Vik Muniz sobre política cultural do governo Bolsonaro: 'É só destruição, é só desmantelamento':sorteio da quina bolão caixa

sorteio da quina bolão caixa "É um projetosorteio da quina bolão caixadestruição." É assim que o carioca Vik Muniz, um dos artistas brasileiros contemporâneos com maior destaque no exterior, define a política cultural do governosorteio da quina bolão caixaJair Bolsonaro.

"Eu não vejo dentro do discurso dos atuais secretários e dos ministros do governo Bolsonaro nenhum plano concretosorteio da quina bolão caixaconstrução. É só destruição, é só desmantelamento", diz ele.

O artista critica nomeações para cargos na área cultural, como o novo secretáriosorteio da quina bolão caixaCultura, Roberto Alvim, e o novo diretor da Fundação Palmares, Sérgio Camargo.

Afirma que os nomes escolhidos são pessoas "incompetentes" com um "projeto puramente ideológico e demagogo", estendendo também a crítica ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Conhecido pelo experimentos que faz com materiais inusitados, como recriaçãosorteio da quina bolão caixaobras clássicas com feijão, açúcar, geleia e até lixo, Muniz é também reconhecido pelo forte engajamento social do seu trabalho.

É criadorsorteio da quina bolão caixauma escola que oferece arte e educação para crianças carentes do Morro do Vidigal, no Riosorteio da quina bolão caixaJaneiro; visita campossorteio da quina bolão caixarefugiados e envolveu uma comunidadesorteio da quina bolão caixacatadores na produçãosorteio da quina bolão caixaobras feitas com material reaproveitado do lixo. O filme sobre a atuação deles e comosorteio da quina bolão caixavida mudou, Lixo Extraordinário, concorreu ao Oscarsorteio da quina bolão caixamelhor documentário.

Muniz diz que suas obras não surgem a partirsorteio da quina bolão caixaopiniões políticas, porque isso "não é muito ambicioso". "No máximo posso mostrar as coisas que estão acontecendo e apresentá-lassorteio da quina bolão caixauma forma que as pessoas possam refletir por si mesmas", afirma.

O artista plástico, que divide seu tempo entre os estúdios que tem no Riosorteio da quina bolão caixaJaneiro esorteio da quina bolão caixaNova York, diz que a repercussão da situação política do Brasil no exterior hoje é "vergonhosa". Nesta semana, quando estava no Riosorteio da quina bolão caixaJaneiro, conversou por telefone com a BBC News Brasil.

Leia abaixo trechos selecionados da conversa.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Você é conhecido pelo seu engajamento, não só falandosorteio da quina bolão caixatemas como o lixo, refugiados, trabalho infantil, mas envolvendo as questões na produção. Você considera asorteio da quina bolão caixaarte política? Acha que a arte tem que necessariamente ser crítica ao momento históricosorteio da quina bolão caixaque ela se insere?

sorteio da quina bolão caixa Vik Muniz - No momentosorteio da quina bolão caixaque você começa a criar a partirsorteio da quina bolão caixaopiniões políticas você está reduzindo muito, você não está sendo muito ambicioso. Mas a arte é sempre política, não interessa como,sorteio da quina bolão caixaonde ela começa. O artista tem como função criar ferramentas, instrumentos para que o homem tenha uma relação melhor com o ambiente que o cerca, seja ele natural, social, político.

Como cidadão eu tenho o papelsorteio da quina bolão caixafazer a minha parte. Eu acho muito bom participar da vida do lugar onde você vive, estar com as pessoas, estar vivendo aquele lugar plenamente, não só convivendo com uma elite cultural. A vida é o materialsorteio da quina bolão caixatrabalho que a gente mais utiliza.

A gente trabalha muito com a realidade. Talvez seja um problema fundamental que a gente enfrenta hojesorteio da quina bolão caixadia, esse déficit gigantesco com a realidade, que é o resultado da relação que a gente vem alimentando com ela atravéssorteio da quina bolão caixanovas mídias. Isso é um fenômeno mundial, você começa a simplificarsorteio da quina bolão caixauma forma sumária todas as questões complexas que nos afligem, como essa coisasorteio da quina bolão caixaesquerda ou direita.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Você está falando das fake news?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Da confusãosorteio da quina bolão caixarelação à realidade que está gerando todo tiposorteio da quina bolão caixaproblema.

