‘O mar é minha vida, não posso ver esse horror e fazer nada’: os voluntários na luta contra o óleo no Nordeste:beast mode slot

"O mar é minha vida. Eu sou salva-vidas, surfista e desenvolvo uma terapia pessoal no mar. Não posso ficar vendo esse cenáriobeast mode slothorror e não fazer nada. Eu tô há dias sem dormir direito, estressado, acordo já com 500 mensagens no celular, mas é isso mesmo. Fazer o quê?", resigna-se Lucas.

Como salva-vidas,beast mode slotescala prevê que ele trabalhe quatro dias e folgue quatro. Esta semana, a folga foi ocupada integralmente pela limpezabeast mode slotpraias.

"Eu pedi pra meu irmão pegar minha filha na escola hoje. A gente vai se organizando, contando com ajudabeast mode slotamigos e familiares, pra conseguir colar aqui."

Neste sábado (19), Lucas volta à escala do serviço, na praiabeast mode slotIpitanga,beast mode slotLaurobeast mode slotFreitas — cidade vizinha a Salvador, onde o óleo também chegou, masbeast mode slotmenor intensidade.

"Eu vou ficarbeast mode slotolho no mar, mas limpando. E peço ajuda a todo mundo que passa. Tem que ser assim. Se a gente for esperar o poder público, já era".

Amigos e voluntários formam o grupo 'Guardiões do Litoral'

Lucas faz partebeast mode slotum grupo que surgiu na capital baiana há oito dias, com o objetivobeast mode slotlimpar as praias, mangues e estuários tocados pelo óleobeast mode slotSalvador e cidades próximas.

Batizadobeast mode slotGuardiões do Litoral, o grupo começou com apenas cinco amigos e amigas praticantesbeast mode slotsurfe. Em seguida, todos buscaram conhecidos que morassembeast mode slotdiferentes praias, ampliando o raio do monitoramento.

No dia 12, fizeram o primeiro mutirãobeast mode slotlimpeza. Depois disso, com a chegadabeast mode slotcada vez mais óleo nas praiasbeast mode slotSalvador, não foi mais possível parar.

"Já tiramos baldes e baldes dessa lama daqui. Mas a maré jogou o óleo pra cima da pedra, o sol esquentou, isso gruda. Como é que limpa?", lamenta Juvenal Gordilho, que tem dado plantão na Pedra do Sal.

Ele é professorbeast mode slotjiu-jitsu e atua na reciclagembeast mode slotóleobeast mode slotcozinha para produçãobeast mode slotsabonetes. Mas, nos últimos dias, interrompeu todas as atividades para priorizar o trabalho nas praias.

"Alémbeast mode slottodo o esforço, temos uma corrida contra o tempo, porque quando a maré sobe, já foi, só no outro dia. Às vezes, dá a sensaçãobeast mode slotque estamos enxugando gelo, mas não vamos parar."

Para otimizar a corrida contra o tempo, os Guardiões criaram alguns métodos.

Esta semana, definiram monitores para cada região do litoral. Quando a maré começa a baixar, eles vão às praiasbeast mode slotsua responsabilidade e compartilham nos gruposbeast mode slotvoluntários fotos e vídeos feitos com o aplicativo Timestamp, que mostra o local exato e a horabeast mode slotque aquele registro foi feito, evitando alarmes falsos e facilitando a vidabeast mode slotquem vai chegar para ajudar.

A partir das imagens, define-se a área mais contaminada do dia e as mensagens começam a se espalhar, instigando tantas pessoas quanto for possível para aproveitar a baixa da maré e colocar, literalmente, a mão no óleo.

Criado na terça-feira (15), o perfil dos Guardiões do Litoral no Instagram reuniu maisbeast mode slot5 mil seguidoresbeast mode slot72 horas.

Nesta sexta (18), 25 voluntários participaram do mutirão na Pedra do Sal, que contou ainda com homens da Marinha e da Empresabeast mode slotLimpeza Urbanabeast mode slotSalvador (Limpurb).

Entres os voluntários, estava o casal Pâmela Seccon e Flávio Bustani. Foi o segundo diabeast mode slotatuação deles. Na quinta-feira, participaram da retiradabeast mode slotóleo na praia do Rio Vermelho, a poucos metros da faixabeast mode slotareia que, todo dia 2beast mode slotfevereiro, é tomada por pessoas na Festabeast mode slotIemanjá - ebeast mode slotonde saem os presentes enviados para a Rainha do Mar das religiõesbeast mode slotmatriz africana.

