Paulo Coelho: Vou perder leitores, mas criticar Bolsonaro é compromisso histórico:aposta ganha juventus

Em seu apartamento,aposta ganha juventusGenebra, o escritor revelou o que pensa sobre Jair Bolsonaro e disse à BBC News Brasil estar cumprindo um "compromisso histórico".

"O compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não sei. Eu não fico contabilizando", diz, enquanto a esposa Christina Oiticica, que acompanha a entrevista, assente com um leve gestoaposta ganha juventusaprovação.

Em livros como Hippie, o mais recente (2018), ou O Aleph,aposta ganha juventus2010, Paulo Coelho alerta que o passado pode destruir o presente. Mas, nesta entrevista, ele decide lembrar com detalhes dos mesesaposta ganha juventusque foi espancado, teve os genitais presos a eletrodos e foi trancafiado nu, com um capuz,aposta ganha juventusuma sala gelada e escura por agentes da ditadura.

"Se o passado se repete no presente, já não é mais passado, é presente."

Em maisaposta ganha juventusuma horaaposta ganha juventusconversa, o escritor também fala sobre o momentoaposta ganha juventusque rompeu com o PT ("estou fora"), a desilusão com o comunismo ("tudo cinza e triste"), a experiência no caminhoaposta ganha juventusSantiagoaposta ganha juventusCompostela ("a jornada é o que conta, e isso vale para política e religião") e a relação com os críticos ("sobrevivi a todos").

Também dáaposta ganha juventusopinião sobre figuras contemporâneas como os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), o papa Francisco, o guru bolsonarista Olavoaposta ganha juventusCarvalho, o YouTuber Felipe Neto e o pintor Romero Brito.

Também fala sobre Jesus: "mais politicamente incorreto, impossível".

Leia os principais trechos da entrevista:

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você é essa figura global. Estamosaposta ganha juventusGenebra, você está no Guinness Book como o autor vivo mais traduzido no mundo e conversa com genteaposta ganha juventustoda parte. O que as pessoas têm perguntado sobre o Brasil ultimamente?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - As pessoas ficam muito constrangidasaposta ganha juventusperguntar sobre o Brasil. Elas não perguntam. Eu tenho que dar uma entrada para as pessoas perguntarem. Eles vêm e dizem: "Ah, pois é, você viu que ele ofendeu a primeira-dama francesa". Aí eu tenho que falar alguma coisa. Mas eu procuro evitar a conversa Brasil porque eu não posso no momento falar bem do meu país, e falar mal é muito chato.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você tem, por outro lado, se colocado pelo Twitter. Como você vê este momento no Brasil?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Eu tenho 72 anos e nunca vi nada igual. Eu já vivi ditadura, democracia, muitas fases do Brasil, mas nunca vi o que está acontecendo agora. É um delírio. Necessitava (Howard Phillips) Lovecraft, um escritoraposta ganha juventusficção científica, para descrever o Brasil. Fico muito triste com o que está acontecendo.

Uma coisa é certa: não se morreaposta ganha juventustédio com a política brasileira, porque todo dia tem-se uma coisa nova. Por outro lado, francamente, o que é isso? Que é isso? O que o presidente brasileiro está fazendo para colocar o Brasilaposta ganha juventustanta saia justa?

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você falaaposta ganha juventusalguma situação específica?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Tudo, tudo, tudo. Vai desde o aquecimento global às queimadas na Amazônia. Parece que o Brasil virou um Estadoaposta ganha juventusnegação. As pessoas negam a realidade. "Ah, vou me fechar aqui e não quero ver o que está acontecendo." Isso é muito triste. Veja, você tem um chanceler, Ernesto Araújo, que é um cara completamente despreparado. Não tem maturidade, não tem experiência, não tem nada que justifique a posição que ocupa. E o cara diz qualquer coisa. "Ah, eu fui à Itália, estava frio, então não tem aquecimento global". Meu amigo, um dos sintomas do aquecimento global é o frio (nota da redação: o processoaposta ganha juventusmudança climática inclui temperaturas mais extremas isoladamente e uma média maioraposta ganha juventusaquecimento no longo prazo. Clique aqui para ler mais).

