Os brasileiros não-binários que lutam pelo reconhecimento do gênero neutro: 'Não me considero homem, nem mulher':novibet ufc

Jinx Vilhas

Crédito, Piotr Bialas

Legenda da foto, Jinx,novibet ufc22 anos, se considerava um garoto bissexual, mas hoje se apresenta como indivíduo sem gênero definido

Jinx e Cup se identificam como pessoas não-binárias. O termo, ainda pouco conhecido, é utilizado para denominar aqueles que não se classificam exclusivamentenovibet ufcnenhum dos gêneros binários - masculino ou feminino.

Cup durante ensaio feitonovibet ufcjardim

Crédito, Ingridy Lorena

Legenda da foto, Cup diz que passou a notar que era diferente dos demais garotos danovibet ufcidade ainda na infância

"São pessoas que podem se sentir transitando entre os dois gêneros, sem necessariamente estarnovibet ufcum deles. São os indivíduos que resistem à normalizaçãonovibet ufcgêneros. São pessoas cujos corpos denunciam uma resistência à imposiçãonovibet ufcnormas", explica a psiquiatra e educadora sexual Alessandra Diehl, especialistanovibet ufcsexualidade humana.

A partir da décadanovibet ufc80, os estudosnovibet ufcgêneros passaram a abordar uma vertente que não incluía somente masculino ou feminino. Desde então, conforme especialistas consultados pela BBC News Brasil, surgiu o termo não-binários - também denominado por estudiosos como 'genderqueer'.

Diehl ressalta que apesarnovibet ufcestudos recentes, indivíduos não-binários existem há séculos. "A diferença é que agora há estudiosos que abordam essa desconstrução do gênero."

Em busca da própria identidade

Logo que passou a ser chamadanovibet ufcJinx, a jovem pediu aos amigos que passassem a tratá-la no feminino. "Prefiro ser identificada assim, porque está fora do padrão que me impuseram", argumenta. Cup não se importa com o gênero no qual é tratado. "Não tenho preferência. Cada pessoa se relaciona com issonovibet ufcuma forma diferente. Não há um padrão", explica o jovem.

Estudiosos afirmam que as definições sobre os gêneros dos pronomes que serão utilizados dependemnovibet ufccada indivíduo não-binário. Uma das orientações é questionar a pessoa sobre o modo que prefere ser tratada.

Cup usando saia e com os cabelos coloridos

Crédito, Lucas Melo

Legenda da foto, Cup diz que não se importa com o gênero no qual é tratado e diz que "não há um padrão"

Uma alternativa sobre o modo como tratar um indivíduo não-binário é o uso da linguagem neutra, utilizada para não especificar o gênero do interlocutor. Nela, são utilizados termos como "elu" -novibet ufcveznovibet ufcele ou ela - e a vogal "e" se torna recorrente nas palavras com terminologias que denotam gênero. Amigo se torna amigue. Bonito se torna bonite.

Em um passado recente, a letra X chegou a ser utilizada para grafar o gênero neutronovibet ufcalguns textos. Era comum ler palavras como "bonitx" ou "simpaticx" para não especificar se eram termos masculinos ou femininos. A consoante, porém, entrounovibet ufcdesusonovibet ufcrazão da dificuldade para ser pronunciada no fim das palavras.

Entre pessoas não-binárias, há aquelas que somente querem ser tratadas no gênero neutro. "Não aceito que me tratem como ele ou ela. Pô, não é difícil usar a linguagem neutra. Dá pra aprendernovibet ufcuns cinco minutos. Puro preconceitonovibet ufcquem se nega a usá-las", diz Julian Cosmo Kahalia,novibet ufc21 anos.

"Puxa, é algo que ando refletindo há um tempo. Percebi que me incomoda demais ternovibet ufcescolher o pronome masculino ou feminino para as pessoas se referirem a mim. Não me identifico dessa forma. Sou uma pessoa não-binária. Hoje, peço para me chamarem pelo gênero neutro. Só relevo quando não vale a pena explicar, como, por exemplo, quando só vou ver aquela pessoa por alguns minutos da vida, como motoristasnovibet ufcônibus ou enfermeiros", completa.

