O que é ser liberal?:pixbet sacar

  • Matheus Magenta*
  • Da BBC News Brasilpixbet sacarLondres
Ilustraçãopixbet sacarliberal

Crédito, Daniel Arce Lopez/BBC

pixbet sacar A resposta para o questionamento "o que é ser liberal?" dependepixbet sacarquando,pixbet sacaronde e para quem a pergunta foi feita.

Uma pessoa que se diz liberal pode serpixbet sacaresquerda,pixbet sacardireita,pixbet sacarcentro, democrata, autoritária, progressista, conservadora, petista, bolsonarista, a favor da legalização das drogas ou contra a legalização das drogas, por exemplo.

Mas como isso é possível? No fim das contas, tudo girapixbet sacartorno das diversas definições do conceitopixbet sacarliberdade e das enormes divergências sobre o que deve ser feito para garanti-la. E é por isso que as pessoas que se dizem liberais (ou que são chamadaspixbet sacarliberais) podem defender tantas coisas diferentes.

Nem sempre foi assim, no entanto. No início, entre os séculos 18 e 19, o liberalismo se consolidava na políticapixbet sacarolho principalmentepixbet sacaruma coisa: reduzir ou acabar com os poderes quase ilimitados dos reis e ampliar os direitos individuais. Mas, desde então, surgiram vários liberalismos, com muitas ramificações e divergências.

Atualmente, os liberais costumam ser divididospixbet sacardois grandes grupos: um mais à direita (conservador, neoliberal ou libertário) e outro mais à esquerda (progressista ou igualitário). E muitas vezes o debate passa mais por questões econômicas do que por questões políticas.

Para dar contapixbet sacartoda essa complexidade, a BBC News Brasil vai responder a algumas das questões mais fundamentais para entender o liberalismo (ou os liberalismos) e seu peso político, explicando primeiramente as origens da ideologia epixbet sacaridentificação com a direita ou com a esquerda do espectro político.

Depois, explicaremos como os liberais atualizaram suas ideias e se dividirampixbet sacardiversas partes do mundo, incluindo o Brasil. Em seguida, mergulharemospixbet sacaruma das principais críticas ao pensamento liberal: a desigualdade social. E, por fim, abordaremos a mais famosa corrente liberal no Brasil: o neoliberalismo.

As origens do liberalismo

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O liberalismo como conjuntopixbet sacarideais e posições políticas se consolidou na Europa e nos EUA a partir do século 19. Mas as origens dos conceitos que iriam resultar no liberalismo tem uma história muito mais antiga e — muitas vezes — nebulosa.

No livro Ideologias Políticas: Uma Introdução, o cientista político Andrew Shorten cita laços do liberalismo com a Grécia e a Roma Antiga, onde floresciam teorias e práticas sobre igualdade, democracia e o Estado enquanto garantidor da liberdade. E também com a China antiga e a defesa que o filósofo Lao Tsé fazia da existênciapixbet sacaruma ordem natural (sem interferências humanas).

Há também traçospixbet sacarideias liberais por volta do século 16, mais especificamente na defesa da liberdadepixbet sacarpensamento durante a Reforma Protestante, liderada por Martinho Lutero, e na consolidação do capitalismo enquanto sistema econômico.

Mas o filósofo e professor brasileiro Amaro Fleck (UFMG) explica que o termo liberal carregou, do início da era cristã até o final do século 18, diversos significados que não estavam ligados exatamente a uma ideologia política ou a um posicionamento político. A palavra liberal servia, por exemplo, para descrever alguém tolerante, nobre, generoso, extravagante, não fanático ou livrepixbet sacarpreconceitos.

A doutrina liberal começa a ganhar forma, ainda sem o nome liberalismo, ainda no século 17. Dois dos principais pensadores apontados como precursores dessa corrente são os britânicos Thomas Hobbes e John Locke, ambos associados à defesa do uso da razãopixbet sacardetrimento das verdades religiosas absolutas. Essa perspectiva seria o centro do Iluminismo, movimento que começa no século 17 e vai até o século 18.

Hobbes defendia, por exemplo, que o Estado precisavapixbet sacarjustificativas bem plausíveis para restringir a liberdade dos cidadãos. Locke falavapixbet sacargoverno limitado, respeito a direitos dos indivíduos e defesa da propriedade pelo Estado, entre outras questões.

Durante o Iluminismo, o termo liberal começaria a denotarpixbet sacarfrancês uma defesa das liberdades individuais e das liberdades políticas. Mas ainda não havia um conjuntopixbet sacarideias liberais organizadas, um liberalismo propriamente dito.

Outro nome importante ligado ao Iluminismo e às raízes da doutrina liberal é o filósofo e economista escocês Adam Smith, que viveu no século 18 e é considerado por alguns o pai da economia moderna. Ele foi o primeiro a explicar conceitos econômicos como preço, produção, distribuição, finanças públicas, comércio internacional e crescimento econômico.

Smith criticava duramente a regulação do comércio pelo Estado e dizia que se as pessoas fossem livres para se desenvolver, isso produziria prosperidade econômica para todos.

