'A grande mentira verde': como a destruição da Amazônia vai além do desmatamento:bet win buzz

  • Camilla Costa - @_camillacosta
  • Da BBC News Brasilbet win buzzLondres
Tucano no Amazonas

O tamanho da destruição atual da Amazônia é bem maior do que se acredita.

Atualmente, o bioma contém a maior e mais diversa floresta tropical do mundo, ocupa maisbet win buzz6,8 milhõesbet win buzzkm2 e abriga 33 milhõesbet win buzzpessoasbet win buzznove países.

Em 2018 ebet win buzz2019, Brasil, Bolívia e Peru estiveram entre os cinco países que mais perderam florestas primárias, as matas virgens, no mundo,bet win buzzacordo com a organização internacional Global Forest Watch.

A grilagembet win buzzterras, a expansãobet win buzzfronteiras agropecuárias, a mineração e a exploração econômica descontrolada, entre outros fatores, são consideradas as principais atividades responsáveis pela perdabet win buzzfloresta.

Mas o desmatamento é só uma parte do problema.

Mapabet win buzzlocalização do bioma amazônico

“Falar sóbet win buzzdesmatamento quando falamos da destruição da Amazônia é o que eu chamobet win buzza grande mentira verde”, diz à BBC News Brasil o climatologista Antonio Donato Nobre, pesquisador do Instituto Nacionalbet win buzzPesquisas Espaciais (Inpe).

“A perdabet win buzzfloresta amazônica até hoje é muito maior do que os quase 20%bet win buzzdesmatamento dos quais se fala nos meiosbet win buzzcomunicação.

Nobre e outros pesquisadores acreditam que, para ter um panorama mais completo da destruição da floresta, é preciso considerar também a degradação.

Degradação é o fenômeno que acontece quando o acúmulobet win buzzperturbaçõesbet win buzzum trechobet win buzzfloresta (incêndios, extraçãobet win buzzmadeira e caça descontrolada, por exemplo) retira daquele ecossistemabet win buzzcapacidadebet win buzzfuncionar normalmente.

Em 2019, por exemplo, Brasil e Bolívia também viram aumentar dramaticamente o númerobet win buzzincêndios na região amazônica.

“A questão é que a degradação tem um papel importante na maneira como a floresta muda, e nós não estamos vendo. Não há nenhum tipobet win buzzpolítica para evitar a degradação”, diz à BBC News Brasil o botânico Jos Barlow, professor da Universidadebet win buzzLancaster, no Reino Unido, e pesquisador da Rede Amazônia Sustentável (RAS).

“Assim como uma pessoa saudável tem menos chancesbet win buzzpegar uma gripe, uma floresta saudável tem menos chancebet win buzzqueimar ebet win buzzsucumbir às mudanças climáticas. O que a degradação faz é deixar a floresta cada vez mais vulnerável”, explica.

Entre as muitas funções da Amazônia está ajudar a América do Sul — e todo o planeta — a equilibrar o clima, distribuir as chuvas pela região e capturar quantidades enormesbet win buzzdióxidobet win buzzcarbono (CO2), um dos principais gases causadores do efeito estufa.

São papéis fundamentais para mitigar os efeitos da mudança climática. “Podemos ver essas árvores nas fotosbet win buzzsatélite, mas para a função climática essas florestas degradadas já não existem mais”, diz Antonio Nobre.

Trechobet win buzzfloresta desmatada na Amazônia brasileira
Fonte: Reuters
Legenda: Os dadosbet win buzzdestruição da floresta costumam mostrar o corte rasobet win buzzárvores, mas não a degradação

O avanço da degradação e o desmatamento estão empurrando o ecossistema para um “pontobet win buzznão retorno” no qual ele perderiabet win buzzcapacidadebet win buzzfuncionar,bet win buzzacordo com os cientistas Carlos Nobre e Thomas Lovejoy, dois dos principais especialistasbet win buzzAmazônia no mundo.

