História apagou o quanto os africanos escravizados enriqueceram o Brasil, diz Laurentino Gomes:sportingbet entrar

  • Vinícius Pereira
  • De São Paulo para a BBC News Brasil
Escravizados urbanos coletando água no Brasil da décadasportingbet entrar1830

Crédito, JOHANN MORITZ RUGENDAS/SLAVERY IMAGES

Legenda da foto, Escravizados urbanos coletando água no Brasil da décadasportingbet entrar1830

sportingbet entrar Cercasportingbet entrar2 milhõessportingbet entrarpessoas foram arrancadassportingbet entrarsuas terras na África, marcadas a ferro quente, embarcadassportingbet entrarnavios, e comercializadas como se fossem produtos no Brasil ao longosportingbet entrar100 anos.

Não à toa, esse movimento deixou profundas cicatrizes na sociedade brasileira até hoje, mas, mesmo com tamanha importância, ainda é insuficientemente discutido.

"A escravidão é o assunto mais importante da história do Brasil, sem ela você não consegue entender nenhum acontecimento histórico", diz Laurentino Gomes, sete vezes ganhador do Prêmio Jabutisportingbet entrarLiteratura.

Prestes a lançar a segunda ediçãosportingbet entraruma trilogia sobre a escravidão no Brasil, Gomes conversou com a BBC News Brasil sobre o tema. Para o autor, que também já escreveu outros três best sellers sobre a história do Brasil, a escravidão não é assunto apenas para livrossportingbet entrarhistória ou museus, mas ainda se demonstra na realidade do paíssportingbet entrarpleno século 21.

"A escravidão está nos indicadores sociais até hoje. Há um abismo entre números referentes ao Brasil branco e o Brasil negro, além do racismo, que é como uma ferida que fica abrindo a toda hora", afirma.

"A contribuição dos africanos é enorme, não só do pontosportingbet entrarvista econômico, mas na formação do caráter, do comportamento, das crenças religiosas, da culinária, da música, da dança, do jeitosportingbet entraras pessoas se relacionarem umas com as outras; eu diria que a raiz disso é africana", conta.

O livro Escravidão - Da corrida do ourosportingbet entrarMinas Gerais até a chegada da cortesportingbet entrarDom João ao Brasil concentra-se entre 1700 e 1800, auge do tráfico negreiro no Atlântico, motivado pela descoberta das minassportingbet entrarouro e diamantessportingbet entrarterritório brasileiro e pela disseminação,sportingbet entraroutras regiões da América, do cultivosportingbet entrarcana-de-açúcar, arroz, tabaco, algodão e outras lavouras e atividadessportingbet entraruso intensivosportingbet entrarmão-de-obra africana escravizada.

"As pessoas mais ricas do Brasil no final do século 18 não eram senhoressportingbet entrarengenho, barões do café, já não eram mais os mineradoressportingbet entrarouro e diamante, mas sim os traficantessportingbet entrarescravos. A compra e vendasportingbet entrarpessoas se tornou o maior negócio do Brasil e do mundo nessa época", afirma.

Laurentino Gomes

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, "A escravidão é o assunto mais importante da história do Brasil", afirma Laurentino Gomes
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De acordo com o autor, para além da influência social marcante, os negros escravizados também auxiliaram o desenvolvimento econômico do país, contribuindo com a tecnologia necessária para a descoberta e exploração das minassportingbet entrarouro e diamantessportingbet entrarterritório brasileiro.

"A própria tecnologiasportingbet entrarmineraçãosportingbet entrarMinas Gerais aparentemente veio da África e não da Europa. Os portugueses sabiam fazer açúcar, mas não sabiam garimpar ouro e diamante. Quem sabiam eram os africanos, que conheciam essas tecnologias muito bem", afirma.

"Isso muda bem a visão da escravização e da própria construção do Brasil. A tecnologia e o conhecimento que permitiram a construção do Brasil esportingbet entrarseus muitos ciclos econômicos eram africanos."

Apesar da importância desse acontecimento histórico para a formação do Brasil atual, a história ainda é pouco contada pelo pontosportingbet entrarvista dessas pessoas escravizadas, pois há um processosportingbet entrarapagamento histórico da contribuição dos africanos ao país.

