Brasileiros superendividados: 'Vendi a lavadora para pagar aluguel, agora devo parcelas da máquina':casa apostas

Homem preocupado com dívidas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Brasileiros estão atrasando contas básicas, como aluguel, luz e água

A única renda da família, que tem gastos extraordinários frequentes com a saúde da caçula, é uma aposentadoriacasa apostasum salário mínimo (R$ 1.212 atualmente) que o maridocasa apostasJaqueline recebe por também ter uma deficiência.

Parte fica para o banco assim que cai na conta, para pagar parcelascasa apostasempréstimos passados, que têm a pensão como garantia. Sobram pouco maiscasa apostasR$ 700 para sustentar a família no mês.

Jaqueline tem faturascasa apostasvários cartõescasa apostascréditocasa apostasatraso, além das contas básicascasa apostascasa, somando dívidas que já passamcasa apostasR$ 20 mil. "Os cartões acabam virando um meiocasa apostasa gente pagar as contas", diz.

"A gente precisa às vezes comprar um remédio, compra no cartão, aí chega a fatura, nem sempre a gente consegue pagar o mínimo, e vira uma bolacasa apostasneve. A gente vai empurrando, pagamos a mais antigas e deixamos as mais novas para depois. Mas nunca conseguimos sanar as dívidas por completo."

Jaqueline Alves

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, 'Os gastos com água e luz viraram uma bolacasa apostasneve', diz Jaqueline Alves

Desde o nascimento da filha, o casal depende da ajudacasa apostasconhecidos, amigos e familiares todo mês.

"Mas, agora, com essa crise que está aí, não estamos conseguindo mais arrecadar os valores para manter as nossas contascasa apostasdia. Até a solidariedade chega um ponto que não chega a tempo. Porque não é que está difícil só para a gente, está difícil para quem ajuda também", afirma Jaqueline.

O caso dela é extremo, mas o avanço do endividamento e da inadimplência das famílias brasileiras é uma realidade do país como um todo.

Uma pessoa é considerada apenas endividada quando tem um compromisso financeiro, mas pagacasa apostasdia. Ela se torna inadimplente quando não paga a dívida no prazo.

Tanto o percentualcasa apostasfamílias endividadas quanto ocasa apostasinadimplentes vêm batendo recordes desde o ano passado e estãocasa apostasseu maior patamarcasa apostas12 anos.

E a tendência é que a inadimplência suba ainda maiscasa apostas2022 por causa do aumento dos juros e do fimcasa apostasmedidas emergenciais criadas na pandemia para ajudar os endividados.

A guerra na Ucrânia deve agravar esse cenário, ao provocar aumentocasa apostasinflação, o que reduz a renda familiar disponível para honrar compromissos financeiros.

Ao fimcasa apostasfevereiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, informou que o governo estuda liberar recursos do Fundocasa apostasGarantia do Tempocasa apostasServiço (FGTS) para ajudar as famílias endividadas, mas não deu uma data.

Endividamento recorde

O nívelcasa apostasendividamento médio das famílias brasileiras ao longo 2021 chegou a 70,9%, o maior valor até então, segundo a Pesquisacasa apostasEndividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comérciocasa apostasBens, Serviços e Turismo (CNC),

O patamar foicasa apostas76,3%casa apostasdezembro, um recorde histórico. Em fevereiro desse ano, o recorde foi novamente quebrado: 76,6%.

Famílias endividadas. Média anual,casa apostas%.  Em média 70,9% das famílias brasileiras estavam endividadascasa apostas2021, maior nível da série histórica.
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"O endividamento foi acelerando ao longo do ano passado", diz Izis Ferreira, economista da CNC. "Nunca tínhamos tido na série histórica — que começacasa apostas2010 — um anocasa apostasque o endividamento cresceu tão rápido."

Segundo ela, as famílias recorreram ao crédito por motivos diferentes conforme a renda.

"Para ascasa apostasmenor renda,casa apostasaté dez salários mínimos mensais, o avanço muito rápido da inflação deteriorou o orçamento dessas famílias", observa Izis.

Ela destaca que, na altacasa apostas10% da inflaçãocasa apostas2021, pesaram muito itens que têm forte impacto na renda das famílias, como gasolina (com altacasa apostaspreçocasa apostas47%), energia elétrica (21%), alimentos (8%) e medicamentos (6%).

