Como é ser policial militarde betanoesquerda: 'Se é a favorde betanoBolsonaro, fala à vontade, se é contra, vai pagar por isso':de betano

policial

Crédito, Fabio Teixeira/Anadolu Agency via Getty Images

Legenda da foto, Policiais que se opõem publicamente a Bolsonaro ouvidos pela BBC News Brasil relatam ligações com ameaças anônimas, hostilidadede betanocolegas e 'punições veladas' dentro das corporações.

"Eu fico preocupado com a preocupação dele, porque ele é pai e isso tem um peso. Ele é um senhorde betano76 anos. Mas eu faço questãode betanodeixá-lo tranquilo quanto a essas lutas e dizer que eu quero olhar para trás e ver que os melhores dias da minha vida foram aquelesde betanoque eu lutei por alguma coisa que eu acredito."

Major Marcelo Costa

Crédito, Cortesia Marcelo Costa

Legenda da foto, Major Marcelo Costa é crítico do governo Bolsonaro, mas o pai dele, também policial, é eleitor do presidente.

A BBC News Brasil ouviu Costa e outros policiais militares que se dizemde betanoesquerda e contrários à políticade betanoBolsonaro, para entender como é a convivência deles com os colegas e o dia-a-dia nos batalhões.

Apesar das pressões que vem sofrendo, o Major Costa optou por ter a identidade revelada nesta reportagem. Ele diz reconhecer que poderá sofrer retaliações por dar entrevista, destacou que se pronuncia como cidadão, nãode betanonome da polícia militar e argumentou querer falar publicamente para que o leitor tenha dimensão das suas convicções. "Quero falar abertamente, porque o que eu defendo é construir uma polícia militar melhor, com policiais bem treinados, salário digno, que mate menos e também morra menos", diz.

Outros policiais militares ouvidos pela BBC News Brasil também quiseram ter seus nomes revelados com argumento semelhante, embora tivessem a opçãode betanofalar sob anonimato.

Há relatosde betanoagressões verbais por colegas, ataques nas redes sociais, 'punições veladas' dentro das corporações e aberturade betanoinvestigações internas com, segundo eles, "dois pesos e duas medidas" para quem se manifesta a favor ou contra o governo Bolsonaro.

'Visto como traidor'

As redes sociais do Major Marcelo Costa revelam claramentede betanoposição sobre o presidente. Vários vídeos e memes críticos a Bolsonaro povoamde betanopágina do Facebook. "Já foi o tempo que esse pessoal queria que a gente aceitasse Jesus, hoje eles querem que a gente aceite Bolsonaro. Isso porque agora Bolsonaro é o novo Jesus deles e a arma substituiu a Bíblia", escreveu ele numa das postagens.

Costa relata que esse posicionamento político não é bem aceito entre parcela significativade betanocolegas policiais. E, para ele, rendeu ameaças anônimas por telefone e acusaçõesde betanocolegasde betanoque seria "pró-bandido". "O policialde betanoesquerda é visto como um traidor, porque, viade betanoregra, automaticamente se entende que serde betanoesquerda é não gostar da polícia, é privilegiar bandido, é gostarde betanodireitos humanos".

Costa entrou aos 19 anos na Polícia Militar e diz que, ao sair do cursode betanoformação, percebeu no dia-a-dia uma "cultura na PMde betanoimpor respeito pela truculência". "Nos cursosde betanoformação, não somos ensinados a violar regulamentos e leis, mas a gente se forma e fica anos sem uma formação contínua. Assim que eu me formei, já percebi nas viaturas, nas operações, um pensamento muito diferente do meu, uma lógica reacionária e machista. Há uma lacuna na nossa formação", diz.

"Na minha opinião, esse discursode betanotentar obter o respeito da população pelo medo faz com que o policial seja vistode betanoforma pejorativa. Tínhamos que ter uma formaçãode betanoparceria com universidades, com maior envolvimento com as comunidades, para que o policial entenda o seu papel fundamental na sociedade."

Mobilizaçãode betanoPMsde betanoesquerda no Sul

Edersonde betanoOliveira Rodrigues

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Soldado Ederson Rodrigues diz que há uma ideiade betanoque policialde betanoesquerda 'defende ladrão'

Há milharesde betanoquilômetrosde betanodistância, no Rio Grande do Sul, outro policial militar enfrenta circunstâncias semelhantes na relação com colegas ao se opor publicamente a Bolsonaro e se dizerde betanoesquerda. O soldado Edersonde betanoOliveira Rodrigues, da Brigada Militarde betanoPelotas, responde com educação e ironia às mensagens agressivas que recebe no Facebook por criticar as políticas do presidente. Mas ele diz que esses ataques, frequentemente, ultrapassam a fronteira das redes sociais.

"A gente acaba sendo afastado, escanteado. O policialde betanoesquerda que se manifesta é como se não fizesse parte da instituição. Colegas com quem eu tinha uma boa convivência, uma boa relação, hoje evitam o diálogo comigo. Isso se deve a esse discursode betanoódiode betanoque, 'se você éde betanoesquerda, você defende ladrão'", diz à BBC News Brasil.