Segundo Fleck, o termo liberal só se tornaria mesmo um rótulo político, uma referência à ideologia política do liberalismo, no século 19. Mais especificamente nas Cortes espanholas entre 1810 e 1812 como uma posição política contrária ao absolutismo, um sistema político caracterizado por um líder supremo com poder quase ilimitado, como as monarquias da época.

Notaspixbet sacardólares

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Liberalismo se consolidou no século 19pixbet sacartorno da luta política contra concentraçãopixbet sacarpoder, mas hoje a doutrina é mais lembrada pelo debate econômico

"O liberalismo é uma sociedade dos direitos. É um modelopixbet sacarsociedade baseadopixbet sacardireitos e baseado na lei. O Estado democrático é liberal. É o Estadopixbet sacardireito versus o Estadopixbet sacararbítrio. Ninguém é obrigado a fazer nada ou a deixarpixbet sacarfazer se a lei não diz. E é do liberalismo que vêm, por exemplo, todos os direitos fundamentais, os direitos civis. O liberalismo vai conquistando isso pouco a pouco. Tirava poderes do rei e transferia para parte dos cidadãos", explica Wilson Gomes, pesquisador e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA),pixbet sacarentrevista à BBC News Brasil.

Ao longo do século 19, o liberalismo ganha força crescente na Europa por meiopixbet sacarpensadores que já se enxergavam como liberais, a exemplo do francês Alexispixbet sacarTocqueville e do inglês John Stuart Mill.

Em obras como Da Democracia na América, Tocqueville passa a defender uma primeira versão teoricamente bem elaboradapixbet sacarum modelo antidemocrático ou pouco democrático do liberalismo, afirma Fleck.

Isso porque Tocqueville enxergava o governo popular como uma ameaça (numa espéciepixbet sacartirania da maioria contra a minoria) e a expansão dos direitos sociais (como o direito ao trabalho) como uma usurpação da verdadeira liberdade ao desembocar no socialismo (e por extensão, empixbet sacarvisão,pixbet sacaruma nova formapixbet sacarservidão). Era uma espéciepixbet sacarcorrente mais conservadora do liberalismo.

Stuart Mill, numa espéciepixbet sacarcorrente mais social liberal, considerava que a liberdade passa pelos limites impostos à maioria da sociedade e aos políticos governantes para evitar tiranias — sejapixbet sacarregimespixbet sacarlivre comércio, como os capitalistas, ou com intervenção e regulação estatal na economia, como os socialistas.

Mas quais seriam esses limites? Fleck explica que o pensador inglês se orientava pelo chamado princípio do dano, ou seja, a "humanidade só pode interferir na conduta individual parapixbet sacarprópria autoproteção, para evitar danos a outros indivíduos (e nunca para evitar que o indivíduo cometa danos contra si mesmo)".

Fleck conta que, naquela época, o termo liberal passou a ter uma conotação também econômica apenas na Grã-Bretanha, e não apenas política, como na Alemanha, França, Espanha ou Itália.

"Quando se falavapixbet sacarliberalismo nesses países, falava-se necessariamente da defesa das liberdades individuais e políticas, epixbet sacaruma defesa desconfiadapixbet sacarum governo representativo, que deveria ser também moderado porque senão poderia resultarpixbet sacartirania. (…) Apenas na Grã-Bretanha é que houve esse vínculo entre liberalismo político e liberalismo econômico. Isto é, entre a defesa desconfiadapixbet sacarum governo representativo e a defesa enfática do livre comércio."

O neoliberalismo

No início do século 20, o liberalismo sofreria umapixbet sacarsuas principais reformulações: o neoliberalismo.

Empixbet sacartesepixbet sacardoutorado na Unicamp sobre o neoliberalismo e os institutos liberais no Brasil pós-redemocratização, a cientista social e escritora brasileira Denise Barbosa Gros explica que o neoliberalismo,pixbet sacarresumo, consistepixbet sacar"legitimar, teoricamente, um conjuntopixbet sacarmudanças na formapixbet sacargerir a economia e a sociedade, dentre as quais é central a diminuição do papel que o Estado desempenha num modelo econômico que permite maior integração dos países ao processopixbet sacarglobalização financeira, dos mercados e da produção".

Friedrich Hayek

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Ligado à Escola Austríacapixbet sacarEconomia, Friedrich Hayek foi um dos líderes da reformulação do liberalismo que passou a ser conhecida como neoliberalismo

Um dos principais alvos das mudanças seria o princípio clássico liberal do laissez-faire ("deixai fazer",pixbet sacarfrancês), que tratava da ideiapixbet sacarque o mercado seria uma entidade natural da economia que deveria ficar a salvo da intervenção do governo e do Estado. Não deveria haver, portanto, nem regulação do mercadopixbet sacartrabalho, nem medidaspixbet sacarproteção no comércio internacional, por exemplo.

Expoentes da doutrina liberal como o economista e filósofo austríaco Friedrich Hayek (Prêmio Nobel e um dos líderes da chamada Escola Austríaca) e o escritor americano Walter Lippmann criticavam a adoção radical do laissez-faire e defendiam a ideiapixbet sacar"um Estado limitado, porém necessário".