No Brasil essa onda chegou com muita força e que fez com que a gente esteja com um gruposorteio da quina bolão caixapessoas que, talvez por não terem sido expostas o suficiente a uma cultura plena, rica, elas não veem o valor que isso tem. Estou falandosorteio da quina bolão caixaculturasorteio da quina bolão caixageral, conhecimento. No meio ambiente você tem um ministro [Ricardo Salles] cuja função é desmantelar o que foi feito antes dele. Nos EUA você viu isso, essas nomeações...

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Qualsorteio da quina bolão caixaopinião sobre as nomeações do governo na área da Cultura?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Você vai colocar uma pessoa sem nenhuma qualificação? Esse atual secretário da Cultura [Roberto Alvim], a função dele é defender a cultura brasileira, mas ele vai num pódio internacional como a Unesco e ataca a cultura brasileira.

Para responder precisamente àsorteio da quina bolão caixapergunta, essa nomeações têm sido tão incompetentes, e tão sumárias, sem nenhum estudo, que elas não vão acarretarsorteio da quina bolão caixaforma alguma nenhum estrago permanente para a cultura brasileira.

Porque não existe nenhum gênio atrás disso, só gente extremamente incompetente que está sendo nomeada com base na incompetência e no potencial que eles têmsorteio da quina bolão caixadestruir as pastas que eles ocupam.

Eu acho, sim, que elas vão prejudicar projetos individuais, vai ter muito artista sendo perseguido pela inclinação política e pelo conteúdo que o artista está trabalhando. Mas a história nunca foi muito bondosa com pessoas que tentaram manipular a cultura dessa maneira. Ninguém consegue mexer com a cultura sem sofrer graves consequências.

Eu sei qual o plano desses caras, acho que eles querem o fim do mundo rápido [risos] para poder escapar [desse julgamento]. Isso já aconteceu antes, durante o governo [de Fernando] Collor, o cinema brasileiro sofreu muito e depois teve uma virada, voltou.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Na fala dele na Unesco, Roberto Alvim disse que "a arte e a cultura brasileiras foram reduzidos a meros veículossorteio da quina bolão caixapropaganda ideológica".

sorteio da quina bolão caixa Muniz - E dizendo isso ele está propondo o quê? Um outro tiposorteio da quina bolão caixapropaganda ideológica. O problema com toda a fala do secretário é originalidade, porque parece que ela foi copiada e coladasorteio da quina bolão caixaum discurso do [Joseph] Goebbels [ministro da propaganda da Alemanha nazista]. Ela é preocupante,sorteio da quina bolão caixarelação ao tom. Mas ela também me dá um alívio muito grandesorteio da quina bolão caixarelação à incompetência, à faltasorteio da quina bolão caixaoriginalidade com que ele se apresenta.

Todo esse movimento contra a cultura parece muito uma coisa viral, um vírus burro, que quer matar o corpo hóspede. E a carreira desses indivíduos está limitada a um momento onde elas acabam com [à área] onde eles estão atuando.

É um projetosorteio da quina bolão caixadestruição. Você coloca um ministro do Meio Ambiente que está ligado ao lobby do desmatamento. Você tem um secretário da Cultura que falasorteio da quina bolão caixaideologia, mas ele critica ideologiasorteio da quina bolão caixaesquerda propondo umasorteio da quina bolão caixadireita.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Então o objetivo dele não seriasorteio da quina bolão caixalivrar da ideologia, mas instalar umasorteio da quina bolão caixadireita?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Nenhum elemento do atual governo está tentando conversar com a população. Isso também é uma coisa comumsorteio da quina bolão caixavários governos atuais. Eles não estão mais governando o país, eles estão governando dentro do segmento que os elegeu. E isso é muito ruim. Nisso, para uma ideia ser boa, basta ser o contrário da outra.

Eu não vejo dentro do discurso dos atuais secretários e dos ministros do governo Bolsonaro nenhum plano concretosorteio da quina bolão caixaconstrução. É só destruição, é só desmantelamento. É fácil, você coloca uma criançasorteio da quina bolão caixa5 anos com um martelo e ela vai quebrar o que tiver pela frente. Agora, para você construir alguma coisa...