Julian

Crédito, Wendy Silva

Legenda da foto, Julian Cosmo Kahalia,novibet ufc21 anos, não aceita que te tratem "como ele ou ela"

Julian, que é artista e trabalha criando ilustrações, passou a se identificar como pessoa não-binária aos 17 anos. "Quando conheci o assunto, vi que me encaixei naquilo. Tudo fluiunovibet ufcforma natural e me senti como se isso sempre fizesse parte da minha identidade", comenta. Desde 2015, deixou o nomenovibet ufcbatismo para trás. "Passei a me chamar Cosmo apenas. Há um ano, adotei Julian, porque o cantor dos Strokes se chama Julian Casablancas. Eu tinha uma quedinha nele e sempre achei o nome belíssimo", diverte-se.

Cup, Jinx e Julian são nomes sociais. Nos documentos deles ainda constam informações com as quais foram identificados ao nascer. Cup, ao menos por ora, não pensanovibet ufcmudar o nome com o qual foi registrado pelos pais. "Peço apenas que as pessoas me chamem pelo nome social, que surgiu como um apelido, quando eu frequentava fóruns virtuais sobre ilustração."

No futuro, Jinx e Julian pensamnovibet ufcalterar os nomes. Em relação ao gênero que consta nos documentos, não cogitam mudanças. "Não sinto vontadenovibet ufcalterar o gênero nos documentos, porque o masculino também não me representa. Se tivesse uma terceira opção, eu mudaria", comenta Julian.

Em alguns lugares do mundo, os documentos possuem uma terceira alternativa para que o indivíduo se identifique, alémnovibet ufcmasculino ou feminino. Na Austrália, há o gênero neutro, adotado desde 2014. Na Alemanha também existe o terceiro gênero nos registros, conforme aprovado pelo governo alemão no fim do ano passado. No Brasil, ao menos por ora, não há discussão sobre o tema.

Transgêneros

Grande parte dos indivíduos não-binários se identificam como transgêneros. Isso porque não se enquadram no gênero com o qual foram identificados ao nascer. Julian, Jinx e Cup não fogem à regra.

"Uma pessoa trans é aquela que não se identifica 100% com o gênero que lhe foi imposto. Dentro disso existem as pessoas trans binárias, que se identificam como homens ou mulheres transgêneros, e as trans não-binárias, que não se veem como homem ou mulher", diz Julian.

Juliannovibet ufcfoto com imagem projetada

Crédito, Clara Linhares

Legenda da foto, Julian toma testosterona há um ano e meio,novibet ufcbuscanovibet ufcuma aparência mais masculina

Segundo Alessandra Diehl, é importante levarnovibet ufcconsideração que cada indivíduo não-binário define sobre si. "Na construção do gênero, quem se considera algo ou alguém deve ser a própria pessoa portadora daquela identidade. Por isso, é importante ternovibet ufcmente sempre que esta identidade construída socialmente é atribuída pelo sujeito e não por terceiros", diz.

O fatonovibet ufca pessoa se considerar transgênero, conforme especialistas ouvidos pela reportagem, está ligado à forma como ela se identifica. Tal classificação não está ligada ao fatonovibet ufca pessoa utilizar hormônios ou recorrer à cirurgianovibet ufcredesignação sexual - a popular mudançanovibet ufcsexo.

Cup não toma hormônios, nem cogita passar pela cirurgianovibet ufcredesignação sexual. Jinx pensanovibet ufcutilizar bloqueadoresnovibet ufctestosterona. "Mas não sei se os efeitos desejados condizem com o que quero para a minha aparência no momento. Já tive algumas experiências com hormônios, mas tive um problema no fígado e tivenovibet ufcpararnovibet ufcutilizá-los", pondera Jinx.

Já Julian toma testorona há um ano e meio,novibet ufcbuscanovibet ufcuma aparência que considera mais masculina. "Mas isso não me faz mais transgênero que aqueles que não tomam hormônio. Isso também não significa que me identifico como homem trans. É apenas uma escolha pessoal e estética", explica.

