‘Fui contratada grávida’: os casos que desafiam ‘tabu’fla betempregar gestantes e mães:fla bet

  • Paula Adamo Idoeta
  • Da BBC News Brasilfla betSão Paulo
Mulher grávida trabalhando diante do computador

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Grávida trabalhando diante do computador; 'é um tabu gigante' no mercadofla bettrabalho, escreveu uma mulher que foi contratada durante a gestação

fla bet Quando compartilhou a notíciafla betque havia sido contratada por uma nova empresa mesmo estando grávidafla betmaisfla bet20 semanas, a contadora gaúcha Betina Brina Teixeira recebeu olhares incrédulos até mesmofla betmulheres.

"Me perguntavam: 'te contrataram mesmo? Não é um emprego temporário?'", conta. "Me chamou a atenção que isso não foi normalizado. Ainda causa um choque."

Betina, que iniciou há dois mesesfla betnova posição na contabilidadefla betuma fintech (empresa provedorafla betprodutos financeiros digitais) e concilia o trabalho com as semanas finais da gestação, contoufla betconquista profissionalfla betum post na rede social corporativa Linkedin:

"CONTRATADA GRÁVIDA??? SIMMMM! Ser mulher no mercadofla bettrabalho é desafiador, infelizmente ainda existe uma 'provação' extra que precisamos fazer, pelo simples fatofla betser. Ser mulher e gestante, aí é um tabu gigante. A maternidade e o mercadofla bettrabalho ainda estão construindo um relacionamento, aos poucos as pessoas vão mudando a mentalidade e provavelmente esse tipofla betsituação 'constrangedora' irá virar história", escreveu, comemorando a "recepção acolhedora" que recebeufla betseus novos empregadores e colegasfla bettrabalho.

A postagem teve maisfla bet25 mil curtidas e 740 comentários.

"E nesses comentários muitas mulheres contaram o inverso (da minha história), então a gente nota que existe um preconceito muito grande quando a gente se torna mãe."

Caroline dos Santos Gomes,fla betSão Paulo, foi chamada para um novo emprego na áreafla betgovernançafla betTI na mesma semanafla betque descobriufla betgestação, ainda no início. "Quando avisei a empresa e a resposta foi 'não tem problema nenhum', eu me senti muito valorizada, ainda mais se tratandofla betgestores homens que eu ainda não conhecia", conta ela, agora emfla bet15ª semanafla betgravidez e nos primeiros mesesfla betseu novo trabalho.

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"Vi que fui avaliada pelo meu potencial na empresa, e tem sido assim até hoje", prossegue. "Quando tornei públicas a contratação e a gravidez, vi que não era um caso isolado na empresa e torço para que outras empresas ampliemfla betvisão,fla betque o que elas precisam é da profissionalfla betsi."

De um lado,fla betredes como Linkedin e Instagram, estão mais comuns relatosfla betmulheres que, como Betina e Caroline, celebram contrataçõesfla betplena gravidez - e justamentefla betum períodofla betdesemprego alto.

De outro, porém, dados e estudos apontam que as barreiras e desigualdades para mulheres grávidas e mães persistentem - e são bem maiores do que as enfrentadas pelos homens.

As Estatísticasfla betGênero do IBGE (Instituto Brasileirofla betGeografia e Estatística), divulgadasfla betmarço deste ano, apontaram que o nívelfla betocupação das mulheresfla bet25 a 49 anos que vivem com criançasfla betaté três anos erafla bet54,6%, contra 89,2% dos homens da mesma faixa etária e nas mesmas circunstâncias.

O nívelfla betocupação era ainda mais baixo se fossem consideradas apenas as mulheres negras ou pardas.

O salário das mulheres também é menor, na média, quando elas se tornam mães. A remuneração das que têm filhos é 18,1% menor do que as sem filhos, segundo dados referentes a mulheresfla bet25 a 35 anos obtidos da partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostrafla betDomicílios) Contínua, do IBGE, do primeiro trimestrefla bet2021, levantados pela pesquisadora Mariana Leite, da consultoria iDados, a pedido da BBC News Brasil.

As que têm três filhos ou mais chegam ganhar 42% a menos do que as sem filhos.

Postagemfla betBetina Brina Teixeira contando sobrefla betcontratação durante a gravidez

Crédito, Reprodução/Linkedin

E, no período da gravidez, "enquanto a possibilidadefla bettrabalhar dos futuros pais não se altera, a das mães cai fortemente conforme o nascimentofla betum bebê se aproxima", apontaram os pesquisadores do Ipea (Institutofla betPesquisa Econômica Aplicada) Marcos Hecksher, Ana Luiza Barbosa e Joana Costa em uma nota técnica publicadafla betabrilfla bet2020.