É um projeto puramente ideológico e demagogo, focadosorteio da quina bolão caixadestruir tudo o que foi construído antes, e até o que não foi construído pela esquerda. Agora, para destruir qualquer coisa eles chamamsorteio da quina bolão caixa"esquerda"... O fatosorteio da quina bolão caixavocê demonizar uma coisa por ter uma referência política contrária àsorteio da quina bolão caixafaz com que você se dê o direitosorteio da quina bolão caixadestruir aquilo.

E quando você está falandosorteio da quina bolão caixacultura, é uma estrutura orgânica, que se constrói independentesorteio da quina bolão caixapolíticos, atravéssorteio da quina bolão caixadécadas. A cultura não é um projetosorteio da quina bolão caixaesquerda, é um projeto popular. As pessoas vão ver o que elas querem.

Falar que você tem que criar uma nova cultura... Isso é uma tremendasorteio da quina bolão caixauma asneira. Uma coisa que o Roberto Alvim não vai conseguir fazer é destruir a cultura. Ele vai gerar situações para ela se transforme, talvezsorteio da quina bolão caixauma forma extremamente contrária ao que ele espera.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Como assim?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Como resposta. Quando você começa a combater um tiposorteio da quina bolão caixacultura, historicamente, a consequência disso é ela se fortalecer. A cultura muda, mas isso não vemsorteio da quina bolão caixaum partido,sorteio da quina bolão caixaum homem, massorteio da quina bolão caixatoda uma população que está pensando junta.

Parece que tem uma campanha para acabar com todo e qualquer tiposorteio da quina bolão caixaprazer,sorteio da quina bolão caixabeleza. O Roberto Alvim, na fala dele na Unesco, a parte mais poética foi ele ter conseguido ter citado as palavras "beleza" e "elegância" e "Bolsonaro" na mesma frase. Isso eu nunca vi antes.

Me parece que qualquer coisa relacionada com prazer, com beleza, com alegria está sendo sistematicamente eliminada da vida do brasileiro nesse instante. E isso não pode dar certo. Se você não tem razões pela qual viver, isso não é vida, é sobrevivência.

Então, essas pessoas têm um potencialsorteio da quina bolão caixadestruição, mas ninguém consegue transformar a cultura da forma como eles querem. Quando você tem esse tiposorteio da quina bolão caixaguerra cultural, os artistas se transformamsorteio da quina bolão caixaheróis culturais.

Pô, o cara [Sérgio Camargo, novo diretor da Fundação Palmares nomeado pelo governo Bolsonaro] fala uma coisa horrível, nojenta, do Martinho da Vila, um grande intelectual brasileiro... Compara o Martinho da Vila com esse cara, que eu não sei nem o nome. E o que acontece? O Martinho da Vila ganha meia página no jornal.

Cada vez que você cria um inimigo cultural, você faz dele um herói. E aí você reforça suas convicções comsorteio da quina bolão caixabase política. O Bolsonaro, o Alvim, vão ficar bem com a base deles, o artista é elevado a uma posiçãosorteio da quina bolão caixaherói. Eles acham que vão falar mal do artista e vão acabar com eles? Estão extremamente enganados. Elas vão botar a luz nos artistas, mesmo os que não merecem, e quem sofre com isso são sempre as instituições culturais.

O museu perde verba... É como uma guerra, e o camposorteio da quina bolão caixabatalha são as instituições culturais, e são elas que ficamsorteio da quina bolão caixaruínas.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Você citou o novo diretor da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que disse que o movimento negro tem que acabar, eu vi que você também comentou a nomeação dele nas redes sociais.

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Eu defendo o direito desse cidadãosorteio da quina bolão caixater a opinião que ele quiser. O fato dele ser negro não impede elesorteio da quina bolão caixater opiniões conservadoras, ousorteio da quina bolão caixadireita. Mas como pode uma pessoa que tem um pensamento desse querer ocupar uma instituição devotada a direitos humanos? Que tiposorteio da quina bolão caixapessoa faz isso? Uma pessoa que pensa como ele aceitar uma instituição como a Fundação Palmares? Não tem como. É um ironia isso, uma piada.