"Esse projetosportingbet entrarapagamento se reflete nos livrossportingbet entrarhistória, livros didáticos, como se a construção do Brasil fosse exclusivamente branca e europeia e todos os demais agentes fossem autores secundários. Quando você mergulhasportingbet entrarfato na história da escravidão, você vê que, na realidade, essas pessoas escravizadas são protagonistas", disse.

Segundo Gomes, a imagemsportingbet entraruma escravidão mais sútil e benévola ao cativo por aqui, forjando uma identidade brasileirasportingbet entrargente pacífica, ordeira e honesta, é uma construção imposta pelo Estado e não corresponde à realidade da época.

"A característica principal da escravidão era a violência", diz.

Confira a entrevistasportingbet entrarLaurentino Gomes à BBC News Brasil:

sportingbet entrar BBC News Brasil - Você vendeu milhõessportingbet entrarlivros sobre a história do Brasil. Por que se dedicar agora ao recorte da escravidão?

sportingbet entrar Laurentino Gomes - Escrever sobre escravidão é resultadosportingbet entrarum aprendizado sobre o Brasil que fui acumulando ao longo da primeira trilogia. É como se fosse um resultado natural e óbvio desse primeiro trabalho. Nos primeiros livros, eu procurei entender e descrever o Brasilsportingbet entrarrelação à formaçãosportingbet entrarum Estado nacional brasileiro, ou seja, como que o Brasil se organizou do pontosportingbet entrarvista legal, institucional, administrativo, burocrático, desde a chegada da corte ao Riosportingbet entrarJaneiro,sportingbet entrar1808, até a proclamação da República,sportingbet entrar1889. Ali eu consegui ter uma noção bastante precisa sobre as características do Brasil. Mas me dei conta que tinha uma dimensão mais profunda para entender o que chamamossportingbet entraridentidade nacional brasileira, que são as raízes africanas e a escravidão.

Capa do livro Escravidão - Da corrida do ourosportingbet entrarMinas Gerais até a chegada da cortesportingbet entrarDom João ao Brasil

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Livro concentra-se entre 1700 e 1800, auge do tráfico negreiro no Atlântico

A escravidão é o assunto mais importante da história do Brasil: você não consegue entender nenhum acontecimento histórico, desde a chegadasportingbet entrarPedro Álvares Cabral e a imediata escravização dos índios, passando pelo ciclo do açúcar, do ouro, do diamante, do tabaco, do algodão, do arroz, do café, ou seja, a construção das cidades históricas, do Barroco mineiro, a marchasportingbet entrardireção ao oeste amazônico, sem estudar a escravidão.

O Sérgio Buarquesportingbet entrarHolanda defende uma tese muito curiosa,sportingbet entrarque o Brasil não estava preparado para a independência e preferia continuar como Reino Unidosportingbet entrarPortugal e Algarves. Mas, nesse período há um sentimentosportingbet entrarmedo que funciona como um motor do processosportingbet entrarindependência, pois a elite brasileira percebeu que o Brasil poderia mergulharsportingbet entraruma guerra civil republicana, como acontecia na América espanhola.

Nessa hipótese, como o Brasil não tinha forças armadas, os caciques regionais lutariam entre si, e teriam que armar seus escravos. Esses escravos armados, imbuídossportingbet entrarideias libertárias que sopravam da Europa e EUA, poderiam reivindicar a liberdade, exatamente como ocorreu no Haiti.

Ou seja, o Brasil poderia resultarsportingbet entraruma fragmentação nacional esportingbet entrarmeio a uma guerra étnica. Isso fez com que a elite, para preservar seus interesses, se congregasse ao redor do herdeiro da Coroa portuguesa, rompesse o ciclo com Portugal, mas mantivesse a estrutura social vigente.