Você tem um presidente que, no fundo, eu nem sei se está muito contenteaposta ganha juventuster sido eleito. É muito confortável estar na oposição. O Brasil está assistindo horrorizado ao esfacelamento daquilo que nosso país representava. Ou seja: Uma luzaposta ganha juventusum mundo que viviaaposta ganha juventustrevas.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você fez críticas ao presidente, ao chanceler. Você se preocupaaposta ganha juventusalguma maneira que essas críticas desagradem a parte dos seus leitores?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Mas óbvio. Não, não. Preocupar é uma palavra muito forte. A essa altura, eu tenho um compromisso histórico e o compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não sei. Eu não fico contabilizando isso. No Brasil. Mas, fora do Brasil, eu não acredito. Acho que todo mundo está olhando o Brasil neste momento com muita suspeita.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Um assunto delicado, mas trazido por você mesmo recentemente frente a declarações do presidente Bolsonaro. Pode contar o que aconteceu no dia 28aposta ganha juventusmaioaposta ganha juventus1974 - e nos dias que se seguiram?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Bom, durante o governo militar eu era um louco. Nada mais aceitável do que ser um louco com 26 anos. Você tem que passar por um períodoaposta ganha juventusloucura para não ficar fazendo loucura depois. Então era tudo: sexo, drogas, rock'n roll. Era o "hipismo". E os militares achavam, como acham hojeaposta ganha juventusdia, porque o Brasil vive um momento também muito conservador, que tinham que entender tudo. Aí eles não entendiam as minhas músicas. Eles achavam: "bom, se está fazendo sucesso, se está todo mundo cantando, alguma coisa está errada". Quem são esses caras aí? Raul Seixas e Paulo Coelho. Alguma coisa está errada porque a gente não entende o que eles estão falando. Então, chamaram o Raul para depor. O Raul era o cantor. Como diz o Elton John, "Don't Shoot Me, I'm Only the Piano Player" (Não atireaposta ganha juventusmim, eu sou apenas o pianista). Mas a eminência parda, o cara perigoso, o ideólogo era o letrista. Então eles me prenderam. Agora, tem que justificar uma prisão. Não acharam nada.

Quando eu estava preso oficialmente, fichado, com impressão digital, meus pais conseguiram mandar um advogado. Aí eu falei para o meu advogado "olha, não aconteceu nada, está tudo bem". Aí, me soltaram no mesmo dia e me sequestraramaposta ganha juventusfrente ao aterro do Flamengo. Me arrancaram do táxi, me jogaram na grama, me botaram a arma. Eu olhei para aquele hotel e disse "Putz, eu tenho 26 anos, vou morrer olhando o hotel Glória? Isso não é justo. Eu não estou pronto para morrer." Mas aí há um bloqueio, há um mecanismoaposta ganha juventusdefesa que você simplesmente entrega ao seu destino. Acho que fiquei uns 20 ou 30 minutos (pensando) "Ah, tá. Já que eu vou morrer, eu vou morrer".

Aí,aposta ganha juventusum dado momento, quando cheguei ao centroaposta ganha juventustortura, que só fui descobrir muito tempo depois que era na rua Barãoaposta ganha juventusMesquita, voltou o instintoaposta ganha juventussobrevivência. Mas até lá eu estava entregue. Aí eu fui torturado, apanhei, essas coisas todas.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Qual era aaposta ganha juventussituação nesse momento?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Eu estavaaposta ganha juventuscapuz,aposta ganha juventusuma cela. Não via ninguém. Apanhando, óbvio. Mas apanhar não é uma coisa séria. Mas quando eu olhei, debaixo do capuz, os caras tinham posto a máquinaaposta ganha juventuschoque. Eu já tinha levado choque feito doido, mas choqueaposta ganha juventusdoido não dói. (Nota da redação: Aos 20 anos, Paulo Coelho foi internado pela primeira vez pelos paisaposta ganha juventusum manicômio). Agora, aquele choque ali era para machucar, tá? Eu olhei assim e me assustei muito. Aí eu disse: "ah, deixa que eu me torturo". Lembrei da casaaposta ganha juventussaúde. Aí comecei a me lanhar. Enfiei as unhas no corpo e comecei a me arrebentar. E começou a sair sangue.

