Violência contra a mulher: novos dados mostram que 'não há lugar seguro no Brasil':reactoonz 3

  • Luiza Franco
  • Da BBC News Brasilreactoonz 3São Paulo
Mulheres dando as mãos

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Apenas 8% dos municípios brasileiros têm delegacias da mulher

reactoonz 3 Em um sábadoreactoonz 3fevereiro, Elaine Caparróz apanhou por horasreactoonz 3um homem que conheceu na internet e terminou a noite com o rosto desfigurado. Dias depois, outro homem foi detido por ejacular sobre uma passageira dentroreactoonz 3um trem.

Não foram casos isolados. Nos últimos 12 meses, 1,6 milhãoreactoonz 3mulheres foram espancadas ou sofreram tentativareactoonz 3estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milhões (37,1%)reactoonz 3brasileiras passaram por algum tiporeactoonz 3assédio. Dentroreactoonz 3casa, a situação não foi necessariamente melhor. Entre os casosreactoonz 3violência, 42% ocorreram no ambiente doméstico. Após sofrer uma violência, mais da metade das mulheres (52%) não denunciou o agressor ou procurou ajuda.

Os dados sãoreactoonz 3um levantamento do Datafolha feitoreactoonz 3fevereiro encomendada pela ONG Fórum Brasileiroreactoonz 3Segurança Pública (FBSP) para avaliar o impacto da violência contra as mulheres no Brasil.

O levantamento, divulgado nesta terça-feira, levou a diretora-executiva do Fórum, Samira Bueno, a questionar a existênciareactoonz 3espaçosreactoonz 3que a mulher possa se sentir efetivamente segura no país. "Ela está sofrendo violência dentroreactoonz 3casa, aí ela pega o metrô para ir para o trabalho, onde também vai ser assediada. Qual é o lugar seguro, então? Ele existe?"

Os novos dados corroboram o que outras pesquisas já mostravam. Grande parte das mulheres que sofreram violência dizem que o agressor era alguém conhecido (76,4%). Mulheres pretas e pardas são mais vitimadas do que as brancas; as jovens, mais do que as mais velhas.

Silhuetareactoonz 3mulher

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

27,4% das mulheres brasileiras com 16 anos ou mais sofreram algum tiporeactoonz 3violência nos últimos 12 meses, diz pesquisa

Em conversa com a BBC News Brasil, Bueno comentou o resultado da pesquisa e a situação da violência contra a mulher no Brasilreactoonz 3modo geral. Para ela, o país avançoureactoonz 3muitos aspectos, apesarreactoonz 3as taxasreactoonz 3assassinatosreactoonz 3mulheres terem mudado pouco.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

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reactoonz 3 BBC News Brasil - O padrãoreactoonz 3violência contra as mulheres no Brasil é muito parecido há anos. Qual foireactoonz 3reação ao ver os dados da pesquisa?

reactoonz 3 Samira Bueno - Há uma sériereactoonz 3números impressionantes. Há 536 casos por hora no Brasil e quase a mesma proporçãoreactoonz 3mulheres que dizem ter sido vítimareactoonz 3algum tiporeactoonz 3violência sexual. O númeroreactoonz 3mulheres que sofreram espancamento é assustador (1,6 milhão). Todos esses dados remetem à violência doméstica: 76,4% das mulheres conheciam o autor da violência, a maior parte aconteceu dentroreactoonz 3casa.

Mas quando olhamos para o assédio, o espaço público tampouco é seguro. O númeroreactoonz 3mulheres assediadas fisicamente no transporte público, quase 4 milhões, é enorme. Não tem um espaço onde a mulher efetivamente está segura. A mulher está sofrendo violência dentroreactoonz 3casa, aí ela pega o metrô para ir para o trabalho, onde também vai ser assediada. Qual é o lugar seguro, então? Ele existe?

reactoonz 3 BBC News Brasil - Na última semana, dois casosreactoonz 3violência contra mulheres se tornaram públicos: no Rio, uma mulher foi espancada por um homem que ela conheceu na internet, ereactoonz 3São Paulo, um homem ejaculou na pernareactoonz 3uma mulherreactoonz 3um trem. O que esses casos mostram sobre como o assunto é tratado no Brasil?

reactoonz 3 Samira Bueno - No caso do homem que ejaculou na menina no transporte público, ela pediu ajuda dentro do trem e ficou todo o mundo olhando para a cara dela sem fazer nada. Depois, um guarda perguntou a ela se ela tinha certeza que a mancha na roupa dela não erareactoonz 3água. Como isso ainda acontece? Ela tinha acabadoreactoonz 3sofrer uma violência como essa, que é humilhante, que te faz sentir violada. Foi à delegacia, ficou uma hora e meia esperando, foi mal atendida.

Plataformareactoonz 3metrô

Crédito, OSWALDO CORNETI

Legenda da foto,

37,1% das brasileiras relatam ter sido vítimareactoonz 3assédio no último ano; 7,8% foram assediadas fisicamente no transporte público

A mulher que foi espancada ficou quatro horas sofrendo agressão e pedindo ajuda e levou quatro horas para alguém fazer alguma coisa.

Isso tudo mostra como ainda somos coniventes com a violência contra a mulher. São tantos tiposreactoonz 3violência,reactoonz 3tantos espaços distintos, mas as respostas que nos são dadas são as mesmasreactoonz 3todo lugar.

reactoonz 3 BBC News Brasil - A razão para isso é mais cultural ou relacionada a políticas públicas?

reactoonz 3 Samira Bueno - A origem é cultural. Podemos ter as melhores políticas públicas,reactoonz 3punição a agressores, mas se elas não incorporarem uma perspectivareactoonz 3prevenção, pensandoreactoonz 3como é possível alterar normais sociais e culturais, não vamos resolver o problema.