Ou seja, alguns dos liberais do século 19 defendiam que não deveria haver qualquer interferência do Estado no livre mercado, deixando-o como sempre esteve porque o mercado tenderia naturalmente ao equilíbrio. Depois, neoliberais como Hayek passaram a defender uma interferência mínima do Estado para criar deliberadamente um sistema econômico competitivo que favoreça o "livre mercado".

Fleck, da UFMG, explica que a defesapixbet sacarHayek pela intervenção do Estado é bastante restrita e ligada a serviços essenciais. "Não há dúvidapixbet sacarque um mínimopixbet sacaralimentos, abrigos e roupas suficientes para conservar a saúde e a capacidade do trabalho pode ser garantido a todos", escreve Hayek no livro O Caminho da Servidão.

Mas isso não significa que Hayek seja a favor da intervenção do Estado na economia. Pelo contrário. Segundo Fleck, o argumento centralpixbet sacarHayek passa pela ideiapixbet sacarque a interferência do Estado na economia (para corrigir distorçõespixbet sacarpreços, salários ou setores econômicos, por exemplo) levaria inevitavelmente a um regime totalitário, com cada vez mais controle sobre a sociedade. Hayek fazia uma espéciepixbet sacaralerta contra os riscos inesperados do método usado por socialistas para alcançar mais justiça social e igualdade.

"O argumentopixbet sacarHayek segue o padrão da ladeira escorregadia. Uma vez que se recorre ao procedimento do planejamento central, se cria uma propensão a usá-lo novamente epixbet sacarforma cada vez mais intensa. Assim se dá cada vez mais poder ao comitêpixbet sacarplanejamento, quepixbet sacarforma arbitrária decide a vidapixbet sacarmilharespixbet sacarindivíduos. Ainda que se tomem todas as devidas precauções, a concentraçãopixbet sacarpoder resultarápixbet sacartirania", explica Fleck.

Mas, entre os anos 1950 e 1960, o neoliberalismo começaria a viver um novo momento, capitaneado pelo economista americano Milton Friedman, então professor da Universidadepixbet sacarChicago e também Prêmio Nobelpixbet sacarEconomia. Nesse momento, os neoliberais voltam a defender alguns aspectos liberais como o laissez-faire epixbet sacarum não intervencionismo quase radical.

Além disso, a chamada Escolapixbet sacarChicago defendia, segundo o Dicionário Routledgepixbet sacarEconomia, que as forças do livre mercado tinham poder para resolver quase todos os problemas da sociedade e que o Estado deveria ter o mínimo poder possível e se abster da busca inviávelpixbet sacarcontrolar a economia.

Logo, as ideias neoliberais não ficariam restritas aos economistas. E não demorou para que políticos começassem a levantar a bandeira do neoliberalismo e serem eleitos — ou darem golpespixbet sacarEstado — defendendo essa ideologia.

Esse avanço ganhou força particularmente a partir da décadapixbet sacar1970, quando a estagflação (combinaçãopixbet sacarestagnação econômica ou recessão com inflação alta) e outros problemas econômicos semearam dúvidas sobre as políticas mais intervencionistas inspiradas pelo economista britânico John Maynard Keynes. Foi quando muitos políticos governos buscaram alternativas para cortar gastos públicos e promover o crescimento econômico.

Os três principais difusores da alternativa neoliberal no campo político foram o presidente americano Ronald Reagan, a primeira-ministra britânica Margareth Thatcher e o ditador chileno Augusto Pinochet.

No poder entre 1979 e 1990, Thatcher deu origem ao fenômeno político batizadopixbet sacarthatcherismo, termo cunhado pelo sociólogo britânico-jamaicano Stuart Hall.

Thatcher e seus aliados do Partido Conservador se notabilizaram por desregulação, privatização, redução da carga tributária e do dinheiropixbet sacarcirculação (para conter inflação) e nacionalismo, resume o Dicionário Concisopixbet sacarPolíticapixbet sacarOxford.

O neoliberalismopixbet sacarnomes como Hayek e Friedman era uma das principais influências teóricas do thatcherismo, marcado também pelo princípiospixbet sacarlei e ordem epixbet sacarliberdade associada à responsabilidade individual (algo mais ligado aos libertários do que aos conservadores).

Com o objetivopixbet sacarreerguer a economia britânica e modernizar o conservadorismo, Thatcher substituiu todo o aparatopixbet sacarbem-estar e proteção social por um programapixbet sacarausteridade fiscal com enorme cortepixbet sacargastos e ampla redução do tamanho do Estado por meio da vendapixbet sacarempresas públicaspixbet sacarsetores como gás, energia, água e telecomunicações.

Margareth Thatcher

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Legenda da foto, Primeira-ministra britânica Margareth Thatcher foi uma das principais figuras políticas do conservadorismo e do neoliberalismo

Durante esse período, thatcheristas também atacaram sindicatos, monopólios, servidores públicos, a União Soviética e a União Europeia. Por outro lado, formaram uma espéciepixbet sacarcoalizão com governantes como Reagan, que ao ladopixbet sacarThatcher lideraria um movimento político batizadopixbet sacarnova direita ("new right",pixbet sacaringlês).

Reagan foi eleitopixbet sacar1980 com apoiopixbet sacaruma corrente ideológica chamada neoconservadorismo, a principal transformação do conservadorismo tradicional desde o seu surgimento.

