'Li a cartaodds sporting benficadespedida do filho para a mãe': os relatos dos alunosodds sporting benficaMedicina que cuidaramodds sporting benficapacientes terminaisodds sporting benficacovid-19:odds sporting benfica

Médico e estudante usando tablet na enfermariaodds sporting benficacuidados paliativos do HC

Crédito, Divulgação HCFMUSP

Legenda da foto, Os estudantesodds sporting benficaMedicina da USP trabalharam por três meses na enfermariaodds sporting benficacuidados paliativos do Hospital das Clínicas,odds sporting benficaSão Paulo

A ala, que tinha 20 leitos, foi criadaodds sporting benficaabril do ano passado para receber pessoas com sintomas gravesodds sporting benficacoronavírus somados a outras doenças, como câncer terminal. Ou seja, na enfermaria havia apenas pacientes cuja morte era considerada iminente e irreversível, embora esse destino anunciado não tenha se concretizadoodds sporting benficatodos os casos.

"Convivemos com a morte diariamente. Foi uma experiência muito intensa e impactante. Vivemos momentos que vamos nos lembrar para o resto da vida. Também foi um período muito importante para nossa formação como profissionaisodds sporting benficasaúde", explica Gabrielle.

Gabrielle Cordeiro Trofa

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, A estudante Gabrielle Cordeiro Trofa se juntou com colegas para discutir a inclusão dos cuidados paliativos na grade curricular do cursoodds sporting benficaMedicina da USP

Inicialmente, os estudantes iriam participarodds sporting benficaum projetoodds sporting benficacomunicação com os pacientesodds sporting benficacovid-19 por meioodds sporting benficarobôs. Com um tablet embutido, máquinas caminhavam pelas salasodds sporting benficaleitos e permitiam que médicos e familiares conversassem com os internados — se desse certo, essa comunicação economizaria equipamentosodds sporting benficaproteção individual utilizados pelos profissionais.

Porém, a redeodds sporting benficawi-fi não funcionou bemodds sporting benficatodos os pontos e os robôs ficaramodds sporting benficasegundo plano.

Foi então que o grupoodds sporting benficaestudantes precisou participar mais ativamente da rotina da enfermaria. "Começamos a aprender práticasodds sporting benficacuidados paliativos. Muitosodds sporting benficanós descobriram esses procedimentos ali mesmo, pois esse assunto não é tratado na faculdade", diz Gabrielle.

O que são cuidados paliativos?

"Costumo resumir os cuidados paliativos da seguinte forma: são os cuidados que damos ao sofrimento das pessoas que convivem com doenças graves ou ameaçadoras da vida", explica Douglas Crispim, presidente da Academia Nacionalodds sporting benficaCuidados Paliativos (ANCP) e médico-assistente na enfermaria do HC durante a pandemia.

Na prática, esse ramo da Medicina não busca curar o paciente nem fazer com que ele se recupere da doença, como ocorreodds sporting benficatratamentos médicos tradicionais. A ideia é garantir que a pessoa sofra cada vez menos com os sintomas — com acesso a analgésicos e opiáceos para aliviar a dor, limite a procedimentos invasivos e disponibilizaçãoodds sporting benficaassistência psicológica.

Ou seja,odds sporting benficacasoodds sporting benficamorte iminente, o objetivo é tornar esse processo o menos doloroso possível, tanto para o paciente quanto para seus familiares.

médico paliativista Douglas Crispim

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, O médico paliativista Douglas Crispim também atuou na enfermaria do HC

"Os cuidados paliativos avaliam o ser humano como um indivíduo e não como uma doença ou um conjuntoodds sporting benficaórgãos", diz Ricardo Tavares, professorodds sporting benficaMedicina da USP e responsável pelo Núcleoodds sporting benficaCuidados Paliativos do HC, que existe desde 2010, mas que teve enfermaria própria apenas com o início da pandemia.

"Esse ser humano tem particularidades. O que fazemos é avaliar a melhor formaodds sporting benficatratar esses sintomas e diminuir o sofrimento da pessoa, pois muitas vezes a continuidade do tratamento médico intensifica esse sofrimento, mesmoodds sporting benficacasosodds sporting benficaque o processoodds sporting benficamorte é irreversível."

