'Mãe, fica tranquila, a gente tá dentrojogo da memoria onlinecasa': as famílias destruídas pela violência policialjogo da memoria onlineplena pandemia:jogo da memoria online

Crédito, Família Rocha
Trabalhando para sustentar a família, Ana Paula criou sozinha seus quatro filhos, Bruna, Bárbara, Beatriz e Igor, com um salário mensaljogo da memoria onlineR$ 1,5 mil. Eles dividiam a casa no Jardim São Savério, na periferia da Zona Suljogo da memoria onlineSão Paulo, região que é parte da rota da linhajogo da memoria onlineônibusjogo da memoria onlineque Ana Paula trabalha. Desde o dia do crime, ela desvia o olhar sempre que o ônibus passa perto da viela. "Não consigo".
No diajogo da memoria onlineque Igor foi baleado, Ana Paula estava há 11 dias isoladajogo da memoria onlineseu quartojogo da memoria onlinecasa, saindo apenas para receber atendimento médico, com febre alta e muita faltajogo da memoria onlinear, sintomas fortesjogo da memoria onlinecoronavírus. "Eu vivia mais no hospital do quejogo da memoria onlinecasa, os médicos chegaram a querer me intubar", lembra.
Naquele 2jogo da memoria onlineabril, Igor acordou tarde e quis ir à padaria comprar pão e batata palha, para almoçar as sobrasjogo da memoria onlinecachorro-quente da noite anterior. A mãe pediu que ele trouxesse também um pacotejogo da memoria onlinecigarros. Saiujogo da memoria onlinecasa por volta das 13h15; apenas dez minutos depois, Ana Paula ouviu os gritos no portão.
"Mataram um menino. Mataram um menino e parece que é o Igor."
Aterrorizada, ela lembrajogo da memoria onlinedescer correndo as escadas do sobrado e sair pela porta da frente, subindo a rua com dificuldades para respirar,jogo da memoria onlinecenas registradasjogo da memoria onlinevídeos amadores que circulam pela internet. Lembrajogo da memoria onlineter tirado a máscara antesjogo da memoria onlineenxergar o filho, caído.
"Eu vijogo da memoria onlinelonge o tênis que ele estava usando, reconheci que era ele". Ela se recorda também do choro desesperado da filha, Bruna. "Foi na cabeça mãe! O tiro foi na cabeça".
Nessa hora, a mãe entroujogo da memoria onlinepânico. Filmadas pelos celularesjogo da memoria onlinevárias testemunhas, imagens bem gráficas mostram Bruna e Ana Paula sendo violentamente contidas enquanto tentam passar pelo número cada vez maiorjogo da memoria onlinepoliciaisjogo da memoria onlinetorno do corpojogo da memoria onlineIgor.
"Doeu muito vê-lo daquele jeito. É uma cena que eu não desejo para ninguém", diz ela, emocionada,jogo da memoria onlineentrevista concedida à BBC News Brasil no pátio da escolajogo da memoria onlineque Igor estudava.
"Os policiais o colocaram na maca e o embrulharam como se ele estivesse vivo, com o rosto para fora. Não me deixaram chegar perto, ficaram me segurando. Aí, levaram ele pro hospital. Não me deixaram ir na ambulância".
O atestadojogo da memoria onlineóbito emitido no hospital confirmou que Igor morreu na hora, com um único tiro na nuca. Imagens e relatosjogo da memoria onlinetestemunhas mostram que ele caiu perto da padaria,jogo da memoria onlinebruços, no chão.
Dez meses depois, ninguém foi preso pelo assassinatojogo da memoria onlineIgor, mas a Polícia Militarjogo da memoria onlineSão Paulo diz que o caso ainda está sob investigação. Informaram também que o policial suspeito pela mortejogo da memoria onlineIgor não foi afastado do atendimento ao público e continua trabalhando normalmente.
A mãe diz que, ainda no local, um dos policiais disse a ela que o menino foi baleadojogo da memoria onlineuma trocajogo da memoria onlinetiros, dando a entender que Igor estava armado. "Eu, nervosa, comecei a gritar, 'mentira! Meu filho acaboujogo da memoria onlinesairjogo da memoria onlinecasa. Eu tô com covid, meu filho não estava saindojogo da memoria onlinedentrojogo da memoria onlinecasa. Todos esses dias'."