Houve uma espéciepixbet sacarunião entre diversos grupospixbet sacardireita, como cristãos evangélicos, intelectuais que se afastaram da esquerda, defensores da família tradicional epixbet sacarleis mais duras, grandes empresas e militares anticomunistas.

Todas esses grupos se uniriampixbet sacartorno do liberalismo libertário (com intervenção mínima do Estado na economia e na sociedade), do tradicionalismo moral e do anticomunismo, explica a cientista política e escritora brasileira Marina Basso Lacerda empixbet sacartesepixbet sacardoutorado que daria origem ao livro O Novo Conservadorismo Brasileiro: De Reagan a Bolsonaro, finalista do prêmio Jabutipixbet sacar2020.

O Chile sob Pinochet, por fim, seria considerado pelo historiador e escritor britânico marxista Perry Anderson como a primeira experiência neoliberal sistemática do mundo.

Pinochet chegou ao poderpixbet sacar11pixbet sacarsetembropixbet sacar1973, datapixbet sacarque os militares deram o golpe que resultou na deposição e na morte do então presidente socialista Salvador Allende.

Naquela época, o país sul-americano enfrentava uma forte crise econômica. O governo Allende havia nacionalizado diversas empresas privadas e permitido a tomada por trabalhadorespixbet sacarfábricas e propriedades rurais, o que aumentou a hostilidadepixbet sacargrande parte do empresariado. Além disso, a inflação afetava os salários da classe média.

Ao tomar o poder, Pinochet entregou o comando da economia a um grupopixbet sacareconomistas formados na Universidadepixbet sacarChicago (que depois seriam conhecidos como "Chicago Boys"), sob a liderançapixbet sacarFriedman. Quase que imediatamente, eles afrouxaram os controles estatais sobre a economia, liberaram exportações, venderam estatais e confiaram na "mão do mercado" para conduzir o crescimento econômico do país, algo considerado revolucionário naquele momento.

"Inspiradopixbet sacarHayek, Friedman e na Escolapixbet sacarChicago, o Chile conseguiu, durante a ditadura,pixbet sacar1973 a 1989, aplicar o receituário liberalpixbet sacartoda apixbet sacarextensão: desregulamentação, desemprego, repressão sindical, 'redistribuição'pixbet sacarrendapixbet sacarfavor dos ricos e privatização dos bens públicos", escreve Denise Barbosa Grospixbet sacarestudo sobre o tema.

O regimepixbet sacarPinochet também ficaria marcado pela extrema violência contra qualquer oposição. Maispixbet sacar3 mil pessoas foram mortas pela ditadura chilena e dezenaspixbet sacarmilhares foram torturadas ou presas ilegalmente.

Neste período no Chile há também uma aproximação dos neoliberais com os neoconservadores, movimento que no Brasil se tornou popular pelo rótulo "liberal na economia e conservador nos costumes".

Na prática, esses liberais conservadores defendem que o Estado não pode intervir na esfera pública (ao oferecer ensino público ou cotaspixbet sacaruniversidades), mas pode na vida privada (ao proibir aborto e consumopixbet sacardrogas).

Divisões entre liberais

A partir dos anos 1970, os liberais passam a se dividirpixbet sacarduas grandes vertentes que reformulam princípios clássicos do liberalismo: os igualitários e os libertários (que têm similaridades com os neoliberais).

"E ambos reivindicam ser os herdeirospixbet sacarfato da tradição liberal", afirma o cientista político britânico Andrew Shorten no verbete sobre liberalismo do livro Ideologias Políticas: Uma Introdução.

Os liberais libertários como o filósofo político americano Robert Nozick geralmente consideram que as ideias dos liberais igualitários são deturpadas e incompatíveis com a tradição liberal.

O Dicionáriopixbet sacarPolítica Routledge traça algumas diferenças entre liberais e libertários — que são considerados uma forma extrema do liberalismo clássico. "Um libertário acredita que a liberdade individual radical e a completa autossuficiência são os estados políticos mais desejáveis e devem ser usados como um parâmetro para julgar os sistemas sociais reais e suas restrições à liberdade."

Segundo esse dicionário, o pensamento libertário, surgido nos EUA, defende veemente o direito à propriedade e o "Estado mínimo", no qual "apenas algumas questões cruciais precisam ser, ou moralmente podem ser, tratadas pelo Estado; e é fortemente limitado o poder do Estadopixbet sacarexigir contribuições financeiras para exercer tal papel".

Como explica a cientista política e escritora brasileira Marina Basso Lacerda, essa corrente libertária defende um Estado estritamente limitado à proteção contra força, roubo ou fraude e à proteçãopixbet sacarcontratos e propriedades, negando "qualquer razão moral para se mitigar a desigualdade e criar políticaspixbet sacarbem-estar".

Sob essa perspectiva libertária, não é papel do Estado prover sistemapixbet sacareducação ou saúde pública, por exemplo, mas agir como uma espéciepixbet sacarvigia noturno.

Há, assim, uma aproximação entre neoliberais e libertáriospixbet sacartornopixbet sacardiversas ideias, como apixbet sacarque "a interferência do governo na economia e os programas sociais geravam inflação, endividamento, prejuízos à produtividade e, mais do que isso, desestimulavam o trabalho e a inovação", explica o historiador e professor brasileiro Roberto Moll (UFF)pixbet sacarartigo sobre o tema.