Se a situação não for revertida, dizem eles, os impactos dessas mudanças poderiam se acelerar, com consequências catastróficas.

bet win buzz Nem toda perdabet win buzzfloresta é igual

Quando falamosbet win buzzdadosbet win buzzdesmatamento, nem sempre falamos da mesma coisa.

Uma maneirabet win buzzmedir o desmatamento é levandobet win buzzconta todas as áreas da florestabet win buzzque a vegetação foi completamente eliminada. É o que se chama perdabet win buzzcobertura florestal.

Sóbet win buzz2019, a perdabet win buzzcobertura florestalbet win buzztoda a Amazônia chegou a 2,4 milhõesbet win buzzhectares (24 mil km2), segundo dados da Global Forest Watch.

Gif animado da perdabet win buzzcobertura florestal na América do Sul

Mas algumas destas áreas desmatadas sãobet win buzzflorestas primárias, aquelas que se encontrambet win buzzseu estado original — não afetadas, ou afetadas o mínimo possível, pela ação humana. Por serem mais antigas, elas têm mais diversidadebet win buzzespécies e guardam mais carbono.

As florestas secundárias, porbet win buzzvez, são todas as que estãobet win buzzrecuperaçãobet win buzzprocessosbet win buzzdesmatamento oubet win buzzdegradação grave. Mas elas podem levar décadas e,bet win buzzalguns casos, séculos, para voltarem a ter as características que tinham quando primárias se forem mantidas intocadas, o que também é raro.

Em 2019, a Pan-Amazônia, como é chamado o conjunto do biomabet win buzztodos os países, perdeu maisbet win buzz bet win buzz 1,7 milhãobet win buzzhectaresbet win buzzfloresta primária, segundo os dados produzidos pelo sistemabet win buzzmonitoramento da Universidadebet win buzzMaryland, nos EUA, e publicados pelo Global Forest Watch.

Isso significa que pouco maisbet win buzz bet win buzz três camposbet win buzzfutebolbet win buzzmata virgem foram desmatados bet win buzz a cada minutobet win buzz2018.

A perda pode parecer insignificante perto da imensidão da floresta (representa cercabet win buzz0,32% do total), mas não é uma questão só quantitativa e, sim, qualitativa.

“Essa formabet win buzzmedir o desmatamento é importante porque as florestas primárias são muito mais ricas e diversasbet win buzzbiodiversidade”, explica Jos Barlow, da Universidadebet win buzzLancaster.

Gráficobet win buzzespécies que seria possível encontrarbet win buzz1 hectarebet win buzzAmazônia

Uma floresta é muito mais do que suas árvores. É o produtobet win buzztodos os processos e interações entre milharesbet win buzzespéciesbet win buzzplantas e animais que coexistem ali. Por isso a floresta amazônica é insubstituível.

Muitas pessoas acham que para compensar o que perdemos na Amazônia basta plantar árvoresbet win buzzoutros lugares. Mas isso está errado.” Erika Berenguer, Universidadebet win buzzOxford

“Cada hectare desmatado significa que uma parte do ecossistema deixabet win buzzfuncionar, e isso afeta todo o resto”, diz à BBC News Brasil a pesquisadora Erika Berenguer, especialistabet win buzzflorestas tropicais da Universidadebet win buzzOxford, no Reino Unido, e da RAS.

Nos últimos dez anos, as taxasbet win buzzperdabet win buzzflorestas primárias se mantiveram altas ou voltaram a aumentar na maioria dos países amazônicos, como apontam a Global Forest Watch e dados oficiais.

Taxabet win buzzperda anual acumuladabet win buzzfloresta primária na Amazônia 2002-2019
País 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
bolivia0.160.340.540.861.111.361.671.92.492.853.163.313.623.754.184.544.745
brazil0.460.891.461.982.392.723.033.233.563.794.114.284.554.795.636.236.627
colombia0.120.160.30.410.490.680.830.941.051.191.31.421.571.661.832.132.52.7
ecuador0.060.090.140.20.250.320.40.470.560.670.80.920.981.081.221.441.591.7
french-guiana0.020.040.080.10.130.160.210.230.260.290.390.410.450.470.520.560.590.6
guyana0.020.040.060.080.10.120.150.180.220.250.310.330.380.430.520.60.640.7
peru0.070.130.220.360.450.560.690.861.011.141.391.61.791.942.152.412.612.8
suriname0.020.030.050.070.080.10.130.170.20.240.340.390.470.530.610.720.840.9
venezuela0.020.070.090.120.150.20.240.280.340.380.420.460.510.550.730.80.861
Fonte: Global Forest Watch

