Com águasbingo da sorteaté 250 mil anos, aquífero Guarani ganha peso no abastecimentobingo da sortecidades:bingo da sorte

Hoje, segundo o DAEE, há 3.200 poços autorizados a operar na porção paulista do aquífero, alémbingo da sorte224 processosbingo da sortetramitação.

Dentre todas as licenças, 71% foram concedidas a partirbingo da sorte2014, quando São Paulo enfrentou uma das maiores crises hídricasbingo da sortesua história. Desde aquele ano, o númerobingo da sorteoutorgas vem crescendo anualmente.

Municípios como Ribeirão Preto, Sertãozinho e Matão hoje dependem 100% do aquífero Guarani para seu consumobingo da sorteágua.

Outros, como São José do Rio Preto, São Carlos, Bauru e Franca, têm o Guarani entre suas principais fontes hídricas.

Um estudobingo da sorte2020 estimou que,bingo da sortetodabingo da sorteextensão, o aquífero já abastece maisbingo da sorte15 milhõesbingo da sortepessoas - a maioria delas no Estadobingo da sorteSão Paulo.

O Estado ocupa 13% da extensão do aquífero, mas responde por 70%bingo da sortetoda água extraída da reserva, segundo a OEA (Organização dos Estados Americanos).

Embora especialistas vejam espaço para um uso ainda maior, há locaisbingo da sorteque a exploração do aquífero tem gerado preocupações - ou pelo bombeamento intenso, ou pela contaminação das águas (leia mais abaixo).

Um dos maiores aquíferos do mundo

O Sistema Aquífero Guarani é uma das maiores reservas subterrâneasbingo da sorteágua doce do mundo, ocupando 1,2 milhãobingo da sortequilômetros quadrados - área duas vezes maior que a França.

O aquífero se estende por partesbingo da sorteoito Estados brasileiros (GO, MT, MS, MG, SP, PR, SC e RS), alémbingo da sorteporções da Argentina, Paraguai e Uruguai.

Ele regula os rios da bacia do Paraná, que o sobrepõebingo da sortegrande parte, e tem águas majoritariamente potáveis - quase todas confinadas por rochas basálticas que chegam a maisbingo da sortemil metrosbingo da sorteespessura.

A maior partebingo da sortesuas águas provémbingo da sortechuvas que infiltraram ao longobingo da sortevários milêniosbingo da sortelençóis freáticos nos trechosbingo da sorteque o aquífero está mais perto da superfície, as chamadas zonasbingo da sorteafloramento.

Nessas áreas, o aquífero não está confinado por rochas basálticas, e a instalaçãobingo da sortepoços costuma ser mais simples. A tecnologia atual, porém, permite que mesmo as áreas confinadas e mais profundas do aquífero sejam acessadas.

As águas nos trechos confinados chegam aos 250 mil anosbingo da sorteidade, tempo percorrido desdebingo da sorteinfiltração nas zonasbingo da sorteafloramento. No trajeto até as zonas confinadas, o líquido se desloca bem lentamente, avançando milímetros ou centímetros a cada ano.

São José do Rio Preto é uma das cidades paulistas onde essas águas antiquíssimas, também conhecidas como "águas fósseis", jorram nas torneiras.

Mas há vários outros poços no Estado que operambingo da sortecondições semelhantes, extraindo águas a maisbingo da sorteum quilômetrobingo da sorteprofundidade, diz à BBC Ricardo Hirata, diretor do Centrobingo da sortePesquisasbingo da sorteÁguas Subterrâneas da Universidadebingo da sorteSão Paulo (Cepas-USP).

Também professor titular do Institutobingo da sorteGeociências da USP, Hirata é autorbingo da sortevários estudos sobre o aquífero Guarani e um dos maiores especialistasbingo da sorteáguas subterrâneas no Brasil, tendo assessorado organizações internacionais como a Unesco, o Banco Mundial e a Agência Internacionalbingo da sorteEnergia Atômica (AIEA).