Os caras disseram: "é maluco". Aí a tortura diminuiu, aí no dia seguinte voltou. Eles queriam saber como estava a guerrilha na Bahia. Porra, meu amigo. Eu confesso! Como está a guerrilha? Eu assino aqui. O que você quer é que aquilo pare. Agora, a pior tortura não é aquela que te agride fisicamente. A pior tortura é a psicológica.

Então, eles me botaram numa coisa chamada geladeira. É uma caixa,aposta ganha juventus3x3, estou chutando, a porta hermeticamente fechada. Um ar condicionado. Você está nu. Eu estava nu o tempo todo. Só com capuz. Tortura é uma coisa que é uma violência total. Essa geladeira, é uma coisa que eles não me tocavam. Me fechavam lá dentro, botavam aquele ar condicionado tremendamente frio, e era tudo escuro, pintadoaposta ganha juventuspreto. Você não tem mais nenhuma sensação.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Noçãoaposta ganha juventustempo?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Noçãoaposta ganha juventustempo, distância, nada, você só tem um frio congelante. Ali eu pirei. Acho que o pior momento da tortura foi o tempo que eu passei na geladeira. Porque eu disse "estou enlouquecendo, estou enlouquecendo". Até então eu era um maluco beleza. Um cara que fez minhas loucuras, da minha juventude. Mas ali eu estava virando louco mesmo. Estava perdendo a minha capacidadeaposta ganha juventuspensar. Não sabia se era reversível ou não.

Aí foi isso. Quando eu saí da prisão, saí como entrei. Sem explicação. Nunca fui processado, nunca fui ao Tribunal Militar. Nada. Fui presoaposta ganha juventusmaio, fiquei preso até junho. Você perde a noçãoaposta ganha juventusdata.

Mas aquele medo fica. Aquele terror fica.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Li históriasaposta ganha juventusque ser preso acabava virando um estigma, porque as pessoas ficam com medoaposta ganha juventusse aproximar, ou se associar.

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Todo mundo. O meu próprio parceiro na época, o Raul, não deu mais notícias. Não atendeu meus telefonemas. Os meus amigos sumiram. Porque ser visto com um preso... E isso existe até hoje. Se esse cara foi preso... Alguma coisa temaposta ganha juventuserrado, então é melhor não ser visto com ele, podem estar fotografando...

O Brasil vivia um climaaposta ganha juventusterror. Para o qual está se encaminhando eu acho agora. O Brasil está totalmente polarizado e eu acho que as coisas infelizmente estão caminhando para o mesmo climaaposta ganha juventusterror. Você já não diz o que pensa. Nem na família. Não é porque vão te prender, torturar ou bater. É porque as pessoas perderam completamente a capacidadeaposta ganha juventusdiálogo. Ou você é a favor, ou é contra. Não existe conversa. E a mesma coisa naquela época.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - No seu livro aposta ganha juventus Hippie aposta ganha juventus , você diz que a gente precisa fazer as pazes com o passado para não destruir o presente. Em aposta ganha juventus O Aleph aposta ganha juventus , você diz que o passado aposta ganha juventus é aposta ganha juventus um bom lugar a se visitar, mas não um bom lugar para se viver. Em 2013, você tuitou - visite aaposta ganha juventusalma, não visite o seu passado. Por que agora é importante traze aposta ganha juventus r aposta ganha juventus esse passado agora?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Porque é um presente. Não é um passado. Eu, por exemplo, se fosse visitar meu passado, não escrevia mais. Escrevi durante tanto tempo, escrevi tantos livros, graças a Deus, sucesso no mundo inteiro. Estou com 325 milhõesaposta ganha juventuslivros vendidos até junho. Isso significa, tomando uma médiaaposta ganha juventustrês leitores por livro, quase um bilhãoaposta ganha juventuspessoas lendo os meus livros. Então, se vou visitar isso, eu não escrevo mais. Primeiro, fico paralisado pelo medo desses leitores, do que eles querem ou deixamaposta ganha juventusquerer. Pô, o meu prazer é escrever. É isso que eu gosto e é isso que justifica a minha existência.