"O percentual que nem estuda nem trabalha já é mais alto entre as futuras mães do que entre os futuros pais antes mesmo dos trimestresfla betgravidez, mas a diferença se acentua muito durante a espera e após o nascimento dos(as) filhos(as)."

'Pode ser que você passe mal'

"Quando vejo postagensfla betmulheres sendo contratadas grávidas, fico feliz por elas - porque muitas empresas não gostam quando a gente é mãe, imagina então grávida", diz a química Michelle Silva,fla betSão Paulo, ainda traumatizada pela experiência própria, ocorrida poucos meses antes do início da pandemia:

"Havia sido contratada para o meu emprego dos meus sonhos. Passei na entrevista online para uma bolsafla betpós-doutorado e, quando pediram meus documentos, falei que estava grávida."

Mas, ao contar da gestação, Michelle tevefla betcontratação revogada.

"Eu só chorava. Entreifla betdepressão. Daí a vida seguiu e fui encontrando outros caminhos. Minha bebê tem 1 ano e 4 meses. Ainda sonhofla bettrabalhar lá - gostariafla betacreditar que o que aconteceu comigo não foi por uma política da empresafla betsi, e sim do conjuntofla betpessoas que estavam lá. E olha que uma delas já havia passado por uma gestação. Eram todos doutores, pessoas muito estudadas."

Elisa Diolinda, do Riofla betJaneiro, viveu experiência semelhante ao trocarfla betemprego recentemente. Depoisfla betmuitos anos tentando engravidar, a gestação ocorreu simultaneamente ao fimfla betum longo processo seletivo para trabalharfla betuma grande empresa brasileira.

Mulher com bebê trabalhando no computador

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Salário médio da mulher decresce, na média, à medida que ela tem mais filhos, sinalizando uma estagnação profissional

"Quando o RH contou (da gravidez) ao meu gestor, a contratação foi encerrada", conta ela, que é formadafla betlogística empresarial e está agora na trigésima semanafla betgestação.

"Um deles (gestores) foi bem claro: 'você vai ter que se deslocar e com a barriga não vai conseguir dirigir. É complicado, pode ser que você passe mal'. Eu disse que estava bem disposta, mas quefla betfato não sabia se mais para frente estaria igual. Poderia,fla betqualquer forma, fazer o trabalho remotamente, ainda mais agora na pandemia. Mas eles já previam coisas negativas que iam acontecer comigo. É um pré-julgamento machista", queixa-se.

A volta (ou não) após a licença-maternidade

E, como atestam as diferenças salariais entre mães e não mães, as desigualdades prosseguem quando a mulher volta da licença-maternidade.

Em 2016, a economista e professora da FGV-Rio Cecilia Machado e colegas se puseram a analisar o que acontecia com as mulheres no mercadofla bettrabalho formal (ou seja,fla betcarteira assinada) quandofla betlicença-maternidade (de 4 ou 6 meses) chegava ao fim.

Eles descobriram que entre 40% a 50% delas saíam do mercado formal e dificilmente retornavam depois.

Pode até ser que parte dessas mulheres tenha conseguido um trabalho informal que lhe fosse mais benéfico ou flexível. Mas,fla betqualquer modo, o fenômeno gera perdas para essas mulheres e para a economiafla betgeral por dois motivos, explica Machado:

"O primeiro é que se reforça uma desigualdade no mercadofla bettrabalho - já sabemos que a produtividade é maiorfla betum ambiente mais diverso", diz ela.

"O segundo é que quem está no mercadofla bettrabalho formal já tem um nívelfla beteducação mais alto. O fatofla betela não voltar ao mercado (após a licença-maternidade) significa que não haverá um retorno do que foi investido nela."

Na prática, tanto a empresa perde o que investiu no treinamento e no conhecimento daquela profissional específica, quanto ela também vai ter alguma perda no processo, inclusive porque deixaráfla better laços com a economia formal.

Mãe com crianças

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Estudo da FGV identificou que entre 40% e 50% das mulheres não voltam ao mercadofla bettrabalho formal após o fimfla betsua licença-maternidade

Embora esse problema não seja exclusivo do Brasil, Cecilia Machado acredita que, por aqui, o debate costuma ficar restrito à duração da licença-maternidade,fla betvezfla betfocarfla betoutros aspectos que podem ter tanto (ou até mais) impacto na manutenção - ou na saída - da mulher do mercado profissional.

"Aqui a gente só falafla betextensão dessa licença-maternidade, mas não falafla betpolíticasfla betcreche,fla betigualdade (no mercadofla bettrabalho) oufla betuma licença-parental que não seja só para a mãe, efla betincentivos para que o pai também tire essa licença", diz a economista à BBC News Brasil.