Não significa que todos os encaminhados para cuidados paliativos vão morrer. Segundo o hospital, cercaodds sporting benfica25% dos 200 pacientes que passaram pela ala entre abril e setembro receberam alta — um índice ligeiramente menor que o da Unidadeodds sporting benficaTerapia Intensiva (UTI).

A enfermaria recebeu principalmente pessoas que acumularam sintomas gravesodds sporting benficacovid-19, como extrema dificuldade para respirar, e problemas relacionados a outras doenças — na maioria das vezes, terminais. Elas foram selecionadasodds sporting benficaoutras áreas do hospital e encaminhadas aos cuidados paliativos depoisodds sporting benficaconversas entre os médicos e as famílias.

Recentemente, um estudo publicado no Journal of Palliative Medicine apontou que 22% das pessoas que morreramodds sporting benficacovid-19 no Reino Unido já enfrentavam outra doença grave — ou seja, é possível que procedimentos médicos tradicionais não oferecessem chanceodds sporting benficarecuperação ou prolongamentoodds sporting benficasua vida.

"Esses dados mostram que boa parte dos pacientes que faleceramodds sporting benficacovid-19 viveram seus últimos momentosodds sporting benficameio a um grande sofrimento desnecessário", opina Crispim.

Últimos encontros

Na enfermaria do HC, uma das tarefas dos estudantes era acompanhar visitas virtuais do paciente com as famílias do ladoodds sporting benficafora. Para evitar novas infecções, as visitas presenciais foram proibidas. Por isso,odds sporting benficamuitos casos, os alunos assistiram aos últimos encontros entre familiares e pacientes que morreriam logo depois.

Vista aérea do Hospital das Clínicas da USP

Crédito, Divulgação HCFMUSP

Legenda da foto, O Hospital das Clínicas da USP tem um núcleoodds sporting benficacuidados paliativos desde 2010

A estudante Gabrielle Cordeiro Trofa diz que esses momentos marcaramodds sporting benficaexperiência. "Um dos casos eraodds sporting benficaum senhor idoso, já inconsciente. Todos os dias, a gente levava o celular pra perto e a esposa dele cantava uma música religiosa para ele. Foi um processo muito bonito, apesar da piora progressiva dele. Não eram momentosodds sporting benficadespedida, masodds sporting benficaamor,odds sporting benficaagradecimento", conta.

O estudante João Vitor Sampaio Rocha, 24, do 6º anoodds sporting benficaMedicina, conta a históriaodds sporting benficauma das pacientes graves que acompanhou:

"Todos os dias, a filha dela mandava áudios e músicas, e a gente colocava no ouvido dela. Até que um dia, a filha disse que gostariaodds sporting benficafazer um vídeoodds sporting benficadespedida. Parece que ela sentiu que era o último dia da mãe, a última oportunidadeodds sporting benficase despedir. Ela falou durante 40 minutos. Mas estavaodds sporting benficapaz com essa despedida, só queria agradecer tudo o que a mãe tinha feito, dizer o quanto a mãe era importante. Foi um momento muito marcante pra mim. É possível fazer do processoodds sporting benficamorte algo menos traumático, com menos sofrimento e até bonito", diz o estudante.

Já Bianca Partezani Megnis, 25, do 5º ano, relata um caso ainda mais triste. "Tentamos fazer uma visita a um paciente, mas ele estava se alimentando quando a família ligou. Depois, não conseguimos contatar os parentes por telefone. Acabou que ele ficou por último naquele dia. Quando finalmente conseguimos completar a ligação com a família, ele já havia morrido. Não acreditamos. Saímos muito abalados da sala", diz.

Sofrimento dos médicos

A comunicação entre equipe médica, pacientes e familiares é um dos pilares dos cuidados paliativos. A ideia é que essa interação seja mais próxima e empática, um pouco diferente da tradicional relação fria entre as partes.

O médico Douglas Crispim conta que, no início da pandemia, muitos parentes reclamaram que ficavam dias sem ter notíciasodds sporting benficaseus familiares internados no HC. "Nós criamos uma metaodds sporting benficacomunicação diária. Todos os dias nós tínhamosodds sporting benficainformar a família sobre o estadoodds sporting benficasaúde do paciente, explicar os procedimentos que estavam sendo feitos e dar notícias ruins da maneira menos dolorosa possível", explica.

