dia no transporte público.
"O maior problema é o caminhoapostador esportivocasa até o pontoapostador esportivoônibus porque tenho que atravessar uma ponte por cimaapostador esportivoum pequeno rio. Se chove, é certeza que você vai chegar no trabalho com a roupa sujaapostador esportivobarro ou com água espirrada pelos carros. Mas se está seco, sobe uma poeira e você chega com o tênis sujo e o cabelo cheioapostador esportivoterra. Difícil escolher quando é menos pior. O jeito é levar um paninho na bolsa para limpar pelo menos os sapatos", conta.
Se tivesse mais tempo, ela conta que poderia "fazer um curso, ficar mais tempo com o filho ou dormir. Até mesmo no ônibus eu poderia fazer parte dessas coisas se eu conseguisse me sentar", diz.
Estratégias
Ao longoapostador esportivoanosapostador esportivoexperiência no transporte, os trabalhadores entrevistados pela reportagem desenvolveram técnicas para economizar dinheiro e ter mais chancesapostador esportivoconseguir um assento no ônibus ou trem - ou ao menos evitar fazer a viagem "esmagado".
A empregada doméstica Marlene Fernandesapostador esportivoLima,apostador esportivo59 anos, por exemplo, faz a chamada "rota negativa". A estratégia é começar a viagem no sentido oposto ao que quer ir, para descer numa estação com mais chancesapostador esportivoconseguir um assento e, aí sim, seguir no sentido correto.
"Faço isso porque ninguém oferece o lugar. Só levantam quando entra (no metrô) uma gestante ou um idoso com maisapostador esportivo70, 80 anos. Para não levantar, eles fingem que estão dormindo ou mexendo no celular", conta ela.
Marlene relata que o excessoapostador esportivoviagensapostador esportivopé a deixa cada vez mais dia mais cansada e desgastada.
"Isso piorou depois que passei dos 50 anos. O pior é que eu chegoapostador esportivocasa e ainda preciso fazer comida, lavar louça e limpar a casa. Tenho sorte porque minha filha mora do meu lado e muitas vezes limpa tudo antesapostador esportivoeu chegar", diz a empregada doméstica.
A primeira parte da jornadaapostador esportivoMarlene começaapostador esportivoFerrazapostador esportivoVasconcelos, na Grande São Paulo, às 4h20, e termina no Ipiranga, na zona sul da capital, às 7h. A volta tem a mesma duração.

Crédito, Felix Lima/ BBC News Brasil
"Se eu perdesse menos tempo, eu poderia ficar maisapostador esportivocasa ou até passeando. É triste pensar nessa vida perdida. Eu já penseiapostador esportivodesistir, mas não dá para ficar sem trabalhar, ainda mais agora que fiquei viúva. Quero trabalhar só mais dois anos até eu me aposentar porque eu não aguento mais", conta ela.
Já Ludovico usa uma estratégia econômica. Para não pagar mais uma passagem, ele não passa a catraca do ônibus até chegar àapostador esportivoprimeira baldeaçãoapostador esportivoItaquera.
"Como eu demoro maisapostador esportivotrês horas para irapostador esportivocasa ao trabalho, se eu passar o Bilhete Único logo quando entro no ônibus, perco a integração e tenhoapostador esportivopagar mais uma passagem", explica.
A Prefeituraapostador esportivoSão Paulo confirmou que o Bilhete Único Vale-Transporte e o Bilhete Único Estudante podem ser usadosapostador esportivoaté quatro veículos diferentes durante duas horas, Porém, disse que não há nenhum projeto para mudar essa regra.
Depoisapostador esportivoItaquera, o caminhoapostador esportivoLudovico continua pela linha vermelha do metrô até a estação Anhangabaú, onde desce e caminha até o terminal Bandeira. De lá, ele embarcaapostador esportivooutro ônibus e, depoisapostador esportivo40 minutosapostador esportivoviagem, ainda faz mais uma caminhadaapostador esportivo15 minutos até o prédio onde trabalha como zelador.
Ele disse que já tentou diversos caminhos e estratégias diferentes para reduzir o tempo do trajeto. Segundo ele, essa é a melhor opção porque, alémapostador esportivodemorar o mesmo tempo do trem, evita caminhadas mais longas.
"Eu não sou mais um menino. Trabalho todos os dias e só folgo uma vez por semana, sábado ou domingo. Então, evito caminhar mais do que eu preciso", diz o zelador.
Cicloapostador esportivopobreza
O professorapostador esportivoeconomia da Fundação Getúlio Vargas e do Mackenzie Raphael Bicudo diz que essa perdaapostador esportivotempo no transporte público causa um fenômeno chamadoapostador esportivociclo intergeracionalapostador esportivopobreza.
"Os pais dessas pessoas viveramapostador esportivosituação pior ou semelhante a elas e, salvo raras exceções, seus filhos não conseguirão romper esse ciclo e também viverão assim. Isso ocorre porque as dificuldades fazem essas pessoas terem uma perdaapostador esportivooportunidade e ascensão social. Elas não conseguem se dedicar a cursos, faculdades e têm dificuldades para chegar pontualmenteapostador esportivoentrevistas e no trabalho porque dependemapostador esportivoônibus e trens e algumas ainda enfrentam enchentes", afirmou.

