Por que o Rio Grande do Norte é o pior lugar para ser jovem no Brasil:melhores casas de apostas para cantos

Nesse cenário, a polícia potiguar tenta acompanhar a produçãomelhores casas de apostas para cantosmassamelhores casas de apostas para cantosassassinatos. Na noitemelhores casas de apostas para cantosque a BBC News Brasil acompanhou uma equipe da delegacia especializadamelhores casas de apostas para cantosresoluçãomelhores casas de apostas para cantoshomicídios, a região metropolitanamelhores casas de apostas para cantosNatal produziu três novas vítimas - todas com menosmelhores casas de apostas para cantos30 anos.

No casomelhores casas de apostas para cantosSão Josémelhores casas de apostas para cantosMipibu, a morte parece um mistério nos primeiros minutos após o corpo ser encontrado no carro. Como ele foi parar ali? Por quê? Quem matou o jovem?

Enquanto os peritos reviram o veículo e examinam o corpo, a delegada Andrea Oliveira fica sabendo que o carro tinha sido roubado horas antes. "Parece que esse rapaz entroumelhores casas de apostas para cantosuma casa com um comparsa. Os dois roubaram a residência e levaram o carro", relata.

"Será que, depois do assalto, os dois brigaram por causa dos pertences do roubo e um acabou matando o outro?", questiona.

Investigações policiais

Responder quem são os responsáveis pelos assassinatos do Rio Grande do Norte, como no caso do jovem no carro, tem sido uma tarefa árdua para a polícia local e,melhores casas de apostas para cantoscerta forma, tem deixado milharesmelhores casas de apostas para cantoscrimes impunes.

Em 2017, por exemplo, Natal registrou 595 crimes violentos letais intencionais (CVLI, sigla utilizada para classificar homicídiosmelhores casas de apostas para cantosalguns Estados), segundo dados do governo. Mas, naquele ano, a polícia só enviou 160 inquéritosmelhores casas de apostas para cantosassassinatos à Justiça (e os documentos também podem se referir a casosmelhores casas de apostas para cantosanos anteriores). Em tese, são esses inquéritos que apontam os autoresmelhores casas de apostas para cantoscada crime, mas, na prática, isso nem sempre acontece.

Ou seja, quando essas investigações ficam abertas ou não revelam os responsáveis, os assassinos provavelmente ficarão livres.

Das 160 investigaçõesmelhores casas de apostas para cantoshomicídios concluídas e remetidas à Justiçamelhores casas de apostas para cantos2017, a polícia só conseguiu elucidar 118 casos (74%). Outros 42 casos (26%) foram finalizados sem determinar a autoria.

Em 2019, os índices melhoraram, no entanto. De janeiro a julho, a setor especializadomelhores casas de apostas para cantoshomicídiosmelhores casas de apostas para cantosNatal já enviou 210 inquéritos ao Judiciário - altamelhores casas de apostas para cantos19%melhores casas de apostas para cantosrelação ao mesmo período do ano passado.

Natal tem dez delegados e 70 agentes para investigar todos os crimes contra a vida. Isso significa que, apenas no ano passado, cada delegado cuidoumelhores casas de apostas para cantos47 casos,melhores casas de apostas para cantosmédia - sem contar os crimesmelhores casas de apostas para cantosanos anteriores.

Em Mossoró, segunda maior cidade do Estado, a situação é ainda mais dramática. São apenas dois delegados e seis agentes para todas as mortes violentas - no ano passado, foram 118 homicídios para cada delegado.

"Quando cada delegacia conclui cinco investigações por mês, a gente até comemora", diz o delegado Julio Costa, chefe do departamentomelhores casas de apostas para cantoshomicídios do Rio Grande do Norte. "A polícia ainda está estruturando, mas é óbvio que falta pessoal."

Em entrevista à BBC News Brasil, o promotor criminal Ítalo Moreira, que atuamelhores casas de apostas para cantosMossoró, afirma que as falhas na investigação prejudicam a produçãomelhores casas de apostas para cantosprovas. "Como a polícia não se estrutura para melhorar as investigações, não há boas provas. Na maioria dos casos, nós dependemosmelhores casas de apostas para cantosdepoimentosmelhores casas de apostas para cantostestemunhas, o que dificulta a condenação dos responsáveis."

