Como brasileiros são atraídos por ofertasbet h2emprego no exterior e acabam vítimasbet h2trabalho escravo:bet h2

A maioria das vítimas resgatadas pela ONG é composta por mulheres na faixa dos 30 anos, que só estudaram até o terceiro ano do ensino primário. Elas normalmente estão no Brasilbet h2condição socioeconômicabet h2pobreza e são atraídas por ofertasbet h2vagas para babá e faxineira, com saláriosbet h2até mil francos (R$3.750).
É o casobet h2Sandra, que diz não ter denunciado a ex-patroa à polícia por não ter visto formalbet h2trabalho e por temer que as ameaçasbet h2retaliação recebidas se concretizem. "O meu medo é que ela tem o meu endereço aqui no Brasil. Ela tem dinheiro e pode pagar alguém pra vir aqui fazer algum mal para mim, pra minha filha ou para minha neta."
Um membro da ONG que a resgatou foi até a residência onde ela trabavalhabet h2busca dos pertencesbet h2Sandra. "Não queriam abrir a porta e sequer devolver a mala. Entregaram só metade das coisas e jogaram água dentro. É tristebet h2ver, às vezes são brasileiros explorando outros brasileiros sem misericórdia."
Antesbet h2serem vítimasbet h2maus-tratos e violência sexual, esses brasileiros acreditambet h2promessasbet h2trabalho fácil ou romances encantados e acabam enredadosbet h2casos que envolvem, por exemplo, dívidas, chantagem, submissão e abuso.
Tráficobet h2pessoas
Pela definição do Protocolobet h2Palermo, o tráficobet h2pessoas é "o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimentobet h2pessoas" recorrendo à ameaça, uso da força e a outras formasbet h2coação como rapto, fraude, engano, ou abusobet h2autoridade para finsbet h2exploração.
Há subnotificação porque alguns não consideram estarbet h2regimebet h2abuso ou têm medobet h2denunciar, explicou à BBC News Brasil Kristiina Kangaspunta, chefe do departamentobet h2combate ao tráfico e seres humanos na UNODC, a agência da Organização das Nações Unidas contra Drogas e Crime.
Segundo ela, para cada vítima registrada, há pelo menos outras cinco que não são identificadas, o que favorece a impunidade.
"Muitas pessoas são ludibriadas a entrarbet h2uma situaçãobet h2ilegalidade e provavelmente esse é o casobet h2muitos brasileiros na Suíça. Uma vez trabalhando ilegalmente, os imigrantes não acreditam que estejam sendo abusados, mas sim enxergam a si mesmas como infratoras", diz Kangaspunta.

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Números inconclusivos
Em relatório bienal, a UNODC estima que, dentre as pessoas vítimasbet h2tráficobet h2pessoas na Europa, 66% são para exploração sexual, 27% são para serviços forçados e 7% para outros tiposbet h2violência. O levantamento mais recente,bet h22018, cobriu cercabet h250% da população mundial e avaliou que havia 25 mil casos reportados nesse contexto.
Uma outra agência da ONU, a Organização Internacional para Migrações (OIM) lançou no ano passado o maior bancobet h2dados do mundo sobre tráficobet h2seres humanos. Há 91.416 casos documentados pela IOMbet h2172 países.
Segundo os dados desse levantamento, na Suíça é apenas perceptível a tendência migratória oriunda do leste. Hungria, Tailândia e Romênia aparecem como principais paísesbet h2origem das vítimas.
Esse levantamento da IOM não especifica ranking globalbet h2origem e destino, mas registra 7.500 casosbet h2vítimas oriundas das Américas. A grande maioria dessas vítimas foi explorada dentro do próprio continente.
Pelo perfil do Brasil nesse levantamento, 32% dos brasileiros traficados são levados ao trabalho forçado e 62% sofrem exploração sexual.
A reportagem contatou a diplomacia brasileira na Suíçabet h2buscabet h2números do tráficobet h2brasileiros na Europa e foi encaminhada ao Ministério da Justiça e Segurança Públicabet h2Brasília.
A Coordenação-Geralbet h2Enfrentamento ao Tráficobet h2Pessoas do Departamentobet h2Migrações do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil informou à BBC News Brasil que "não há informações específicas sobre países-destinobet h2brasileiras" vítimas do tráfico e encaminhou um relatório nacional com o levantamento da situaçãobet h22014 a 2016.
O documento afirma que "não existe no Brasil um sistema único, integrado e confiávelbet h2estatísticas criminais" e que para a "produçãobet h2um diagnóstico nacional, é necessária a padronização". "Um dos problemas que compromete a consistênciabet h2análises comparáveis é a heterogeneidade das categorias e critérios adotados para classificar as ocorrências", reconhece o texto.
Ainda assim, o levantamento enumera dadosbet h2diferentes fontes para dar uma visão panorâmica do problema. Segundo registros da Polícia Federal, por exemplo,bet h22007 a 2016 o tráfico internacionalbet h2pessoas para finsbet h2exploração sexual gerou 137 inquéritos e 287 indiciamentos.
Jábet h22014 a 2016 o Conselho Nacionalbet h2Justiça registrou 370 processos criminais por tráfico internacionalbet h2pessoas (297bet h2primeiro grau e 73bet h2segundo). Não está detalhado, porém, quantos desses processos se referem a vítimas brasileiras no exterior e quantos sãobet h2vítimas estrangeiras no Brasil.
Outra fonte citada no relatório, a Secretaria Nacionalbet h2Políticas para Mulheres (SPM), aponta uma tendênciabet h2recorrente incidênciabet h2tráficobet h2pessoas (interno e internacional) para finsbet h2exploração sexual. Em três anos (2014, 2015 e 2016), foram informados 488 casosbet h2tráficobet h2pessoas para finsbet h2exploração sexual, dos quais 189 sãobet h2tráfico internacional e 299bet h2tráfico interno, alémbet h2257 para finsbet h2trabalho escravo.
Já pelas estatísticas oficiais do governo suíço, se somados os episódiosbet h2aconselhamento e compensação tantobet h2tráficobet h2seres humanos quantobet h2prostituição,bet h22017 houve uma totalidadebet h2305. No ano anterior esse mesmo total erabet h2314 casos ebet h22015 forabet h2271 casos. Desde 2010 os registros vem oscilando ano a ano. O mínimo observado foibet h2203 vítimas (em 2011) e o máximo foibet h2331bet h22013.