Dois meses antesde betanoser assassinado por um bolsonarista, o guarda municipal Marcelo Arruda, que era petista, deu uma palestra dizendo que "as primeiras vítimas"de betanouma escalada da violência política seriam policiaisde betanoesquerda. O soldado Ederson Rodrigues diz que a avaliação feita por Arruda antesde betanomorrer é pertinente.

"É preocupante saber que tem alguém armado e estressado por contade betanotudo que nós estamos vivenciando. É preocupante saber que, por contade betanoum posicionamento político, daqui a pouco você pode perderde betanovida. Isso é possível. Eu acredito que nós ainda vamos ver muitos casosde betanoviolência."

Há dez anos na PM, ele diz acreditar que os discursosde betanoBolsonaro ajudam inflamar o ódio contra quem pensa diferente na corporação. "Nós estamos vivendo hoje um país dividido. É um país do povo contra o povo, do pobre contra pobre. É um país que aprendeu a se apaixonar pelo falso cristianismo e por discursos fáceis, como essede betanoque bandido bom é bandido morto."

Bolsonaro

Crédito, EPA/ANDRE COELHO

Legenda da foto, Ederson Rodrigues diz que muitosde betanoseus colegas PMs votaramde betanoBolsonaro por acreditar que haveria uma valorização da carreira

"O líder máximo da nação deveria ter muito cuidado com aquilo que ele inflama e ter consciência que a fala dele vai repercutir." A BBC News Brasil entroude betanocontato com a Presidência da República, que não respondeu até a publicação desta reportagem.

Rodrigues diz que na eleiçãode betano2018 votou no candidato do PT Fernando Haddad, mas afirma que a maioriade betanoseus colegas votaramde betanoBolsonaro. "Eles acreditavam que Bolsonaro significaria a valorização do policial militar e que, a partir daí, nós também teríamos penas mais severas para aqueles que cometem crimes."

Mas Rodrigues diz que as condições salariais ede betanoprogressãode betanocarreira para os praças, que estão na base da pirâmide na PM, se deteriorou. Ele cita como exemplo o fim da "verticalidade"de betano2020, que garantia aumentos proporcionais às patentes mais baixas da PM sempre que coronéis recebessem incrementos salariais no Rio Grande do Sul. Também menciona a Reforma da Previdência, proposta pelo governo, que permitiu que os governadores instituíssem alíquotasde betanocontribuição previdenciáriade betanopoliciais militares.

"Eu vi que muitos colegas naquela época ainda levantavam a bandeira do Bolsonaro e colocavam toda a culpa das nossas perdas no governador. E eu resolvi criar o movimento União dos Praças da Brigada Militar para mostrar que, na verdade, aquilo era mais amplo", diz.

Lula

Crédito, EPA/Joedson Alves

Legenda da foto, Em abril, Lula disse que Bolsonaro 'não gostade betanogente, gostade betanopolicial'. Depois, pediu desculpas pela fala.

"Começamos a mostrar aos colegas os decretos, as leis, as propostas e as conversas do ministro da Economia, Paulo Guedes, com o nosso governador, que foram nos levando para esse caminho que nós nos encontramos hoje." A BBC News Brasil entroude betanocontato com o Ministério da Economia, que respondeu que não irá comentar.

O grupo criado por Rodrigues recebeu a adesãode betanocentenasde betanosoldados. Mas ele diz que também perdeu amizades entre colegas PMs e que é frequente ser chamadode betano"comunista" por defender nas redes sociais projetos implementados por governos do PT.

"A nossa luta, nossa batalha diária, é contra o crime e não pode ser contra o colega só porque ele pensa diferente. As pessoas aprenderam a se odiar. Tenho amigo que paroude betanofalar comigo por causade betanopostagem no Facebookde betanoque eu dizia que o Brasilde betanoantes era melhor do que ode betanohoje. Ele disse que eu era chinelo, que eu defendia corrupto, que era comunista. Normalmente (a pecha)de betanocomunista já vem junto", diz Rodrigues, destacando, porém, que nunca foi punido dentro da corporação por ter criado o movimento que reúne praças.

Inquéritos militares penais

Alémde betanoinsultos, policiais militaresde betanoesquerda relatam perseguições dentro da corporação na formade betanotransferências para postos distantesde betanosuas residências ou inquérito penal militar por "quebrade betanohierarquia" ou "difamação" contra o presidente da República. Eles reclamam, porém, que o mesmo rigor não se aplica aos policiais que usam as redes sociais para declarar apoio a Bolsonaro e atacar Lula, outros candidatos à Presidência ou integrantes do Congresso e do Supremo.

Quando completou 13 anosde betanoPolícia Militar,de betanojunhode betano2020, o hoje cabo reformado da Polícia Militarde betanoImperatriz, no Maranhão Moreno Sérgio Lima postou um texto nas suas redes sociais com críticas ao sistema militarista da PM, a que classificoude betano"arcaico, imoral e inconstitucional".

Pouco depois, foi preso por alguns dias por "desacato à hierarquia" e passou a responder a um inquérito penal militar. O cabo Moreno integra o Movimento Policiais Antifascismo, que reúne agentesde betanosegurança que se opõem à visãode betanoBolsonaro sobre segurança pública.