Moreira diz que, por faltamelhores casas de apostas para cantosprovas, já pediu a jurados a absolviçãomelhores casas de apostas para cantosréus que tinha certezamelhores casas de apostas para cantosserem culpados por mortes violentas. "Isso acontece frequentemente. Se as provas não são boas, mesmo convicto da culpa, não posso pedir a condenação", diz.

De certa forma, a precariedade da polícia potiguar é um reflexo da crise nas contas públicas. Em janeiro, ao assumir o cargo, a governadora Fátima Bezerra (PT) chegou a decretar estadomelhores casas de apostas para cantoscalamidade financeira diante do atraso no pagamento do saláriomelhores casas de apostas para cantosservidores - a dívida, na época, eramelhores casas de apostas para cantosR$ 2,6 bilhões. Já o déficit orçamentário chegava a R$ 1,8 bilhão, segundo o jornal Tribuna do Norte.

De acordo com o governo, a Polícia Civil, responsável por investigar os crimes, trabalha com apenas 27% do efetivo considerado ideal. Já a Polícia Militar, com aposentadorias e faltamelhores casas de apostas para cantosconcursos públicos para renovar a tropa, também atua com número abaixo do adequado.

Esse crescimento da violência na última década ocorreu durante as gestõesmelhores casas de apostas para cantosgovernadoresmelhores casas de apostas para cantoslinhas ideológicas e partidos distintos: Wilma Faria (PSB), Rosalba Ciarlini (DEM) e Robinson Farias (PSD).

Em nota, a gestão petista afirma que, entre janeiro e julhomelhores casas de apostas para cantos2019, houve uma redução dos homicídiosmelhores casas de apostas para cantos31%melhores casas de apostas para cantoscomparação com o mesmo período do ano passado. Também diz quemelhores casas de apostas para cantosbreve haverá novas contrataçõesmelhores casas de apostas para cantosagentes.

Quem morre e quem mata?

Responder a primeira parte da questão acima é menos trabalhosa do que apontar individualmente os responsáveis pelos crimes no Estado nordestino. Um estudo recente do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte (Obvio) traçou o perfil das vítimas.

Entre 2011 e 2018, cercamelhores casas de apostas para cantos93% delas eram homens, 85% eram pretas ou pardas, 49% tinham entre 18 e 29 anos. Além disso, 31% não tinham sequer completado o ensino fundamental, 54% não exerciam atividade remunerada e 39% ganhavam até dois salários mínimos.

"O perfil é o mesmomelhores casas de apostas para cantostodo Brasil: a vítima é emmelhores casas de apostas para cantosmaioria homem, jovem, negra, com baixa escolaridade e poucas oportunidadesmelhores casas de apostas para cantostrabalho", explica Thadeu Brandão, coordenador do Obvio e professormelhores casas de apostas para cantossociologia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido.

Para ele, embora seja difícil identificar um perfil dos homicidas, é bem provável que ele seja bem parecido com o das vítimas.

"Esse é o mesmo perfil dos jovens que estão envolvidos com o crime. Não estou dizendo que a pobreza leva as pessoas para essa vida, pois, no fundo, acho que é uma escolha. Mas quais são as opçõesmelhores casas de apostas para cantosescolha para um garoto desses, que moramelhores casas de apostas para cantosbairros sem estruturamelhores casas de apostas para cantoseducação, saúde, emprego, família? Uma pequena parte vai escolher entrar para o crime."

Para o juiz José Dantas, coordenador da Infância e da Juventude do Tribunalmelhores casas de apostas para cantosJustiça do RN, a mistura entre o "caos social" e a presençamelhores casas de apostas para cantosfacções criminosas arrasta parte da juventude mais pobre para serviços ilegais.