Reserva estratégica

Em 2015, ele foi coautorbingo da sorteum artigo na Revista da USP que classificou o aquífero Guarani como "o manancial subterrâneo mais promissor e estratégico para o abastecimento público no Estadobingo da sorteSão Paulo".

Na época, o governo estadual considerava usar o aquífero para aliviar a pressão sobre os sistemasbingo da sorteabastecimentobingo da sorteCampinas e da Região Metropolitanabingo da sorteSão Paulo, quando as duas regiões ainda se recuperavam da grave crise hídricabingo da sorte2014.

O plano era instalar 24 poços tubulares (popularmente chamadosbingo da sorteartesianos) no municípiobingo da sorteItirapina, que fica na zonabingo da sorteafloramento do aquífero, a cercabingo da sorte200 km da capital.

De lá, a água seria transportada por adutoras até municípios nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Como esses municípios usam fontes que também abastecem Campinas e a Grande São Paulo, esperava-se que sobrasse mais água para as duas regiões.

Mas Hirata afirma que a ideia não prosperou porque voltou a chover nos anos seguintes e porque ficaria muito caro levar a águabingo da sorteItirapina até os municípios-alvos.

O caso mostra que, apesarbingo da sortesua grande extensão, o aquífero não é uma alternativa para todas as partes do Estado - incluindo a capital, que fica forabingo da sorteseus domínios.

Outro ponto a se considerar é a ofertabingo da sortefontes superficiais no local, como rios e represas. Normalmente, é necessário escavar vários poçosbingo da sorteum aquífero para extrair uma quantidadebingo da sorteágua comparável à que se obtémbingo da sorteum único pontobingo da sortecaptação superficial.

Além disso, Hirata diz que a exploração dos trechos onde o aquífero está confinado pelos basaltos deve ser feita com parcimônia, já que a reposição dessas águas é bem mais lenta que nas áreasbingo da sorteafloramento.

Resiliência na seca

Uma das maiores cidades abastecidas pelo Guarani é Ribeirão Preto, que tem 711 mil habitantes e hoje depende exclusivamente do aquífero para o consumo dos moradores.

A cidade conta com 118 poços tubulares, que extraem águabingo da sorteprofundidades superiores a 200 metros e os bombeiam para reservatórios.

Vários poços foram escavados na última décadabingo da sorteresposta a secas que fizeram faltar água na cidade. Hoje suspensões na oferta são pontuais e se devem principalmente a trabalhosbingo da sortemanutenção, segundo a companhia municipal que gere o sistema.

No entanto, o uso intenso do aquíferobingo da sorteRibeirão Preto gerou problemas: o nívelbingo da sorteáguabingo da sortevários poços caiu, provocando perdasbingo da sorterendimento ou a desativaçãobingo da sortealguns.

A prefeitura passou então passou a controlar a aberturabingo da sortenovos poços e delimitou zonas onde é proibido escavar.

Mesmo com as restrições, Ribeirão Preto não tevebingo da sorteracionar águabingo da sorte2021, ao contráriobingo da sortevários municípios vizinhos que dependembingo da sortefontes superficiais.

Hirata diz que uma grande vantagem dos aquíferosbingo da sorterelação às fontes superficiais ébingo da sortecapacidadebingo da sortearmazenar um grande volumebingo da sorteágua inclusive na estiagem, quando outras fontes se exaurem.

Fenômeno nacional

Segundo Hirata, as crises hídricas que o Brasil enfrentou nas últimas décadas provocaram um grande aumento na perfuraçãobingo da sortepoços - e não só na região do aquífero Guarani.

Em 2010, a Agência Nacionalbingo da sorteÁguas (ANA) divulgou um relatório apontando que 52% dos municípios do país eram abastecidos total ou parcialmente por águas subterrâneas. Em São Paulo, o índice chega a 70% dos municípios.