Se essas convicções fossem honestas, ele nunca aceitaria uma posição dessa. Eu não aceitaria uma posição numa instituição que vai contra as minhas ideias. Aí você vê que é pura politicagem.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - No Brasil, a produçãosorteio da quina bolão caixaarte é muito atrelada a incentivos públicos. Como você enxerga o uso incentivos públicos para arte, como a Lei Rouanet?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Não existe instituição cultural que não opere no vermelho. Foi ventilado que o Museu do Amanhã dá prejuízo. Mas todas as instituições culturais dão prejuízo. E os gestores têm que fazer o que eles podem. Nos EUA eles pedem aos artistas o tempo todo para doar obra para leilão.

A Lei Rouanet foi extremamente positiva no cenário cultural brasileiro, mas ela não evoluiu. Acabou favorecendo um montesorteio da quina bolão caixainstituições, bancos... Os artistas não se beneficiaram dela tanto quanto os negócios.

Grandes corporações ditavam tanto o programa [a ser patrocinado] quanto a verba [que o artista ia receber]. Foi importante, continua sendo importante para o fomentosorteio da quina bolão caixaarte, mas tinha que ter sido revisitada e atualizada. O que acontece é que o apoio ficou muito atrelado às instituições [patrocinadoras].

Nos EUA você pode fazer deduções pessoais do impostosorteio da quina bolão caixarenda para projetos que você queira patrocinar. Então, você falar que nos EUA não tem isso, como já falaram, que aqui os artistas "mamam nas tetas do governo"... Artista trabalha. Quem mama na teta do governo é político, que passa 30 anos no Congresso e não consegue passar duas leis que tenham algum tiposorteio da quina bolão caixasignificância para a população.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Algumas pessoas criticam que artistas como você, que têm sucesso financeiro, sucessosorteio da quina bolão caixacrítica, usem mecanismossorteio da quina bolão caixaincentivo.

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Eu usei a Lei Rouanet algumas vezes para fazer livros, e era muito bom, porque os livros eram distribuídos, iam para o mercado com um valor acessível. Eu nunca ganhei um tostão vendendo livro, mas tive como divulgar meu trabalho. Eu tenho uma experiênciasorteio da quina bolão caixa30 anos. Se eu for fazer um livro, esse livro é bom para ajudar novos artistas, para poder divulgar o trabalho que eu estou fazendo para outras gerações.

É parte da cultura também que se transmita. O que eu sou contra, por exemplo, é financiar o Cirque du Soleil através da Lei Rouanet e não dar ingresso para ninguém. Aí é diferente. Os artistas quando têm essa ajuda têm que fazer esse dinheiro valer para a população, espetáculos acessíveis.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Recentemente tivemos muitos relatossorteio da quina bolão caixafilmes, peças e obras retiradas da programaçãosorteio da quina bolão caixaeventossorteio da quina bolão caixainstituições públicas. Você acha que estamos vivendo um momentosorteio da quina bolão caixacensura, como dizem os artistas que foram retirados das mostras?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - São formassorteio da quina bolão caixavocê censurar. É impedir a distribuição, é impedir financiamento. Não existe simplesmente aquela censura sumária da época da ditadura,sorteio da quina bolão caixaque os censores simplesmente riscavam o que não era para ser visto. Existem formas mais sofisticadassorteio da quina bolão caixavocê censurar a produção artística, e isso está começando a acontecer no Brasil. E esse começo já é alarmante.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Você cresceusorteio da quina bolão caixauma família sem muitos recursos e conseguiu se tornar um dos artistas brasileiros mais reconhecidos no exterior. Histórias como asorteio da quina bolão caixanormalmente são usadas como argumentosorteio da quina bolão caixaquem defende a "meritocracia", para justificar a ideiasorteio da quina bolão caixa"quem quer, consegue". Você concorda com isso?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Não. Não acho que "quem quer, consegue", é uma combinaçãosorteio da quina bolão caixafatores. Você pode ter bastante talento, pode ser muito trabalhador, e eu sou, a vida inteira eu me dediquei à mesma coisa, que é a verdade. E como a gente lida com versões da verdade. Mas eu tive muita sorte. Se eu não tivesse tido sorte, eu não estaria onde eu estou.