E,fla betparte, diz ela, essas questões transcendem as políticas públicas e envolvem normas culturais que ainda relegam à mulher a maior parte do cuidado com a família.

As estatísticas reforçam isso. Segundo o IBGE, as mulheres dedicam quase o dobro do tempo que os homens aos cuidados domésticos oufla betpessoas: 21,4 horas semanais para elas, contra 11 horas semanais para eles.

De modo geral, as mulheres estão (junto a negros e jovens) entre os grupos mais vulneráveis ao desemprego no Brasil, sobretudo no períodofla betpandemia, segundo dados do Ipea.

Em estudo recém-publicado, os pesquisadores Hecksher, Costa e Barbosa observaram que, nos primeiros meses da crise do coronavírus, no ano passado, menosfla bet40% das mulheres estavam ocupadas no país.

"E sem dúvida grávidas e mães estão ainda mais vulneráveis", diz Joana Costa à BBC News Brasil. "Esse diferencial já existia antes da pandemia, que apenas o agravou, porque dificultou o acesso das mulheres às redesfla betapoio (para dividir os cuidados com os filhos). Agora, com a retomada da economia, a volta às aulas presenciais, o aumento da vacinação e a volta dessa redefla betapoio, a expectativa éfla betque as mulheres consigam diminuirfla betsobrecarga e se inserir no mercado" - mas no máximo estacionando nos desiguais níveis pré-pandemia, agrega Costa.

O reflexofla bettudo isso é sentido nas perspectivasfla bettrabalho.

"A gente ouve falar maisfla betdiversidade, mas eu ainda não vejo (na prática). A maioria das empresas tem as portas fechadas para a maternidade", opina Jozi Lambert, que fezfla betcarreira na áreafla betRecursos Humanosfla betempresas mas hoje trabalha por conta própria, com consultoria e palestras, na regiãofla betCambuí, sulfla betMinas Gerais.

"Comecei a empreender não porque achasse lindo ou fácil, mas porque precisei", conta ela, depoisfla better sido demitida durantefla betterceira gravidez (ela é mãefla betquatro crianças).

"Nunca fuifla betfaltar ao trabalho porque sempre tive uma boa redefla betapoio, mas eu passei muito mal naquela gestação. Perdi 11 quilos, tinha muito enjoo."

Ela chegou a ficar temporariamente afastada com atestado médico, mas acabou sendo demitida por justa causa, por não comparecer ao trabalho.

Jozi Lambert

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, 'Se essa mulher for amparada (na maternidade), ela volta muito mais forte ao trabalho. Uma mãe é alguém que sabe trabalhar sob pressão', defende Jozi Lambert, que foi demitida durantefla betterceira gravidez

"Foi uma das piores coisas da minha vida, mas também uma das melhores, porque sei como não quero ser (no casofla betse tornar chefefla betmulheres grávidas)", diz ela.

Embora tenha encontrado prazer, flexibilidade e propósito no seu trabalho atual, Jozi continua procurando emprego porque sente falta da estabilidade proporcionada por um emprego fixo.

"Infelizmente prevalece nas empresas, principalmente asfla betpequeno porte, a mentalidadefla betque a 'mulher vai se ausentar' (por causa da gestação e do nascimento do bebê). Mas se essa mulher for amparada, ela volta muito mais forte ao trabalho. Quando as mulheres são acolhidas, elas usamfla betsua potência para performar. Uma mãe é alguém que sabe trabalhar sob pressão. Estou aqui falando com você e cuidando das minhas quatro crianças", defende.

Betina, a grávida cuja história abre essa reportagem, concorda. Ela, que já é mãefla betum meninofla betquase dois anos, acha que voltou da primeira gestação com mais resiliência e capacidadefla bet"gestão do caos".

Agora, na segunda gravidez, Betina diz que a segurança que recebeufla betsua nova empresa lhe deu tranquilidade para "acelerar o trabalho e deixar tudo organizado para a minha ausência na licença".

"Acho que as empresas têmfla betpensar (a contratação) como um investimento a longo prazo no perfil daquela profissional - ela vai precisar se ausentar, mas vai valer a pena. Aqui, eu mergulheifla betcabeça para criar templates e automatizar os processos. Mas consegui fazer isso porque a empresa encarou isso comigo - e é preciso respeitar o limitefla betcada pessoa", diz.

"A gente (mulheres) está numa luta. Se pararmos para pensar, não faz nem cem anos que temos direito a voto no Brasil. Que legal que agora podemos discutir isso, empregos na gravidez. Quanto mais a gente falar, menos tabu vai ser."

Mas ela também reflete: "Ninguém pergunta ao meu marido (em entrevistasfla betemprego) se ele vai ser pai. É como se fosse um problema só da mulher."

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