Com retração da indústria, Brasil exporta mais para o Oriente Médio do que para Argentina:esportes serie a

esportes serie a No ano 2000, 59% do que o Brasil vendeu para o mundo foram produtos manufaturados pela indústria. Em duas décadas, essa participação caiu a menos da metade - 28%esportes serie a2022, conforme os dados compilados pela Associaçãoesportes serie aComércio Exterior do Brasil (AEB).

Soja, milho, petróleo, minérioesportes serie aferro e carne responderam por cercaesportes serie ametadeesportes serie atudo o que o Brasil embarcou para o mundo no ano passado.

A mudançaesportes serie aperfil da pautaesportes serie aexportações acabou mexendo com a lista dos principais destinosesportes serie aprodutos brasileiros. Hoje, o Brasil vende mais para o Oriente Médio, por exemplo, do que para a vizinha Argentina, destino da primeira visita oficial do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcouesportes serie aBuenos Aires neste 22esportes serie ajaneiro.

A inversão é reflexo do avanço das commodities nas relações comerciais do Brasil com a comunidade internacional. Enquanto a Argentina é o principal destino dos bens manufaturados produzidos pela indústria brasileira, especialmente a automotiva, o Oriente Médio compra principalmente carnesesportes serie aaves (17%), milho (16%), minérioesportes serie aferro (14%), soja (11%), açúcares e melaços (10%) e carne bovina (5%).

O dólar e a polêmica da moeda comum

Uma das principais razões para a perdaesportes serie aespaço é a crise longa pela qual passa o país vizinho, avalia José Augustoesportes serie aCastro, presidente-executivo da AEB.

"A Argentina tem um problema sérioesportes serie afaltaesportes serie adólares", diz ele, referindo-se ao nível baixoesportes serie areservas cambiais, hojeesportes serie aUS$ 42,9 bilhões. Para efeitoesportes serie acomparação, o Brasil, por exemplo, soma US$ 324,7 bilhõesesportes serie areservas internacionais.

Para evitar a saídaesportes serie adólares, o governo argentino com frequência impõe restrições às importações, o que afeta diretamente seus principais parceiros comerciais.

Uma saída para tentar aumentar o fluxoesportes serie acomércio entre Brasil e Argentina seria transacionaresportes serie auma moeda que não fosse o dólar - daí a ideia que circulou após a reunião entre o embaixador argentino, Daniel Scioli, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no dia 3esportes serie ajaneiroesportes serie aBrasília, e que acabou gerando ruído.

Ao sair do encontro, Scioli falou sobre a possibilidadeesportes serie acriaçãoesportes serie auma moeda comum para o Mercosul. Dias depois, Haddad se irritou ao ser questionado por um jornalista sobre a possibilidadeesportes serie aadoçãoesportes serie auma moeda única pelo bloco.

A ideia,esportes serie afato, não seria criar uma moeda única (como o euro), mas uma moeda escritural que pudesse ser usada como mecanismoesportes serie acompensação no comércio bilateral entre os dois países, diz Welber Barral, especialistaesportes serie acomércio internacional e sócio-fundador da consultoria BMJ.

Ele lembra que o Brasil já conta com um Sistemaesportes serie aPagamentosesportes serie aMoeda Local,esportes serie aque Argentina e Uruguai podem pagaresportes serie asuas respectivas moedas, mas é preciso fazer uma compensação diáriaesportes serie adólares.

"Na prática, [com esse sistema] persiste o problema das reservas cambiais."

Para ele, a moeda comum poderia ser um mecanismo para contornar o problema, mas "haveria uma questão política a ser tratada com a Argentina sobre os riscosesportes serie acalote". Castro, poresportes serie avez, acha que a ideia éesportes serie adifícil implementação.

O presidente argentino, Bolsonaro e Lula

A visitaesportes serie aLula será a primeiraesportes serie aum presidente brasileiro ao líder argentino Alberto Fernández.

Jair Bolsonaro (PL) viajou ao paísesportes serie a2019, quando o rivalesportes serie aFernández, Mauricio Macri, ainda estava na Casa Rosada. Desde que a Frenteesportes serie aTodos - a coalizãoesportes serie apartidosesportes serie aesquerda peronistas e kirchneristas que ganhou as eleições - assumiu o poder, ele não foi mais à região.

O primeiro encontro entre os dois aconteceuesportes serie ajunhoesportes serie a2022, na Cúpula das Américasesportes serie aLos Angeles.

Na visãoesportes serie aBarral, o distanciamento na relação bilateral nos anosesportes serie aBolsonaro não chegou a afetaresportes serie aforma significativa a relação comercial entre Brasil e Argentina, que ele considera muito estável.