Na política contemporânea, é possível identificar defensores do liberalismo libertário na basepixbet sacarapoio do então presidente americano Donald Trump (Partido Republicano) e do atual presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL).

Por outro lado, o grupopixbet sacarliberais igualitários é bastante influenciado pelas ideias do filósofo político americano John Rawls, que tratapixbet sacarjustiça social e da igualdadepixbet sacaroportunidades como valor liberal fundamental. Para ele, cada pessoa tem direito à maior quantidadepixbet sacarliberdade compatível com a liberdade dos outros.

Barracõespixbet sacarfavela

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Legenda da foto, Uma das principais questões do liberalismo passa sobre como combater a desigualdade social sem ampliar demais o tamanho e o poder do Estado

"A consequência da teoriapixbet sacarRawls é que pode ser permitido à sociedade deixar que algumas pessoas tenham uma maior fatiapixbet sacarrecursos do que outras, mas somente se isso realmente melhorar a situação dos menos abastados", explica Shorten.

Isso significa que, se a concentraçãopixbet sacarriqueza afetar a igualdadepixbet sacaroportunidades, e portanto a liberdade, dos outros cidadãos, ela deve ser prevenida.

Em entrevistapixbet sacar2019 à BBC News Brasil, o economista e cientista social brasileiro Eduardo Giannetti explica que Rawls propunha um teste da boa sociedade a partir do principio da escolha sob o véu da ignorância.

"Nessa proposta (de Rawls), a sociedade ideal é a seguinte: você não nasceu ainda, você não sabe qual vai ser apixbet sacarcondição ao nascer, o nívelpixbet sacarrenda dapixbet sacarfamília,pixbet sacarfamília, seu gênero, a cor dapixbet sacarpele,pixbet sacarorientação sexual e você precisa eleger uma sociedade na qual você gostariapixbet sacarnascer, considerando que tudo pode acontecer com você. Quais seriam as características da sociedadepixbet sacarque você escolheria nascer? São duas: a sociedadepixbet sacarque a condição do menos favorecido é menos ruim, porque você quer se proteger da pior possibilidade, e a que existe maior permeabilidade para que você possa ascender e melhorar apixbet sacarcondição com seu próprio esforço."

A igualdadepixbet sacaroportunidades, ressalta Giannetti, é diferente da igualdadepixbet sacarresultados, que ele considera improdutiva e injusta. Ou seja, criar oportunidades favoráveis para todos não é a mesma coisa que criar um sistema "em que todo mundo chega igual independente do que se empenhou, do quanto fez, do talento,pixbet sacarquanto valoriza".

É possível perceber a influência do liberalismo igualitário no debate sobre ações afirmativas no Brasil, por exemplo.

Em seu voto a favor das cotas raciaispixbet sacaruniversidades federais do país, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, citapixbet sacar2012 o princípio da justiça distributivapixbet sacarRawls. "Só ela permite superar as desigualdades que ocorrem na realidade fática, mediante uma intervenção estatal determinada e consistente para corrigi-las, realocando-se os bens e oportunidades existentes na sociedadepixbet sacarbenefício da coletividade como um todo."

Liberalismo e neoliberalismo no Brasil

Em A História do Liberalismo Brasileiro, o historiador Antonio Paim afirma que a doutrina liberalpixbet sacarAdam Smith e outros pensadores só seria difundida no Brasil no século 19, décadas depois da publicaçãopixbet sacarsua obra A Riqueza das Nações,pixbet sacar1776.

Nesta época, o liberalismo chega ao paíspixbet sacarmeio a dois conflitos centrais com a ideiapixbet sacarliberdade individual: a escravidão e a monarquia.

Segundo a historiadora e professora Ana Cristina Lage (UFVJM), durante o Império brasileiro, dois grupos ganharam força política: os liberais e os conservadores. "Os primeiros defendiam um sistemapixbet sacareducação livre do controle religioso, uma legislação favorável à quebra do monopólio da terra e favoreciam a descentralização das províncias e municípios. Os conservadores opunham-se a essas ideias. Todo o período imperial foi marcado por tensões e conciliações entre os dois grupos."

Mas tanto os conservadores quanto os liberais defendiam a escravidão no Brasil, uma clara contradição aos princípios liberaispixbet sacarliberdade individual e direitos civis, por exemplo. Como justificativa, liberais defendiam o sistema escravocrata a partirpixbet sacarargumentos como o direito à propriedade e a manutenção da ordem vigente.

Na prática, as bandeiras dos liberais brasileiros beneficiariam apenas os homens livres e seus próprios interesses. A exemplo das Revoltas Liberaispixbet sacar1842, na qual os liberais não lutaram contra a concentraçãopixbet sacarpoderpixbet sacardom Pedro 2º, mas sim contra os rivais conservadores porque estes ganhavam mais poderpixbet sacartorno do monarca brasileiro.

A batalha política e ideológica contra uma monarquia, como ocorreu com o liberalismo na Europapixbet sacarofensiva contra reis absolutistas, só ocorreria décadas depois no Brasil, principalmente a partir da décadapixbet sacar1870, quando parte dos liberais e dos conservadores se juntariam no Partido Republicano.