Crédito, Felipe Souza BBC News Brasil
Ele explica que isso dificulta, e muito, principalmente a vida dos trabalhadores mais pobres. Em seu pontoapostador esportivovista, isso torna desigual a competição por uma vaga no mercadoapostador esportivotrabalho.
"A longo prazo, isso causa um desgaste físico e emocional, que resulta numa perdaapostador esportivoprodutividade. Isso faz com que essas pessoas sejam inseridasapostador esportivoempregos com salários menores e precários. Eu tenho alunos que saem 23h da faculdade, chegam 1hapostador esportivocasa e acordam às 4h para o trabalho. Como essa pessoa pode concorrer a uma vaga com outra que vai à faculdadeapostador esportivocarro com ar condicionado e não precisa trabalhar?".
O urbanista Flamínio Fichman diz que essa é a realidadeapostador esportivooutras cidades brasileiras que tiveram um grande crescimento populacional nas últimas décadas, como Rioapostador esportivoJaneiro, Salvador e Belo Horizonte.
"Isso ocorre no país inteiro onde há uma taxaapostador esportivocrescimento populacional desenfreada. Florianópolis (capitalapostador esportivoSC), por exemplo, é outra cidade que está perdendo muitoapostador esportivoconforto por causa desse crescimento que ela não comporta mais. Outra cidade que piorou muito é Curitiba, no Paraná. O Governo Federal precisa incentivar que cidades não cresçamapostador esportivomaneira desordenada como São Paulo", afirmou.
Sonhos
Com tanto tempo gasto apenas com deslocamentos entre o trabalho e a casa, os trabalhadores entrevistados quase não conseguem ter um momentoapostador esportivolazer e cultura. Mas têm muitos sonhos e a esperançaapostador esportivoter uma vida menos corrida no futuro.
Ao serem questionados pela reportagem sobre quais eram seus maiores sonhos, a resposta foi unânime: viajar.
Sidinéia diz que seu maior desejo é conhecer o continente africano, principalmente Guiné-Bissau.

Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil
"Eu sou apaixonada pelas histórias que são contadas. Aqui no Brasil, porém, nosso passado é negado o tempo todo. Hoje, para eu me reconhecer como mulher negra, eu tiveapostador esportivopassar por um processo. Mesmo assim, eu não me vejoapostador esportivolugaresapostador esportivoque eu frequento. Para mim, conhecer Guiné-Bissau é conhecer uma realidade diferente do que a imprensa mostra,apostador esportivoque é um lugar feio e sem prosperidade", conta.
Já Marlene conta que nunca saiu do Estadoapostador esportivoSão Pauloapostador esportivoseus 59 anosapostador esportivovida. O lugar mais longe que ela visitou foi a cidadeapostador esportivoAvanhandava, a 470 km da capital paulista, viagem feitaapostador esportivoseis horas, o mesmo tempo que ela gasta para ir e voltar do trabalho. Um vooapostador esportivoSão Paulo para Recife demora três horas.
"Eu já fui lá algumas vezes visitar a minha irmã lá (Avanhandava). Mas eu quero conhecer outras cidades, passear. Eu gostariaapostador esportivoconhecer Recife. Meu sonho é andarapostador esportivoavião", conta.
O sonhoapostador esportivoLudovico, que também nunca saiu do Estadoapostador esportivoSão Paulo, é conhecer o Nordeste e o Norte.
"Se Deus me ajudar que eu me aposente, eu queria conhecer outros lugares. Só conheço a Baixada Santista (litoral) e Sorocaba (97 kmapostador esportivoSP). Eu queria conhecer a Bahia, Fortaleza, Amazonas. Tudo no Brasil mesmo", conta.
Hoje, ele conta que já se sente realizado quando consegue chegarapostador esportivocasa antes dos filhos irem para a cama ou dormir maisapostador esportivoseis horas numa noite.
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