João Vitor Sampaio Rocha

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, O estudante João Vitor Sampaio Rocha: "Um dia fui embora do hospital e, quando voltei dois dias depois, metade dos pacientes tinham morrido. Era bem assustador nesse sentido, mas consegui me proteger para que não me afetasse quando eu voltava para casa"

Para ele, essa tradicional "frieza médica" pode ser um indícioodds sporting benficaque os próprios profissionaisodds sporting benficasaúde criam uma barreira para se proteger do sofrimento ao lidar com a morte dos outros. "É difícil presenciar o sofrimento das pessoas. Então,odds sporting benficacerta forma, nós criamos uma barreira com o paciente e com a família como uma formaodds sporting benficaproteção", diz.

Crispim conta que, para ele, trabalharodds sporting benficauma enfermariaodds sporting benficacuidados paliativos foi uma "chuvaodds sporting benficaemoções".

"Eu já tinha dez anosodds sporting benficaexperiência como paliativista, mas atuar com a covid foi a experiência mais desafiadora que já enfrentei. Nunca lidei com uma quantidade tão grandeodds sporting benficaóbitos. Havia uma rotatividade enormeodds sporting benficapacientes, todos os dias. Meus colegas sofreram muito também, choravam, ficavam desanimados. E isso mexeu muito comigo. Mas a gente se apoiava muito, levantava a cabeça e recomeçava o trabalho", relata o médico.

A estudante Aliceodds sporting benficaPaula Baer, 23, do 5º anoodds sporting benficaMedicina, conta que ficou nervosa ao aceitar o trabalho voluntário na enfermaria. "Fiquei com medoodds sporting benficacomo essa experiência diária com a morte poderia me afetar. Mas, com o tempo, a gente percebeu que o trabalho da equipe era muito bem feito, o que passou muita segurança para nós", explica.

Seu colega João Vitor Sampaio Rocha relata que a rotatividade na ala o surpreendeu. "Um dia fui embora do hospital e, quando voltei dois dias depois, metade dos pacientes tinham morrido. Era bem assustador nesse sentido, mas consegui me proteger para que não me afetasse quando eu voltava para casa".

Já Bianca Partezani Megnis concorda que, apesar dos momentos difíceis, a experiência contribuiu paraodds sporting benficaformação. "Fiquei com medo inicialmente. Mas, para mim, passar por cuidados paliativos foi muito construtivo. Você aprende que a medicina também pode ser mais humana, com mais empatia no trato e na comunicação com o paciente e com a família", diz.

Para o médico Ricardo Tavares, coordenador da enfermaria do HC, os profissionaisodds sporting benficasaúde, tanto médicos como enfermeiros, também precisamodds sporting benficaapoio ao trabalhar tão próximos da morte.

Fachada do Hospital das Clínicas da USP

Crédito, Divulgação HCFMUSP

Legenda da foto, Segundo o HC, cercaodds sporting benfica25% dos pacientes internados na enfermariaodds sporting benficacuidados paliativos receberam alta

"A gente sofre também, e é impossível não sofrer. Sempre digo aos alunos que temos que ser muito fortes para enfrentar esses momentos. Precisamos ter um compromisso com nós mesmos, um compromissoodds sporting benficaser feliz eodds sporting benficaser pleno na vida, aproveitar os momentos bons que vivemos. Para cuidar dos outros, nós precisamos estar inteiros", diz.

'Papel do médico'

Com o fim do períodoodds sporting benficavoluntariado, o grupoodds sporting benficaestudantes da USP decidiu divulgar os cuidados paliativos entre colegasodds sporting benficafaculdade. O objetivo, agora, é tentar incluir a disciplina na grade curricular, embora esse seja um processo demorado. Atualmente, os procedimentos paliativos não fazem parte do currículo da graduação na universidade e só são abordadosodds sporting benficaaulas eventuais a depender do professor.

Os alunos criaram um grupoodds sporting benficaestudos para debater a questão entre eles e outros colegas.

"Os profissionaisodds sporting benficasaúde precisam saber quando podem usar os cuidados paliativos, como se comunicar com os pacientes, como dar uma notícia ruim para a família. Saber reconhecer quando o processoodds sporting benficamorte é inevitável e que prolongar o tratamento só vai gerar mais sofrimento. O papel do médico é evitar justamente evitar o sofrimento", diz a estudante Gabrielle Cordeiro Trofa.

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