Caramba, eu poderia estar vivendo sóaposta ganha juventusmúsica eaposta ganha juventusmemórias. Aquele cara chato que chega no bar "Ah, eu fiz uma música. Gita. (Paulo Coelho cantarola) "Eu sou, a luz das estrelas..." E o cara: "Ah, já sei qual é, já ouvi". Viver no passado é um perigo, é mortal.

Agora, se o passado se repete no presente, já não é mais passado, é presente.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Ainda sobre esse passado que reaparece: a censura é outro tema que voltou à tona com o episódio da Bienal. E você citou no Twitter seu livro aposta ganha juventus 11 Minutos aposta ganha juventus , que fala sobre sadomasoquismo, prostituição, e estava ali exposto sem ser recolhido.

aposta ganha juventus Paulo Coelho - É, eu sugeri que censurassem meu livro porque é um livro sobre prostituição. Curiosamente, e o meu segundo livro mais vendido.

Os caras não têm muita noçãoaposta ganha juventusnada. Eles vão pelos trending topics do Twitter para ver o que está acontecendo. Eu disse ao meu editor lá no Brasil: "Põe aí bem visível, quero ver se eles vão pegar. Se pegarem, eu vou criar um problema mundial'. Não pegaram.

Acredite se quiser: mesmo durante a ditadura, com todas essas músicas, eu sendo considerado um subversivo potencial, porque eles não tinham nada para provar contra mim, eu só tive uma música censurada. Que se chamava Óculos Escuros. Eu troquei o título e botei um que não tem nada a ver que diz Como Vovó já Dizia, mandei para a censura e passou. Não existia a menor lógica na repressão.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - O Felipe Neto fez aquela açãoaposta ganha juventuscomprar todos os livros e distribuí-los. Você chegou a elogiar inclusive.

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Não só elogiei, senti uma certa inveja positiva. Disse: porra, o cara teve essa ideia e eu não tive. Eu disse, porra, eu queria ter tido essa ideia. Mas aí ele começou a ser ameaçado. E eu resolvi me posicionar para que a pessoa seja defendida. Na época da repressão, digo no governo militar, quando as pessoas eram presas, elas eram agarradas na rua, sei lá,aposta ganha juventusqualquer lugar, e elas tinham que gritar o nome para que todo mundo soubesse que a pessoa estava sendo presa. Porque uma vez que as pessoas sabem, isso já é um escudoaposta ganha juventusproteção. A mesma coisa valia para o Felipe Neto. Não vamos deixar que as coisas sejam assim, não. Além do mais, o Twitter é uma falsa caixaaposta ganha juventusrepercussão porque existem as milícias virtuais e você nunca sabe o que é real. Eu posto uma coisa e eu não leio comentário, porque a maioria é robô.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Ainda sobre o Twitter, você postou uma frase do Bolsonaro dizendo várias vezes que é ele quem manda. "Sou eu quem manda, sou eu quem manda".

aposta ganha juventus Paulo Coelho - É, era para o Moro! (Risos)

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Exato. Você pergunta se Moro entendeu bem. Qual era o recado?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - O Bolsonaro é quem manda! O Bolsonaro tem isso, ele é um capitão, tem educação militar e tem esse sensoaposta ganha juventushierarquia. Você, se fizer alguma coisa errada, quem manda sou eu. Você vê que há um conflito entre Moro e Bolsonaro desde que Moro entrou para ser ministro da Justiça, contra o conselhoaposta ganha juventusvárias pessoas. Mas quem manda é Bolsonaro.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - E qual é o seu conselho ao Moro?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Eu não tenho conselho ao Moro. O Moro não faz parte do meu universo. Moro é uma pessoa que eu não entendo muito bem, sabe? Eu vi agora os desmandos da "Vaza Jato". Esse sim que é um cara corajoso. O...

