Artista que já foi homem e mulher conta por que agora tem gênero neutro:jogar na blaze

Crédito, Santiago Felipe
jogar na blaze A artista performática e dramaturga americana Kate Bornstein já vivenciou muitas vidas e identidades. Nascida "ele" - foi batizada como Albert -, fezjogar na blazetransição para o sexo feminino na décadajogar na blaze1980.
Mas,jogar na blazeentrevista ao programa Outlook do BBC World Service, disse que hoje não é homem nem mulher.
Sua assessoriajogar na blazeimprensa sugere que os pronomes ingleses they, them e theirs (eles e deles), que na língua inglesa têm gênero neutro, sejam usadosjogar na blazereferência a Bornstein.
Esse recurso, porém, não existe na língua portuguesa. Como alternativa, grupos que defendem a inclusãojogar na blazegênero vêm sugerindo sistemas alternativosjogar na blazelinguagem. Na escrita, o mais comum é a substituição do "o" e do "a" nas palavras com gênero masculino e feminino por "@", "x" ou "e".
Atendendo ao pedidojogar na blazeKate Bornstein, a BBC Brasil adotará o sistema sugerido, substituindo artigosjogar na blazegênero pela letra "x"jogar na blazereferências à identidade sexual dx artista.
'Então sou menina'
X artista iniciou a entrevista contando que nasceu na décadajogar na blaze1950 no Estadojogar na blazeNew Jersey, nos Estados Unidos. Sua família era pequena e bastante convencional: o pai médico, a mãe, Kate (na época Albert) e seu irmão mais velho.
Kate disse que nunca sentira nadajogar na blazediferentejogar na blazerelação ajogar na blazeidentidade até começar o jardim da infância, aos quatro anos e meiojogar na blazeidade.
"Sempre fui o bebê (da casa), então não havia (o conceito de) gênero."
"(No meu primeiro dia na escola) pediram que fizéssemos fila. Meninosjogar na blazeum lado, meninasjogar na blazeoutro. Olhei para a fila dos meninos e pensei, 'não, acho que não é essa'. Olhei para a fila das meninas e pensei, 'é com elas que quero ficar'."
"Fui fazer fila junto com as meninas e a professora veio falar comigo. 'Essa é a fila para as meninas', ela disse. 'Ok, então eu sou menina!' Ela fez uma cara feia e eu corri para a fila dos meninos. Mas daquele momentojogar na blazediante, entendi que eu não era menino - e que eles não me deixavam ser menina."
"Me senti perdidx e solitárix. Ninguém mais que eu conhecia era assim."