A partir dali, a tradição liberal seria defendida publicamente por nomes como Assis Brasil e Rui Barbosa, que liderou os liberais na República brasileira, que daria fim à monarquiapixbet sacar1889.

Segundo Paim, os liberais passaram a direcionarpixbet sacarplataforma à defesa das liberdades democráticas contra o autoritarismo dos governantes, mas nas décadas seguintes os liberais acabaram perdendo força política no Brasil.

"Em 1920, (o jurista e sociólogo) Oliveira Vianna expressou pela primeira vez, tão clara e completamente quanto possível, o dilema do liberalismo no Brasil. Não existe um sistema político liberal, dirá ele, sem uma sociedade liberal. O Brasil, continua, não possui uma sociedade liberal, mas, ao contrário, parental, clânica (organizadapixbet sacarclãs) e autoritária", escreve o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos no ensaio A Práxis Liberal no Brasil: propostas para reflexão e pesquisa,pixbet sacar1974.

E como resolver esse dilema? Vianna defendia que o Brasil "precisariapixbet sacarum sistema político autoritário cujo programa econômico e político fosse capazpixbet sacardemolir as condições que impedem o sistema socialpixbet sacarse transformarpixbet sacarliberal", afirma Santos.

Segundo Denise Barbosa Gros, empixbet sacartesepixbet sacardoutorado pela Unicamp, "desde seus primórdios, o liberalismo brasileiro identificou-se com o liberalismo anglo-saxão, que se preocupava menos com a liberaçãopixbet sacaruma ordem absolutista e mais com a ordenação do poder nacional".

Um momento-chave para entender como os liberais se posicionaram na disputa política brasileira ao longo do século 20 foi a participaçãopixbet sacarparte deles na ditadura militar (1964-85).

Nomes importantes do liberalismo nacional apoiaram o golpe e atuarampixbet sacargovernos militares, como os economistas Roberto Campos, ministro do Planejamento do governo Castelo Branco, e Hélio Beltrão, que sucedeu Campos no cargo e foi um dos signatários do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que deu ao início ao período mais autoritário da história recente do Brasil, incluindo o fechamento do Congresso.

Campos justificou, por exemplo, a tomadapixbet sacarpoder pelos militarespixbet sacar1964 para a "necessária" instituiçãopixbet sacarduas ditaduras "de emergência": a ditadura para debelar a sedição (contra uma suposta ameaça comunista e o impasse institucional no governo João Goulart) e a ditadura para fazer as coisas (para garantir a adoçãopixbet sacarmedidas impopulares que dificilmente seriam aprovadas num contexto democrático com oposição livre).

Para alguns especialistas, a aproximaçãopixbet sacarliberais com o conservadorismo ou com o autoritarismo passa também por uma questãopixbet sacarclasse socialpixbet sacardefesapixbet sacarseus interesses.

"Muitos desses liberais vêmpixbet sacarfamílias e grupamentos sociais quepixbet sacaralgum sentido precisariampixbet sacarliberdade econômica para prosperar, mas quepixbet sacaroutro lado são ainda muito presos a uma lógicapixbet sacarvalores tradicionais", afirma à BBC News Brasil o cientista político e professor Creomarpixbet sacarSouza (Fundação Dom Cabral).

No período final da ditadura,pixbet sacarmeio a uma grave crise econômica, os principais nomes liberais começam a se afastar da política econômica adotada pelos militares, conhecida como desenvolvimentista (Estado como interventor e indutor da economia), e passam a se aproximar das ideias neoliberais (participação mínima do Estado na economia).

Essa nova fase nos anos 1980 foi marcada pela criação no Brasilpixbet sacardiversos institutos liberais, responsáveis por propagarpixbet sacareventos, estudos e livros o ideário liberal entre empresários, políticos, economistas, jovens e formadorespixbet sacaropinião, entre outros.

Uma das principais influências ideológicas desses institutos era a Escola Austríacapixbet sacarEconomia, mais precisamentepixbet sacardoispixbet sacarseus teóricos: Friedrich Hayek e Ludwig von Mises.

A Nova Direita brasileira

A aproximação dos liberais brasileiros com conservadores e autoritários voltou a ganhar força nos anos 2000.

Empixbet sacartesepixbet sacardoutorado que daria origem ao livro Menos Marx, Mais Mises: O Liberalismo e a Nova Direita no Brasil, a cientista política e pesquisadora Camila Rocha conta que os liberais se tornaram um dos pilares da nova direita brasileira, consolidada como uma reação ao PT principalmentepixbet sacargrupos na internet.

"Entre 2007 e 2013, os ultraliberais,pixbet sacarconjunto com outros militantes que além do livre mercado também defendiam pautas conservadoras, passaram a circularpixbet sacarnovas e antigas organizações civis, grupos e movimentospixbet sacardefesa do livre mercado e a formar grupospixbet sacarestudo e chapas para disputapixbet sacarcentros e diretórios acadêmicospixbet sacaruniversidades públicas", afirma a pesquisadora.

