Morteapostas final copa do brasilengenheiro negro por policial no RS gera indignação e movimento Black Lives Matter local:apostas final copa do brasil

Nesse momento, o jovem engenheiro elétrico e seus três colegas saíram às pressas do veículo e buscaram um lugar seguro para se proteger. Os quatro trabalhadores vestiam uniformes da empresa, que incluem calças refletoras e distintivos claramente indicados. Gustavo Amaral, o chefe, era o único negro da equipe.

Foi quando,apostas final copa do brasilmeio ao acidente e perseguição dos bandidos, surgiu um soldado da Brigada Militar (a polícia militar, no Rio Grande do Sul) e disparou três vezes contra Amaral, acertando dois tiros no jovem engenheiro, matando-o.

A morte aconteceu por um erroapostas final copa do brasiljuízo do policial. Ele alegou ter confundido Amaral com um dos bandidos da caminhonete, e disse que achou que o jovem engenheiro estava armado e correndoapostas final copa do brasildireção a inocentes. Amaral tinha na mão um telefone celular.

Família destruída

"A minha família foi destruída", conta o irmão gêmeoapostas final copa do brasilAmaral, Guilherme, à BBC News Brasil. "Eu e ele sempre fomos muito próximos. Eu fui colega do Gustavo da pré-escola até a engenharia."

Guilherme conta que seu irmão era um exemploapostas final copa do brasildedicaçãoapostas final copa do brasiltodas as áreas da vida. No estudo, sempre foi um dos melhores alunos da classe, e sempre ajudou seu colega e gêmeo.

Naapostas final copa do brasilfamília,apostas final copa do brasilclasse médiaapostas final copa do brasilSanta Maria, no interior gaúcho, era empenhadoapostas final copa do brasilajudar a tocar o negócio do pai, no ramoapostas final copa do brasilserviços elétricos.

"Agoraapostas final copa do brasilrepente ele não está mais aqui. As roupas dele agora são minhas. Eu durmo no mesmo quarto que dividíamos e a cama dele está ali, vazia", diz Guilherme.

A importânciaapostas final copa do brasilGustavo Amaral para seus familiares contrasta com a forma brutalmente vazia com que morreu: pelas mãosapostas final copa do brasilum agenteapostas final copa do brasilsegurança do Estado confundido com um bandidoapostas final copa do brasilmeio a um acidente sem ter feito nada errado.

Vidas Negras Importam

Mas o sofrimento da família estava prestes a piorar.

Por meses, o inquérito sobre o papel do policial que disparou contra o jovem engenheiro negro avançou lentamente.

Enquanto a família Amaral vivia essa tragédia, outra morteapostas final copa do brasilum inocente negro nas mãos da polícia ganhou destaque mundial: a do americano George Floyd, que foi sufocado por policiaisapostas final copa do brasilMinneapolis.

O episódio, ocorrido pouco maisapostas final copa do brasilum mês após a morteapostas final copa do brasilAmaral, provocou uma ondaapostas final copa do brasilindignação nos Estados Unidos eapostas final copa do brasiloutros países contra a violência praticada por policiais contra a população negra.

O casoapostas final copa do brasilGeorge Floyd, morto sufocado por um policial quando já estava rendido no chão, era muito diferenteapostas final copa do brasilGustavo. Mas para familiares e amigos do gaúcho, o contraste da resposta pública para os episódios era enorme. Nos Estados Unidos e no resto do mundo, havia indignação. No Rio Grande do Sul, silêncio e lentidão na apuração dos fatos.

No Rio Grande do Sul, ativistas do Vidas Negras Importam, movimento inspirado no americano Black Lives Matter, realizaram protestos no dia 8apostas final copa do brasiljunhoapostas final copa do brasilSanta Maria, Porto Alegre e Marau para lembrar o casoapostas final copa do brasilGustavo Amaral e cobrar uma atitude das autoridades. A morteapostas final copa do brasilum jovem negro inocente por tiros disparados por um policial seguiria sem nenhuma investigação?

