'Não espero nada do ano novo': o desamparo dos moradoresslot 777 loginruaslot 777 loginSPslot 777 loginmeio à pandemia e pobreza:slot 777 login

Crédito, Leandro Machado/BBC
Jáslot 777 loginâmbito nacional, um estudo do Institutoslot 777 loginPesquisa Econômica Aplicada (Ipea) estimou que 221.869 pessoas viviam nas ruas do Brasil até março deste ano — altaslot 777 login140%slot 777 loginrelação a 2012. No entanto, esses números podem ser maiores, pois foram compilados antes da pandemia e levamslot 777 loginconta apenas cadastradosslot 777 loginprogramas sociais.
"Não existe um censo nacional da populaçãoslot 777 loginrua, mas apenas estimativas e contagensslot 777 loginalgumas cidades. Sem conseguir mensurar o tamanho e as características desse contingente, fica muito difícil fazer políticas públicas que não sejam baseadasslot 777 loginpreconceitos e estereótipos", diz Juliana Reimberg, mestrandaslot 777 loginciência política pela USP e pesquisadora da área no Centroslot 777 loginEstudos da Metrópole (CEM).

Crédito, Alan White/ Fotos Públicas
'Meu irmão derramou meu sangue'
São múltiplos os fatores que levam as pessoas às ruas. Segundo o censo da Prefeituraslot 777 loginSão Paulo, 41% dos entrevistados apontaram "conflitos familiares" como motivo principal. Outros 26% culparam a "perdaslot 777 logintrabalho". Dependênciaslot 777 logindrogas ilícitas e álcool somam 33%. Perdaslot 777 loginmoradia, 13%.
A trajetória do carroceiro Ubiratan Cipriano é uma misturaslot 777 logintudo isso. Ou, como ele mesmo diz: "Ninguém vem para a rua à toa".
Nascidoslot 777 loginPalmares (PE), ele chegouslot 777 loginSão Paulo há 34 anos, fugindoslot 777 loginuma briga com parentes. "Foi uma confusão. Meu próprio irmão me deu dois tiros na perna. Ele derramou meu sangue. Vim embora para não derramar o dele", conta. Em João Pessoa, onde morava na época, deixou a esposa: haviam se casado nove meses antes.
"Deixei uma casa pronta, montada. E minha mulher… nunca mais a vi. Não sei nem se está viva", lamenta. Em São Paulo, foi peãoslot 777 loginobra, pintorslot 777 loginparedes, funileiro e caseiro. "Trabalhei numa casa por 17 anos, mas tive que sair quando decidiram reformá-la. Não arrumei mais nada. Vim para a rua", diz, sentadoslot 777 loginfrente aslot 777 loginárvoreslot 777 loginNatal recolhida no lixo.
"Para o ano que vem, eu quero uma moradia digna, uma casa, sair daqui. Eu arrumaria uma condução, voltava pra João Pessoa. Será que minha esposa ainda se lembraslot 777 loginmim?".
Seu vizinhoslot 777 logincalçada é Júlio (nome fictício, a pedido dele). De Alagoas, chegouslot 777 loginSão Paulo com 18 anos — hoje tem 35. "Vim com a cara e a coragem, acreditando que iria me dar bem", afirma. Mas, para ele, São Paulo entregou poucas promessas. "Fiquei desempregado, caí na droga e no álcool, e agora estou aqui falando com você", diz.
Júlio também é carroceiro, mas semanas atrás um colega furtou seu veículoslot 777 logintrabalho enquanto ele dormia na barraca. "Na rua, tudo pode acontecer: até um amigo pode te trair e te roubar", reclama. Uma carroça nova custa até R$ 800 no centro da cidade, montante que os trabalhadores demoram meses para juntar.
O carroceiro tem dois filhos adolescentes, mas ele não os vê há alguns anos. "Claro que sinto falta deles... Me afago na 51, na droga. Depois que saíslot 777 logincasa, minha família é quem está comigo, na rua. Se eu espero alguma coisa pro ano que vem? Não espero nada. Só volto se eu tiver alguma coisa pra mostrar…"