"A fragilidade dos serviços públicos, principalmente da educação, mas também faltamelhores casas de apostas para cantosopçõesmelhores casas de apostas para cantoslazer emelhores casas de apostas para cantosprofissionalização, joga parte dos jovens no crime, pois o crime preenche essas lacunas deixadas pelo Estado", diz Dantas, que há 30 anos atuamelhores casas de apostas para cantosaudiências com adolescentes infratoresmelhores casas de apostas para cantosNatal.

"Há jovens que aparecem na minha frente sem ter certidãomelhores casas de apostas para cantosnascimento. Aí você pergunta: 'Por que os pais não registraram o filho?'. Então, você descobre que eles mesmos, pai e mãe, também nunca tiveram certidãomelhores casas de apostas para cantosnascimento. A exclusão dessas pessoas é tanta que, para o Estado, elas sequer existiam. Elas passam a existir só quando chegam na sala do juiz depoismelhores casas de apostas para cantosterem cometido alguma infração."

Em 2006, a pesquisadora Teresamelhores casas de apostas para cantosLisieux Lopes Frota, doutoramelhores casas de apostas para cantosciências e sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, passou meses entrevistando adolescentes internadosmelhores casas de apostas para cantosum centromelhores casas de apostas para cantosmedidas socioeducativas da capital.

Segundo ela, a maioria dos 56 jovens ouvidos para seu doutorado era analfabeta ou não tinha completado o ensino fundamental. "Eles eram muito pobres, sem estrutura familiar, às vezes criados pelos avós, porque os pais também estavam presos", explica. "São adolescentes que, infelizmente, veem no crime e no tráficomelhores casas de apostas para cantosdrogas uma alternativa fácil para melhorarmelhores casas de apostas para cantosvida, conseguir um tênis, uma moto, um carro."

Teresa conta que, anos depois, procurou os adolescentes que participarammelhores casas de apostas para cantossua pesquisa, mas poucos estavam vivos - um deles morreu no massacre do presídiomelhores casas de apostas para cantosAlcaçuz,melhores casas de apostas para cantos2017, quando ao menos 26 presos foram assassinadosmelhores casas de apostas para cantosuma brigamelhores casas de apostas para cantosfacções. "O destino deles era a morte: matar ou morrer", diz.

A presença das facções criminosas

Outro fator que tem feito aumentar os índicesmelhores casas de apostas para cantoshomicídiosmelhores casas de apostas para cantosjovens no Rio Grande do Norte é o fortalecimentomelhores casas de apostas para cantosfacções criminosas, que brigam entre elas pelo controle do tráficomelhores casas de apostas para cantosdrogas.

Na década passada, o paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e o fluminense Comando Vermelho expandiram seus negócios para o Norte e Nordeste. Os dois grupos passaram a atuar no atacado da droga, repassando os produtos para quadrilhas menores venderem nas ruas.

A chegada dessas redes, no entanto, aumentou a rivalidade entre traficantes. Uma resposta aos paulistas foi a criação, no Rio Grande do Norte, do Sindicato do Crime, formado principalmente por jovens locais.

"Essa dinâmica gerou muitos conflitos pelo controlemelhores casas de apostas para cantosterritórios urbanos. Houve uma grande entradamelhores casas de apostas para cantosarmas, muitas delasmelhores casas de apostas para cantosgrosso calibre, para alimentar essas disputas", explicou Luiz Fábio Paiva, professormelhores casas de apostas para cantossociologia e pesquisador do Laboratóriomelhores casas de apostas para cantosEstudos da Violência da Universidade Federal do Ceará,melhores casas de apostas para cantosentrevista recente à BBC News Brasil.

Esses conflitos se espalharam pelo Nordeste e causaram milharesmelhores casas de apostas para cantosmortesmelhores casas de apostas para cantosjovens. Segundo o Atlas da Violência, entre 2006 e 2017, a região registrou 141 mil homicídiosmelhores casas de apostas para cantospessoas entre 15 e 29 anos - no Rio Grande do Norte, no mesmo período, foram 8.408 vítimas.