Segundo um estudo liderado por Hirata, há cercabingo da sorte2,5 milhõesbingo da sortepoços tubularesbingo da sortetodo o país. Juntos, eles bombeiam maisbingo da sorte557 metros cúbicosbingo da sorteágua por segundo - vazão suficiente para abastecer toda a população brasileira.

Hirata afirma que não só prefeituras têm recorrido às águas subterrâneas, mas também entidades privadas como indústrias, fazendas e condomínios residenciais.

O aeroporto internacionalbingo da sorteGuarulhos, por exemplo, é totalmente abastecido por poços, segundo o pesquisador, assim como vários edifícios na avenida Paulista, a mais famosabingo da sorteSão Paulo.

Hirata diz que a perfuraçãobingo da sortepoços com até 200 metros costuma levar menosbingo da sorteum mês e custar entre R$ 250 mil e R$ 300 mil.

Como não há cobrança pelo usobingo da sortefontes subterrâneas no Brasil, a economia gerada pelo não pagamento da contabingo da sorteágua faz com que grandes usuários possam recuperar o investimento da perfuraçãobingo da sortemenosbingo da sorteum ano - alémbingo da sorteficarem menos sujeitos a oscilações da rede pública.

Usobingo da sorteágua subterrânea na agricultura

As águas subterrâneas têm participação central no abastecimentobingo da sortezonas rurais brasileiras. Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE,bingo da sorte2017, 1,03 milhãobingo da sortepropriedades rurais dispõembingo da sortepelo menos um poço tubular.

Nesses locais, as águas podem servir tanto para o consumo dos moradores quanto para a criaçãobingo da sorteanimais ou a irrigaçãobingo da sortelavouras.

Considerando-se o consumo per capitabingo da sorteáguas subterrâneas, a irrigação responde pela maior parcela no país, com 48,7 metros cúbicos/horabingo da sortevazão, segundo a ANA.

Em seguida vêm o uso industrial (20,9) e o abastecimentobingo da sortezonas urbanas e rurais (17,9).

O uso exacerbadobingo da sorteaquíferos para a irrigação é um temabingo da sortegrande preocupaçãobingo da sortepaíses desenvolvidos.

O caso mais célebre é o do aquífero Ogallala, usado intensamente para a irrigaçãobingo da sorteplantações na região das Grandes Planícies, nos Estados Unidos.

Pesquisas apontaram que,bingo da sorteboa partebingo da sortesua extensão, o aquífero tem perdido muito mais água do que consegue absorver, o que colocabingo da sorterisco o abastecimentobingo da sortevários Estados e o fluxobingo da sorterios da região.

Outro tema que tem recebido atençãobingo da sortepesquisadores no exterior é a contaminaçãobingo da sorteaquíferos por fertilizantes agrícolas - "um problema extensivo na Europa e América do Norte", segundo Hirata.

O Brasil é um dos maiores consumidores globaisbingo da sortefertilizantes. Aqui, porém, o professor diz que o tema ainda não foi estudadobingo da sorteprofundidade, pois faltam dados e redesbingo da sortemonitoramento.

"Não sabemos nada praticamente sobre a contaminaçãobingo da sorteaquíferos pela atividade agrícola no Brasil", afirma.

"Acredito que possa haver contaminações, mas faltam estudos sistematizados que nos permitam generalizar se temos um grande problema ou não. A experiência internacional nos mostra que sim", diz.

Hoje os estudos disponíveis apontam que esgotos não coletados e tratados são uma das principais fontesbingo da sortecontaminaçãobingo da sorteaquíferos no Brasil - fenômeno que já se observoubingo da sortecapitais como Manaus, Belém, Natal e Maceió.

Porém, mesmobingo da sortecidades com redesbingo da sorteesgoto mais antigas e com baixa manutenção têm sido observados problemasbingo da sortecontaminação por causabingo da sortevazamentos nesses sistemas.