Testemunhas também disseram à BBC que não viram Igor com uma arma. A políciajogo da memoria onlineSão Paulo afirma que ainda não concluiu a investigação sobre a versão dos policiais.
Ana Paula diz que a vida, a partirjogo da memoria onlineagora, é lutar por justiça para Igor. Mas teme que a reação do sistema judiciário reflita o preconceito contra quem mora nos bairros mais pobres da cidade. "Se meu filho fosse filhojogo da memoria onlinerico, o policial já estaria na prisão. Já estaria preso".
Um isolamento com recordejogo da memoria onlinemortes
Nos primeiros seis mesesjogo da memoria online2020, justamente quando muitas pessoas deixaramjogo da memoria onlinecircular pelas ruas para se protegerem do vírus, 3.148 pessoas foram mortas pela polícia no Brasil,jogo da memoria onlineintervenções policiais. Em média, 17 pessoas morreram por dia.
No Riojogo da memoria onlineJaneiro, Estado com 16 milhõesjogo da memoria onlinehabitantes, o número absolutojogo da memoria onlinepessoas mortas pela polícia nos seis primeiros meses do ano foi maior que o registradojogo da memoria onlinetodos os Estados Unidos. Em São Paulo, o númerojogo da memoria onlinemortos pela polícia no semestre foi recorde para o período desde 2001, início da série histórica do Fórum Brasileirojogo da memoria onlineSegurança Pública, entidade que há décadas reúne e analisa dadosjogo da memoria onlineviolênciajogo da memoria onlinetodos os Estados do país.
Mas no Brasil, embora a visibilidade dos casos tenha crescido e ganhado mais adesão e espaço na agenda pública com o crescimento das redes sociais, a violência policial raramente gera protestosjogo da memoria onlinemassa, na escala daqueles que levaram milharesjogo da memoria onlinepessoas às ruas nos EUA e na Nigéria contra a brutalidade policial no ano passado. A reação nas ruas, no exemplo dos casos relatados nesta reportagem, se concentrou mais a protestos localizados nos bairros das vítimas, ou a grandes campanhas nas redes sociais.
Em São Paulo, as famílias têm encontrado apoio e orientação na busca por resistência por meiojogo da memoria onlineum movimento social, a Redejogo da memoria onlineProteção e Resistência contra Genocídio, que atuajogo da memoria onlinecada bairro onde há vítimas, organizando açõesjogo da memoria onlineprotesto e resistência. No casojogo da memoria onlineIgor, por exemplo, foram eles que ajudaram Ana Paula a organizar uma sériejogo da memoria onlineprotestos que, embora localizados na região do crime, marcaram a revolta dos amigos e família. "A mobilização das famílias é resultadojogo da memoria onlineum imenso trabalhojogo da memoria onlineresistência", diz Marisa Feffermann. "Com a pandemia, a violência policial nas periferias tem se escondido. Por isso, queremos usar esse espaço para denunciar esses casos."