Nas florestas primárias vivem árvores que podem ter centenas ou até mesmo milharesbet win buzzanosbet win buzzidade. Elas cumprem um papel essencial na batalha contra as mudanças climáticas, já que agem como um enorme armazémbet win buzzdióxidobet win buzzcarbono.

Uma pequena parte do CO2 que as árvores absorvem no processobet win buzzfotossíntese é emitidabet win buzzvolta para a atmosfera durantebet win buzzrespiração. A outra parte é transformadabet win buzzcarbono e usada na produção dos açúcares que a planta necessita para seu metabolismo.

“Medimos a quantidadebet win buzzcarbonobet win buzzuma árvore pela espessura do tronco. O carbono é armazenado ali,bet win buzzformabet win buzzbiomassa”, explica Erika Berenguer.

Por isso, quanto maior e mais antiga a árvore, mais carbono ela costuma armazenar.

Árvore na Amazônia peruana
Fonte: Getty
Legenda: As queimadas e o cortebet win buzzmadeira fazem com que o carbono armazenado nas árvores se transformebet win buzzCO2 e volte à atmosfera

Segundo Berenguer, uma árvore grande (com pelo menos três metrosbet win buzzcircunferência) pode armazenar cercabet win buzz3 a 4 toneladasbet win buzzcarbono.

Isso equivaleria a cercabet win buzz bet win buzz 10 a 12 toneladasbet win buzzdióxidobet win buzzcarbono — ou a média que um carrobet win buzzpasseio emite durante quatro anos.

Um dos efeitos do desmatamento é liberar o CO2 guardado na florestabet win buzzvolta na atmosfera — seja pela queimada ou pela decomposição da madeira cortada, processos que transformam o carbono das árvores novamentebet win buzzgás.

Por este motivo, os cientistas temem que a região deixebet win buzzser um armazémbet win buzzcarbono e se transformebet win buzzum importante emissorbet win buzzCO2, acelerando os efeitos da mudança climática. Um estudo recente mostra que cercabet win buzz20% do total da Amazônia já emite mais dióxidobet win buzzcarbono do que absorve.

bet win buzz A destruição (in)visível da floresta
Floresta degradada no Brasil
Fonte: Alexander Lees/RAS
Legenda: Quando a floresta está degradada, fica mais vulnerável a incêndios e a mudanças climáticas

Os sistemas que produzem imagens do desmatamento consideram geralmente o corte rasobet win buzzárvores, ou seja, áreasbet win buzzque a vegetação original foi totalmente removida.

No entanto, cientistas como Antonio Nobre acreditam que só o desmatamento não dá corretamente a dimensão da perda. Para isso, seria preciso ter também dados sobre a degradação.

Esse fenômeno é um produto dos eventos climáticos — como as secas — e da ação humana que deixam a floresta mais pobre e vulnerável. Mesmo quando, vistabet win buzzcima, ela ainda parece seguirbet win buzzpé.

Atividades como o cortebet win buzzmadeira ilegal e eventos recentes como os incêndiosbet win buzz2019 fazem parte do problema.

“O solo fica mais frágil e mais seco por causa da remoção da vegetação, ainda que não seja total. Isso muda o microclima da floresta. Fica mais fácil incêndios se espalharem, por exemplo, porque o chão esquenta mais rápido”, explica Alexander Lees, professorbet win buzzEcologia Tropical na Universidade Metropolitanabet win buzzManchester, no Reino Unido.

No Brasil, entre os mesesbet win buzzjaneiro e novembro, o fogo arrasou 70.698 km² (maisbet win buzz7 milhõesbet win buzzhectares)bet win buzzAmazônia. Na Bolívia, o incêndio atingiu maisbet win buzz2 milhõesbet win buzzhectares do bioma.