Também são conhecidos casosbingo da sortecontaminaçãobingo da sorteaquíferos por rejeitos industriais - é o que ocorreu no bairrobingo da sorteJurubatuba, na zona sulbingo da sorteSão Paulo, onde autoridades tiveram que proibir a escavaçãobingo da sortepoços e interditar os existentes.

Só no Estadobingo da sorteSão Paulo, a Cetesb (Companhiabingo da sorteTecnologiabingo da sorteSaneamento Ambientalbingo da sorteSão Paulo) estima que haja entre 3 mil e 4 mil pontosbingo da sortecontaminaçãobingo da sorteaquíferos.

E, num relatóriobingo da sorte2020, a companhia afirmou que 23,9% das amostras coletadas no Aquífero Guarani apresentaram índices acima dos parâmetros para itens como alumínio, bário, selênio e coliformes.

Hirata, porém, diz que os dados devem ser analisados com cautela. Segundo ele, é possível que parte das discrepâncias se explique por poços mal construídos ou com baixa manutenção.

Por outro lado, diz o pesquisador, como só uma ínfima porção do aquífero é monitorada, o númerobingo da sorteáreas contaminadas é provavelmente muito maior do que apontam os dados oficiais da Cetesb.

Apagãobingo da sortedados

A faltabingo da sortedados, aliás, é um grande problema para o estudo das águas subterrâneas e a boa gestão desses recursos no Brasil, afirma Hirata.

Ele diz que só 10% dos poços tubularesbingo da sorteoperação no país são cadastrados - o que não significa que todos esses estejam regularizados.

Para que operem legalmente, é necessário uma outorga dos órgãos públicos que gerenciam as águas subterrâneas, mas só uma pequena parcela dos usuários cumpre essa etapa.

A BBC questionou o Departamentobingo da sorteÁguas e Energia Elétrica (DAEE) do Estadobingo da sorteSão Paulo sobre quais ações estavam sendo tomadas para coibir o uso irregularbingo da sortepoços.

Em nota, o departamento afirmou que, ao tomar ciênciabingo da sortepoços não outorgados, notifica os usuários para que as instalações sejam regularizadas.

O órgão diz ainda que é possível denunciar poços irregulares pelo site do departamento e que implantou um Sistemabingo da sorteOutorga Eletrônica para facilitar os registros.

Segundo o órgão, todos os poços outorgados "devem enviar anualmente ao DAEE um relatório onde constam o volume extraído mensalmente, assim como as medidas dos níveis estático e dinâmico dos poços".

"Estes dados possibilitam ao órgão gestor verificarbingo da sortequais locais é preciso um controle maior da utilização do aquífero, e eventualmente criar áreasbingo da sorterestrição ao uso das águas subterrâneas", diz o departamento.

Em relação ao Guarani, o DAEE afirma que, "como o volume extraído deste aquífero é muito grande, torna-se necessário o acompanhamentobingo da sortesua exploração para garantir uma exploração sustentável".

Mudanças climáticas

Embora ainda haja muito a avançar no monitoramento do Guarani e das demais águas subterrâneas no Brasil, Hirata diz que essas reservas podem ser muito úteis num cenáriobingo da sortegrande irregularidade na oferta hídrica no país.

Para ele, tomando os cuidados para evitar a contaminação e exploração exagerada, "as águas subterrâneas podem ser a solução para muitos problemas sociais, permitindo a ofertabingo da sorteáguabingo da sortebaixo custo e excelente qualidade".

Hirata cita ainda a possibilidade - já adotadabingo da sortealguns países -bingo da sorteinjetar nos aquíferos sobrasbingo da sorteáguabingo da sorterios e represas nos períodos chuvosos, acelerando a recarga das reservas subterrâneas e deixando os sistemas mais equilibrados.

"Com as mudanças climáticas, o mundo inteiro tem despertado para isso", afirma.

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