O jovem deficiente que conseguiu doutoradol bet on losing dogsFísica graças à ajuda das mãosl bet on losing dogssua mãe:l bet on losing dogs

Crédito, La Tercera
David Sebastián Valenzuela Díaz é um homem com sensol bet on losing dogshumor, que sorri com frequência e pede explicaçõesl bet on losing dogstudo. Ele gostal bet on losing dogsdesafiar seu interlocutor. Faz perguntas que exigem inteligência nas respostas. Pede explicações atél bet on losing dogsdetalhes. Mas jamais o fazl bet on losing dogsmaneira brusca. David Valenzuela é uma pessoa amável, um tipo caloroso.
É magro,l bet on losing dogscabelo escuro e sobrancelhas grossas.
Quando precisa se mover, as coisas são mais difíceis. Ele caminha firme, mas a seu modo: levanta rápido a coxa e a panturrilha, e dobra o joelho antesl bet on losing dogsapoiar o pé outra vez no chão. Primeiro uma perna, depois a outra. Assim, com paciência, como se estivesse marchando, segue seus passos.
Quando conversa, é preciso ouvi-lo com atenção, sem apressá-lo. Fala devagar e tem dificuldadel bet on losing dogsvocalizar algumas letras.
Suas palavras às vezes podem sair engasgadas. Seus movimentos nas pernas e nos braços nem sempre são fluidos. Masl bet on losing dogsmente é veloz.
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Sara Díaz él bet on losing dogsCopiapó, no Chile. Aos 18 anos, mudou-se para Antofagasta, para estudar Pedagogial bet on losing dogsHistória. Lá conheceu Francisco Valenzuela, que era da Força Aérea. Eles se casaram, formaram família e Sara engravidou. Uma gravidez sem problemas, ela conta.
Tinham concordado que o bebê nascerial bet on losing dogsCopiapó. Quando tinha oito meses e uma semanal bet on losing dogsgravidez, enquanto fazia exercícios num consultório, Sara teve um sangramento no nariz. Sua pressão disparou. Orientaram que repousasse, mas ela não melhorou. Nesse mesmo dia, ela foi internada e preparada para uma cesáreal bet on losing dogsemergência.
"Ao aplicarem a anestesia, a pressão foi ao chão", lembra Sara. "Por isso ocorreu o problema com David. Porque quando há menos pressão, há também menos oxigênio no corpo. Ouvi os médicos discutirem antesl bet on losing dogstirarem o bebê. Um dizia que o bebê estava sofrendo; outro dizia que eu também estaval bet on losing dogsrisco", lembra Sara.
David Valenzuela nasceu a 20 minutos para a meia-noitel bet on losing dogs11l bet on losing dogssetembrol bet on losing dogs1986; e não chorou. Por causa da asfixia ao nascer, teve uma nota baixa no testel bet on losing dogsApgar, exame clínico que avalia a vitalidadel bet on losing dogsum recém-nascido. O filhol bet on losing dogsSara somou entre 2 e 4 pontos. O normal é a partirl bet on losing dogs7.
Com o passar das horas, começou a reagir. Respirou sozinho. Começou a mover-se. Mantiveram-no vários dias na incubadora; e o neonatologista aconselhou Sara que o observasse pelos meses seguintes. Disse a ela que a asfixia tinha sido considerável.
Sara se dedicou à tarefal bet on losing dogsobservar seu filho. E começou a notar coisas: que ele não choraval bet on losing dogsfome ou frio; que não podia se sentar, pois o corpo caía para um lado; que quando ela pegava seus braços, ele se levantaval bet on losing dogsposição rígida. Depoisl bet on losing dogsconsultar vários médicos, um neurologista infantill bet on losing dogsSantiago (do Chile) foi direto, disse que o menino tinha uma lesão que afetava todas as suas extremidades e sugeriu que fosse imediatamente submetido a um processol bet on losing dogsreabilitação. David tinha 1 anol bet on losing dogsidade.
Sara Díaz se lembra: "Eu perguntei se o menino ia caminhar, e o médico me disse que a pergunta certa era se ele ia se deslocarl bet on losing dogsalguma forma, e ele acreditava que sim. Perguntei se ia falar. Ele me disse que a pergunta certa era se ia se comunicar, e ele acreditava que sim, porque era um menino cheiol bet on losing dogsvida".
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Crédito, La Tercera
David Valenzuela é inspirado. Qualquer história, qualquer pensamento, ele conta com um poucol bet on losing dogspoesia. Como quando se lembra da infâncial bet on losing dogsCopiacó, coml bet on losing dogsmãe e uma tia lhe ensinando as cores, as letras, os números, as figuras geométricas. Ele tinha sonhosl bet on losing dogsque era pilotol bet on losing dogsavião.