Enquanto isso, a renda domiciliar dos brasileiros caiu 10,7% no quarto trimestrecasa apostas2021 na comparação anual, o menor patamar da série histórica, iniciadacasa apostas2012.

"Isso fez com que essas famílias precisassem usar mais o cartãocasa apostascrédito, cheque especial e recorrer aos carnêscasa apostasloja para manterem seu nívelcasa apostasconsumo", explica a especialista.

Já para as famílias mais ricas, com renda mensal acimacasa apostasdez salários mínimos, o primeiro fator do aumento do endividamento foram os juros muito baixos no iníciocasa apostas2021.

A Selic (taxa básicacasa apostasjuros da economia brasileira), que está agoracasa apostas10,75% ao ano e com perspectivacasa apostassuperar 12% nos próximos meses, começou o ano passadocasa apostas2%, o menor nível da história.

"Essas famílias aproveitaram para comprar imóveis, carros, num contextocasa apostasjuros ainda favorável", afirma a economista.

Um segundo fator foi o arrefecimento da pandemia com o avanço da vacinação ao longocasa apostas2021, que fez essas famílias voltarem a consumir serviços, como viagens, o que contribuiu para mais endividamento.

Inadimplência e juroscasa apostasalta

A economista da CNC observa que, ao longocasa apostas2021, apesar do avanço do endividamento, a inadimplência se manteve baixa na maior parte do ano, e a média anual ficoucasa apostas25,2%.

Mas a taxa começou a crescer a partircasa apostasoutubro. Naquele mês, 25,6% das famílias tinham contascasa apostasatraso. Eram 27%casa apostasfevereiro deste ano, maior patamar da série histórica da CNC, que começoucasa apostas2010.

Entre famílias com rendacasa apostasaté dez salários mínimos, o percentual já chegava a 30,3% no dado mais recente disponível.

Famílias com contascasa apostasatraso. .  Parcelacasa apostasfamílias com contascasa apostasatraso chegou a 27%casa apostasfevereirocasa apostas2022, maior nívelcasa apostas12 anos.
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Iziz Ferreira avalia que,casa apostas2022, o endividamento deve se manter alto, acima dos 70%. "Mas,casa apostasfunção dos juros e das dificuldades enfrentadas pelas famílias, não deve crescer muito mais do que isso."

Já a inadimplência deve continuar aumentando, principalmente nesta primeira metade do ano, diz a economista.

"A inadimplência deve continuar atingindo os maiores níveis da série histórica", acredita a economista, citando ainda a maior dificuldade das famílias para renegociar dívidas num ambientecasa apostasjuros elevados.

Alémcasa apostasfrear a tomadacasa apostascrédito novo e dificultar a renegociaçãocasa apostasdívidas, os juros altos tendem a desacelerar a atividade econômica.

Isso prejudica o desempenho do mercadocasa apostastrabalho e pode dificultar reajustes salariais acima da inflação, mantendo os orçamentos dos lares brasileiros apertados, o que tende a contribuir para a inadimplência.

Contas básicas atrasadas

Uma particularidade da inadimplência atual é o aumento das contas básicas como água, luz e telefonecasa apostasatraso.

Segundo dados da Serasa, as contas básicas já representavam 23,9% das dívidascasa apostasdezembrocasa apostas2021, comparado a 20,4% no mesmo mêscasa apostas2020.

Contacasa apostasluz

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, As contas básicas já representavam 23,9% das dívidascasa apostasdezembro

As dívidas com contas só eram superadas ao fim do ano passado pelos débitos com bancos e cartões, que representavam 27,7% do total.

Fernando Gambaro, coordenador da Serasa, diz que parte desse aumento se deve a altacasa apostaspreços, particularmente da luz.

No entanto, esse tipocasa apostasinadimplência indica uma piora da situação da renda das famílias, já quecasa apostasgeral as pessoas priorizam as contas básicascasa apostasmomentoscasa apostasaperto.

Um atraso nessas contas, portanto, revela uma situaçãocasa apostasdificuldade financeira extrema.

'Vendemos a máquinacasa apostaslavar para pagar o aluguel'

Essa é a realidade que vive hoje Cascileia Carvalho da Cunha,casa apostas21 anos e moradoracasa apostasAnápolis,casa apostasGoiás.

Mãecasa apostasum filhocasa apostas4 anos e grávidacasa apostas7 meses, ela e o companheiro estão desempregados. Ela pela gravidez avançada e ele, após ser demitidocasa apostasdezembrocasa apostasseu empregocasa apostasestoquista.