A cirurgianovibet ufcredesignação sexual não faz parte dos objetivosnovibet ufcJulian. "Meu corpo não me incomoda. Só queria remover os seios, porque prefiro essa estética para mim", diz.

Orientação sexual

Não existem padrões sobre a orientação sexual - que define por quem cada pessoa se interessa - entre os não-binários. "São equivocadas definições ou regras nesse aspecto. Esses casos dependemnovibet ufccada indivíduo", argumenta João Manuelnovibet ufcOliveira, doutornovibet ufcpsicologia social e pesquisadornovibet ufcestudosnovibet ufcgêneros.

Entre os não-binários, assim comonovibet ufccasosnovibet ufcpessoas binárias, pode haver aqueles que se identificam como heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Esta última é a orientação sexualnovibet ufcJinx e Julian. "Me considero assim porque não faço distinçãonovibet ufcgêneronovibet ufcmeus relacionamentos", revela Jinx.

A motivação política, ou seja, as bandeiras que quer defendernovibet ufcmeio à sociedade, segundo Alessandra Diehl, é uma das principais motivações para que uma pessoa não-binária defina anovibet ufcorientação sexual. "Por exemplo, ela pode se classificar como lésbica,novibet ufcrazão da visibilidade lésbica e para se definir como uma trans feminista", pontua a psiquiatra.

Alguns não-binários se definem como assexual - característica que, conforme estudiosos, também pode ser considerada uma orientação sexual. Cup se classifica desta forma. Ele afirma que nunca beijou na boca. "Até hoje não me envolvi romanticamente com ninguém. Para mim, desenvolver esse interesse romântico ou físico é mais difícil. Não tive interesse pelas pessoas que se interessaram por mim. As que já me interessei, ou não foi recíproco ou não tive coragemnovibet ufctentar algo", relata.

Há ainda aqueles que afirmam não definir a orientação sexual. "Penso que seja melhor não me classificar nesse aspecto", declara o estudantenovibet ufcmedicina Ian Mendes,novibet ufc22 anos, que há menosnovibet ufcum ano se identifica como pessoa não-binária.

Aparência ambígua

O visualnovibet ufcpessoas não-binárias pode ser considerado ambíguo. Isso porque muitos mesclam acessórios considerados masculinos com itens tidos como femininos. "Há diasnovibet ufcque me visto com roupas e acessórios consideradosnovibet ufcmeninos. Em outros dias, opto por itens que podem ser consideradosnovibet ufcmeninas ", revela Ian.

Ian

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Ian diz que há diasnovibet ufcque usa objetos consideradosnovibet ufcmeninas enovibet ufcoutros que usam itens tidos como masculinos

Há três anos, ele se identifica como homem trans. No ano passado, deixounovibet ufcse considerar pertencente ao gênero masculino e passou a se classificar como não-binário. "Percebi que não ter gênero é ter a liberdadenovibet ufcser quem eu sou,novibet ufcforma completa. Não quero reforçar as amarras do gênero, que são construídas socialmente", declara o jovem, que planeja mudar o nome nos documentosnovibet ufcum futuro próximo.

Para Ian, usar roupas consideradas como destinadas ao público masculino ou feminino é uma das formasnovibet ufcliberdade que conquistou desde que passou a se entender como indivíduo não-binário. "Meu visual não tem mais definiçãonovibet ufcgênero."

Cup revela que há anos usa roupas e acessórios sem se preocupar se são considerados itens masculinos ou femininos. "Não coloconovibet ufcpauta a leitura social do que uso. Não me importo com o gênero para o qual determinada roupa é designada. Não tento parecer mais masculino ou feminino. Simplesmente uso o que me agrada, aquilo que tenho vontade, seja uma saia ou um short", comenta.

"Eu gostonovibet ufcmuitas coisas consideradas femininas, como pintar as unhas enovibet ufcter cabelos coloridos e grandes. Também adoto coisas consideradas do gênero masculino (como a barba cerrada). O que me importa é poder me expressar do modo mais sincero possível", declara.