"Me custou a entender este sonho. Demorei 20 anos para entendê-lo. Porque no final das contas o avião sou eu, e tenho que batalhar. De uma oul bet on losing dogsoutra forma sou o piloto. Eu conduzo este corpo e devo ultrapassar seus limites; ou seja, voar. Sempre tive consciência da minha deficiência e no final entendi porque sonhava com um avião: porque meu espírito deve ser livre. Meu avião é meu espírito, que deve voar.
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Ele entrou para o colégio aos 7 anos, no segundo ano básico. Pelo estímulo recebidol bet on losing dogscasa, já sabia ler e seu nívell bet on losing dogsmatemática -l bet on losing dogsmatéria favorita - correspondia al bet on losing dogsum aluno do sétimo ano. Como na escola não permitiram quel bet on losing dogsmãe o acompanhasse, Sara contratou uma assistente para que ficasse com ele nas horas escolares. O menino falava com muita dificuldade, não caminhava sozinho - só faria isso ao completar 13 anos - e não escrevia. Precisaval bet on losing dogsalguém a seu lado para o ajudar a se locomover, tomar notas, que o levasse ao recreio e lhe desse a merenda.
Terminou o básico com média 7. Sua mãe não quis que fosse dispensadol bet on losing dogsnenhuma matéria, nem mesmo educação física: desenvolveram para David uma rotina especial - sem corridas ou obstáculos - pela qual era avaliado. Os êxitos acadêmicos se repetiram na escola Mercedes Fritis,l bet on losing dogsCopiapó, onde terminou com 6,9 e prêmiol bet on losing dogsmelhor aluno. Nesses anos, teve o acompanhamentol bet on losing dogsuma assistente para fazer o que o corpol bet on losing dogsDavid não era capaz.
David Valenzuela passou anos pensando o que queria ser na vida: físico. Sua mãe, que achava que uma carreiral bet on losing dogshumanas seria mais fácil para um deficiente, não conseguiu dissuadi-lo. A decisão estava tomada.
Quando seu filho estava no último ano do colégio,l bet on losing dogs2004, viajaram a Santiago e chegaram ao campus San Joaquín da Universidade Católica (UC). Ali funciona a Faculdadel bet on losing dogsFísica. Tiveram uma entrevista com o diretorl bet on losing dogsensino, Rafael Benguria.
A mãe expôs suas apreensões. Especialmente pelos trabalhosl bet on losing dogslaboratório, que requerem habilidades motoras refinadas. Benguria a tranquilizou: David seria muito bem-vindo. E com relação aos laboratórios, o acadêmico foi prático: ali os trabalhos eram feitosl bet on losing dogsduplas; e David podia ser o que pensava e o outro, o que executava as funções.
No ano seguinte, David conseguiu a pontuação na PSU (equivalente ao vestibular brasileiro) para entrarl bet on losing dogsFísica na UC e se tornou o primeiro deficiente a cursar a carreira na universidade.
Seu pai ficoul bet on losing dogsCopiapó; ele el bet on losing dogsmãe se mudaram para Santiago. Alugaram um pequeno apartamento nos arredores do campus, o mesmol bet on losing dogsque vivem há 12 anos. E não era apenas isso. Sara se tornaria as mãos que David precisava - pois ele não pode usar as suas - para seguir seu sonhol bet on losing dogsse tornar físico.
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David Valnzuela desenvolveu uma noção próprial bet on losing dogsfelicidade. Sua mãe diz que David acorda todo dia feliz, que não reclamal bet on losing dogsnada, que sempre devolve um sorriso.
Ele diz que é pelo seguinte: "Ser feliz é uma decisão, não algo que ocorre às vezes. Ser feliz é aprender a navegar pelas estrelas. A gente normalmente busca o dia, o sol, e se desespera com a escuridão. Mas a pessoa realmente feliz olha para as estrelas e segue caminhando. A felicidade não é uma emoção, é um estadol bet on losing dogsconsciência. É libertar-sel bet on losing dogstudo. É igual à chuva, à noite, ao inverno. Eu sou feliz porque decidi sê-lo. Aprendi a navegar na noite, entre as estrelas".
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Na universidade, David Valenzuela não precisou maisl bet on losing dogsassistentes que o acompanhassem às aulas. Esse papel foi assumido porl bet on losing dogsmãe, autorizada pela UC, porque era quem mais conhecia seu filho, quem melhor sabia guiá-lo e que cuidarial bet on losing dogsseu estado físico. Nesse último quesito, era insubstituível. Desde que seu filho era criança, Sara fez todos os exercícios aconselhados por terapeutas. Chegou a comprar um atlas da anatomia humana.