Para analisar quais vidas estiveram mais ameaçadas durante o primeiro semestre da pandemia, a BBC,jogo da memoria onlinecolaboração com o Fórum Brasileirojogo da memoria onlineSegurança Pública, analisou os perfisjogo da memoria onlinemaisjogo da memoria onlinemil pessoas mortas pela polícia no Estadojogo da memoria onlineSão Paulo e no Riojogo da memoria onlineJaneiro nos primeiros seis mesesjogo da memoria online2020.
Os dados confirmam uma tendência antiga:jogo da memoria onlineSão Paulo, mais rico Estado do Brasil e onde a grande maioria das pessoas se declara branca, quase 60%jogo da memoria onlinetodos os mortos pela polícia eram brasileiros negros. Maisjogo da memoria online99%jogo da memoria onlinetodos os mortos eram do sexo masculino e quase 30% tinham menosjogo da memoria online24 anos.
No Rio, o Estado mais letal do Brasiljogo da memoria onlinetermosjogo da memoria onlinebrutalidade policial, a proporção é ainda maior: 75%jogo da memoria onlinetodos os mortos pela polícia eram negros. O que comprova que um jovem, negro e do sexo masculino, no semestrejogo da memoria onlineque a pandemia chegou ao Brasiljogo da memoria online2020, tinha cinco vezes mais chancesjogo da memoria onlineser morto pela polícia do que um jovem branco.
Ponto importante: nos números analisados pela BBC, todas as estatísticas sobre pessoas vivas referem-se a categorias raciais autodeclaradas. Para os mortos, a filiação racial foi registrada conforme consta nos registros policiais.
No Brasil, a descrição racial da vítimajogo da memoria onlinehomicídio é feita pelo médico legista ou pelo policial investigador, utilizando as amplas categoriasjogo da memoria onlinepreto, branco, outro ou desconhecido. Os negros, neste caso, geralmente incluem indivíduos negros e pardos, mestiços.

Crédito, Família Rocha
Caso dois: Guilherme Guedes, sequestrado e morto aos 15 anos, 14jogo da memoria onlinejunhojogo da memoria online2020
Uma das mortes mais violentasjogo da memoria online2020 no Brasil foi ajogo da memoria onlineGuilherme Guedes, que desapareceujogo da memoria onlinefrente à casa da avó, na Vila Clara, Zona Suljogo da memoria onlineSão Paulo. Foi encontradojogo da memoria onlineDiadema (SP), no dia seguinte, morto a tiros e com sinaisjogo da memoria onlinetortura.
"Eu preferia, hoje, que meu filho tivesse pegado covid-19, né? Do que ter morrido da forma que ele morreu. Muitos falam assim pra mim, "é planojogo da memoria onlineDeus". Não, pra mim não é planojogo da memoria onlineDeus. Deus vai planejar uma pessoa morrer com dois tiros na cabeça?", questiona Joyce da Silva dos Santos, mãejogo da memoria onlineGuilherme.

Crédito, Família Santos
A última vez que Joyce viu o filho foijogo da memoria onlineum churrascojogo da memoria onlinefamília, para inaugurar a casa nova que Guilherme havia ajudado a limpar e organizar após a mudança. Descrito pela mãe como seu melhor amigo e "homem da casa", ajudandojogo da memoria onlinetudo, Guilherme se ofereceu para acompanhar a avó atéjogo da memoria onlinecasa, porque era tarde da noite. No caminho, ele parou para comprar coxinhas, lanche preferidojogo da memoria onlineGui, conta Joyce.
Depoisjogo da memoria onlinese despedir da avó, Guilherme passou pelo quintal da casa; avistou outro menino dajogo da memoria onlineidade e atravessou a rua para encontrá-lo. Os depoimentos indicam que o menino avisou Guilherme para tomar cuidado, porque dois policiais à paisana vinham emjogo da memoria onlinedireção.
"Mas o Gui disse: Não. Não vou embora, não devo nada ", diz Joyce." Então ele ficou. E é quando os dois chegam", conta Joyce.
Os suspeitos aparecem claramente nas imagensjogo da memoria onlinecâmerasjogo da memoria onlinesegurançajogo da memoria onlinefrente à casa da avójogo da memoria onlineGuilherme, que mostram dois homens cercando Guilherme na rua. Pouco depois, Guilherme não aparece mais.
Seu corpo foi descoberto seis horas depois, abandonado a quilômetros dali.
A autópsia mostrou que, alémjogo da memoria onlinesinaisjogo da memoria onlinetortura, ele levou dois tiros: um no lábio e outro na nuca.