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Glenn Greenwald?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Esse cara é um ícone para mim. Ele está lá, está falando tudo aquilo e desmascarando uma coisa que você diz "Ah, vamos fazer isso porque está certo". Voltando a Maquiavel: "Ah, os fins justificam os meios". Não justificam.

Vamos usar um exemplo concreto. Santiagoaposta ganha juventusCompostela, eu fizaposta ganha juventus1986. Eu demorei 56 dias, a média é 30. Eu ficava o tempo todo no começo querendo chegar a Santiagoaposta ganha juventusCompostela. Quando cheguei, foi um anticlímax. Acabou. E agora?

A jornada é o que conta. É o que é importante, né? E isso vale para política, para religião, vale para tudo. É o processo que vai te deixaraposta ganha juventuspaz com a vida ouaposta ganha juventusmal com a vida, e não aonde você vai chegar. Porque nós vamos chegar todos a um mesmo lugar chamado morte.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Outro dia você disse que "antigamente as paredes tinham ouvidos e que agora os ouvidos têm paredes". Você estava falando sobre polarização, fake news... É isso?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Acho que hojeaposta ganha juventusdia se criou um universo completamente artificial e existe uma mudança irreversível. Não adianta dizer que a comunidade social está criando isso ou aquilo. Mas hojeaposta ganha juventusdia você consegue se aproximar daaposta ganha juventustribo, seja elaaposta ganha juventusluz ouaposta ganha juventustrevas, e entende que não está sozinho. Quando você entende isso, aquilo te cria uma barreiraaposta ganha juventustorno. E acabou. Você tem lá seus 10 amigos que compartilham da ideiaaposta ganha juventusque a Terra é plana, que os ETs estão lá na Área 51 dos EUA e pronto.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - A gente está emburrecendo por isso?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Eu não sei se a gente está emburrecendo, eu não sei se a gente sempre foi burro, eu não sei se eu sempre acrediteiaposta ganha juventuscoisas que queria acreditar. Óbvio, não vou acreditar que a Terra é plana. Mas eu acreditoaposta ganha juventusextraterrestres. E muita gente não acredita. Eu acreditoaposta ganha juventusDeus. E tem gente que pensa que Deus não existe. Então, você é você e a maneira como vê o mundo.

Eu, como todas as pessoas da minha geração, namorei o comunismo. Eu queria visitar os países comunistas. E já era muito difícil. Conseguimos, eu atravessei o muroaposta ganha juventusBerlim, e o cara me perguntou "Quanto dinheiro você tem?". Digo: "Tenhoaposta ganha juventustornoaposta ganha juventus4 mil dólares", vamos dizer. Aí o cara diz "Não, exatamente, os trocados". Eu disse, tá bom. Sentei com minha mulher e começamos a contar as moedas. E passavam outras pessoas que moravam da DDR, na Alemanha Oriental. E aí eu comecei a ver a humilhação que eram as pessoas que chegavam.

Fomos para a DDR, para a República Tcheca, Romênia, Hungria. E era tudo cinza. Tudo triste. As pessoas eram infelizes. Eu disse, porra, é isso que eu estou defendendo? Nem defendendo, eu não era um cara atuante. Era um simpatizante. Eu disse "Não, isso não está com nada". É muita repressão e... estou fora.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Em 2016,aposta ganha juventusabril, você disseaposta ganha juventusum texto: "Fui petista, fiz campanha, me decepcionei, resisti o quanto pude às constantes desilusões, incompetência, etc. Mas chegou um diaaposta ganha juventusque eu disse basta". E aí, há pouco tempo, você disse que pode amar o seu país, mas você deve...