Temos a Lei Maria da Penha, a alteração na lei do estupro, a lei do feminicídio, areactoonz 3importunação sexual, são todas boas, mas a lei por si só não resolve o problema. O menino que vê o pai batendo na mãe vai bater na esposa. A menina que sofre violência sexual dentroreactoonz 3casa e muitas vezes nem sabe que aquilo é uma violência. Se ouvir falar sobre isso na escola, vai identificar que talvez ela seja vítima.

Alunosreactoonz 3salareactoonz 3aula com professore

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

'A menina que sofre violência sexual dentroreactoonz 3casa e muitas vezes nem sabe que aquilo é uma violência, se ouvir falar sobre isso na escola, vai identificar que talvez ela seja vítima'

reactoonz 3 BBC News Brasil - Como a política pública pode intervir no aspecto cultural?

reactoonz 3 Samira Bueno - Agressores têm que ser presos, mas também têm que passar por processos que não ocorrem, mas deveriam, como os grupos reflexivos. Eles precisam entender que aquilo é uma violência, repensar seu comportamento. Temos que levar às escolas um ensinoreactoonz 3igualdadereactoonz 3gênero, do que é a violência. No caso da violência doméstica, o homem vai repetir esse comportamento. É um padrão que precisa ser rompido.

A gente pode apostar na prisão como punição que vai alterar isso, mas sabemos que, se a ameaçareactoonz 3prisão fosse uma formareactoonz 3evitar que as pessoas cometessem crimes no Brasil, estaríamos numa situação melhor, pois temos a terceira maior população carcerária do mundo. Temos a lei do estupro há dez anos, mas não temos menos estupros por isso. O mesmo vale para a leireactoonz 3drogas. Legislação é um instrumento importante, mas por si só, não resolve o problema.

reactoonz 3 BBC News Brasil - Os dados mostram que mulheres negras seguem sendo mais vitimadas.

reactoonz 3 Samira Bueno - É impossível não falarreactoonz 3racismo,reactoonz 3como ele determina trajetóriasreactoonz 3vida. Quais são as condições econômicas das mulheres pretas? Em geral, vivemreactoonz 3condições piores do que a média das mulheres brancas. Isso é fruto do nosso legado escravocrata que nunca solucionamos. Isso fica evidente nos dadosreactoonz 3assédio. Elas são mais vitimadas do que mulheres brancas. Parece que o corpo negro é um espaço público.

Mulher negra

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Vitimização também é maior entre mulheres pretas (28,4%) e pardas (27,5%) do que entre as brancas (24,7%)

reactoonz 3 BBC News Brasil - A taxareactoonz 3mortes por violênciareactoonz 3mulheres permanece relativamente estável no Brasil desde o início dos anos 2000. O Brasil evoluiu ou está estagnado no combate à violência contra a mulher?

reactoonz 3 Samira Bueno - Avançamos muito. O que interpretamos como violência é uma construção social e cultural. Já fomos muito mais tolerantes do que somos hoje. Veja o caso do Doca Street e da Angela Diniz (em 1976, ele a matou, na casa dela,reactoonz 3Cabo Frio, no Rioreactoonz 3Janeiro, após ela terminar a relação, e foi absolvido). Ele alegou que cometeu um atoreactoonz 3legítima defesa dareactoonz 3honra. Hoje isso seria inaceitável.

reactoonz 3 BBC News Brasil - Como avalia o impacto da Lei Maria da Penha?

reactoonz 3 Samira Bueno - A Lei Maria da Penha é uma grande conquista. No papel, é muito boa. Não é só uma lei penal, é quase uma política pública inteirareactoonz 3violência contra a mulher. Ela engloba muitos aspectos - prevenção, medidas protetivas, trabalhos com autoresreactoonz 3violência. Num caso como esses, o desafio é sempre o da implementação.

Tem, por exemplo, o obstáculo do pacto federativo - para a lei funcionar, você dependereactoonz 3Prefeitura, Estado, União, do Executivo, do Judiciário, e muitas vezes a política não conversa. Fazer com que o serviçoreactoonz 3rede funcione é desafiador. Fazer com que esse serviço chegue para além das capitais (8% dos municípios têm delegacias da mulher) também é um desafio.

Vemos que também falta institucionalizaçãoreactoonz 3boas práticas. Quando projetos funcionam, não é por institucionalização, mas porque indivíduos lutam por eles.

reactoonz 3 BBC News Brasil - O presidente Jair Bolsonaro expediu um decreto que facilita a possereactoonz 3armas, umareactoonz 3suas principais promessasreactoonz 3campanha. O maior acesso a armas pode afetar a violência contra mulheres?

reactoonz 3 Samira Bueno - O decreto autoriza a possereactoonz 3armas, ou seja, o direitoreactoonz 3ter armasreactoonz 3casa, que é justamente onde as mulheres morrem. Se cidadão que é um perpetradorreactoonz 3violência doméstica tem uma arma dentroreactoonz 3casa, é uma receita para a tragédia. Estamos dando um instrumento mais poderoso ao algozreactoonz 3uma mulher.

Dadas as evidências científicas que temos da relaçãoreactoonz 3aumentoreactoonz 3armareactoonz 3fogo com aumentoreactoonz 3homicídios e suicídios, e dadas as características da violência contra a mulher, muito provavelmente teremos um aumento do feminicídio, assim comoreactoonz 3lesões graves – como o caso da Maria da Penha, que levou um tiro do marido nas costas enquanto dormia e ficou paraplégica. Haverá também um impacto no sistemareactoonz 3saúde.

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