A independência não acabou com o analfabetismo, com o latifúndio, etc. Cito esse exemplo para mostrar que você não consegue entender o Brasil sem observar a escravidão. A escravidão é um assunto presente no Brasilsportingbet entrarhoje.

sportingbet entrar BBC News Brasil -No primeiro livro você se dedica a oferecer um foco sobre a África. Por que o segundo tem um olhar sobre o Brasil?

sportingbet entrar Gomes - Existe uma mudança importantesportingbet entrarfoco geográfico entre os dois livros. O primeiro começa pela África pela razão óbvia que, para estudar escravidão no Brasil, você precisa olhar para a África. Que continente era esse com milharessportingbet entrarlínguas, etnias e povos? Como era a própria escravidão na África antes da chegada dos portugueses? As rotas do tráfico islâmico cruzando o deserto do Saara, feiras organizadas, ou seja, qual é a origem desses milhõessportingbet entrarseres humanos que foram arrancadossportingbet entrarsuas raízes, marcados a ferro quente, embarcadossportingbet entrarnavios negreiros e leiloadossportingbet entrarpraça pública? Então por isso o primeiro volume tem como cenário a África.

Pessoas escravizadassportingbet entrarfazenda no passado

Crédito, ARQUIVO NACIONAL / DOMÍNIO PÚBLICO

Legenda da foto, "No Brasil do século 18 ocorrem coisas muito importantes. A primeira é que a escravidão se torna algo banal e corriqueiro", diz escritor

O segundo, que tem como recorte cronológico o século 18 só poderia ter como cenário o Brasil. É o auge do tráfico negreiro no Atlântico, no períodosportingbet entrarapenas 100 anos, entram no Brasil dois milhõessportingbet entrarpessoas escravizadas, que é um terço do total que veio ao continente americano, que compreende seis milhõessportingbet entrarpessoas.

No Brasil do século 18 ocorrem coisas muito importantes. A primeira é que a escravidão se torna algo banal e corriqueiro. Gostosportingbet entrarum exemplo que chegou a tal a ponto quesportingbet entrarum museusportingbet entrarBelo Horizonte tem balançasportingbet entrarpesar queijo, farinha, boi e umasportingbet entrarpesar gente antessportingbet entrarleilões públicos -o que mostra o quanto a escravidão se tornou algo corriqueiro no Brasil. Pela descoberta do ouro e diamantes veio uma onda, um tsunami negro da África para alimentar esse comércio.

Nesse período, a população brasileira se multiplicou por dez. Há uma corridasportingbet entraraventureiros, gentesportingbet entrartodos os locais do mundo, e o Brasil dobrasportingbet entrartamanho, já que até meados do século 17 o território oficial da América portuguesa estava delimitado pelo Tratadosportingbet entrarTordesilhas, mas o Tratadosportingbet entrarMadri,sportingbet entrar1750, reconhece o tamanho efetivo do Brasil e o país dobrasportingbet entrartamanho.

E, por isso, é o foco do segundo e do terceiro livro, que pretendo lançar no ano que vem.

sportingbet entrar BBC News Brasil - Como era,sportingbet entrarforma geral, a vida dos africanos escravizados no Brasil?

sportingbet entrar Gomes - Com a corrida do ouro e do diamante e a ocupação do interior do Brasil, houve uma inflação no preço dos africanos escravizados. Então, da mesma forma que houve uma corrida pelas pedras preciosas, houve uma corrida por gente escravizada na África, com os preços disparando. Oitenta por centosportingbet entrartodas as viagenssportingbet entrarnavios negreiros foram feitas a partir do começo do século 18 até o século 19.

A característica principal da escravidão era a violência. Essas pessoas eram arrancadassportingbet entrarsuas raízes africanas, compradas e vendidassportingbet entrarentrepostos, castelos e fortificações que ficavam no litoral da África, marcadas a ferro quente, embarcadassportingbet entrarum porãosportingbet entrarum navio negreiro, leiloadassportingbet entrarpraça públicasportingbet entrarSalvador, Recife e outros portos, e aí seguiamsportingbet entrarcomboios para as minassportingbet entrarouro, fazendas e para as cidades.

Pessoas escravizadas

Crédito, ARQUIVO NACIONAL / DOMÍNIO PÚBLICO

Legenda da foto, "A escravidão no século XVII se consolidou como o maior negócio do mundo, envolvendo milharessportingbet entrarpessoas", afirma Gomes

Ou seja, o principal mecanismosportingbet entrarcontrole era a violência. O escravo que fugisse era marcado com ferro quente, com a letra F no peito ou sobre o ombro, poderia ter a orelha cortada. Foi discutido na Câmara,sportingbet entrarMariana (MG), a possibilidadesportingbet entrarcortar o tendãosportingbet entrarAquiles para quem fugisse maissportingbet entraruma vez.