Segundo Rocha, foram justamente esses grupos que participariam do movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT)pixbet sacar2016, da formação do partido Novo,pixbet sacarmudanças programáticas no PSL e no fortalecimento da campanha presidencialpixbet sacarBolsonaropixbet sacar2018.

"A grande novidade reside no amálgama inédito entre o ultraliberalismo econômico e a defesapixbet sacarpautas conservadoras no que tange aos direitos humanos e demandas específicas dos movimentos feminista, LGBTQI+, negro, indígena e quilombola. Tal amálgama foi possívelpixbet sacarvirtude da uniãopixbet sacardiferentes grupos que possuíam, e ainda possuem, tensões importantes entre si, mas que se unificarampixbet sacartorno do antiesquerdismo e do antipetismo", escreve Rocha.

Estudo liderado pela antropóloga e professora Isabela Kalil (Fespsp)pixbet sacar2018 mapeou diversos perfispixbet sacareleitorespixbet sacarJair Bolsonaro, entre eles empresários, advogados, médicos e outros profissionais que foram caracterizados como "liberais antipetistas" e que ressaltavam que "venceram pelo próprio mérito".

Paulo Guedes

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Ministro Paulo Guedes (Economia) se tornou símbolo da aliança entre liberais e conservadores que ajudou a eleger Jair Bolsonaropixbet sacar2018

"(Eles) defendem redução ou cortepixbet sacarprogramas sociais, tendem a ver estes programas ou como privilégios ou como formaspixbet sacartornar as pessoas pouco produtivas. São contra cotas e direitos dos territórios indígenas e se expressam com a máxima 'é preciso ensinar a pescar e não dar o peixe'", afirma o estudo.

Para a socióloga e pesquisadora Sabrina Fernandes (Universidade Livrepixbet sacarBerlim), esses eleitorespixbet sacarperfil liberal falampixbet sacaruma perspectivapixbet sacarindividualidade, meritocracia, tendopixbet sacarvista a diminuição da atuação do Estado.

"Esse liberal pode argumentar que é preciso cobrar mensalidade na universidade pública. E ele vai fazer isso falando que essa medida seria mais justa para compensar para as pessoas que têm menos renda. Mas isso, no fundo, também tem um lado conservador, porque nega que a universidade deveria ser gratuita", explica Fernandes.

Muitos desses liberais não apenas apoiaram a candidaturapixbet sacarBolsonaro como também participarampixbet sacarseu governo. O principal exemplo é o ministro da Economia, Paulo Guedes, egresso da Escolapixbet sacarChicago e maior representante liberal no governo.

Nas últimas décadas, Guedes se notabilizou pela exposiçãopixbet sacarprincípios ultraliberais como Estado mínimo, desregulamentação e abertura da economia, cortepixbet sacarimpostos e flexibilização da legislação trabalhista.

E na eleiçãopixbet sacar2018, Guedes ajudou a atrair o apoiopixbet sacarparte do empresariado e dos investidores à campanhapixbet sacarBolsonaro sob o argumentopixbet sacarque o então candidato havia se convertido à agenda liberal — as promessas incluíam a privatizaçãopixbet sacartodas as estatais e a vendapixbet sacarimóveis da União, por exemplo.

"Nós somos uma aliança entre liberais e conservadores contra a esquerda que tava levando o país pro caminho da miséria, o caminho da Argentina, da Venezuela, com o empobrecimento da população", disse Guedespixbet sacar2021,pixbet sacarentrevista ao ladopixbet sacarBolsonaro.

Mas essa aliança entre liberais (principalmente neoliberais e libertários) e conservadores (tradicionais e neoconservadores) no Brasil atual não se resume a questões econômicas. É o famoso "liberal na economia e conservador nos costumes". Grosso modo, admite-se a intervenção do Estado na vida privada, mas não na esfera pública.

Para o cientista político e professor brasileiro Ivan Henriquepixbet sacarMattos e Silva (Unifap), a defesa do desmonte do aparatopixbet sacarproteção social do Estado levou os liberais a defenderem, como os conservadores, a volta da "família tradicional" como categoria central da estrutura da sociedade.

Críticas aos liberais e neoliberais

As principais críticas feitas aos liberais apontam que colocar o mercado no centro das prioridades, desregulamentar a economia e desmantelar os mecanismos do Estado que asseguram o bem-estar da população contribuiu para o aumento da distância entre os mais ricos e os mais pobrespixbet sacarvários países. Segundo essas críticas, a desigualdade social trouxe problemas cada vez maiores para a democracia e para os indivíduos.

O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), considerado um símbolo histórico da disseminação da agenda neoliberal, fez críticas ao neoliberalismo. "Em vezpixbet sacargerarem crescimento, algumas políticas neoliberais têm aumentado a desigualdade e colocadopixbet sacarrisco uma expansão duradoura", escreveu um triopixbet sacaraltos funcionários do FMIpixbet sacar2016.

Vale lembrar que a partir dos anos 1980 diversos países da América Latina enfrentaram graves crises econômicas e tiverampixbet sacarpedir empréstimos emergenciais ao FMI. Eles eram concedidospixbet sacartrocapixbet sacarcompromissos com planospixbet sacarajustes, que exigiam, entre outras coisas, o desmantelamentopixbet sacarentidades estatais,pixbet sacarabertura ao livre comércio e ao investimento estrangeiro, privatizações e redução do gasto públicopixbet sacaráreaspixbet sacarcunho social.