"No dia seguinte minha irmã foi ao Instituto Médico Legal (IML). Perguntaram se ele tinha uma tatuagem e que confirmasse onde estava. Foi quando disseram a ela: 'É ele'.
Sete meses depois, a Secretariajogo da memoria onlineSegurança Públicajogo da memoria onlineSão Paulo afirma que as investigações já terminaram e os dois suspeitos do vídeo foram identificados. Atualmente na prisão e aguardando julgamento, o sargento Adriano Fernandesjogo da memoria onlineCampos nega todas as acusações. A polícia continua procurando o segundo suspeito, o ex-policial Gilberto Eric Rodrigues.
Desde a infância, Joyce conta que Guilherme sempre teve medo da polícia, mas que ela sempre lhe disse que não havia motivo, porque os policiais existem para proteger as pessoas. "Eu tirei o medo dele", diz Joyce. "Mas hoje, prefiro que meus outros filhos tenham medo da polícia."
"Acho que para eles todo mundo que mora na periferia é criminoso. Acham que um meninojogo da memoria online15, 16, 17 anos não pode ter tênisjogo da memoria onlinemarca nos pés".
Entre a violência e o vírus
No ano passado, o Riojogo da memoria onlineJaneiro foijogo da memoria onlinelonge o Estado mais mortal do Brasiljogo da memoria onlinetermosjogo da memoria onlineviolência policial letal, respondendo por um quartojogo da memoria onlinetodas as mortes por policiaisjogo da memoria onlinetodo o país.
Por que o Rio é tão mortal? A resposta envolve a estratégia das operações policiais antidrogas, açõesjogo da memoria onlineque dezenasjogo da memoria onlinepoliciais entram nas favelas, muitas vezes apoiados por helicópteros e veículos blindados,jogo da memoria onlinebuscajogo da memoria onlinetraficantes e chefes do crime organizado.

Como jornalista que mora e trabalha nas favelas, Bruno Itan costuma ser o primeiro a chegarjogo da memoria onlinemuitos dos confrontos entre a polícia e o tráfico. Mas no ano passado,jogo da memoria onlinemeio à crescente pandemiajogo da memoria onlinecoronavírus, Bruno descreve uma operação policialjogo da memoria onlineque a violência foi ainda mais chocante.
"Assim que cheguei, vi muitos corpos espalhados pelas ruas. Foi tão horrível que acho que por um momento, as pessoas se esqueceram do vírus. Foi uma cenajogo da memoria onlineguerra, com sangue por toda parte e buracosjogo da memoria onlinearmajogo da memoria onlinefogo."
Era meio-diajogo da memoria onlinesexta-feira quando maisjogo da memoria onlineuma dezenajogo da memoria onlinepoliciais entraram no Complexo do Alemão perseguindo traficantes. Duas horas depois, os moradores locais dizem que pelo menos 12 pessoas foram mortas e cinco corpos deixados para trás pela polícia, no meio da rua.
Presos entre a violência e o vírus, muitos moradores foram forçados a interromper o isolamento e deixar suas casas para limpar os corpos sob o sol escaldante do verão no Rio.
"Todo mundo estava ajudando. Algumas pessoas estavam limpando o sangue, outras distribuindo lençóis, outra pessoa emprestava o carro, enquanto outras ajudavam a carregar os corpos", diz Itan, que viu ali uma cenajogo da memoria onlinesolidariedadejogo da memoria onlinemeio ao caos.

Crédito, João Wainer
"Eles precisavam ajudar uns aos outros. A mãe não ia conseguir carregar o corpo do filho sozinha ".
Crescendo nas favelas, Bruno diz que aprendeu a conviver com a violência; sabe o que fazer quando o grupojogo da memoria onlineWhatsApp da comunidade o alerta sobre uma operação policial. A regra é buscar abrigo no chão do banheiro ou atrásjogo da memoria onlineuma porta, mas sempre longejogo da memoria onlinequaisquer vidros ou janelas.
Mas para Bruno, apesarjogo da memoria onlineter vivido centenasjogo da memoria onlineoperações, a escalada da violência policial no ano passado, combinada com a pandemia, representou uma subidajogo da memoria onlinetom.
"A violência sempre vem, mas nunca 12 pessoas mortasjogo da memoria onlineuma manhã. Talvez uma ou duas. Uma ou duas morrendo, você pode achar estranho, mas infelizmente para nós, isso se tornou normal. Mas 12?"
Uma históriajogo da memoria onlineviolência
Por que a políciajogo da memoria onlinealguns Estados do Brasil é tão agressiva? Parte da resposta está no passado. Saindojogo da memoria onlineuma ditadura militarjogo da memoria online21 anos, na qual milhares foram torturados e centenas mortos, o Brasil tem duas forças policiais: a Polícia Militar e a Polícia Civil.
Grande parte do treinamento da Polícia Militar, até hoje, utiliza táticas e ideologia similares aojogo da memoria onlineum exército, apesarjogo da memoria onlineserem os principais responsáveis pelo policiamento diário das ruas. Já a Polícia Civil assume mais funções judiciais,jogo da memoria onlineinteligência e administrativas.