Muita gente morreu. O trabalho era horroroso. Na mineração nos leitos dos rios, os escravos passavam doze, 14 horas mergulhadossportingbet entraráguas geladas, muitos morriam. Depois que acabou esse tiposportingbet entrargarimpo, eles tinham que se enfiarsportingbet entrarburacos na terra para achar os veiossportingbet entrarouro subterrâneo, e como era um espaço muito apertado, muitas crianças eram usadas neste trabalho devido à baixa estatura.

Neste trabalho, muita gente morria por desmoronamento, excessosportingbet entrarpeso, doenças pulmonares dos resíduos, poeira e umidade. O trabalho era muito difícil, massportingbet entrarMinas Gerais também surge a chamada escravidão urbana, ou seja,sportingbet entrarserviço, comércio,sportingbet entrarfornecimentosportingbet entraralimentos, que mudou a paisagem escravista, dando mais mobilidade aos escravos.

(Isso) deu um papelsportingbet entrardestaque para as mulheres, favoreceu o desenvolvimento das irmandades religiosas, deu mais chancessportingbet entraralforria, pois o escravosportingbet entrarambiente urbano poderia fazer trabalhos extras e talvez comprar a própria liberdade, o que vai mudando o escravismo brasileiro, inclusive alguns participaram da construção do barroco mineiro, como escultores, pintores, etc.

sportingbet entrar BBC News Brasil -Para além desse contexto social, a escravidão também era uma política econômica. Como a economia brasileira se organizavasportingbet entrartorno da exploração?

sportingbet entrar Gomes - A escravidão no século 17 se consolidou como o maior negócio do mundo, envolvendo milharessportingbet entrarpessoas para além das pessoas escravizadas, como compradores e vendedores dos dois lados do Atlântico, a tripulação dos navios, fornecedoressportingbet entrarcrédito, armadores, fabricantessportingbet entrarmercadorias,sportingbet entrararmas, etc, na Europa, na Índia, na América, na própria África.

Isso vira um negócio equivalente hoje à indústria do automóvel ou do petróleo, ou seja, uma coisa gigantesca. Isso valia também para o Brasil. As grandes riquezas, as pessoas mais ricas do Brasil no final do século 18 não eram senhoressportingbet entrarengenho, barões do café, já não eram mais os mineradoressportingbet entrarouro e diamante, mas sim eram os traficantessportingbet entrarescravos. A compra e vendasportingbet entrarpessoas se tornou o maior negócio do Brasil e do mundo nessa época.

A escravidão se tornou um fato natural da vida, quase que inquestionável nessa época. O abolicionismo só surgiria na Inglaterra e nos EUA no final do século 18. Até então, todo mundo aceitava a escravidão, inclusive negros que, depoissportingbet entraralcançar a alforria, compravam escravos, como o caso mais famoso, a Xica da Silva, que nasceu escrava e se casou com o contratadorsportingbet entrardiamantes João Fernandes, conquistando a alforria, e se tornou uma grande dama da sociedade da atual Diamantina. No final da vida, ela era donasportingbet entrarum enorme plantelsportingbet entrarescravos.

sportingbet entrar BBC News Brasil -A religião também aparece como forte fatorsportingbet entrarcontrole sobre os cativos. Quão importante foi a participação da Igreja Católica no processosportingbet entrarescravidão dos africanossportingbet entrarsolo brasileiro?

sportingbet entrar Gomes - [O Brasil] era uma colônia carolasportingbet entrarsacristia,sportingbet entrarque toda a vida social era regida por dias santos, feriados, procissões, missas, vias sacras, e é interessante pois há uma grande contradição. Você tem uma igreja que se compromete a catequizar os negros africanos com a mensagem do evangelho da misericórdia, do amor, do acolhimento, mas essa mesma mensagem é deturpada e usada para justificar a escravidão.

No primeiro volume, eu mostro como as bulas papais, os sermões dos padres jesuítas, tratados filosóficos a partir do século 14 serviram como alicerce para essa ideologia escravista, ao dizer que os africanos eram pessoas inferiores, eram selvagens, praticantessportingbet entrarreligiões demoníacas e, portanto, a escravidão era boa para eles.

