Os riscos e benefíciosbr sportingbetse enfrentar a menopausa com testosterona:br sportingbet

Crédito, Getty Images
"Eu brigava no trânsito, discutia com pessoas na rua. Em casa, não tinha paciência com meus filhos e com meu marido. (A menopausa) também afetou totalmente minha vida sexual. Passado o período recuperatório, minha libido desapareceu totalmente, me sentia um ser assexuado", acrescenta.
Marcia acabou decidindo recorrer a um tratamento que muitos médicos consideram arriscado, mas que é cada vez mais comum: a terapia com testosterona.
Antes disso, porém, ela ainda tentou tratamentos mais tradicionais com seu ginecologista.
"(O médico) dizia para eu ter paciência, que era só uma fase. Ele entrou com um hormônio levinho (estrogênio) e eu sentia quase nadabr sportingbetmelhora. Como viu meu desespero, entrou com uma medicação um pouco mais forte. Um hormônio sintético, Tibolona. Fiquei um pouco mais equilibrada e com zero libido. Continuava sem ânimo para nada, como se eu tivesse perdido a vontadebr sportingbetviver", lembra.

Crédito, Getty Images
Foi aí que Marcia decidiu buscar uma segunda opinião, apesar da relaçãobr sportingbetextrema confiança que tinha com seu ginecologista. Ele havia feito os partosbr sportingbetseus dois filhos. "Foi doído, mas eu não tinha mais condiçãobr sportingbetviver daquele jeito."
A pedido da nova médica, Márcia se submeteu a vários exames, para identificar a presençabr sportingbettumores.
"Os resultados estavam todos normais e como não tenho nenhum antecedente familiarbr sportingbetcâncer, ela me receitou a testosterona e o estradiol", explica.
E assim começou o tratamentobr sportingbetMarcia com testosterona, hormônio que é produzido pelo homembr sportingbetgrandes quantidades ebr sportingbetpequenas doses pela mulher.
Efeito na libido
Terapias à basebr sportingbettestosterona vêm ganhando adeptos internacionalmente, ainda que não haja estudos que comprovem a segurança desses tratamentos.
Na mulher, seu efeito mais conhecido é na sexualidade: age na fantasia sexual, no erotismo. E também na manutenção da massa muscular e no vigor físico.
Não há consenso científico sobre o tema, mas médicos ouvidos pela BBC Brasil associaram o usobr sportingbettestosterona a um aumento nos índicesbr sportingbetcolesterol e nos riscosbr sportingbetarteriosclerose e do câncer.
Márcia diz ter sido informada sobre os riscos.
"Apesarbr sportingbetser uma pessoa supernatureba para certas coisas, essa foi a forma que encontreibr sportingbetcontinuar vivendo com qualidade", diz.
"A vida estava sofrida, desequilibrada e com tendência à depressão. A decisãobr sportingbettomar um hormônio mais forte foi a esperançabr sportingbetvoltar a ser quem eu era", completa.
'Primeira injeção'
Márcia tomoubr sportingbetprimeira injeçãobr sportingbettestosteronabr sportingbet2015. As doses são anuais e, como as drogas podem aumentar o riscobr sportingbetenfartes, é preciso fazer uma avaliação cardiológica prévia alémbr sportingbetexames periódicos para reavaliar os efeitos da medicação.
"A primeira coisa que percebi foi o retorno do sono. Voltei a dormir normalmente, por voltabr sportingbetseis horas por noite. A disposição melhorou. Pareibr sportingbetchorar - porque eu chorava muito. E a libido voltou. Voltei a viver", lembra.
"Meu marido amou. Ele estava achando que eu não tinha mais nenhum interesse nele e não era por aí. É que simplesmente você não consegue pensarbr sportingbetsexo. Algumas mulheres chegam à menopausa e a vida segue normalmente. No meu caso, tinha morrido para a vida. (Mas) não é todo mundo que pode tomar hormônio, então, a pessoa deve procurar um profissional competente para saber se tem condições ou nãobr sportingbetutilizar a medicação", ressalva.