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Como ex-chefe da Polícia do Estado do Riojogo da memoria onlineJaneiro, Robson Rodrigues da Silva diz que a pressão sobre os policiais no Brasil não pode ser subestimada. Com uma das maiores taxasjogo da memoria onlinecriminalidade do mundo, ele argumenta que a polícia no Brasil é mal paga e com apoio insuficiente. Com o tempo, a imprevisibilidade e a volatilidade do trabalho comprovadamente tendem a causar "danos psicológicos significativos" a muitos policiais.
"A suposição geraljogo da memoria onlinequalquer policial é que muito provavelmente alguém estará armado." diz Robson, especialmentejogo da memoria onlineáreas dominadas por traficantes. "Porque a quantidadejogo da memoria onlinearmasjogo da memoria onlinefogo disponíveis nessas áreas reflete o quão ineficiente o sistema é para evitar que tais armas cheguem facilmente às mãos dos criminosos. Isso gera tensão e medo, e quando isso se manifestajogo da memoria onlineum policial, ele é muito mais provavelmente reagirá mal a uma situação. "
Mas para Robson, como ex-policial no Riojogo da memoria onlineJaneiro, nenhum lugar é mais perigoso para ser policial do que nas favelas da cidade do Riojogo da memoria onlineJaneiro.
O Brasil se importa com as vidas negras?
Como o último país do hemisfério ocidental a abolir a escravidão, o Brasil continua profundamente desigual, com negros e pardos brasileiros vivendo, historicamente,jogo da memoria onlinesituaçõesjogo da memoria onlinemaior vulnerabilidade socialjogo da memoria onlinediversos indicadores não sójogo da memoria onlinesegurança pública, masjogo da memoria onlinesaúde, educação e oportunidades.
Nas estatísticasjogo da memoria onlineviolência, a letalidade policial não é a única modalidadejogo da memoria onlineque os negros são a maioria das vítimas. De acordo com dados mais recentes,jogo da memoria online2019, os negros representam 74,5% das vítimasjogo da memoria onlinehomicídio doloso, 68,3% das vítimasjogo da memoria onlinelesão corporal seguidajogo da memoria onlinemorte e 65,1% dos policiais assassinados.
Em dez anos, enquanto o assassinatojogo da memoria onlinenão-negros diminuiu 12% entre 2008 e 2018, o homicídiojogo da memoria onlinepessoas negras cresceu 11,5% no mesmo período.