O protesto deu resultado e, nos meses seguintes, líderes do movimento e familiaresapostas final copa do brasilAmaral se reuniram com o governador gaúcho, Eduardo Leite, e com lideranças do Ministério Público e da Polícia. O governador criou um grupoapostas final copa do brasiltrabalho reunindo diversas entidades oficiaisapostas final copa do brasilsegurança, do Judiciário e organizações civis para discutir a violência policial contra a população negra.

Apesar da tragédia, havia sinaisapostas final copa do brasilque o poder público estava agindo para dar uma resposta ao caso.

Legítima defesa imaginária

Mas todos esses sinais foram abruptamente interrompidos nas semanas seguintes.

Dois inquéritos foram abertos para apurar o papel do policial militar no episódio — um pela Brigada Militar e outro pela Polícia Civil. E ambos chegaram a conclusões distintas. A Brigada Militar pediu o indiciamento do policial; já a Polícia Civil recomendou o arquivamento, aceitando as alegações feitas pelo policial.

Em setembro, para a surpresa e indignação da famíliaapostas final copa do brasilGustavo Amaral, a Justiça gaúcha decidiu arquivar o processo contra o policial, acatando um pedido feito pelo Ministério Público estadual do Rio Grande do Sul, que reuniu os dois inquéritos que estavam abertos.

Gustavo Amaral, um cidadão inocente e desarmado a caminho do trabalho, foi morto por tiros disparados por um agente do Estado — e, segundo a Justiça gaúcha, tudo aconteceu dentro da normalidade legal. Ninguém será investigado ou processado por isso.

A Justiça gaúcha aceitou a recomendação feita pelo Ministério Público estadualapostas final copa do brasilque o policial agiuapostas final copa do brasil"legítima defesa putativa" ou "legítima defesa imaginária". Ou seja, mesmo que Gustavo Amaral não representasse nenhuma ameaça real — pois não era o bandido buscado pela polícia, e sequer estava armado —, a percepção do policial, mesmo sendo errada,apostas final copa do brasilque ele seria o bandido eapostas final copa do brasilque existia perigo na cena justifica seu atoapostas final copa do brasildisparar.

A família do jovem engenheiro não aceita a conclusão da Justiça.

"Seapostas final copa do brasilvez do Gustavo, que era um engenheiro negro, isso tivesse acontecido com o filhoapostas final copa do brasiluma pessoa importante, filhoapostas final copa do brasilum empresário rico, filho do juiz, do comandante da polícia, do delegado, será que teríamos esse desfecho? Será que a justiça arquivaria o processo sem investigar ninguém?", pergunta Guilherme.

A decisão foi muito contestada pelo movimento negro.

"Nós temos certeza que o delegado e o promotor agiram com racismo institucional", disse Gilvandro Antunes, um dos integrantes do Vidas Negras Importam do Rio Grande do Sul, à BBC News Brasil.

O racismo institucional é definido como um fracasso coletivoapostas final copa do brasilorganizações públicas — como a polícia e a Justiça —apostas final copa do brasilprestarem serviços a determinados grupos étnicos. Em outras palavras, o sistema que deveria proteger os cidadãos paraapostas final copa do brasilfuncionar quando o cidadãoapostas final copa do brasilquestão pertence a uma minoria étnica.

"Esse é um casoapostas final copa do brasilracismo institucional. Isso não quer dizer que o delegado e o promotor são pessoas racistas", diz Antunes. "Mas o inquérito policial e o Ministério Público aceitamapostas final copa do brasilforma taxativa a defesa do policial, que tinha dez anosapostas final copa do brasilcarreira e cometeu um erro injustificável. O promotor sequer se deu direito à dúvida. Sequer o PM vai à julgamento. Ele foi absolvido."

A decisão judicial voltou a provocar protestos no Rio Grande do Sul. No dia 20apostas final copa do brasilsetembro, movimentos negros organizaram uma carreataapostas final copa do brasilPorto Alegre pedindo justiça no caso. O protesto foi organizadoapostas final copa do brasildesfileapostas final copa do brasilcarros para evitar a aglomeraçãoapostas final copa do brasilpessoas por conta da pandemiaapostas final copa do brasilcoronavírus.