Crédito, Getty Images
Terapia polêmica
Dúvidas quanto à segurança da terapiabr sportingbetreposição hormonal clássica, baseada principalmente no uso dos hormônios femininos, persistem na medicina há décadas e não há consenso sobre o assunto.
No caso da terapia à basebr sportingbettestosterona,br sportingbetuso mais recente, a incerteza é ainda maior. Há menos estudos e os que existem tiveram curta duração.
Em 2014, as médicas Sandra Léa Bonfim Reis e Carmita Abdo, da Faculdadebr sportingbetMedicina da Universidadebr sportingbetSão Paulo (FMUSP), fizeram uma análisebr sportingbetestudos publicados entre 1998 e 2012 sobre benefícios e riscosbr sportingbetterapias à basebr sportingbettestosterona para tratar a perdabr sportingbetlibido.
O relatório das pesquisadoras, publicado na revista científica Clinics, do Hospital das Clínicas da FMUSP, concluiu que embora não haja dúvidas sobre os efeitos positivos da testosterona na resposta sexual feminina, todos os estudos publicados no período avaliado forambr sportingbetcurta duração (no máximo, 24 semanas).
"Portanto, é impossível tirar conclusões definitivas a respeito dos efeitos colaterais do uso da testosterona a longo prazo", diz o estudo.
Médicos ouvidos pela BBC Brasil têm opiniões divergentes sobre o assunto.
O ginecologista Manoel Girão, chefe do Departamentobr sportingbetGinecologia da Unifesp (Universidade Federalbr sportingbetSão Paulo), diz estar preocupado com o que considera uma nova tendênciabr sportingbettratamentos no Brasil.
"Essa tendência é bem perceptível, intensa e colocada muitas vezes como isentabr sportingbetriscos. No entanto, há riscos. E ela (a testosterona) está sendo usadabr sportingbetforma excessiva", alerta.
Riscos
A BBC Brasil procurou o laboratório Bayer, fabricante do remédio Nebido - à basebr sportingbettestosterona - para pedir dados sobre as vendas atuais no Brasil. A empresa não disponibilizou a informação.
"Não tenho um número exato mas, hoje, estudos da sexualidade atingem uma parcela significativabr sportingbetmulheres com idades entre 45 a 55 anos. E (nesse grupo) o númerobr sportingbetpedidosbr sportingbetterapias para melhorar a libido é alto, entre 20 e 25%", diz Girão.
"Os riscos mais conhecidos e usuais são aumentobr sportingbetalterações (nos índices)br sportingbetcolesterol e triglicerídeos. Alterações nos níveisbr sportingbetlipídios. Aumento nos riscosbr sportingbetdoenças vasculares, por exemplo, a arterioesclerose. E, a depender da dose, aumento nos riscosbr sportingbetcertos tiposbr sportingbetcâncer", acrescenta o especialista.
Girão ressaltou que múltiplos fatores interferem na libido feminina.
"A libido é o relacionamento, o estresse do cotidiano, o quadro hormonal. A testosterona resolveria uma partezinha desse todo, mas com riscos. Uma mulher, para sentir vontadebr sportingbetter relação, precisa se sentir bonita consigo mesma, admirada, cortejada, respeitada pelo parceiro. Ela precisa desse contexto todo", explica.
Por outro lado, diz o médico, a forma como a mulher vive e pensa a menopausa está vinculada a valores sociais.
"A sociedade está cobrando da mulher vigor e aparênciabr sportingbetjuventude para sempre. Não dá para esperar que uma mulherbr sportingbet60 anos se vista ou se porte como asbr sportingbet20 anos. É uma beleza diferente", pontua.
Girão reitera que não indicaria testosterona para resolver problemasbr sportingbetlibidobr sportingbetsuas pacientes.
Menopausa
A médica britânica Heather Currie, presidente da Sociedade Britânicabr sportingbetMenopausa, concorda parcialmente com o médico brasileiro.
"A libido e o desejo sexual são afetados por muitos fatores, não apenas a perda da testosterona", diz Currie à BBC Brasil.
"A menopausa produz muitos sintomas que, juntos, podem afetar a libido. Por exemplo, aumentobr sportingbetpeso e o ressecamento vaginal, muito comum nesse período", acrescenta.
Mas, quando a terapiabr sportingbetreposição hormonal convencional não funciona, a testosterona pode ter um papel a cumprir, opina Currie - "especialmentebr sportingbetcasosbr sportingbetque a paciente vivenciou uma queda brusca na produçãobr sportingbettestosterona por ter tido seus ovários extraídos".
"Essas mulheres têm maior probabilidadebr sportingbetse beneficiar da testosterona - mas somente se a terapiabr sportingbetreposição hormonal comum não funcionar", ressalta a médica.
"Nem toda mulher que teve seus ovários extraídos precisará tomar testosterona", acrescenta.
A médica Helena Hachul, especialistabr sportingbetginecologia e medicina do sono, responsável pelo Setor Sono na Mulher da Unifesp, vem oferecendo a testosterona - quando a terapia clássica não funciona e se as condições clínicas do paciente não oferecem riscos, explica ela.
"Chego a usar terapia androgênica (com testosterona)br sportingbetcercabr sportingbet5% a 10% dos casos. Muitas mulheres pedem, vamos dizer, metade delas atualmente - acho que pela moda do tema. Mas quando explico as evidências e a linha acadêmica, elas aceitam sem problemas", assinala.
No entanto, o monitoramento da paciente é essencial, adverte Hachul.
"O androgênio pode piorar o perfil lipídico, aumentando o riscobr sportingbetdoenças cardiovasculares, por isso é importante acompanhar dosagensbr sportingbetcolesterol e a pressão sanguínea", diz.
Hachul tem, no entanto, uma visão positiva desse período na vida da mulher.
"Acredito que, exatamente após a menopausa, a mulher atinge a maior maturidade. Já é mais segura. Viveu bastante e tem muita experiênciabr sportingbetvida", nota.
A médica conta que trabalhou com pacientes na menopausabr sportingbetseu doutorado e se apaixonou por essa fase na vida da mulher. Essas mulheres, diz ela, "me ajudaram a ver o mundo com outros olhos".