"Diferentemente daquela visãojogo da memoria onlineque a sociedade brasileira é uma sociedade pacífica, a realidade nos mostra que é diferente. Você tem violência no trânsito, altas taxasjogo da memoria onlinehomicídio, violênciajogo da memoria onlinetorcida nos jogosjogo da memoria onlinefutebol, linchamento. A violência está entranhada nas estruturas sociais", diz o antropólogo Robson Rodrigues da Silva. Ele tem conhecimentojogo da memoria onlinecausa: coronel da reserva da Polícia Militar do Riojogo da memoria onlineJaneiro (PMERJ), comandoujogo da memoria online2010 a coordenação geral das Unidadesjogo da memoria onlinePolícia Pacificadora (UPPS), tentativa do Estadojogo da memoria onlinecriar um policiamento comunitário nas favelas, retomando espaços dominados pelo tráfico. Vê nas estatísticas, além do efeitojogo da memoria onlinepolíticas equivocadasjogo da memoria onlineguerra às drogas, os reflexos do racismo que dita as relações sociais no país.
"Por mais que se negue o racismo estrutural existe, e os efeitos são perversos. Como o país que manteve a escravidão por mais tempo a gente ainda não conseguiu achar um caminho para que isso melhorasse", diz.
Caso três: João Pedro Matos Pinto, 18jogo da memoria onlinemaiojogo da memoria online2020
Nos primeiros meses do ano passado, um aumento nas mortes cometidas por policiais no Riojogo da memoria onlineJaneiro fez com que 2020 se colocasse no caminho dos recordesjogo da memoria onlinebrutalidade policialjogo da memoria onlinedécadas. De janeiro a maio, o númerojogo da memoria onlinemortosjogo da memoria onlineintervenções policiais no Estado foi o maior para o período desde 2003: 744 pessoas.
A curva da letalidade policial só passou a cair depois da mortejogo da memoria onlineum adolescente,jogo da memoria onlinemaio, que paralisou todas as operações policiais nas favelas do Riojogo da memoria onlineJaneiro. João Pedro Matos Pinto, morto dentro da casa dos primosjogo da memoria onlineuma operação sem mandato judicial.

Crédito, Família Matos
Depoisjogo da memoria onlinedisparar maisjogo da memoria online70 tiros dentrojogo da memoria onlinecasa, João Pedro foi morto por uma balajogo da memoria onlinefuzil nas costas.
"João era uma criança muito caseira. Onde quer que fosse, estava sempre com os pais. A rotina dele era escola, casa, igreja", conta Rafaela Coutinho Matos, professorajogo da memoria online36 anos, diz que revive diariamente cada momento daquela segunda-feira, quando, preocupadajogo da memoria onlinegarantir que a pandemia do coronavírus passasse bem longejogo da memoria onlinesua família, ela ouviu a voz do filhojogo da memoria online14 anos pela última vez.
No diajogo da memoria onlineque seu filho foi morto, Rafaela estava emjogo da memoria onlinecasajogo da memoria onlineSão Gonçalo, na periferia do Rio. João tinha ido brincar na casa do primo a 15 minutos dali, na região da Praia da Luz,jogo da memoria onlineItaoca. Por volta das 14h30, ela ouviu o helicóptero da polícia.
"Liguei para o João e falei: 'Filho, estou muito preocupada porque o helicóptero está dando tiro. Mas ele disse:' Mãe, fica tranquila, a gente tá dentrojogo da memoria onlinecasa'."
Foi a última vez que Rafaela falou com o filho.
As investigações da polícia e relatosjogo da memoria onlinetestemunhas apontam que, após o lançamentojogo da memoria onlineduas granadas, a polícia entrou na casa atirando. As autoridades, à época, chegaram a alegar que seus policiais estavam perseguindo vários traficantesjogo da memoria onlinedrogas armados, que teriam pulado o muro e entrado na propriedade.
A mãe e diversos depoimentos afirmam que, assim que os policiais entraram na casa, os adolescentes correramjogo da memoria onlinedireções diferentes para se esconderem dos tiros pelos quartos. Deitadosjogo da memoria onlinebruços no chão, as crianças colocaram os braços sobre a cabeça para se proteger. Paralisados pelo medo, só mais tarde perceberam que João havia levado uma bala pelas costas.
"Quando eles falaram que havia sido um tiro (perto da barriga), eu imaginei que tivesse sido um tirojogo da memoria onlineraspão, alguma coisa assim. Eu não imaginava que tinha sido um tirojogo da memoria onlinefuzil", diz Rafaela, aos prantos.
João,jogo da memoria onlineacordo com os depoimentos das testemunhas, foi levado ao helicóptero da polícia. As autoridades afirmam que ainda estão investigando como seu corpo foi removido. Mas seus amigos e primos dizem que um dos jovens foi obrigado a carregar o corpo até o próprio carro e transportá-lo até o helicóptero.
Por 17 horas, Rafaela não sabia para onde seu filho havia sido levado. A família passou a noite toda visitando hospitais locais e fazendo campanha nas redes sociais com a hashtag #procurase João Pedro, até que descobrissem o corpojogo da memoria onlineum necrotério.