Há um sermão famoso que diz que os escravos deveriam agradecer Nossa Senhora do Rosário pela oportunidadesportingbet entrarvir ao Brasilsportingbet entrarum navio negreiro, já que isso era a oportunidadesportingbet entrarse incorporar a uma suposta sociedade mais avançada, que era católica e europeia.

Escravos trabalhamsportingbet entraruma plantaçãosportingbet entrarcafé no Brasil

Crédito, THE NEW YORK PUBLIC LIBRARY

Legenda da foto, Escravos trabalhamsportingbet entraruma plantaçãosportingbet entrarcafé no Brasil

Tem uma historiador americano chamado Donald Ramos que mostra que a igreja foi um importante elementosportingbet entrarcontrole social dentro do sistema escravista, pois ela dava oportunidade ao escravosportingbet entrarse incorporar dentro dessa atividade social participandosportingbet entrarirmandades religiosas das igrejas, participandosportingbet entrarprocissão, batizando, casando seus filhos, participandosportingbet entrarcerimônias fúnebres, etc.

Isso deu ao escravo um status social diferenciado dentro da sociedade portuguesa nos trópicos, embora ele continuasse cativo, então isso era um papel como se fosse uma válvulasportingbet entrarescape contra a violência do cativeiro, do pelourinho e da senzala.

sportingbet entrar BBC News Brasil - Nas cidades históricassportingbet entrarMG, principal território onde a mãosportingbet entrarobra escrava foi utilizada, pouco se fala sobre a escravidão. A história ainda é contada pelo pontosportingbet entrarvista da Igreja e elite financeira. Acha que esse recorte pode mudar no país?

sportingbet entrar Gomes - Eu acho que sim. Eu fiz um capítulo chamadosportingbet entraro herói invisível, sobre um personagem curiosíssimo, ninguém sabe o nome, quem era, onde nasceu ou onde morreu. O único registro sobre ele o descreve como um mulato vindo do Paranaguá (PR), onde havia uma mineração mais rudimentar, e teria achado ourosportingbet entrarMinas Gerais.

Ele salvou a glóriasportingbet entrarPortugal, que estava seriamente abalada no século 18, depois da guerra contra os holandeses e da União Ibérica. Isso muda bastante a narrativa, pois pela historiografia ufanista brasileira esse protagonismo caberia aos bandeirantes, como Fernão Dias Paes Leme, Borba Gato, que entraram pelo sertão, alargaram fronteiras, descobriram ouro, diamantes, etc, portanto uma história branca e do colonizador.

A própria tecnologiasportingbet entrarmineraçãosportingbet entrarMinas Gerais aparentemente veio da África e não da Europa. Os portugueses sabiam fazer açúcar, mas não sabiam garimpar ouro e diamante. Quem sabiam era os africanos, que conheciam essas tecnologias muito bem na costa do Ouro ou costa da Mina, nos atuais Togo, Costa do Marfim e Gana. Essa tecnologiasportingbet entrarachar ouro veio da África.

O tráfico negreiro não era apenas o comérciosportingbet entrargente na formasportingbet entrarcommodity, gente cujo trabalho dependia do vigor físico - havia especializações. Então os africanos que vinham dos atuais Guiné-Bissau e Costa do Marfim sabiam muito bem a pecuária. Os africanos da Nigéria entendiamsportingbet entrarmetalurgia, ossportingbet entrarGana conheciam a mineraçãosportingbet entrarouro e assim por diante.

Os escravos que foram para o Maranhão e para a Carolina do Norte, nos EUA, conheciam cultivosportingbet entrararroz na África e ainda hoje essas regiões produzem arroz.

Pessoas escravizadas reunidassportingbet entrarpropriedade rural

Crédito, LOFGREN/GOUVEA/FERREZ

Legenda da foto, "Os traficantes e seus fornecedores não eram bobos, sabiam da especialização e o preço variavasportingbet entraracordo com o seu conhecimento tecnológico na própria África", detalha Gomes

Isso muda bem a visão da escravização e da própria construção do Brasil. A tecnologia e o conhecimento que permitiu a construção do Brasil esportingbet entrarseus muitos ciclos econômicos era africana.