Em muitos casos, estas políticas conseguiam acabar com períodospixbet sacarinstabilidade macroeconômica extrema pelo qual passavam esses países, sitiados pela dívida e pela hiperinflação.

Mas também são associadas a uma disparada no desemprego e uma deterioração na qualidadepixbet sacarvida que levou muitos a se referir a este período como a "década perdida" da economia latino-americana.

Augusto Pinochet

Crédito, AFP

Legenda da foto, Ditadura do chileno Augusto Pinochet foi marcada por violência política e pela participaçãopixbet sacarmassapixbet sacarliberais da Escolapixbet sacarChicago no governo

Além disso, há críticas às aliançaspixbet sacarliberais com autoritários e/ou conservadores (que limitam liberdades individuais ligadas ao usopixbet sacardrogas e à práticapixbet sacaraborto, por exemplo), à promoçãopixbet sacaruma lógica individualista e ao afastamento dos princípios políticos do Estado liberal.

No livro O Liberalismo Contemporâneo, Antonio Paim faz críticas a um "transplante limitado" das ideias neoliberaispixbet sacarHayek e Mises para o Brasil. Para Paim, os liberais no Brasil influenciados por eles têm uma espéciepixbet sacar"fetiche do não-intervencionismo", ou seja, têm quase uma crença religiosapixbet sacarnão querer que o Estado se metapixbet sacarabsolutamente nada (mesmo quando há circunstâncias que exigem intervenção estatal).

Uma das principais críticaspixbet sacarAmaro Fleck, da UFMG, à visão não intervencionistapixbet sacarHayek (disseminada entre liberais e neoliberais no Brasil) épixbet sacarcrençapixbet sacarque "há uma causa econômica unívoca que determina a estrutura política da sociedade". Ou seja, como se houvesse apenas uma e não várias razões sociais, políticas e econômicas que levaram à ascensão do autoritarismo.

Fleck cita o exemplopixbet sacardiversos países da Europa que ampliaram as políticaspixbet sacarbem-estar social (ou seja, aumentaram o tamanho do Estado e a regulação da economia) sem terem se aproximado do autoritarismo, ao contrário do que alertava Hayek.

Aliás, outra crítica comum aos liberais e neoliberais dos séculos 20 e 21 passa justamente pela aproximaçãopixbet sacarregimes autoritários. Entre eles, a ditadurapixbet sacarPinochet no Chile.

"O sucesso da reforma neoliberal da economia chilena só foi possível porque a implantaçãopixbet sacarmedidas tão drásticas foi garantida por um regime autoritário que sufocou as contestações ao modelo. O neoliberalismo é muito criticado por implantar políticas recessivas que provocam desemprego e enfraquecem o movimento sindical", afirma Denise Barbosa Gros.

Em entrevista no Chilepixbet sacar1981, Friedrich Hayek afirmou ser totalmente contrário a ditaduras, mas que uma ditadura pode ser um sistema necessário para um período transicional.

"Às vezes é necessário para um país ter, por um tempo, uma forma ou outrapixbet sacarpoder ditatorial. (...) É possível para um ditador governarpixbet sacarmodo liberal. E é possível para uma democracia governar com uma total ausênciapixbet sacarliberalismo. Pessoalmente, prefiro uma ditadura liberal a um governo democrático sem liberalismo. Minha impressão pessoal — e isto é válido para a América do Sul — é que no Chile, por exemplo, testemunhamos uma transiçãopixbet sacarum governo ditatorial para um governo liberal. E durante esta transição pode ser necessário manter certos poderes ditatoriais, não como um arranjo permanente, mas sim como um provisório."

Wilson Gomes, da UFBA, afirma que aqueles que se apresentam como liberais no Brasil defendem "deixar fora tudo aquilo que faz parte do papel liberal: a proteçãopixbet sacarminorias, os direitos dos cidadãos, os direitos fundamentais, o esclarecimento, o predomínio da razão".

E completa: "Ou seja, é um sujeito antiprogressista, portanto iliberal, se dizendo liberal. É um liberalismo iliberal."

Segundo Gomes, "quando alguém no Brasil diz 'sou liberal', significa basicamente 'sou radicalmente antiesquerda porque eu não aceito políticas públicas dessa natureza e acho que o Estado deveria ter o tamanho mínimo possível, não deve interferir na vida dos cidadãos'. É uma espéciepixbet sacardarwinismo socialpixbet sacartermopixbet sacarpolítica social: cada um se vira como pode."

Para a filósofa e escritora Sueli Carneiro, o neoliberalismo no Brasil é uma ideologia individualista na qual o "eu sozinho" se considera agente da transformação e responsável pela própria mobilidade social. Carneiro afirma que essa ideologia é "nociva" porque apenas a luta coletiva traria benefícios para os negros e outras minorias. Segundo ela "só brancos podem se dar o luxopixbet sacarser neoliberais porque têm a vida ganha".

*Com informações adicionaispixbet sacarLígia Guimarães, da BBC News Brasilpixbet sacarSão Paulo

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