Crédito, Leandro Machado/BBC
Covid-19
A Prefeituraslot 777 loginSão Paulo diz que 345 pessoasslot 777 loginsituaçãoslot 777 loginrua foram diagnosticadas com a covid-19slot 777 loginabril a novembro. Elas foram acompanhadas por servidoresslot 777 loginsaúde e programas sociais, afirma a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB). Desse total, 31 pessoas que foram hospitalizadas acabaram morrendo.
A gestão afirma ter criado 1.969 vagasslot 777 logincentrosslot 777 loginacolhida durante a pandemia e que as equipesslot 777 loginConsultório na Rua e Redenção na Rua realizaram 144.855 abordagens, 26.997 consultas médicas e 55.973 avaliações dos usuários cadastrados no programa. Também diz que, na pandemia, ampliou a ofertaslot 777 loginserviçosslot 777 loginrefeições, banheiros, kitsslot 777 loginhigiene e orientações a esse público.
Para Juliana Reimberg, do Centroslot 777 loginEstudos da Metrópole (CEM), a política para essa população precisa congregar diversos setores, como educação, saúde, moradia e assistência social.
"Normalmente, o setor público afirma que criou vagasslot 777 loginabrigos como se a solução fosse só essa. Mas o problema é muito maior do que um leito para dormir. Há pessoas doentes, com problemas psiquiátricos, dependência química, desempregadas. Muitos são egressos do sistema carcerário, ou vítimasslot 777 loginviolência doméstica, discriminaçãoslot 777 logingênero, sem perspectivaslot 777 loginvida", elenca.
O próprio serviçoslot 777 loginacolhimento é bastante criticado pela populaçãoslot 777 loginrua e por movimentos sociais da cidade. Embora 59,5% dos entrevistados pela prefeitura digam que os abrigos são "bons ou ótimos", 20% disseram já terem sido vítimasslot 777 logindiscriminação por parteslot 777 loginalgum funcionário, 30% já ficaram sem receber alimentação e 34% relataram ter dormidoslot 777 logincolchões sujos ou com insetos.
A prefeitura afirma que os centrosslot 777 loginacolhida "têm suas estruturas higienizadas constantemente e são mantidos com as janelas abertas; nos quartos as camas foram colocadasslot 777 logindistância segura."

Crédito, Leandro Machado/BBC
'O rapa que leva tudo'
Em outro ponto do centro paulistano, na Praça 14 Bis, dois homens e duas mulheres que vivem por ali aguardam o "rapa", como é conhecido o serviço da prefeitura que recolhe o lixo e pertences "sem dono" aparente.
A praça 14 Bis, que tem esse nome porque chegou a abrigar uma réplica do famoso aviãoslot 777 loginSantos Dumont, hoje é coberta por um viaduto. Embaixo, dezenasslot 777 loginpessoas se amontoamslot 777 loginbarracas. Em 2017, o local foi o primeiro a receber açõesslot 777 loginzeladoria do programa Cidade Linda, do então prefeito e hoje governador João Doria (PSDB). Porém, as medidasslot 777 loginlimpeza e pintura tiveram efeito apenas temporário: hoje há problemas com acúmuloslot 777 loginlixo, enchentes e vulnerabilidade da populaçãoslot 777 loginrua.
"A gente precisa ficar aqui, esperando pelo rapa, senão eles pegam nossas coisas e levam embora. Tenho minha carroça aqui, meu colchão, cobertor. Imagina se eu perco tudo isso, não posso dar mole...", explica Anamando Gonçalves,slot 777 login49 anos.
Enquanto ele vive nas ruas da Bela Vista,slot 777 loginmulher e três filhos dormemslot 777 loginum quartinho no centro.
"Só espero que no ano que vem eu possa ficar pertoslot 777 loginquem eu amo, dos meus filhos. Espero não fazer mais nadaslot 777 loginerrado. Espero sair disso aqui e ter uma vida normal", diz Anamando, preparando-se para mais um diaslot 777 logintrabalho comslot 777 logincarroça.