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Desde 2006, a Organização não governamental Projeto Resgate, que foca principalmentebet h2imigrantes latino-americanos, resgatou maisbet h2400 indivíduos na condiçãobet h2exploração. Todos contam a mesma história: chegaram com o sonhobet h2começar uma vida nova e acabaram sendo abusados.
A organização é sustentada por doações cristãs. Praticamente um terço dos fundos vem da arrecadação da Igreja Batista Brasileira, entidade fundada antes do projeto e que é a principal mantenedora do mesmo. A ONG também recebe doaçõesbet h2igrejas Reformadas, Evangélicas e Católicas alémbet h2Fundações e pessoas privadas.
Jimmy Medeiros, voluntário da ONG, narrou à BBC News Brasil algumas das histórias que vivenciou ao longo dos oito anosbet h2que atuou com imigrantes.
Marido obrigava a esposa a comer fezes
Em 2004, o pastor Vicente Medeiros esteve pela primeira vez na Suíça e ouviu o relatobet h2uma brasileira que vinha sendo humilhada pelo marido abusivo.
Ela havia sido atraída pelo sonhobet h2se casar com um europeu e oferecer uma vida melhor aos seus filhos. Depoisbet h2se mudar para a Suíça e entrarbet h2uma situaçãobet h2dependência econômica e psicológica do marido, a vítima foi obrigada a se submeter a práticas sexuais degradantes.
"Ela veio até nós e disse: 'Não aguento mais comer merda!' E, chorando, nos contou que o marido usava drogas, defecava e a obrigava a comer, porque era isso que o estimulava sexualmente. Perguntamos 'por que você não o deixa e vai embora para o Brasil?' 'Não posso. Eu tenho filhos nos Brasil e ele me ajuda financeiramente', relatou Jimmy.
Com o apoio dos cristãos, a mulher conseguiu fugir da relação disfuncional poucos meses depois. "Esse foi o caso que mais sensibilizou o meu pai e o encorajou a dar início a todo o trabalho", recorda.
O projeto então teve seu início,bet h22005, após um levantamento indicar que havia muitas outras brasileirasbet h2condição semelhante necessitando auxílio.
Prostituía-se para comer
Uma mulherbet h236 anos, que acreditava ter encontrado um "príncipe encantado", virou escrava doméstica e sexual do marido suíço, sendo obrigada a se prostituir para se alimentar.
No início, eles viveram um períodobet h2luabet h2mel, mas depoisbet h2casar formalmente no começobet h22017, passou a conhecer o lado agressivo do marido.