Uma áreabet win buzzfloresta degradada também perde, por exemplo, a capacidadebet win buzzreciclar água da chuva.

“Somando o corte raso e a degradação, mais da metade da Amazônia já tem seus serviços ambientais ao clima da região comprometidos”, afirma Antonio Nobre.

Nenhuma árvore mais pode tombar na Pan-Amazônia.” Antonio Nobre, Inpe

Cientistas já comprovaram que a degradação é um importante fator na emissão do CO2 armazenado na floresta. Um novo estudo do Raisg afirma que 47%bet win buzztodas as emissões na Amazônia vem da degradação. E diz ainda que, bet win buzz em sete dos nove países amazônicos, esse fenômeno é o principal responsável pelas emissões do gás.

Cortebet win buzzmadeira na Amazônia peruana
Fonte: Getty
Legenda: Poucos países amazônicos divulgam dados anuaisbet win buzzdegradaçãobet win buzzsuas florestas

bet win buzz Segundo o climatologista, as áreas degradadas da Amazônia chegam a ser até duas vezes maiores que as desmatadas.

Para fazer essa afirmação, ele se baseia no fatobet win buzzque, só no Brasil, entre 2007 e 2016, foram contabilizados bet win buzz 14,6 milhõesbet win buzzhectares (146 mil km2) degradados na Amazônia brasileira.

Isso é quase o dobro da área desmatada no mesmo período, que foibet win buzz7,5 milhõesbet win buzzhectares (75 mil km2),bet win buzzacordo com dados do Inpe.

Um relatório recente do governo da Colômbia afirma que entre 2012 e 2015, a região amazônica no país perdeu 187.955 hectares por desmatamento e 414.605 hectares por degradação ​​— bet win buzz mais que o dobro.

Os dados disponíveis, segundo Antonio Nobre, fazem pensar que a área da Amazônia destruída pela ação humana é muito maior do que se acredita.

Jos Barlow, da Universidadebet win buzzLancaster, concorda.

“Sabemos que até os números oficiais que temos são subestimados, porque geralmente só se mede a degradação mais grave.”

Gráfico sobre o que faz com que um bosque seja considerado degradado

Mas por que não se fala mais a respeito disso?

“É um fenômeno mais difícilbet win buzzmedir. Mesmo quando é possível enxergar a degradação por imagensbet win buzzsatélite, você precisa ter dados sobre o que está acontecendo no solo para entender se aquela área está mais ou menos degradada, se está se recuperando”, explica o pesquisador Alexander Lees.

Entre os países amazônicos, bet win buzz só o Brasil publica sistematicamente dados anuaisbet win buzzdegradação.

No entanto, cientistasbet win buzztoda a região estão tentando medir o fenômeno, para fazer um retrato mais amplo do estado atual do bioma.

bet win buzz E se perdermos a Amazônia?
Gadobet win buzztrechobet win buzzfloresta desmatada na Amazônia brasileira
Fonte: Getty
Legenda: O modelo que projeta um pontobet win buzzinflexão da Amazônia nos próximos 20 a 30 anos ainda não inclui dadosbet win buzzdegradação

Se o desmatamento e a degradação continuarem nos ritmos atuais, a Amazônia pode deixarbet win buzzfuncionar como um ecossistema tropicalbet win buzzbreve, mesmo que parte dela continuebet win buzzpé.

Atualmente, bet win buzz pouco maisbet win buzz18%bet win buzztoda a floresta original foi desmatada,bet win buzzacordo com dados do projetobet win buzzmonitoramento Mapbiomas, parceria entre universidades, ONGs, institutosbet win buzztodos os territórios amazônicos e o Google.

O número é perigosamente próximo do que o biólogo americano Thomas Lovejoy e o climatologista brasileiro Carlos Nobre, do Institutobet win buzzEstudos Avançados da USP, chamambet win buzztipping point (pontobet win buzznão retorno,bet win buzzinglês).