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Você pode amar o seu país e desprezar o seu governo. Eu flertei com o PT. Mais do que flertei. Eu fiz campanha, eu fui apoiar nas Olimpíadas, apoiei a Copa do Mundo. E aí eu comecei a ver que era uma coisa que não estava levando a lugar nenhum. Não digo que os resultados dos governos Lula não foram bons, mas da Dilma já não foi. Já é uma coisa meio falsa.

Não sei. Aí eu disse: "Ah, não, estou fora do PT."

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você tem essa fraseaposta ganha juventusvocê deve amar seu país, mas desprezar seu governo. Você é um cara desiludido com a política?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Boa pergunta. Eu não sei te responder. Eu acho que o mundo vem do seu momento auge, a Acrópole, Atenas,aposta ganha juventusonde vem a palavra "política", onde as pessoas realmente discutiam. Aí depois se criou uma casta e depois essa casta se julgou no deveraposta ganha juventusditar o que a gente pensa. "Ah, mas seria Anarquia!". Eu não acredito.

Acho que se todo homem tivesse o poderaposta ganha juventusinterferir no seu país e no seu governo nós teríamos um Congresso, um Executivo, um Judiciário, que é um poder muito importante, mas nós teríamos uma voz popular muito importante. Então eu acho que infelizmente nós caminhamos para a consolidação dessa casta política. Acho que a política tem que passar por uma reforma muito grande.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Essa discussão sobre a desilusão com os políticos, a descrença com o político tradicional é algo que estáaposta ganha juventusvoga e, por exemplo, teria ajudado a eleger figuras como Donald Trump, nos EUA, ou, no Brasil, o João D aposta ganha juventus o aposta ganha juventus ria, que vem do mercado, ou no Rioaposta ganha juventusJaneiro o Wilson Witzel, que é um juiz. Como vê esse fenômeno?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Aí é que está. Quando não se oferece alternativas concretas, você parte para coisas que terminam dando no Bolsonaro. O cara acredita que o nazismo éaposta ganha juventusesquerda, meu amigo. "O nazismo éaposta ganha juventusesquerda..." Os judeus ficaram chateadíssimos com esse comentário.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você falou hoje sobre uma tristeza sobre o Brasilaposta ganha juventushoje, uma sérieaposta ganha juventuspreocupações que você tem. Queria saber o que ainda te dá orgulho no Brasil.

aposta ganha juventus Paulo Coelho - O povo. O povo. O povo. Eu espero que esse povo não seja contagiado com o que está acontecendo. Embora, no momento, você veja que as pessoas estão ficando muito radicais. Muito. O evangélico já não tolera o católico, o caraaposta ganha juventusesquerda não tolera oaposta ganha juventusdireita, oaposta ganha juventusdireita odeia todo mundo. Você vê nas biografias do Twitter. "Fulanoaposta ganha juventustal ferrenho anticomunista". De onde esse cara tirou que é anticomunista? O que ele acha? Que o Brasil vai seraposta ganha juventusrepente invadido por hordasaposta ganha juventussoviéticos que estavam ocultos na Amazônia, depois que queimarem sai aquele bandoaposta ganha juventussoviéticos para atacar o Brasil, todos com aquela estrelinha vermelha? Comunismo não existe mais. Nunca existiu, existia um regime soviético horroroso.

Aí eu digo, que é isso, porque as pessoas falam isso? Ah, porque as pessoas precisamaposta ganha juventusuma bandeira para defender. O cara vai lá e tem a bandeira anticomunista. Podiam inventar uma coisa melhor, mais moderna. "Antipoluição". Mas o cara é anticomunista porque sofreu ali uma lavagem mental. Esse anticomunismo é muito recente, é da eleição do Bolsonaro para cá. Todo mundo da direita virou anticomunista.