O especialista aponta, contudo, que algumas das políticas da gestão passada acabaram contribuindo para esfriar o fluxoesportes serie acomércio entre os dois países, entre eles a interrupção do programaesportes serie afinanciamento às exportações pelo Banco Nacionalesportes serie aDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Emesportes serie aavaliação, essa era uma política que deveria ser retomada.

De forma mais ampla, Barral afirma que o Brasil "ficou muito isolado internacionalmente nos últimos anos" e que tem agora a oportunidadeesportes serie a"retomar o protagonismo internacional, principalmente considerando os vizinhos".

"A Argentina vai continuar a ser um vizinho importante e o Brasil tem que melhorar o relacionamento com ela - então essa visita é importante."

Os quadros do peronismo argentino têm proximidade com o Partido dos Trabalhadores (PT). Na noiteesportes serie aque Fernández venceu as eleições,esportes serie a27esportes serie aoutubroesportes serie a2019, um grupo grandeesportes serie apetistas participou das comemoraçõesesportes serie aBuenos Aires. Entre militantes, integrantes da direção do partido, parlamentares e ex-parlamentares estavam o ex-senador e agora deputado Lindbergh Farias e o atual presidente do BNDES Aloizio Mercadante.

O próprio presidente argentino é próximoesportes serie aLula. Aindaesportes serie acampanha,esportes serie a2019, chegou a visitá-lo na prisãoesportes serie aCuritiba.

Recordeesportes serie aexportações para o Oriente Médio

O aumento dos embarques do Brasil para o Oriente Médio, poresportes serie avez, é um retato da primarização da pautaesportes serie aexportações brasileira.

Nos últimos anos, o país tem vendido cada vez mais produtos básicos, muitos com um nível baixoesportes serie adiferenciação.

Tamer Mansour, secretário-geral da Câmaraesportes serie aComércio Árabe-Brasileira, dá o exemplo concreto do café: o Brasil vende especialmente o grão in natura para os países árabes, quando poderia oferecer, por exemplo, caféesportes serie apó, mais caro e com maior valor agregado.

"Nós temos os achocolatados, sucos, óleoesportes serie asoja,esportes serie amilho... no caso desses produtos, infelizmente, a gente só exporta para os árabes as commodities", comenta.

Para além da indústria alimentícia, ele diz, o Brasil teria o potencial para vender também produtos farmacêuticos, cosméticos e relacionados à moda à região.

"Acho que o Brasil precisa se destacar um pouco mais, precisa entender que essa cúpula do mundo árabe, especialmente da parte do Golfo, tem como absorver produtosesportes serie amaior valor agregadoesportes serie aorigem brasileira."

Os US$ 17,2 bilhões que o Brasil embarcou para a regiãoesportes serie a2022 são o maior valor da série histórica da Secretariaesportes serie aComércio Exterior, que começaesportes serie a1997.

O primeiro destino foi o Irã. Milho e soja responderam por 80% dos US$ 4.3 bilhões vendidos ao país persa. Entre os árabes, os principais mercados foram os Emirados Árabes Unidos (US$ 3,3 bilhões), que têm se tornado um hubesportes serie adistribuiçãoesportes serie aprodutos para a Ásia Central, e a Arábia Saudita (US$ 2,9 bilhões).

Na avaliaçãoesportes serie aMansour, parte do aumento das exportações para os países árabes se deve à valorização dos preçosesportes serie acommodities no ano passado e à Copa do Catar, que contribuiu para elevar a demanda por produtos básicos.

A relação da gestão Bolsonaro com os países da região teve um início turbulento com a proposta,esportes serie a2019,esportes serie atransferir a embaixada brasileiraesportes serie aIsraelesportes serie aTel Aviv para Jerusalém, cidade disputada por israelenses e palestinos. O governo recuou da ideia e, com o tempo, passou a acenar mais aos países da região, especialmente por meio do Ministério da Agricultura.

"Isso nos causou um desconforto inicial. Eu acho que o governo - especialmente, naquela época, a Tereza Cristina (ministra da Agricultura) - conseguiu muito bem contornar a situação, absorver a importância do mundo árabe no agro brasileiro."

Sobre o terceiro mandatoesportes serie aLula, Mansour diz acreditar que a relação com a região deve se estreitar e cita a visita do presidente ao Egito antesesportes serie asua posse,esportes serie anovembro, para participar da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 27).

"Foi o presidente Lula que desenvolveu a Cúpula Aspa [Cúpula América do Sul - Países Árabes, inauguradaesportes serie a2005], então isso mostra como esse governo deve olhar com profundidade para os países árabes", acrescenta.