Apesarjogo da memoria onlineganhar grande destaque na mídia brasileira, Rafaela teme que ninguém seja preso ou punido pelo assassinatojogo da memoria onlineseu filho. Porque ela diz que João não é o primeiro filho perdido para a violência policial, tampouco será o último.
Racismo e preconceito
"Olha, eu nunca conversei com João a respeito do racismo. Nunca parei para pensar a respeito até mesmo porque eu nunca imaginei estar vivendo o que eu estou vivendo hoje. Mas eu acho que foi preconceito, sim. Porque os policiais acham que toda pessoa que mora na favela é bandido. Nem todo mundo que mora na favela é bandido. E geralmente esses assassinatos acontecem sim com pessoas negras", diz Rafaela. "Se fosse na Zona Sul oujogo da memoria onlinequalquer outro lugar, eles não entrariam atirando".
O governador (afastado) do Riojogo da memoria onlineJaneiro, Wilson Witzel, declarou publicamente à época que João era inocente e que seu assassinato seria totalmente investigado. Mas, 8 meses depois, ninguém foi preso.
O casojogo da memoria onlineJoão Pedro gerou comoção nacional tão grande que motivou uma decisão sem precedentes do Supremo Tribunal Federal. Todas as batidas policiais foram suspensas temporariamente, durante a pandemia.
A análise dos dados do Fórum Brasileirojogo da memoria onlineSegurança pública aponta que, antes que as operações policiais parassem,jogo da memoria onlinemédia 150 pessoas eram mortas por mês.

Masjogo da memoria onlinejunhojogo da memoria online2020, depois que as operações policiais foram suspensas, 34 pessoas foram mortas, 80% menos do quejogo da memoria onlinejunhojogo da memoria online2019. O que indica que, ao impedir as operações, centenasjogo da memoria onlinevidas foram salvas.
Questionado pela BBC se as batidas policiais seriam reiniciadas após o fim da quarentena, a segurança do Riojogo da memoria onlineJaneiro respondeu apenas que "todas as operações são realizadas com base na inteligência e seguem rígidos requisitos legais, sempre priorizando a preservação da vida".
Para o coronel da reserva Robson Rodrigues da Silva, essa queda no númerojogo da memoria onlinemortos não foi inesperada. "Ao interromper esse ciclo vicioso, algo que esperávamos aconteceu; uma redução drástica tanto nas mortesjogo da memoria onlinepoliciais quanto nas mortesjogo da memoria onlinepoliciais. Isso mostra que a escolha da guerra como estratégia para enfrentar o inimigo, diga-sejogo da memoria onlinepassagem , está tudo errado e precisamos rever nossa estratégia ".
Mas, como Robson aponta, as operações policiais nos moldes das que são adotadas no Rio ameaçam não só civis, mas a própria polícia. Policiais negros, que são maisjogo da memoria online60% dos policiais assassinados no Brasiljogo da memoria online2019, são mais vulneráveis à violência letal do que seus colegas brancos.
"O mesmo problemajogo da memoria onlinegarantir a mobilidade social enfrentado pelos negrosjogo da memoria onlinenosso país também existe dentro da polícia. Porque apesarjogo da memoria onlineter muitos policiais negros, eles estãojogo da memoria onlineníveis mais baixos na hierarquia", diz Robson.
Como coordenador na áreajogo da memoria onlineanálisejogo da memoria onlinedados do Fórum Brasileirojogo da memoria onlineSegurança Pública, David Marques rejeita a tesejogo da memoria onlineque o racismo dentro da força policial é simplesmente um produto do racismo na sociedade brasileira.
"Para que a força policial participe da luta contra a violenta desigualdade racial, é necessário construir um debate mais amplo sobre o impacto do racismo na segurança pública e que essa discussão motive os policiais a mudarem seu cotidiano na rua.