"Aqui tem bastante gente. No Rio Vermelho, só tinha eu, Flávio e o pessoal da Limpurb. É importante mobilizar as pessoas porque quanto mais gente, mais rápido tira o óleo", diz Pâmela.

Ela descreve a limpeza como um trabalhobeast mode slotluta contra a substância.

"É uma trabalheira, porque a gente tira o óleo, mas ele esquenta com o sol, vai derretendo, rasga o saco, fura o balde. Tem que ter paciência".

Ela é pesquisadora e Flávio, produtor cultural. Ambos deixaram os compromissosbeast mode slotlado para colaborar com a limpeza.

"Só quero ver se não vai aparecer o culpado por isso. Olhe o estado das nossas praias, o cheiro que tá aqui", diz Flávio,beast mode slotfrente para a bancadabeast mode slotpedra cobertabeast mode slotóleo.

'O jeito é nos juntarmos para limpar'

"Muita gente está espalhando nossas informações e dicas, o que tem atraído mais voluntários. Isso nos dá força, traz energia no meio da situação crítica. Enquanto cidadãos, aumenta a sensaçãobeast mode slotpertencimento,beast mode slotunião, mesmo que seja num momento tão triste", diz Mariana Thevenin, uma das articuladoras do movimento.

Mariana, que é oceanógrafa física, explica que ébeast mode slotdomínio público o mapeamento detalhado do litoral brasileiro, feito pelo Ministério do Meio Ambiente, com indicação dos pontos sensíveis da costabeast mode slotdiferentes níveis.

Essas informações, afirma ela, deveriam ser usadas numa crise como abeast mode slotagora, o que não vem sendo feito.

"Estamos no meiobeast mode slotuma catástrofe e não vemos ações robustas do governo federal, que, através da Petrobras, é quem dispõe da estrutura para fazer a contenção do óleo antesbeast mode slotchegar na praia e, depois que já chegou, deveria acionar empresas especializadas neste tipobeast mode slotlimpeza. Não era nem pra Limpurb estar fazendo isso. Mas, cadê? Alguém já viu algum barco com as bóiasbeast mode slotcontenção aqui? O óleo já entrou na Baíabeast mode slotTodos os Santos e fica por isso mesmo. O jeito é nos juntarmos pra ir limpar", diz.

Nesta sexta, o Ministério Público Federal (MPF), com aval dos procuradores dos noves estados nordestinos, entrou com uma ação contra a União alegando omissão no caso da manchasbeast mode slotóleo. O pedido é que,beast mode slot24 horas, seja colocadobeast mode slotprática o Plano Nacionalbeast mode slotContingência para Incidentesbeast mode slotPoluição por Óleobeast mode slotÁgua. A multa diária prevista ébeast mode slotR$ 1 milhãobeast mode slotcasobeast mode slotdescumprimento.

Classificando o episódio como o maior desastre ambiental da história no litoral brasileiro, o MPF afirma que a União tem protelado medidas protetivas, sem atuarbeast mode slotforma articulada.

"Afinal, tudo que se apurou é que a União não está adotando as medidas adequadasbeast mode slotrelação a esse desastre ambiental que já chegou a 2.100 quilômetros dos nove estados da região", diz a ação.

O superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na Bahia, Rodrigo Alves, afirmou à BBC News Brasil que "neste momento, a limpeza das praias é o que tem se mostrado mais eficaz". O Ibama é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

Segundo Alves, como o óleo se move sob a superfície do mar, o que dificulta abeast mode slotvisualizaçãobeast mode slotsobrevoos e por satélite, "é difícil prever onde montar as bóiasbeast mode slotcontenção".

"Além disso, nem todo local é apropriado para colocar as boias", completa.

Questionado se, mesmo sem a previsão exata, não seria o casobeast mode slotgarantir a proteçãobeast mode slotzonas sensíveis onde fosse possível instalar a contenção, como estuários e entradasbeast mode slotmanguezais, Alves voltou a dizer que o mais eficiente tem sido as limpezas depois que o óleo toca a costa.

Em visita ao trabalhobeast mode slotlimpeza na Pedra do Sal, o prefeitobeast mode slotSalvador, Antônio Carlos Magalhães Neto, afirmou que vai manter a mobilização da Limpurb pelo tempo que for necessário, "sem fazer contas".