Na Academia Brasileiraaposta ganha juventusLetras eu fui eleito na vagaaposta ganha juventusum ícone da direita, que era o Roberto Campos, que eu atacava enquanto estudante. E o Roberto Campos tem uma frase muito boa. Ele diz que "A violência da flecha dignifica o alvo". Então, quando é atacado com muita violência,aposta ganha juventusalguma maneira aquele ataque te dignifica. Ou te mata ou te faz viver, mas ao menos você é dignificado. Não há nada pior do que ignorar.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - O termo guru já foi muito usado para descrever você e é algo que você rechaça. Hoje esse termo voltou à tona e vem sendo muito usado para descrever outro escritor, o Olavoaposta ganha juventusCarvalho. Queria saber se você já o leu e o que acha dele?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Não, não li e não tenho opinião. Não é uma coisa que entra no meu universo.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - E porque a ideiaaposta ganha juventusguru incomoda?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - A mim? Porque guru é um cara que mostra o caminho. Eu sempre fui a favoraposta ganha juventusque cada umaposta ganha juventusnós saiba o caminho que deva seguir. A vida nos dá todas as ferramentas, faz a gente encontrar as pessoas certas, no momento certo, o problema é reconhecer.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Sobre religião e espiritualidade. Você é um cara que se reconciliou com o catolicismo, depoisaposta ganha juventusexperimentar outras filosofias e religiões. Hoje, estima-se que na próxima década o Brasil deve se tornar um paísaposta ganha juventusmaioria evangélica, protestante.

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Eu acredito que sim.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Queria saber como vê esse fenômeno.

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Bom, cada um tem direitoaposta ganha juventusescolher, não é? Eu acho que religião é uma coisaaposta ganha juventusforo íntimo. Sou católico, tenho uma grande admiração pelo protestantismo. Eu acho que cada um temaposta ganha juventusescolha, sobretudo nessa área. Essa coisa "Ah, paga dízimo". E daí, meu amigo? A pessoa paga dízimo, o cara que lê meu livro paga direito autoral, alguém paga a BBC...

O problema é a radicalização. O cara invadir uma bienalaposta ganha juventusnome dos costumes. Cristo era um cara mais politicamente incorreto, impossível. Vivia cercadoaposta ganha juventusmulher. Bebia. O primeiro milagre dele, nas bodasaposta ganha juventusCaná, ele transforma águaaposta ganha juventusvinho, não vinhoaposta ganha juventuságua. Se cercava dos piores elementos, do cobradoraposta ganha juventusimpostos, Matheus, dos pescadores. Amaldiçoava a elite da época. Por exemplo: ele passa por uma figueira, ele olha, a figueira não dá figo para ele porque não é época. Ele amaldiçoa a figueira! Então é um cara que eu adoro, porque é uma pessoa feito todos nós.

Agora, a leitura da Bíblia são outros quinhentos. As pessoas leem o que elas querem. E isso está gerando um fanatismo. E o Brasil infelizmente pode caminhar para um conservadorismo cultural.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - A gente está perto do Sínodo da Amazônia, essa grande reuniãoaposta ganha juventusbispos no Vaticano, e o Brasil vai acabar sendo assunto por lá. Lembro que você não gostavaaposta ganha juventusBento 16. Queria saberaposta ganha juventusimpressão sobre o Papa Francisco.

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Muito boa. Muito boa. Eu estou pensando se vou ou não ao Vaticano agora, porque vai ser canonizada agora uma santa que me deuaposta ganha juventuscomer chamada irmã Dulce. A primeira santa brasileira. Eu estava mendigando na Bahia, eu tinha fugidoaposta ganha juventuscasa, e ela me deuaposta ganha juventuscomer. Hojeaposta ganha juventusdia, graças a Deus, a gente ajuda aos hospitais dela, a gente tem uma fundação que ajuda algumas coisas, entre as quais algumas unidades dos hospitais da irmã Dulce.