Crédito, Leandro Machado/BBC
Ao lado, Simone Cabral, 52, também espera o "rapa" para poder almoçarslot 777 loginpaz. "Você não tirou foto minha, não, né? Tenho direito à minha imagem. Jornalista aparece aqui, tira foto da gente e pede: 'você pode contarslot 777 loginhistória?'. Conto minha história todo dia...", diz.
Simone nasceu e cresceu na Mooca, bairroslot 777 loginclasse média na zona lesteslot 777 loginSão Paulo. Ela viviaslot 777 loginuma casa alugada com a mãe. A família pagava o financiamentoslot 777 loginum apartamento próprio, mas o prédio nunca ficou pronto e um processo judicial para reaver o dinheiro se arrasta há anos, diz Simone.
Há dez anos,slot 777 loginmãe morreu e ela, desempregada e sem dinheiro, não conseguiu mais pagar o aluguel. "Pensei: ou pago aluguel ou compro comida. Foi assim que vim para a rua, e nunca mais consegui sair", diz, enquanto caminha pelo Bixiga, tradicional bairro da região central, com destino a um restaurante popular na rua 13slot 777 loginMaio.
Na bolsa, Simone sempre carrega um papel com seu cadastro na Cohab, companhiaslot 777 loginhabitação social da prefeitura. Ele foi feitoslot 777 loginoutubroslot 777 login2012, quando ela já estava na rua, mas até agora ela não teve resposta se conseguirá ou não uma moradia social para viver. Hoje, vive sozinha e tem pouquíssimo contato com os irmãos.
"É o que eu mais espero para o ano que vem: uma casa, um lugar onde eu possa ficar tranquila, porque a rua e essa cidade são uma grande produçãoslot 777 loginindigentes. E eu não quero isso", diz.

Crédito, Leandro Machado/BBC
'Na rua te acolhem melhor'
Já na praça do Patriarca, um conjuntoslot 777 logindecoração natalina foi montado ao ladoslot 777 logindezenasslot 777 loginbarracasslot 777 loginmoradoresslot 777 loginrua, que dormem embaixoslot 777 loginuma marquise desenhada pelo renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha. As bonecasslot 777 loginpano e árvores com bolinhas coloridas — todas cercadas por grades para que não haja depredação — fazem parte do "Festivalslot 777 loginNatal" da prefeitura, cujo tema é "Um sonhoslot 777 logincidade".
Em uma das barracas vive Samara Lohanny,slot 777 login27 anos, uma mulher trans que parou ali há um mês. De Maceió, ela chegouslot 777 loginSão Paulo há dois anos. "Eu apanhava muito do meu irmão eslot 777 loginum tio, que não aceitava eu ser trans", conta.
Uma amiga a convenceu a se mudar para São Paulo, com a promessaslot 777 loginum empregoslot 777 loginuma casaslot 777 loginprostituição no bairro da Liberdade. "Foi um inferno. A cafetina me explorava muito. Eu tinha que pagar uma taxa para ela e, com o tempo, tudo o que eu ganhava era usado para pagar essa dívida. Tive que sair", conta.
Nos últimos anos, Samara participouslot 777 loginum programa da prefeitura para pessoas trans. Conseguiu se formar no ensino médio e, com auxílio financeiro, alugou um quartinho no centro. Mas o dinheiro acabou: sem oportunidadeslot 777 logintrabalho, foi para a rua, conta.
"É impressionante como as pessoas que vivem na rua às vezes te acolhem melhor do queslot 777 loginprópria família. Não é fácil ser trans, não sou um monstro. Mas nunca perco a fé. Sou católica, estou sempre com Deus. No ano que vem espero sair daqui, ter um canto pra ficar com meu marido. Por pior que seja a pessoa, ninguém merece viver na rua", diz.

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