Não posso ser idiota e ficar imaginando que o que aconteceu comigo poderia acontecer com qualquer um. Senão você ia ter milhõessorteio da quina bolão caixaVik Muniz, porque tem milhõessorteio da quina bolão caixapessoas que têm muito mais talento do que eu, que deviam estar vivendo do que fazem com sucesso.

No meu caso eu tive bastante sorte, no casosorteio da quina bolão caixaquase todo artista. Tem a ver com mérito, sim, tem a ver com trabalho, mas justamente pelo sorte que você teve você tem a responsabilidadesorteio da quina bolão caixafazer isso da forma mais verdadeira.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Você é um dos artistas brasileiros mais proeminentes internacionalmente. Como enxerga a repercussão do atual momento político do Brasil no exterior?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - É vergonhosa. Isso não justifica nenhum dos processos políticos como a Lava Jato nos últimos dez anos. Mas a imagem dos Brasil nos últimos cinco anos teve uma reversão escandalosa. As pessoas citavam o Brasil no contexto da Nova Zelândia, era um paraíso, onde as pessoas eram bacanas, tinha design, tinha cultura, tinha música, a produção cinematográfica era interessante.

Artistas brasileiros como eu, artistas plásticos, tinham uma penetração no cenário cultural internacional e a imagem que se fazia do Brasil... Quando você falava "eu sou brasileiro", você era cool, você era o cara, todo mundo queria sabersorteio da quina bolão caixavocê.

O que tem acontecido no Brasil agora coloca o Brasil ao lado do Iraque e da Arábia Saudita como um lugar inóspito, onde a população é controlada por ideologia, um lugar que tem uma nuvem ideológica encobrindo o sol que antes brilhava. O interesse pelo Brasil caiu, você vê isso refletido até no mercado.

O que os governantes não percebem é que quem representa o Brasil é a cultura, não os políticos. Quando a gente pensasorteio da quina bolão caixaBrasil a gente pensasorteio da quina bolão caixaOscar Niemeyer,sorteio da quina bolão caixaTom Jobim,sorteio da quina bolão caixaBeatriz Milhazes, na Adriana Varejão, no Grupo Corpo. Ninguém lembra do Jânio Quadros. Ninguém sabe [no exterior] quem é o Silas Malafaia.

O Brasil é a cultura brasileira, e tudo o que fizerem para transformar issosorteio da quina bolão caixaum projeto monolítico, que representa uma visão somente, está conspirando contra a imagem do Brasil lá fora. Tudo o que você faz contra a cultura você faz contra a identidade nacional. Isso reflete na política internacional, na política econômica.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - Tivemos uma polêmicasorteio da quina bolão caixarelação à homenagem da Flip (Festa Literáriasorteio da quina bolão caixaParaty) à poeta Elizabeth Bishop, que já defendeu a ditadura militar. Isso reavivou a velha discussão sobre se a arte deve ser separada do autor. Como criadorsorteio da quina bolão caixauma arte com um processosorteio da quina bolão caixaprodução que é tão importante quando o resultado final, você acha que é possível separar o autor da obra?

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Não. Não é possível separar o autor da obra. Eu tenho opinião política, e você está falando comigo justamente por causa disso. Mas as minha opiniões políticas não são melhores que as suas. Nem que a do policial ou a do padeiro. Elas só são diferentes, porque são opiniões.

O que interessa não são opiniões. São fatos. E como a gente se relaciona com fatos. Eu procuro, justamente por você não conseguir desassociar o que eu façosorteio da quina bolão caixamim mesmo, eu procuro isentar minha obrasorteio da quina bolão caixaopiniões. O máximo que eu posso fazer é dar indíciossorteio da quina bolão caixacoisas que estão acontecendo e apresentá-lassorteio da quina bolão caixauma forma que as pessoas possam refletir por si mesmas. O que a arte faz é justamente isso, criar espaço para pensamento, para dialética.

sorteio da quina bolão caixa BBC News Brasil - O escritor Mia Couto disse que a literatura, ou seja, a arte, representa a realidade melhor que os jornais.

sorteio da quina bolão caixa Muniz - Eu não acho, não. A arte não representa a realidade. Os jornais representam a realidade, ou pelo menos representavam. O que a arte faz é ajudar a discutir o que está acontecendo.

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