Crédito, Santiago Felipe
A sociedade tem formas sutisjogar na blazefazer com que as pessoas respeitem as regras, explicou Kate.
"Ninguém força você a entrar na linha. Você obriga a si mesmx. Não queria ser uma aberração. 'Ok, prefiro não ser eu mesmx, desde que as pessoas não me persigam."
Kate foi para uma escolajogar na blazemeninos. Lá, era tidx como "o judeu gordo", alvojogar na blazezombarias por ser gordx e por conta do antissemitismo. Na escola secundária, para evitar a crueldade dos colegas, descobriujogar na blazeveia cômica - e foi fazer teatro.
"Quando você atua, pode ser outras pessoas. E eu não queria ser eu. Então, me empenhavajogar na blazeser outras pessoas - e era um ótimo ator", contou Kate.
Cientologia
Terminado o colégio, Kate embarcoujogar na blazeuma longa jornada espiritual.
"Eu era um típico hippie. Cabelo longo até os ombros, camisas floridas e calçasjogar na blazeboca larga. Foi um período maravilhoso. Peguei a estrada no meu microônibus e fui parandojogar na blazevárias comunidades espirituais, até encontrar os cientologistas."
Kate explicou que o conceitojogar na blazeespiritualidade na Cientologia parecia fazer muito sentido para elx, que não se sentia bem najogar na blazeidentidade masculina.
"Os cientologistas acreditam que você não é seu corpo nemjogar na blazemente. Você éjogar na blazeprópria alma espiritual e imortal. Portanto, você não precisajogar na blazeespaço ou tempo, não existe na matéria ou na energia. Eu pensei, 'se é assim, não preciso ter um gênero', eu pensei".
Kate foi subindo na hierarquia da Igreja da Cientologia e tornou-se parte da elite da organização. Nesse processo, casou-se duas vezes com mulheres que também pertenciam à igreja e teve uma filha com a primeira esposa.
Um dia, por acidente, descobriu irregularidades na contabilidade da organização. Ao tentar esclarecer o problema, Kate foi acusadxjogar na blazefazer espionagem a serviçojogar na blazeuma organização inimiga.
Elx se viu obrigadx a escolher entre um "projetojogar na blazereabilitação" - que envolvia trabalho intensivo, seis horasjogar na blazesono por noite,jogar na blazechão duro, e alimentação à basejogar na blazerestos dos outros integrantes da seita - ou ser excomungadx.
Elx optou pela excomunhão. Nesse processo, tevejogar na blazedeixar para trás a segunda mulher e a filha.
"Uma das razões pelas quais eu fiquei (na organização) é que eu amava muito minha segunda esposa. E por causajogar na blazeminha filha. Mas tivejogar na blazedeixá-las para trás. Os cientologistas não têm permissãojogar na blazefalar com pessoas que deixaram a religião."
Após deixar a Cientologia, Kate viveu um período difícil. Continuava não se aceitando como homem e pensava: "Então só posso ser mulher".
Mas ainda resistia. "Não queria ser uma aberração."
Casou-se novamente, desta vez com uma ex-namorada do tempo da escola que queria "curar" o maridojogar na blazeseu desejojogar na blazeser mulher.
"Não funcionou. Um ano mais tarde, meu pai morreu e finalmente me senti livre. Não tinha maisjogar na blazeser o bom filho. Comecei minha transiçãojogar na blazegênero."

Crédito, Santiago Felipe
Transição
Kate explicou que cada transsexual vivencia esse momentojogar na blazetransiçãojogar na blazeforma diferente.
"Eu estava muito animadx, achava que isso ia resolver todos os meus problemas, embora na terapia tivessem me avisado que não era assim."
"Acordei depois da cirurgia e pensei, 'agora sou mulher, isso é maravilhoso, que alívio'. Eu finalmente sabia o que as outras pessoas sentiam quando tinham certezajogar na blazeseu gênero."
Mas a realidade foi diferente. "Como homem, eu tinha vivido minha vida observando o que outros homens faziam e copiando uma coisa aqui, outra ali. Então, ser homem para mim era fingimento, era uma farsa."
De repente, Kate descobriu que teriajogar na blazefazer o mesmo para ser mulher.
"Eu não sabia como ser mulher, tivejogar na blazeobservar mulheres, aprender a falar como mulher, andar como mulher… virou teatro novamente. E ainda por cima, eu era lésbica. Isso tinha sido um obstáculo na minha transiçãojogar na blazehomem para mulher."
Naquele tempo, uma mulherjogar na blazeverdade não podia se atrair por outra mulher. Essa questão, Kate explicou, foi resolvidajogar na blazeuma sessãojogar na blazeterapia.
"Minha terapeuta me explicou que há uma diferença entre orientação sexual - ou seja, com quem você vai para a cama - e identidadejogar na blazegênero - quem você é quando vai para a cama."
"Mas eu continuavajogar na blazeconflito, 'eu não posso amar mulheres, não está certo!', eu dizia. Até que minha terapeuta perdeu a paciência e disse, 'agora chega, você é lésbica, entendeu?'"
Sem categorias
Kate então se mudou para São Francisco, na Califórnia, e conheceu uma comunidadejogar na blazetransexuais.
"Éramos uma família. Naquele tempo, havia muita solidão na transexualidade. Ainda não existia a internet. "
Hoje, a pessoa transgênero está sendo reconhecida como homens e mulheres que viveram uma experiênciajogar na blazetransição, disse Kate.
"Mas ainda há muitxsjogar na blazenós que ficam fora dessas categorias e dizem 'não somos homens nem mulheres'."
"A palavra agora é não binárix," disse Kate. "Eu sempre duvideijogar na blazepessoas que acham que são homens ou que são mulheres. Mas aprendi a respeitar suas verdadesjogar na blazegênero."