Eles se referem ao momentobet win buzzque o desmatamento,bet win buzzconjunto com as mudanças climáticas e a vulnerabilidade a incêndios mudarão completamente a Amazônia.

Esse ponto ocorrerá, segundo eles, quando entre bet win buzz 20% e 25% da floresta original estiverem destruídos.

De acordo com os cálculosbet win buzzNobre e Lovejoy, o tipping point pode acontecer nos próximos 20 a 30 anos, mantida a taxa atualbet win buzzcercabet win buzz1,5 milhãobet win buzzhectares (15 mil km2) desmatadosbet win buzzmédia por anobet win buzztoda a região.

“Se chegarmos a esse ponto, aumentará a duração da estação seca e a temperatura da floresta. A partir daí, as árvores começarão a morrerbet win buzzmaneira acelerada, e isso criará um ciclo vicioso. O que era floresta tropical ficará parecido com o cerrado brasileiro, mas como uma espéciebet win buzzsavana pobre, sem a rica biodiversidade do cerrado”, diz Carlos Nobre à BBC News Brasil.

Projeçãobet win buzzcomo se veria a vegetação da Amazônia depois do tipping point

No estudo, os cientistas projetam um cenário para 2050 (confira na imagem acima) no qual a Amazônia perdeu 20%bet win buzzfloresta e está mais vulnerável a incêndios,bet win buzzque a temperatura da região aumentou 3°C ebet win buzzque aumentou cercabet win buzz30% a concentraçãobet win buzzCO2 na atmosfera.

“Neste cenário, teríamos até 60% da floresta transformada nesta savana pobre”, afirma o pesquisador.

A projeção, no entanto, ainda não inclui detalhadamente a degradação, pela dificuldadebet win buzzconseguir dados da Pan-Amazônia.

Isso significa que a floresta poderia estar ainda mais próxima do pontobet win buzznão retorno. Segundo Nobre, há planosbet win buzzincluir o fenômenobet win buzzuma próxima análise.

Mas o que acontece após o pontobet win buzznão retorno?

Menos chuva

Os cientistas ainda não sabem com precisão todos os possíveis efeitosbet win buzzuma transformação brusca da floresta amazônica.

Mas, segundo as estimativasbet win buzzCarlos Nobre, a temperatura na região bet win buzz poderia aumentarbet win buzz1,5°C a 3°C nas regiões que se tornarem savanas pobres. Isso sem contar o aumento já esperado com o aquecimento global.

Em 2012, um estudo da Universidadebet win buzzLeeds afirmou que o desmatamento pode fazer com que as chuvas na Amazônia diminuam cercabet win buzz12% durante a estação chuvosa e 21% na estação seca até 2050.

Floresta queimada no Brasilbet win buzz2015 ao ladobet win buzzplantaçãobet win buzzsoja
Fonte: Marizilda Cruppe/RAS
Legenda: A transformação da Amazôniabet win buzzsavana pode ter um efeito catastrófico para a economia da América do Sul

Com menos evapotranspiração na floresta, diminuiríam também as chuvas na bacia do rio da Prata, e a temperatura no Centro-Oeste brasileiro poderia aumentarbet win buzzaté 2°C.

Isso teria um efeito catastrófico para a economia regional. Menos chuva e mais calor significaria menos água para a pecuária e para cultivos como a soja.

“Certamente, haveria diminuição da produtividade da agropecuária nas partes da região que são mais importantes para essas atividades”, diz Carlos Nobre.

Mais doenças

Estudos feitos na Amazônia brasileira ebet win buzzoutras florestas tropicais do mundo relacionam o desmatamento a um aumento na incidênciabet win buzzdoenças transmitidas por mosquitos, como a malária e a leishmaniose.

“Em um ambiente ricobet win buzzbiodiversidade, a proliferação do vírus se dilui, porque há mais espécies que podem ser incubadoras. Vetores como os mosquitos têm uma ofertabet win buzzalimento grande”, disse a bióloga Márcia Chame, pesquisadora da Fiocruz, à BBC News Brasil.