Penso se vou ou não, estou nessa faseaposta ganha juventuspreguiça, para encontrar o papa. Porque eu já recebi sinaisaposta ganha juventusque ele gostariaaposta ganha juventusencontrar comigo também.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você o vê fazendo um trabalho interessante aposta ganha juventus ?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Vejo um trabalho muito interessante. Que as pessoas atacam, mas as pessoas atacam tudo. Atacar é livre. Fazer o trabalho que é difícil.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você é o único escritor que eu já vi na vida defendendo a pirataria dos próprios livros. Por quê?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Claro.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Por quê?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Eu defendo a pirataria porque tem gente que não tem dinheiro ou acesso à livraria. Agora mesmo a gente mandou containersaposta ganha juventuslivros para a África. Na África, não existem muitas livrarias, mas existe o celular e as pessoas podem baixar. Então, baixa pirata.

E depois, ao contrário do que as pessoas pensam, o mundo não é ganancioso. As pessoas respeitam quando você é generoso. Eu respeito quando são generosos comigo. Então, não vivo na defensiva. Nem com direitos autorais, nem com relação a nada. Acredito na maldade e na bondade humana.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Como acha que você vai ser descrito no futuro nos livrosaposta ganha juventushistória e literatura? Que lugar você acha que vai ocupar lá para frente na nossa literatura?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Não tenho a menor ideia e não é uma coisa que me preocupa.

Eu me lembro que no começo diziam que eu ia durar 3 anos, que era moda. Eu estou ocupado com o aqui e o agora. Uma coisa seja dita: eu, Paulo Coelho, sobrevivi a todos os meus críticos. Eles simplesmente sumiram, desapareceram. Mas eu continuei e continuei porque não tentei agradá-los. Eu nunca tentei agradar ao crítico. Eu sempre fui absolutamente consciente do que eu queria fazer e continuei fazendo e sobrevivi aos críticos.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Lembreiaposta ganha juventusuma frase sua: você inclusive compara os críticos aos eunucos. Qual é a frase do aposta ganha juventus h aposta ganha juventus arém?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Crítico é que nem eunucoaposta ganha juventusharém. Vê fazer, sabe a melhor maneiraaposta ganha juventusfazer, mas não pode fazer porque não tem material necessário. Então, o crítico é o cara que, coitado, não deu para nada e vai ser crítico.

A história está cheiaaposta ganha juventusexemplosaposta ganha juventusgente que foi pisada. Isso vai desde Richard Wagner, o compositor, até o que se faz com o Romero Britto hojeaposta ganha juventusdia no Brasil. O Romero Britto é um fenômeno mundial e também não liga para crítica.

Se o meu trabalho vai ficar ou não vai ficar, eu espero que fique, óbvio. A literatura está passando por várias mudanças, então vamos ver.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você é um cara que chora? Qual foi a última vez?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - Eu choro muito. Não me lembro a ultima vez, deve ter sido ontem, eu vi um documentário e chorei. Eu acho a lágrima um dom. Um dom. Ela expressa. Eu não choroaposta ganha juventusraiva, nunca, mas choroaposta ganha juventusemoção.

Eu nunca posso ter como garantido o que aconteceu comigo. Então tem que estar sempre reverenciando esse milagre. E reverenciar esse milagre é fazer alguma coisa seja por mim, seja por meu semelhante.

Quando eu doei meus livros, era na língua dos colonizadores. O francês e o inglês. Você começar a ver seus livros surgindoaposta ganha juventuslínguas locais, suaíli, iorubá... Que prêmio maior existe para o escritor? Que seu trabalho viaje, queaposta ganha juventusalma seja compreendida. No fundo, se escreve para isso.

aposta ganha juventus BBC News Brasil - Você também se emociona com música? Pensando no Paulo Coelho roqueiro, parceiro do Raul, compunha para Elis, Rita Lee... A música ainda emociona ou o rock morreu?

aposta ganha juventus Paulo Coelho - A música é sempre geracional. Eu escuto o que escutava quando tinha 26 anos. Eu não evoluí. Nem eu e nem ninguém. Você fica naquela fase e pronto, e ouve aquilo várias vezes. Eu escuto o que escutava, desde Led Zeppelin, a Chitãozinho e Xororó, ou Raul Seixas, ou Roberto Carlos. Antigos.

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