Outros não-binários, porém, tendem a adotar visual que pode ser considerado relacionado a um único gênero. Tal característica, conforme especialistas no tema, não altera o fatonovibet ufco indivíduo considerar que não pertence ao gênero masculino ou ao feminino.

Jinx, por exemplo, acredita que possui aparência que pode ser considerada masculina, sob diversos aspectos. "Masnovibet ufccontrapartida,novibet ufcalgumas épocas do ano, pinto as unhas ou o cabelo. No entanto, não associo essas coisas a um gênero específico", diz a estudantenovibet ufcciências sociais.

A sociedade

Após se identificar como indivíduo que não pertence ao gênero masculino, nem feminino, as pessoas não-binárias passam a viver uma nova situação. Na nova fase, passam a enfrentar o preconceito na sociedade, conforme relatam as pessoas entrevistadas para a reportagem.

"No cotidiano, muitas pessoas pensam que sou um homem e, para elas, isso basta. Para os mais próximos, explico que sou não-binário. Os meus pais reagiram positivamente a isso. Acredito que eles não entendam totalmente o assunto, mas a verdade é que você não precisa compreender tudo para ser capaznovibet ufcrespeitar", diz Cup.

Ele tem um canal no YouTube, no qual trata sobre diversos temas, inclusive curiosidades sobre pessoas não-binárias. Segundo o estudante, a internet é o lugarnovibet ufcque mais sofre preconceito. "Muitos negam por completo a minha identidade. Falam que tenho algum problema mental ou que invento isso para ser moderno. Por entender essa dificuldadenovibet ufcmuitas pessoasnovibet ufcrespeitar os trans não-binários, tenho receionovibet ufcusar roupas que sejam totalmente fora do padrãonovibet ufcalguns lugares. Em vários momentos me sinto inibido e não me expresso do modo que quero. A sociedade nos trata como invisíveis", declara.

Julian segurando bandeira do orgulho transgênero

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, "Sempre gritam ou me assediamnovibet ufctodos os tipos, geralmente homens mais velhos", diz Julian

Para Jinx, a ausêncianovibet ufcinformações sobre o assunto faz com que as pessoas estranhem a existêncianovibet ufcalguém que não pertença ao gênero masculino ou feminino. "Muitas pessoas não conhecem essa possibilidadenovibet ufcexistência. É comum lidarem com surpresa, descrença ou estranheza", lamenta.

Julian enfrenta dificuldades com a família, que não aceita o fatonovibet ufcser uma pessoa não-binária. "Nenhum familiar me apoia. Moro com minha mãe por questões econômicas, mas cortei contato com outras pessoas, por vontade própria. Eu me importo muito mais com laços que fiz por vontade própria e amor, com pessoas que me dão carinho e não tentam me mudar", conta.

Nas ruas, Julian costuma ouvir comentários maldosos. "Sempre gritam ou me assediamnovibet ufctodos os tipos, geralmente homens mais velhos. Além dos olhares constrangedores. Já me seguiram no caminho para casa. Certa vez, tive que pegar o primeiro ônibus que apareceu, porque um cara começou a gritar: 'você é homem ou mulher?'", relata.

Uma das estratégias para diminuir o preconceito contra as pessoas não-binárias é ensinar sobre as diferenças ainda no período escolar, diz o mestrenovibet ufcsaúde reprodutiva e estudioso sobre a sexualidade humana, Jaime Alejandro Parra Vilarroel.

"Temos que avançar neste assunto. É importante melhorar as estratégiasnovibet ufcpolíticas públicas, legislação e educação sexualnovibet ufcuma idade precoce, para assim eliminar o preconceito que existenovibet ufcnossa sociedade. Assim, as pessoas não-binárias poderão se expressarnovibet ufctodos os espaçosnovibet ufcdesenvolvimento", assevera.

A psiquiatra Alessandra Diehl frisa que as pessoas não-binárias precisam ser vistas com base nos estudos feitos sobre o tema, nãonovibet ufc"achismos" ou crenças. "Pode ser bastante complicado dialogar se as pessoas entenderem que o mundo é apenas das meninas que vestem rosa ou dos meninos que vestem azul."

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