"Nossos homens só saem das praias quando estiver tudo 100% limpo. É claro que isso tem um ônus, causa um prejuízo ao erário, que deve ser cobrado do responsável pela causa primária desse vazamento, que ainda não foi descoberto", afirmou Neto.

"Não vou polemizar sobre responsabilidadesbeast mode slotgovernos, seja estadual ou federal. A nossa preocupação, nesse momento, é com a retirada desse óleo cru das praias ebeast mode slotdevida destinação", completou.

Somente nesta sexta, quase 11 toneladasbeast mode slotóleo foram retiradasbeast mode slotseis praiasbeast mode slotSalvador. Desde o início da aparição das manchas na capital baiana, já foram aproximadamente 91 toneladas.

Voluntária pede licença do trabalho para participarbeast mode slotlimpeza

A fotógrafa Isabel Sant'Ana juntou-se aos Guardiões do Litoral logo no primeiro momento, após ver uma postagem do engenheiro Arthur Sehbe.

No sábado, dia 12, ela partiu para uma açãobeast mode slotlimpeza na praiabeast mode slotItacimirim, Litoral Norte da Bahia, a 75 quilômetrosbeast mode slotSalvador. Lá, encontrou algumas pelotas na areia, mas ficou chocada mesmo ao chegar na barra do Rio Pojuca, onde há um extenso manguezal.

"Era assustador, eu comecei a chorar. Tinham manchasbeast mode slotóleo maiores que uma pessoa. A gente tirava os bolosbeast mode slotóleo dos buracos e quando metia a mãobeast mode slotnovo, estavam lá os caranguejos mortos", conta ela, que durante esta semana chegou a pedir licença do trabalho para participarbeast mode slotuma nova ação.

Na terça, entretanto, Isabel começou a sentir doresbeast mode slotcabeça, ficou com as vias aéreas sensíveis e sem apetite. Ela não tem dúvida: o mal estar foi motivado pelo óleo.

A médica clínica geral e homeopata Mônica Oliveira confirma que esses sintomas são comuns a quem fica muito tempo exposto ao derivadobeast mode slotpetróleo, pois ali estão contidos altos níveisbeast mode slotsubstâncias neurotóxicas.

"É com isso que se produzem colas, removedores, resinas, só quebeast mode slotquantidades bem menores. Aquilo é óleo cru, é muito tóxico."

A médica sugere que, dentro do que for possível, os voluntários criem uma escalabeast mode slotrevezamento nas praias, evitando atuarbeast mode slotdias seguidos. Isto para dar tempobeast mode sloto corpo liberar a toxicidade antesbeast mode slotreceber uma nova carga.

Outra dica é evitar o usobeast mode slotbebidas alcoólicas e cigarro.

"As drogas, mesmo as lícitas, sobrecarregam o corpo que, neste caso, já está intoxicado pelo óleo. Por isso é bom evitar beber ou fumar neste período, até para conseguir realizar este trabalho por mais tempo", observa.

No perfil do Instagram, os Guardiões alertam sobre a importânciabeast mode slotque os voluntários se protejam para participar da limpeza. É preciso usar luvas, botasbeast mode slotPVC, calças, camisasbeast mode slotmanga comprida, pás, peneiras e máscara. Com um detalhe: como o contaminante libera vapores ao ser aquecido pelo sol, o ideal é usobeast mode slotmáscara para gás, ainda que a máscara para poeira já ajude.

Somente a máscara para gás custa,beast mode slotmédia, R$ 260. Por isso, os voluntários pedem que empresas que tenham esses itens ou pessoas que possam comprá-los façam doaçõesbeast mode slotequipamentos. Não são aceitas doaçõesbeast mode slotdinheiro.

Em Salvador, os Guardiões garantem o planobeast mode slotmanter a mobilização até que as manchasbeast mode slotóleo parembeast mode slotaparecer, ainda que este seja um horizonte incerto - já que ainda não se sabe a quantidadebeast mode slotóleo derramado no oceano, assim como a localização exata e a data do derramamento.

Mesmo diante do desastroso quadro, Mariana Thevenin tenta manter o otimismo: "Enquanto for preciso e possível, vamos seguir. Os oceanos e as praias são fundamentais pra gente, seja pela regulação térmica, seja pelo lazer ou pelos alimentos. Vamos continuar cobrando respostas dos governos, mas, enquanto isso, metemos mão. É nossa responsabilidade meter mão".

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