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"Além disso, é necessário aprofundar a discussão sobre a vitimização policial. Mais policiais morreram forajogo da memoria onlineserviço e suicídio do que no trabalho. Isso significa abordar a questão das condiçõesjogo da memoria onlinetrabalho da polícia é fundamental."
Examinando o númerojogo da memoria onlinepoliciais mortos nos primeiros seis mesesjogo da memoria online2020, a pesquisajogo da memoria onlineMarques constatou que dos 103 policiais mortos, 70% deles estavamjogo da memoria onlinefolga, oujogo da memoria onlinebicos como segurança como formajogo da memoria onlineaumentar a renda, insuficiente.
Justiça?
Para as mãesjogo da memoria onlineIgor Rochas Ramos , Guilherme Guedes e João Pedro Matos Pinto, o desafio das famílias agora é lugar para que a justiça seja feita. Mas mesmojogo da memoria onlinecasos com mais pressão da opinião pública, como o João Pedro, Daniel Lozoya, defensor público do Núcleojogo da memoria onlineDefesa dos Direitos Humanos que defende a famíliajogo da memoria onlineJoão, diz que há dúvidas sobre se os culpados serão julgados e presos.
"O padrão que essas investigações costumam tomar é que só confirmam as teses da polícia. Eles seguem apenas as versões dos eventos do policial, às vezes se arrastando por anos até serem eventualmente arquivados. "
No Brasil, segundo dadosjogo da memoria online2019, 7jogo da memoria onlinecada 10 homicídios terminam sem punição aos culpados.
Por que nem todos viram símbolo?
"Com tantos casos registrados (em 2019 e 2020), infelizmente algo que nunca deveríamos considerar normal, está acontecendo todos os dias. Na sociedade, isso gera uma insensibilidade, uma anestesia na forma como as pessoas se relacionam com esses casos, apenas os mais extremos acabam gerando atenção", afirma Lozoya, da Defensoria Pública do Rio.
"De forma que só casos extremos, como a mortejogo da memoria onlineuma criança dentro da própria casa, dentro da escola, oujogo da memoria onlinepessoas que é muito difícil serem incriminadas, como idosos, trabalhadores e crianças, que acabam gerando uma comoção na sociedade", diz o defensor da famíliajogo da memoria onlineJoão Pedro.

Crédito, Bruno Itan
David Marques, do Fórum, diz que a expansão das redes sociais tem aumentado a visibilidade dos casosjogo da memoria onlineviolência policial e racismo no país mas, apesar da adesão virtual mais expressiva e do debate mais constante sobre o tema, o movimento negro e movimentos sociais contra o racismo ainda enfrentam muita resistência por parte da sociedade.
Para Marques, o fatojogo da memoria onlinemuitas pessoas não acreditarem, por exemplo, que haja racismo no Brasil, dificulta bastante o processojogo da memoria onlineuma adesão mais ampla a causas como a violência policial contra negros.
"Isso dificulta bastante o processo. A saída que os movimentos têm encontrado para debater esse tema ainda têm encontrado bastante resistência. O problema continua sendo reverter essa indignaçãojogo da memoria onlinemudançasjogo da memoria onlinepolítica pública", diz.
Rafaela, mãejogo da memoria onlineJoão Pedro, diz que antes da perda do filho nunca teve medo da polícia.
Diz que João era estudioso, alegre e tinha o sonhojogo da memoria onlineser advogado, sonho compartilhado pelo pai, o comerciante Neilton Matos, que não teve a oportunidadejogo da memoria onlinecompletar os estudos. Recentemente, a família havia conseguidoo matricular João na escola particularjogo da memoria onlineque Rafaela dá aulas, e ele estava muito feliz.
"Todos os nosso sonhos eram focados no João. Hoje, não sabemos como vamos seguirjogo da memoria onlinefrente", diz Rafaela. "Às vezes as pessoas olham para mim e dizem 'ah, mas você tem Rebeca'", referindo-se à filha caçula,jogo da memoria online4 anos. "Mas um filho não substitui o outro".
"Não contamos a ela o que aconteceu, só falamos que o irmãozinho dela agora está no céu. Mas há um tempo, quando brincava com o primo da mesma idade, o primo perguntou "Onde está o teu irmão João?" e ela disse: "Você não sabe? Eles mataram meu irmão".

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