Da escola pública ao Direito na USP: a primeira presidente negragoogle quero jogar um jogouns dos Centros Acadêmicos mais antigos do Brasil:google quero jogar um jogo

O primeiro presidente negro da entidade foi Oscarlino Marçal,google quero jogar um jogo1963. Mas até hoje o Onze nunca tinha tido uma presidente negra. Em seu segundo ano na faculdade, Letícia quebrou a barreira racial egoogle quero jogar um jogogênero e se elegeu como a primeira.

"O grande momento vai ser quando os calouros chegarem, porque foi um momento importante para mim", afirma ela, que diz ser importante os recém-chegados verem que uma mulher negra pode estargoogle quero jogar um jogouma posiçãogoogle quero jogar um jogodestaque.

A turmagoogle quero jogar um jogoLetícia é a mais diversa da história da faculdade: 2018 foi primeiro anogoogle quero jogar um jogoque as cotas raciais passaram a valer no vestibular da USP, que foi a última universidade públicagoogle quero jogar um jogoSão Paulo a adotar a reservagoogle quero jogar um jogovagas.

No entanto, embora o númerogoogle quero jogar um jogonegros e pardos tenha aumentado, a universidade continua sendo majoritamente compostagoogle quero jogar um jogoalunos brancos, segundo dados da pró-reitoriagoogle quero jogar um jogoGraduação.

"A questão da representatividade vinha sendo deixadagoogle quero jogar um jogolado nos últimos anos, embora fossem gruposgoogle quero jogar um jogoesquerda que estivessem no controle do Onze", diz Letícia.

Letícia participou da criaçãogoogle quero jogar um jogouma chapagoogle quero jogar um jogooposiçãogoogle quero jogar um jogoesquerda, o coletivo Travessia, onde a maioria dos alunos é negra ou parda e estudougoogle quero jogar um jogoescola pública. O grupo é ligado ao PSOL e ao PCB, mas Letícia não é filiada a nenhum partido.

Apesargoogle quero jogar um jogotudo, a jovem, envolvida com o movimento negro desde o ensino médio, teve dúvidas sobre se iria concorrer a presidente ou não.

"Meu maior sonho é me tornar acadêmica, e eu tinha medogoogle quero jogar um jogoque a atuação política pudesse comprometer meus estudos", diz ela. "Hoje, qual é o estereótipo do aluno militante que a gente tem? É aquele que só se dedica à vida do partido, que não participa da faculdadegoogle quero jogar um jogosi", conta ela.

"Fiquei com receio porque quero fazer mudanças reais na faculdade, mas também quero me tornar acadêmica, lecionar."

Alémgoogle quero jogar um jogocursar as aulas normais e disciplinas optativas, Letícia faz partegoogle quero jogar um jogodois gruposgoogle quero jogar um jogopesquisa acadêmica, um na USP e um na FGV (Fundação Getúlio Vargas), o SBDP (Sociedade Brasileiragoogle quero jogar um jogoDireito Público), que tem um rigoroso processo seletivo.

Nascidagoogle quero jogar um jogouma famíliagoogle quero jogar um jogoclasse média baixagoogle quero jogar um jogoCampinas, no interiorgoogle quero jogar um jogoSão Paulo, ela sempre estudougoogle quero jogar um jogoescola pública e seus pais não têm ensino superior. O pai é caminhoneiro aposentado e a mãe, empregada doméstica.

"Eu nunca senti vergonha [das origens], até porque a maioria dos meus amigos é assim", diz ela. "Mas tem coisas que são difícies, [os outros alunos] têm um capital cultural muito maior. Já fizeram muitas viagens, já entram sabendo inglês e alemão", conta.

"Eu sei que tenho muitas coisas que eles não têm, mas infelizmente [línguas e viagens] são coisas que a academia valoriza."

Início no movimento negro

Filhagoogle quero jogar um jogopai negro e mãe branca, hoje Letícia exibe orgulhosa um cabelo black power. Mas nem sempre foi assim — quando era pequena, odiava o próprio cabelo e dizia que queria ter nascido com o cabelo liso.

"Essas falas eram uma violência, não só comigo mesma, mas com o meu pai, embora ele não percebesse", diz ela.

Ela conta que foi através da transição capilar (processogoogle quero jogar um jogodeixar o cabelo voltar ao natural) que conheceu o movimento negro e passou a ter mais consciência sobre questões raciais.

"O processo não começou como uma coisa política. Meus pais gastavam um dinheiro que não tinham para alisar meu cabelo. Eu ficava alguns meses sem fazer e ele ficava horrível, eu não estava feliz com ele", conta.

Ela tentou duas vezes fazer a transição, e só deu certo na segunda. Foi aí que, lendo sobre transição capilar, começou a pesquisar e entender questões raciais.

"Não que eu ache que todo mundo tem que usar o cabelo natural, pelo contrário, cada um usa como quiser. Mas para mim foi muito importante", diz ela.

No entanto, apesargoogle quero jogar um jogoatuar muito na questão racial, diz que a forma como muitas pessoas querem reduzi-la somente a isso incomoda. "As pessoas estão sempre esperando que eu estude só isso, mas eu não sou só isso, embora seja uma luta essencial para mim."