"Para estimularl bet on losing dogsboca tinha que fazer movimentos circulares, porque os músculos dali funcionam dessa forma. Para falar, são usados 32 músculos diferentes", diz, como especialista.
Durante os cinco anosl bet on losing dogsestudosl bet on losing dogsgraduação universitárial bet on losing dogsseu filho, Sara foi com ele a todas as aulas. Eles se sentavam juntos, sempre na frente. Ela anotava o que os professores escreviam no quadro negro, enquanto David escutava o que era explicado.
Sara escrevia; David prestava atenção. Sara conferia fórmulas, sinais e números que não entendia; David - que é rápido para os cálculos mentais e tem uma memória privilegiada - resolvia os exercíciosl bet on losing dogscabeça. Sempre tinha o resultado antes quel bet on losing dogsmãe terminassel bet on losing dogsescrever.
"Eu fui as mãosl bet on losing dogsDavid. Anotava tudo, que é o que fazem as mãos, embora não entendesse. Também não me esforcei para entender; não queria que o meu conhecimento interferisse no do meu filho. Me limitava a escrever o texto do quadro e, nas provas, a anotar o que David me dizia. Ele era o cérebro", disse Sara.
David concorda. "Na prática, foi assim. Eu prestava atenção, ela escrevia. O que não quer dizer que ela não entenda. Quando alguém quer entender, entende."
Mãe e filho assistiram juntos às aulasl bet on losing dogscálculo, álgebra, geometria, mecânica clássica, equações diferenciais e teoria eletromagnética, entre outras. David terminou o curso com 6,1. Entre os "top 10"l bet on losing dogssua geração.
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Em 2011, David começou seu doutoradol bet on losing dogsFísica. Nos cinco anos seguintes, cada vez que tinha uma aula,l bet on losing dogsmãe o acompanhava. Sempre da mesma forma: ela escrevia, ele escutava. Terminoul bet on losing dogsjunho do ano passado, com nota 7 eml bet on losing dogstese. Hoje está se candidatando a um pós-doutorado, que pode serl bet on losing dogsValdívia, ou no México.
"Ou onde quer que seja", diz David. Sua mãe disse que o acompanhará. Que é um compromisso. Que estará com ele até que seu filho consiga ter uma vida independente num lugar com as comodidades necessárias àl bet on losing dogsdeficiência.
"Ainda que...", diz Sara, antesl bet on losing dogsrespirar fundo e continuar. "Ainda que acredite que sempre vamos viver juntos. Tenho minha vida feita com ele. Nunca me rebelei nem perguntei a Deus por que comigo. Eu me sinto abençoada com o meu filho".
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Entre os pensamentos inspiradosl bet on losing dogsDavid, não pode faltar um sobre a física:
"A física nascel bet on losing dogscontemplar a natureza. Mas hoje, que aulal bet on losing dogsfísica inclui contemplar a natureza, pelo menos um dia? Nunca me levaram para passear numa aulal bet on losing dogsfísica. Sempre foi como a matemática, mas isto não é física. Tem que sair para contemplar a natureza, daí surge tudo. Se isto é esquecido, a física se torna puro número. Melhor sair para passear, olhar o céu, olhar um pássaro. Isso é física para mim."
Algo disso está na dedicatória que fez eml bet on losing dogstesel bet on losing dogsdoutorado. Um parágrafo que faria alguns colegas torcerem o nariz, mas que deixou David Valenzuela feliz, e que diz isso:
"Ao pasto, às plantas, por me dar o descanso quando estou esgotado. Aos animais, por alegrar-me a cada dia. Graças à Terra, por me ensinar que depoisl bet on losing dogscair no chão, aprende-se a se levantar. À água, por me ensinar a flutuar, a me ajustar, a me expressar sem medo. Ao ar, aos ventos, por me ensinar que grandes mudanças são originadas por ações pequenas, imperceptíveis, mas constantes. Ao fogo, por me ensinar que nada é mais poderoso que a vontade. E como diz um trecho do poema 'Invictus', atribuído a William Ernest Henley: 'Agradeço a quaisquer sejam os deuses por minha alma inconquistável'".
l bet on losing dogs * Este artigo foi originalmente publicado no jornal 'La Tercera' do Chilel bet on losing dogs2 l bet on losing dogs 6 l bet on losing dogs l bet on losing dogs l bet on losing dogs maio l bet on losing dogs l bet on losing dogs201 l bet on losing dogs 7 l bet on losing dogs . A BBC reproduziu o texto coml bet on losing dogsautorização.