Policiais

Crédito, Anadolu Agency

Legenda da foto, Policiais relatam perseguição dentro das corporações

"Eu fiz um texto desabafando, analisando as estruturas puídas do sistema. Nós sabemos muito bem que o sistema militar é avesso às garantias fundamentais", conta. "Eu fiz um relato da minha experiência. Não citei nomes, mas meu superior hierárquico se ofendeu e estou respondendo a processo até hoje."

Moreno Lima também diz que foi alvode betanopunições veladas por ser visto como policialde betanoesquerda. "Meu postode betanoserviço era a 400 metros da minha casa. Eu fiz um comentário que desagradou e, no dia seguinte, fui transferido para um postode betanoserviço que fica a 200 kmde betanocasa."

O cabo reformado reconhece que o regimento da PM é rígido e abre caminho para punir entrevistas e manifestações políticas feitas nas redes sociais sem autorização do comando. Mas, segundo ele, "há dois pesos e duas medidas" ao analisar casosde betanopoliciais vistos como "de esquerda" e os demais. "O militar não pode tomar partidode betanorelação a movimentos políticos. Só que eu sou penalizado e serei penalizado fatalmente. Mas o que eu faço são manifestaçãode betanocontraponto. Existem dois pesos e duas medidas."

A BBC News Brasil entroude betanocontato com a assessoriade betanoimprensa da PM do Maranhão, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

O major Costa,de betanoAlagoas, também se tornou alvode betanoum inquérito penal militar após compartilhar num grupode betanoWhatsApp um vídeo defendendo que as pessoas participassemde betanoum protesto no dia 1°de betanomaio contra o governo Bolsonaro. O vídeo vazou, começou a circular amplamente no meio policial e ele passou a responder por difamação e calúnia contra o presidente Bolsonaro e por desobediência ao usar as redes sociais para falarde betanopolítica.

helicóptero

Crédito, Getty Images

Assim como o cabo Moreno Lima, Costa diz ver um rigor maior na aplicação do regimento militar quando o PM se manifesta contra o governo Bolsonaro. Ele lembra que, na ocasião, policiais militares pró-governo também gravaram vídeos e participaramde betanouma manifestação a favor do presidente, mas não enfrentaram inquéritos.

"O que a gente tem é que se você falar a favor do governo federal hojede betanodia, você fala com tranquilidade se estiver exaltando ou aclamado. E, se fala contra, você vai ter automaticamente que pagar por aquilo, vai ser punido. E o seu exemplo serve para outros."

Em nota à BBC News Brasil, a Segurança Públicade betanoAlagoas disse que "não possui bandeira partidária e respeita o posicionamento político e ideológicode betanotodos os seus integrantes"

Riscos

Especialista no estudo da relação entre violência e política, o professor Gabriel Feltran, da Universidade Federalde betanoSão Carlos (UFScar), avalia que policiaisde betanoesquerda estão particularmente expostos a violências e perseguições, porque é na PM que está mais consolidada a ideiade betanoque "vivemosde betanouma sociedadede betanoguerra".

E, segundo ele, a mesma lógica difundida entre camadas conservadoras do Brasilde betanoque "bandido bom é bandido morto" está se expandindo, por meiode betanodiscursosde betanoódio, para a política, com a defesade betanoque quem se opõe a essa lógica é igualmente bandido, e precisa ser extirpado.

"O perfilde betano75% a 85% dos nossos homicídios no Brasil é homem, jovem, negro, favelado. Para esses, constrói-se a lógicade betanoque se pode matar à vontade, porque seriam bandidos. Eles não teriam direito algum, não fariam parte da cidadania. Agora, essa fronteira (de exclusão) está se alargando para grupos que não apoiam o projetode betanonaçãode betanoBolsonaro", diz.

"Acho que os policiais são os mais propensos a cometer os crimesde betanoódio enquanto eles estão armados e são, pelas suas instituições e pela sociabilidade policial, instilados a aderir à lógicade betanouma polícia guerreira, não uma polícia cidadã. A polícia cidadã considera que a gente vive numa democraciade betanoque há 220 milhõesde betanocidadãos. E esses cidadãos têm que ser protegidos pelos policiais. Nós passamos muito longe disso. O que a gente tem no Brasil é uma lógicade betanoque existem trabalhadores e bandidos."

Mas Major Marcelo Costa diz que também percebede betanoparte da esquerda uma tendência perigosade betanotratar o policial militar como inimigo — e faz questãode betanotentar contestar esse tipode betanodiscurso.

"Também tenho embates fortíssimos com pessoas do campo da esquerda, porque alguns daqueles que militam no campo da esquerda ainda veem a Polícia Militar e os trabalhadores da segurança pública como inimigos", diz.

"Não dá para generalizar e tratar a segurança pública, principalmente os trabalhadores da segurança pública, com desrespeito. E isso eu não acho interessante que ninguém faça, muito menos a esquerda, que tem obrigaçãode betanoacolher essas pessoas."

- Este texto foi publicadode betanohttp://www.mi-rob.com/brasil-62286437

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