O preço desses escravos era diferenciado na Áfricasportingbet entraracordo comsportingbet entrarespecialização. Os traficantes e seus fornecedores não eram bobos, sabiam da especialização e o preço variavasportingbet entraracordo com o seu conhecimento tecnológico na própria África.

sportingbet entrar BBC News Brasil - A história e cultura africana sempre foram deixadassportingbet entrarsegundo plano, quando não apagadas intencionalmente. Quais as principais contribuições dos escravos para o Brasil atual?

sportingbet entrar Gomes - São muitas. Os grandes ciclos econômicos dependeram do trabalho braçal dos africanos, mas também do seu conhecimento tecnológico. Os grandes mestres construtores do Barroco mineiro, da Bahia, Pernambuco, eram negros. Até recentemente, se julgava que o Barroco era uma forma artística e arquitetônica europeia. Sim, claro, a influência é europeia, mas os elementos que estão lá são africanos.

A contribuição dos africanos é enorme não só do pontosportingbet entrarvista econômico, mas na formação do caráter, do comportamento, das crenças religiosas, da culinária, da música, da dança, do jeitosportingbet entraras pessoas se relacionarem umas com as outras, eu diria que a raiz disso é africana.

A escravidão não é um assuntosportingbet entrarlivrosportingbet entrarhistória ou museu, é uma realidade concreta no século 21. Você vê a escravidão na paisagem brasileira, você vai ao Riosportingbet entrarJaneiro e vê quem mora na zona sul e quem mora nos morros e periferias abandonadas pelo Estado, é uma população majoritariamente descendentesportingbet entrarafricanos.

A escravidão está nos indicadores sociais até hoje. Há um abismo entre números referentes ao Brasil branco e o Brasil negro, além do racismo, que é como uma ferida que fica abrindo a toda hora, como vemos todos os dias notíciassportingbet entrarracismo explícito nas redes sociais, no noticiário, etc.

Então, o legado da escravidão está nesse Brasil ruim que citei, mas está no Brasil bonito, plural, sorridente, generoso, da música, das festas, mas essa África infelizmente a gente despreza.

Uma África que é bonita, diferencia o Brasil do mundo, já que poucos países são tão plurais, heterogêneos e diversos como o Brasil, mas não valorizamos essa África quando temos que dar moradia, renda, estudo. É um dilema que o Brasil vivesportingbet entrarrelação ao seu passado escravagista.

sportingbet entrar BBC News Brasil - E por que não discutimos essas heranças?

sportingbet entrar Gomes - Eu acho que existe um projeto nacionalsportingbet entrarapagamento da memória. Por que não há um grande museu da escravidão? Não tem um museu como o que [o ex-presidente dos EUA], Barack Obama, inaugurousportingbet entrarWashington, nos EUA, por exemplo.

Esse projetosportingbet entrarapagamento se reflete nos livrossportingbet entrarhistória, livros didáticos, como se a construção do Brasil fosse exclusivamente branca e europeia, e todos os demais agentes fossem autores secundários. Quando você mergulhasportingbet entrarfato na história da escravidão, você vê que na realidade essas pessoas escravizadas são protagonistas.

Mas acho que isso está mudando. A história é uma ferramentasportingbet entrarconstruçãosportingbet entraridentidade, olhando o passado sabemos quem somos hoje. Essa identidade, no passado, foi imposta pelo Estado brasileirosportingbet entrarcima para baixo,sportingbet entrarperíodossportingbet entrarditadura, como a do Estado Novo, como pelos generais, e é uma identidade que vende um Brasilsportingbet entrarfazsportingbet entrarconta, que teve uma escravidão patriarcal, benévola, que resultousportingbet entraruma democracia racial e um Brasil pacifico, ordeiro, honesto.

Agora na democracia, que é uma coisa quase que inédita na história brasileira, estamos rediscutindo esses traços da identidade brasileira, entendendo que a imensa maioria deles era puramente mitológica.

Estamos fazendo uma reflexão muito profunda. A curto prazo é assustador o quanto somos diferentes do que imaginamos que éramos, mas a longo prazo é muito bom que isso ocorra, pois teremos uma consciência mais clara a respeito do que é o Brasil e quais as decisões teremos que tomar ao colocar o voto na urna e termos um país melhor que hoje.

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