Essa "guerra" também foi travada nos presídios. A rivalidade entre PCC e Sindicato do Crime, por exemplo, causou um massacremelhores casas de apostas para cantos26 presosmelhores casas de apostas para cantosAlcaçuz, região metropolitanamelhores casas de apostas para cantosNatal,melhores casas de apostas para cantosjaneiromelhores casas de apostas para cantos2017.

Pormelhores casas de apostas para cantosvez, essas mortes ressaltaram o caos vivido pelo sistema carcerário do Estado nordestino, superlotado e controlado por esses grupos. Um levantamento do governo federal relativo a junhomelhores casas de apostas para cantos2016 - os últimos dados disponíveis - aponta que o Rio Grande do Norte tinha 4.265 vagas nas prisões, mas abrigava 8.696 detentos, mais que o dobro da capacidade.

O juiz José Dantas conta ser comum encontrar adolescentes que, nas audiências, dizem pertencer a alguma facção criminosa. "Alguns afirmam até que são chefesmelhores casas de apostas para cantospontosmelhores casas de apostas para cantosvendamelhores casas de apostas para cantosdrogas", diz.

"Dentro do próprio crime, criou-se uma culturamelhores casas de apostas para cantosque os menoresmelhores casas de apostas para cantosidade não são punidos, que eles ficam livres rapidamente. Por isso muitos até assumem crimes que não cometeram, para livrar adultos. Mas esse conceito não é verdadeiro: eles são punidos, sim. Às vezes, passam anos internados", completa o magistrado.

Segundo ele, antes do fortalecimento dessas redes, as infrações cometidas por menoresmelhores casas de apostas para cantosidade eram menos graves - restringiam-se a furtos e discussõesmelhores casas de apostas para cantosescolas. "De uns anos para cá, houve aumento exponencial das infrações relacionadas ao tráfico, roubos violentos e até homicídios", diz.

'Ela falou que estava grávida para não morrer'

No Rio Grande do Norte, as facções não estão presentes apenasmelhores casas de apostas para cantoscidades grande e médias, como Natal e Mossoró. Um dos assassinatos mais crueis nos últimos meses ocorreumelhores casas de apostas para cantosPau dos Ferros, municípiomelhores casas de apostas para cantos30 mil habitantes no sertão potiguar - a 392 km da capital.

Em janeiro, a adolescente Jéssica (nome fictício) foi "julgada" e morta por jovens que diziam pertencer ao PCC, segundo a polícia.

"Em Pau dos Ferros, nós temos uma predominânciamelhores casas de apostas para cantosjovens dessa facção, que cometem assaltos e atuam no tráfico", conta o delegado Andson Rodrigomelhores casas de apostas para cantosOliveira, responsável por investigar todos os crimesmelhores casas de apostas para cantossete cidades da região.

De acordo com a polícia, o namoradomelhores casas de apostas para cantosJéssica descobriu que a garota conversava com jovensmelhores casas de apostas para cantosoutra gangue, o Sindicato do Crime. "Eles estavam juntos há pouco tempo. Mas quando esse rapaz soube dessa informação, ele levou a garota para ser julgada pelos comparsas. Na cabeça dele, era inaceitável que ela tivesse qualquer ligação com o grupo rival", diz o delegado.

Em depoimento posterior, os suspeitos confessaram o crime, segundo a polícia. Eles disseram que Jéssica foi condenada à morte porque tinha ligações com o Sindicato do Crime e planejava matar um membro do PCC, o que nunca ficou provado.

Antesmelhores casas de apostas para cantosmorrer, ela ainda tentou se salvar dizendo estar grávida, segundo os depoimentos. "Ela disse isso porque imaginava que as facções não matam mulheres grávidas. Então, um dos homens comprou um testemelhores casas de apostas para cantosgravidez, que deu negativo", conta Oliveira.

A jovem foi assassinada com facadas no pescoço e golpesmelhores casas de apostas para cantosenxada na cabeça - o corpo foi enterrado pertomelhores casas de apostas para cantosum rio. Oito pessoas foram presas sob suspeitamelhores casas de apostas para cantosparticipação no homicídio.

Jéssica tinha 19 anos. O namorado dela, um dos suspeitosmelhores casas de apostas para cantosmatá-la, tem apenas 17.

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