Ativistas e a famíliaapostas final copa do brasilGustavo Amaral ainda lutam para um desfecho diferente para o caso. A família está recorrendo contra a decisãoapostas final copa do brasilarquivar os processos. Eles não aceitam que a morteapostas final copa do brasilum cidadão inocente pela polícia possa terminar sem culpados — ou sequer sem um julgamento.

A posição do Ministério Público

Apesar dos protestos e críticas, o Ministério Público estadual defende aapostas final copa do brasildecisãoapostas final copa do brasilrecomendar o arquivamento do caso.

Na visão dos promotores, o policial teria visto Gustavo Amaral correndoapostas final copa do brasildireção a outro carro, onde estava uma família que também não tinha nada a ver com o acidente.

No curto espaçoapostas final copa do brasiltempo que teve para entender o que estava acontecendo, o policial viu um perigo e gritou para Amaral pararapostas final copa do brasilcorrer, o que não aconteceu. O policial alegou ter confundido o celularapostas final copa do brasilAmaral com uma arma, e por isso teria disparado contra o engenheiro.

O coordenador do Centroapostas final copa do brasilApoio Operacional Criminal eapostas final copa do brasilSegurança Pública do MP, promotorapostas final copa do brasilJustiça Luciano Vaccaro, disse que a morteapostas final copa do brasilGustavo Amaral foi uma tragédia absurda, e que se reuniu com os familiares da vítima para prestarapostas final copa do brasilsolidariedade. Mas que, do pontoapostas final copa do brasilvista jurídico, não haveria motivos para se investigar o policial que o matou.

Ele também rejeita a noçãoapostas final copa do brasilque ninguém será punido nesse caso porque a vítima é negra.

"A solução dada ao fato é eminentemente jurídica, não passa por essas questões. Em nenhum momento a questãoapostas final copa do brasilele ser negro mudou (o desfecho do caso). Sequer isso foi mencionado. Nenhuma testemunha falou isso. Se fosse um branco na mesma situação, o fato poderia ser igual. Não se trata disso", disse Vaccaro à BBC News Brasil.

Gilvandro Antunes, do Vidas Negras Importam no Rio Grande do Sul, não aceita a explicaçãoapostas final copa do brasilque o policial se confundiu apenas por causa do celular na mãoapostas final copa do brasilGustavo Amaral.

"Na verdade o policial confundiu a cor do Gustavo Amaral com aapostas final copa do brasilum bandido. Ao ver um jovem negro correndo, o policial o confundiu com um bandido", diz o ativista.

O caso segue sendo acompanhado por ativistas no Rio Grande do Sul, que prometem não desistirapostas final copa do brasillutar. O movimento negro Vidas Negras Importam cobra uma atitude do Ministério Público, que é responsável pelo controle externo das forças policiais. Nesta semana, eles solicitaram uma reunião com o Procurador Geral do Rio Grande do Sul.

Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, uma deputada estadual quer aprovar um projetoapostas final copa do brasillei, apelidadoapostas final copa do brasilLei Gustavo Amaral, que obrigaria policiais a usarem câmerasapostas final copa do brasilvídeoapostas final copa do brasilseus carros e uniformes, como acontece nos Estados Unidos, o que poderia ajudar a dar mais transparênciaapostas final copa do brasilinvestigações sobre mortes provocadas por agentesapostas final copa do brasilsegurança.

E a famíliaapostas final copa do brasilGustavo Amaral prepara agora seu recurso contra o arquivamento. Para o irmão gêmeo Guilherme, foi particularmente difícil, durante a visita com o governador, ouvirapostas final copa do brasiluma das autoridades presentes que Gustavo teria tido culpa na própria morte, por não ter paradoapostas final copa do brasilcorrer.

"Ele estava fugindo do acidente, apavorado com a situação, e com uniforme da empresa, claramente identificado. Como pode ser culpa dele?"

Em meio a tudo isso, Guilherme diz que ainda não conseguiu superar a perda do irmão, e que caiuapostas final copa do brasildepressão. Mas promete que não vai desistirapostas final copa do brasillutar.

"Eu vou levar esse caso adiante."