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Ela foi forçada a dormir trancada no porão, e onde um balde serviabet h2banheiro.
O marido escondeu o passaporte e exigiu que ela pagasse pela comida que consumia, alémbet h2lavar, passar, limpar e cozinhar para os quatro homens adultos que moravam na casa.
"Eu tinha conhecido ele pelo WhatsApp atravésbet h2uma amiga e acreditei na promessa", relatou ao Projeto Resgate. "Deixei minhas duas filhas no Rio para me casar com ele, mas nunca imaginei que ele seria assim". Depoisbet h2ser resgatada, retornou à comunidade carioca onde vivia e tem recebido apoio espiritual.
"Muitas pessoas não conseguem sair desse ciclobet h2abuso, porque não querem aceitar que o sonho não deu certo", afirma Jimmy Medeiros, da ONG.
Vagas falsasbet h2emprego
Beto conheceu pela internet uma mulher da Suíça alemã e vendeu tudo para empreender na Europa, queria tentar abrir um negócio na Internet. A nova amiga se dispôs a ajudá-lo e hospedou o recém-chegado.
A situação mudou quando a mulher pediu um empréstimo e ele entregou todo o seu dinheiro a ela. No Brasil ele vendera o carro para comprar a passagem e chegara com pouco maisbet h2mil Francosbet h2economias (R$3750). Segundo ele, a partir daí passou a ser chantageadobet h2trocabet h2favores sexuais. Ele resistiu à chantagem.
Pouco maisbet h2um mês depoisbet h2chegar Beto tomou coragem para fugir quando finalmente descobriu os planos da suíça: reformar a casa para montar um bordel. Uma manhã, quando ela saiubet h2casa para lavar roupa, ele decidiu sumir. Após três noites, conseguiu retornar ao Brasil com a ajuda da ONG.

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Felipe morava no Norte do Brasil quando foi abordado por uma mulher que o encontrou na internet e se apresentava como agentebet h2modelos na região francesa da Suíça. Felipe e a noiva no Brasil acharam que a promessabet h2trabalho era genuína e seria uma ótima oportunidadebet h2economizar para a festabet h2casamento.
Ao chegar à Suíça, porém, ele foi levado diretamente do aeroporto para uma sauna gay, onde teve o passaporte retido e foi informadobet h2que ficaria aprisionado até que pagasse o valor da passagem, estadia e alimentação. Os captores disseram a Felipe que ele devia 5.000 euros (equivalente a R$21.200).
Após se submeter à prostituição forçada por vários dias, aproveitou que a porta da sauna foi deixada aberta e fugiu abandonando todos seus pertences. Gritando por socorro na rua, foi acudido por uma mulher que falava português e o levou à polícia e ao consulado brasileiro. A ONG não soube informar se a polícia chegou a prender a gangue que explorou Felipe, porque não teve acesso às investigações.
Capoerista no Brasil, Ricky recebeu uma propostabet h2atuar como professor dessa arte na Suíça pelo saláriobet h2mil francos (R$3.750) mas, ao chegar à Europa, foi informadobet h2que a escola ainda não havia sido inaugurada e se ele quisesse esperar teria que se apresentar pelas ruas da Suíça.
Passou então a viverbet h2esmolas, mas seus "futuros empregadores" estavam sempre seguindo seus passos e exigiam uma "taxa"bet h2tudo o que ele recebia. A pessoa que o trouxe à Europa o levava nas praças para fazer as apresentaçõesbet h2Capoeira e controlava o chapéu com o dinheiro.
O capoeirista foi informadobet h2que só receberia um salário depois que a dívidabet h2cinco mil francos (R$18.700)bet h2passagem e alojamento tivesse sido quitada.
Uma noite, sem dinheiro sequer para comer, Ricky ouviu dos suíços que teria que se prostituir se quisesse sobreviver. O brasileiro então entendeu que esse era o plano dos seus aliciadores desde o início e, na manhã seguinte, quando saiu para trabalhar nas praças, fugiu correndo.
Como Ricky era esportista, o captor suíço que o acompanhava não conseguiu alcança-lo. Gritandobet h2português "alguém me ajude", foi resgatado por um suíço, cuja namorada era brasileira, que ouviu e compreendeu o apelo. O suíço levou Ricky à Policia. Posteriormente o brasileiro foi ao Consulado, que o encaminhou para o Projeto Resgate.
"As pessoas precisam saber para onde estão indo, o que irão fazer e no que estão se metendo. Se forem trabalhar, precisam conferir a reputação da agência, a situação do visto, para ver se é sólida a oportunidadebet h2emprego. Não se deve viajar apenas baseadobet h2promessas", alerta Kangaspunta, da UNODC.
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