Único conhecido no planeta, tamanduá albino é encontrado no Cerrado:bra bet

  • Leandro Machado
  • Da BBC News Brasilbra betSão Paulo
Alvin andando no Cerrado

Crédito, Luciano Candisani/@lucianocandisani

Legenda da foto,

Alvin foi descobertobra betuma fazenda do Mato Grosso do Sul

bra bet Um tamanduá albino foi encontrado recentemente no Mato Grosso do Sul. Com pelagem clara e olhos avermelhados, foi batizado com o nomebra betAlvin.

Segundo especialistas, ele é o único tamanduá-bandeira albino conhecido no planeta ebra betexistência pode ajudar a explicar como o desmatamento do Cerrado afeta a espécie.

A descoberta ocorreubra betagosto deste ano e está mobilizando pesquisadores do Institutobra betConservaçãobra betAnimais Silvestres (ICAS), que iniciou um estudo científico sobre o bicho ebra betadaptação ao Cerrado.

Com apenas oito mesesbra betvida, ele foi encontrado por funcionáriosbra betuma fazenda particular na regiãobra betTrês Lagoas, cidade a cercabra bet330 km da capital, Campo Grande. Ainda filhote, ele estava com a mãe, que o carregava nas costas - a fêmea costuma cuidar do filhote por até 10 meses.

Sua mãe, no entanto, tinha características comuns ao tamanduá-bandeira: pelagem acinzentada que serve para camuflar o animalbra betmeio à vegetação do Cerrado.

O tamanduá-bandeira, mamífero tido como um dos símbolos da rica fauna do bioma, estábra betriscobra betextinção por causa da caça e também da constante destruição da vegetação que lhe serve como habitat.

Segundo dados da International Union for Nature Conservation (IUCN), a espécie perdeu 30%bra betsua população entre 2003 e 2013 - esse dado, o último disponível, é uma estimativa por conta da dificuldadebra betcalcular a quantidadebra betanimais na natureza.

A espécie está presentebra bettodo o Cerrado brasileiro, mas tambémbra betoutras áreas na América do Sul.

Nesse contextobra betrisco, Alvin ocupa uma posição ainda mais rara: não há notíciasbra betque existam outros albinos como ele.

Alvin andando no Cerrado

Crédito, Luciano Candisani/@lucianocandisani

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Alvin tinha cercabra betoito meses quando foi encontrado

O albinismo é uma desordem genética que limita a produçãobra betmelanina, gerando animais com pelagembra betcoloração clara ou aloirada.

O albinismo pode atingir todas as espécies, mas é extremamente raro - e, dado o tamanho da faunabra betum bioma extenso como o Cerrado, encontrar um animal albino depende muito da sorte.

Nesse cenário, a existênciabra betAlvin está envoltabra betalguns mistérios que os cientistas vão tentar desvendar nos próximos meses.

O primeiro é que ele não foi o primeiro tamanduá albino a aparecer na regiãobra betTrês Lagoas.

Um ano antes,bra betagostobra bet2021, outro indivíduo com pelagem aloirada como ele foi encontrado por funcionários da mesma fazenda.

"Quando nós chegamos lá, ele já estava morto, mas conseguimos coletar amostras genéticas que foram enviadas para a análisebra betlaboratório", explica a médica veterinária Débora Yogui.

Alvin deitado

Crédito, ICAS

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Alvin foi encontrado um ano depoisbra betoutro albino, mas o primeiro estava morto

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Segundo a bióloga Nina Attias, pesquisadora do ICAS, é provável que esse primeiro tamanduá albino seja irmãobra betAlvin, que nasceu meses depois.

Para comprovar essa tese serão necessários testes genéticos com material coletado dos dois animais.

"Dois tamanduás albinos aparecerem na mesma fazenda é como se dois raios caíssem no mesmo lugar. Por isso, nós acreditamos que sejam irmãos", explica Attias.

Para Attias, porém, há um problema nessa configuração familiar: os tamanduás não são monogâmicos, ou seja, eles acasalam e produzem filhotes com vários parceiros ao longo da vida.

"Para um nascer albino, é necessária uma combinação dos genes do pai e da mãe. É uma questãobra betacaso mesmo, muito difícilbra betacontecer", explica a bióloga.

Então, para os dois serem irmãos e albinos, é mais provável que eles sejam filhos dos mesmos pais. "Teria que ser uma coincidência muito grande nascerem dois tamanduás albinosbra betpais diferentesbra betuma mesma fazenda", explica Attias.

Nesse ponto entra outro fator importante que pode explicar o fenômeno: o desmatamento do Cerrado.

Segundo a bióloga, a destruição do bioma pode levar à "endogamia" da espécie. Ou seja, com menos opçõesbra betparceiros para acasalar, os tamanduás teriam atingido um grau menorbra betdiversidade genética, aumentando a chancebra betdois indivíduos albinos nascerem na mesma regiãobra betperíodo curtobra bettempo.

Alvin

Crédito, ICAS

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O tamanduá-bandeira come cercabra bet10 mil formigas por dia

"Muito provavelmente esse declínio populacional e isolamento desse bichos têm a ver com o alto graubra betdegradação do Cerrado no Mato Grosso do Sul", diz.

Um estudo científicobra bet2016 apontou que, no Mato Grosso do Sul, existiam apenas 16% da vegetação original do Cerrado. O restante foi destruído, principalmente para dar lugar à agropecuária.

Desmatamento do Cerrado

Esse desmatamento ocorrebra betgrande parte do bioma, considerado a savana mais biodiversa do planeta, com maisbra bet14 mil plantas, alémbra betuma rica fauna silvestre.

Dados do Instituto Nacionalbra betPesquisas Espaciais (Inpe) apontam que o Cerrado perdeu 10.689 quilômetros quadradosbra betvegetação entre agostobra bet2021 e julho deste ano - proporcionalmente, ele sofre mais com o desmatamento do que a Amazônia.

De acordo com o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil, 45,4% do Cerrado já foi destruído para dar lugar à agropecuária, principalmente para o cultivobra betsoja e milho.

Como um albino sobrevive

O estudo sobre tamanduá Alvin também pode descobrir outro mistério: como um animal albino consegue sobreviver no Cerrado?

Os cientistas colocaram um colarbra betmonitoramentobra betAlvin. Todabra betmovimentação está sendo registrada.

"A teoria ecológica fala que os bichos albinos têm mais dificuldades adaptativas ebra betsobrevivência. Ele sofre mais com o calor por causa da pelagem, e também é mais difícil para ele se camuflar na vegetação. Praticamente não existem dados sobre os desafios que os albinos enfrentam para sobreviver", explica Attias.

Para Alvin, talvez seja mais difícil fugir dos grandes predadores, como as onças parda e pintada. Essa predação, inclusive, é importante para a vida no Cerrado: esses grandes carnívoros dependem da existência do tamanduá-bandeira para se alimentar.

Já outros servembra betcomida para o tamanduá: cada animal come cercabra bet10 mil formigas por dia, alémbra betmilharesbra betcupins.

Alémbra betrara, a vidabra betAlvin não será nada fácil.