O processobet win buzzqueimadas e degradação faz com que os bichos busquem outras fontes alimentares, explica Chame. Isso normalmente aproxima o ciclobet win buzzalgumas doenças das cidades.

Mosquito na Amazônia
Fonte: Getty
Legenda: A perdabet win buzzáreasbet win buzzfloresta pode fazer com que mosquitos transmisoresbet win buzzvírus tenham maior contato com humanos

“Não sabemos ainda o que vai acontecer, mas temos elementos para dizer que, com menos floresta, há um risco altobet win buzztermos mais transmissãobet win buzzhumanos”, alerta a bióloga.

O aumento da temperatura causado pelas mudanças na floresta também pode provocar mais mortes e internações por doenças cardiovasculares e respiratórias relacionadas ao calor, segundo a pesquisadora Beatriz Oliveira, da Rede Brasileirabet win buzzPesquisasbet win buzzMudanças Climáticas.

“Mesmo mantendo as condições que temos hoje, a temperatura na região amazônica poderia bet win buzz aumentar até 8°C, somando o desmatamento e o aquecimento global, a partirbet win buzz2070. Com a substituição da floresta por outro ecossistema, esse incremento poderia ser maior ou acontecer bem antes”, adverte.

É possível evitar o ‘tipping point’?

De acordo com Carlos Nobre, há uma maneirabet win buzzprevenir a transformação da florestabet win buzzsavana:

“O que precisamos fazer imediatamente é adotar uma políticabet win buzzdesmatamento zero na Pan-Amazônia e, junto com ela, um grande programabet win buzzrestauração florestal no sul, no sudeste e no leste da Amazônia, que são os trechos mais vulneráveis”, afirma.

“Se conseguíssemos reflorestar 60 ou 70 mil km2 dessa grande área, onde a estação seca já está mais longa, poderíamos fazer a floresta voltar a funcionar melhor ali, ela ficaria mais resiliente.”

O objetivo não parece fácilbet win buzzser atingido no futuro próximo.

Indígena da Amazônia manuseia uma armabet win buzzcaça
Fonte: Getty
Legenda: Em toda a Amazônia há cercabet win buzz100 tribos indígenas com as quais há pouco ou nenhum contato

Em setembrobet win buzz2019, representantesbet win buzzsete países amazônicos — sem a presençabet win buzzVenezuela e Guiana Francesa — se reunirambet win buzzLeticia, na Colômbia, com um objetivobet win buzzcriar uma agendabet win buzzprevençãobet win buzzcrises ambientais como os incêndios recentes.

O resultado foi o Pacto pela Amazônia, um acordobet win buzz16 medidas não obrigatórias, mas que indicam um compromisso dos países contra o avanço da destruição da floresta. No entanto, o texto não coloca metas específicas para a redução do desmatamento, nem para um planobet win buzzreflorestamento.

Todos os políticos falam a frase célebre: preservação sim, mas com desenvolvimento. Mas está escondido na palavra desenvolvimento um modelo que só consegue ver a atividade econômica sem a floresta. Isso precisa mudar, e precisa ser agora.” Carlos Nobre, USP
Leia a segunda parte, o que ameaça a Amazônia
bet win buzz Créditos

bet win buzz Reportagem: Camilla Costa

bet win buzz Texto: Camilla Costa e Carol Olona

bet win buzz Design e gráficos: Cecilia Tombesi

bet win buzz Programação: Marta Martí e Marcos Gurgel

Projeto liderado por Carol Olona

Estimativas do gráfico sobre espéciesbet win buzz1 hectarebet win buzzAmazônia: Jos Barlow y Alexander Lees, da Rede Amazônia Sustentável, com basebet win buzzestudos científicos (https://doi.org/10.6084/m9.figshare.10104368).

Agradecimentos: Carlos Nobre, Antonio Nobre, Rede Amazônia Sustentável, Rede Amazôniabet win buzzInformação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), Júlia Jacomini, Gustavo Faleiros, Infoamazônia, Thiago Medaglia, Erika Berenguer, Rodrigo Botero, Mikaela Weisse, Global Forest Watch.