No grupogoogle quero jogar um jogoestudos da FGV, Letícia estuda sobre cobrançagoogle quero jogar um jogomensalidade na universidade pública com basegoogle quero jogar um jogodados do Tribunalgoogle quero jogar um jogoContas da União. "Foi um esforço que eu fiz, porque eu preciso descobrir outras coisas além da raça. Não querem que eu descubra, querem que pesquise só aquilo."

Movimento estudantil

Foi no ensino fundamental que ela começou também a atuar no movimento estudantil — com o apoio da irmã mais velha, que tinha cursado a Unicamp (Universidade Estadualgoogle quero jogar um jogoCampinas).

"Quando acontecia algo errado na escola, ela sempre me dizia: 'vai lá, tem que reclamar, tem que cobrar que melhore'", conta.

Letícia diz que se incomoda quandogoogle quero jogar um jogohistóriagoogle quero jogar um jogosucesso é usada para defender a ideiagoogle quero jogar um jogo"meritocracia",google quero jogar um jogoque "basta querer para conseguir". "Apesargoogle quero jogar um jogomeus pais nunca terem muito dinheiro, eu sempre tive muitos privilégios. Nunca tive que trabalhar, meus pais sempre me deram muita força para estudar", diz ela.

Apesargoogle quero jogar um jogoter passadogoogle quero jogar um jogoum dos cursos mais concorridos da USP, a estudante diz que na verdade, inicialmente, nem queria fazer direito — seu objetivo inicial era fazer história na Unicamp. Mas, ao ser aprovada nas duas e ter que escolher, conversougoogle quero jogar um jogoprofessoragoogle quero jogar um jogohistória, Emilene, que admirava muito.

"Ela me disse que o direito ia me dar as ferramentas para as mudanças que eu queria fazer na história, aí eu vim", conta. "Percebi que se eu não viesse seria por medo."

As mudanças que ela quer trazer são não apenas na universidade, mas na atuação da esquerda no país, diz.

"É importante pensargoogle quero jogar um jogouma alternativagoogle quero jogar um jogoesquerda. Óbvio que eu queria que o Haddad tivesse ganhado, mas ele não ter ganhado mostra que boa parte da população está descontente com a política que o PT fez", diz ela.

"Precisamos estar na vanguarda, mostrar que é possível fazer uma oposiçãogoogle quero jogar um jogoesquerda que não seja falando do outro. Porque é muito isso que a periferia tem: 'ah, a galera lá, da USP, que vem aqui, que não sabe nada, não sabegoogle quero jogar um jogoonde eu vim.' A esquerda precisa disputar essas pessoas, e é muito mais fácil quando eu sou igual a elas."

Moradia estudantil

Sua decisãogoogle quero jogar um jogoir estudar na USP, no entanto, também dependiagoogle quero jogar um jogouma dificuldade: conseguir moradiagoogle quero jogar um jogoSão Paulo, já que seus pais não teriam condiçõesgoogle quero jogar um jogoarcar com o custogoogle quero jogar um jogoum aluguel na capital.

"Foi muito difícil conseguir moradia, e eu só pude vir porque consegui vaga na Casa do Estudante."

Quando Letícia entrou, a moradia estudantil da Faculdadegoogle quero jogar um jogoDireito estavagoogle quero jogar um jogocondições precárias — com fiação aparente, elevadores quebrados e, segundo relatos dos estudantes, infestadagoogle quero jogar um jogoratos. Como não havia vaga para todo mundo, ela dividiu quarto durante um ano.

"Minha mãe ficou super assustada quando veio visitar. Mas para mim não foi tão ruim quanto eu pensava porque os calouros do meu ano eram muitos unidos e a gente se apoiou", conta. Neste ano, os alunos aprovaram o saquegoogle quero jogar um jogoR$ 3 milhões do fundogoogle quero jogar um jogoinvestimentos que mantém o Centro Acadêmico para fazer uma reforma no prédio.

Disputa acirrada

A campanha eleitoral para a presidência da entidadegoogle quero jogar um jogo2019 foi cheiagoogle quero jogar um jogoacusações e polêmicas. Letícia diz que foi na campanha que deparou com os episódios mais difíceisgoogle quero jogar um jogoracismo estrutural desde que entrou na faculdade.

"Tem o fatogoogle quero jogar um jogonão ter professores como eu e outras questões. Mas para mim o mais difícil foi lidar com o discursogoogle quero jogar um jogopessoas brancas que se colocam comogoogle quero jogar um jogoesquerda, mas que não querem sair do poder, e para isso elas nos deslegitimam, dizendo que nós falamos sógoogle quero jogar um jogorepresentatividade", diz ela. "Como se pessoas negras fossem só um rosto, como se não estivéssemos preparados."

Além da questão da representatividadegoogle quero jogar um jogominorias, um dos principais pontos levantados pela chapa era um debate financeiro, focando na questãogoogle quero jogar um jogootimização dos gastos e da prestaçãogoogle quero jogar um jogocontas. "Várias pessoas falavam que a gente eragoogle quero jogar um jogodireita porque fazíamos um debate financeiro muito forte", reclama.

*Uma versão inicial desta reportagem afirmava que o CA XIgoogle quero jogar um jogoAgosto é o mais antigo do Brasil. A informação estava incorreta e foi corrigida. O Centro Acadêmico Ruy Barbosa, da Faculdadegoogle quero jogar um jogoDireito da UFBA (Universidade Federal da Bahia), foi fundado antes,google quero jogar um jogonovembrogoogle quero jogar um jogo1897.

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