O casal está com o aluguel (que inclui luz e água) atrasado, alémcasa apostaster dívidascasa apostascartãocasa apostascrédito.

"Comprei uma lavadora para poder lavar as roupinhas do bebê, mas tivemos que vender antescasa apostasterminarcasa apostaspagar, para pagar um aluguel anterior. Agora, as parcelas da máquina também estão atrasadas", conta a jovem.

Desesperado com as dívidas, o companheirocasa apostasCascileia tentou fazer um empréstimo. Sem acesso a crédito no mercado financeiro, recorreu a grupos no Facebook. Mas as pessoas que se disseram dispostas a ajudar eram na verdade golpistas.

"Todos queriam um depósitocasa apostasR$ 7, R$ 50 ou até R$ 100 para fazer o empréstimo. Diziam que tinha que dar uma entrada. Ele chegou a depositar R$ 7, e a pessoa logo bloqueou ele", conta Cascileia. "Que bom que foram só R$ 7... Está muito difícil."

Tentativacasa apostasgolpe contra pessoa endividada

Crédito, Reprodução/Facebook

Legenda da foto, Golpistas tentam se aproveitar do desespero dos endividados

Dívidas com cartãocasa apostascrédito

Apesarcasa apostasas contas básicas terem tido o maior crescimentocasa apostasparticipação nas dívidas dos brasileiroscasa apostas2021, o cartãocasa apostascrédito segue imbatível como principal formacasa apostasendividamento das famílias.

"Às vezes, a gente tem uma visão um pouco errônea do cartãocasa apostascrédito e imagina que são contas altas, compras que podem ser parceladas", diz Gambaro, da Serasa.

"Mas quando analisamos quais compras estão sendo feitas com cartãocasa apostascrédito pelo brasileiro, praticamente 70% delas sãocasa apostassupermercados ecasa apostasalimentos. Então, o principal motivocasa apostasendividamento dos brasileiros são mesmo contas básicas do dia-a-dia", observa o analista.

É preciso levarcasa apostasconta que o rotativo do cartão — quando a pessoa deixa parte da fatura para pagar depois — é a modalidade mais caracasa apostascrédito do país, com juros médios que chegam a 345% ao ano. Assim, o endividamento no cartão deveria ser evitado a todo custo, mas isso nem sempre é possível.

"A pandemia afetoucasa apostasuma forma diferente o pagamentocasa apostascontas básicas. Porque as pessoas entendem sim a prioridade dessas contas", diz Gambaro.

"O Brasil tem uma dificuldade pela baixa renda e pela faltacasa apostaseducação financeira, mas se as pessoas pudessem escolher e tivessem condições financeiras para isso, elas com certeza escolheriam pagar as contas básicas num primeiro momento. As pesquisas mostram isso."

Está endividado? O que fazer

Izis Ferreira, da CNC, diz que uma formacasa apostasevitar a inadimplência é colocar todo o orçamento da família na ponta do lápis para ter uma ideiacasa apostasquanto entra, quanto sai e onde cortar.

Pessoa preocupada com dívidascasa apostascartãocasa apostascrédito

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, É preciso renegociar as dívidas mais caras, trocando por outra mais barata

É preciso também ter uma visão claracasa apostasquanto a família deve e quanto da renda pode destinar ao pagamento da dívida, diz Gambaro, da Serasa.

Em seguida, renegociar as dívidas mais caras, como do cartão, trocando por outra mais barata, como um crédito pessoal, por exemplo.

A partir daí, tentar não se endividar mais, abrindo mão dos cartões ou, se isso não for possível, mantendocasa apostascada um deles uma etiqueta com o valor da fatura remanescente, para se lembrar do custocasa apostasusar o cartão.

Para quem já está inadimplente, a economista da CNC diz que o caminho é cortar gastos supérfluos e renegociar as dívidas para reduzir o total, os juros e o tamanho das parcelas, para que caibam melhor no orçamento.

Gambaro diz que há muitas opçõescasa apostasrenegociaçãocasa apostasdívidas no mercado, como feirões e aplicativos online, onde a pessoa consegue parcelar dívidas e, a partir do pagamento da primeira parcela, já volta a ter o nome limpo.

"As pessoas acham que a renegociação é um processo moroso, que toma tempo, mas pelo site ou pelo aplicativo, leva minutos", diz o especialista.

Ele alerta, porém, que os consumidores devem tomar cuidado para não caircasa apostasfraudes.

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