A história que deu origem ao mito da ligação entre vacinas e autismo:wazamba saque pix

  • Paula Adamo Idoeta - @paulaidoeta
  • Da BBC Brasilwazamba saque pixSão Paulo
Vacina

Crédito, Fundação Oswaldo Cruz

wazamba saque pix O dia 26wazamba saque pixfevereirowazamba saque pix1998 marcou o iníciowazamba saque pixuma desconfiança internacional sobre vacinas que reverbera até hoje, quase 20 anos depois.

Foi naquele dia,wazamba saque pixLondres, que o médico Andrew Wakefield apresentou uma pesquisa preliminar, publicada na conceituada revista Lancet, descrevendo 12 crianças que desenvolveram comportamentos autistas e inflamação intestinal grave. Em comum, dizia o estudo, as crianças tinham vestígios do vírus do sarampo no corpo.

Wakefield e seus colegaswazamba saque pixestudo levantaram a possibilidadewazamba saque pixum "vínculo causal" desses problemas com a vacina MMR, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba e que havia sido aplicadawazamba saque pix11 das crianças estudadas.

Wakefield reconhecia que se tratava apenaswazamba saque pixuma hipótesewazamba saque pixque as vacinas poderiam causar problemas gastrointestinais, os quais levariam a uma inflamação no cérebro - e talvez ao autismo. Foi o suficiente, porém, para que índiceswazamba saque pixvacinaçãowazamba saque pixMMR começassem a cair no Reino Unido e, mais tarde, ao redor do mundo.

Essa história está sendo resgatada por um livro recém-lançado no Brasil, Outra Sintonia,wazamba saque pixque os autores John Donvan e Caren Zucker narram a história do autismo na sociedade. O livro dedica um capítulo inteiro à polêmicawazamba saque pixtorno das vacinas - num momentowazamba saque pixque, no Brasil e no mundo, debates sobre vacinação continuam fortes.

Na Europa, uma epidemiawazamba saque pixsarampo resultante da queda da imunização teve ao menos 500 infectados no primeiro trimestre deste ano e deixou as autoridadeswazamba saque pixalerta. Em resposta, países como Itália e Alemanha passaram a discutir punições para quem deixewazamba saque pixvacinar seus filhos.

Andrew Wakefield

Crédito, Getty Images

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Andrew Wakefield, autorwazamba saque pixestudo sobre autismo e vacinas, quando foi julgado 'inapto' para o exercício da medicina

No Brasil, alguns pais se reúnemwazamba saque pixgruposwazamba saque pixFacebook e WhatsApp para discutir seus temoreswazamba saque pixrelação às imunizações. As preocupações vãowazamba saque pixefeitos colaterais das injeções à segurança das doses;wazamba saque pixpossíveis benefícios à indústria farmacêutica ao medowazamba saque pixque as vacinas múltiplas exponham os bebês a uma carga excessivawazamba saque pixsubstâncias.

De volta ao livro, nos anos seguintes ao estudowazamba saque pixWakefield, a polêmica chegou aos EUA. Lá o vínculo com o autismo não foi feito com a MMR, mas sim com o timerosal, componente antibactericida que está presentewazamba saque pixalgumas vacinas.

Foram necessários muitos anoswazamba saque pixdebate para que ambas as teorias fossem desmontadas e para que o elo entre autismo e vacinas fosse descartado pela comunidade científica.

'Irresponsável'

Em 2004, o Institutowazamba saque pixMedicina dos EUA concluiu que não havia provaswazamba saque pixque o autismo tivesse relação com o timerosal. "Aliás, na Dinamarca, o timerosal fora retirado das vacinaswazamba saque pix1992, mas o autismo estava mais prevalente do que nunca", escrevem Donvan e Zuckerwazamba saque pixseu livro.

A conclusão foi reforçada por análises na Califórnia, onde o timerosal foi tirado da composição das vacinas no início dos anos 2000. E, no entanto, a prevalência do autismo aumentou por aliwazamba saque pix2007.

Quanto a Wakefield, tambémwazamba saque pix2004 descobriu-se que antes da publicação do artigo na Lancet,wazamba saque pix1998, ele havia feito um pedidowazamba saque pixpatente para uma vacina contra sarampo que concorreria com a MMR, algo que foi visto como um conflitowazamba saque pixinteresses.

Capawazamba saque pix'Outra Sintonia'

Crédito, Divulgação

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Livro resgata a história que fez com que o autismo fosse ligado à polêmica das vacinas

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Mas as acusações foram muito além disso: no estudo original, Wakefield dizia haver vestígios do vírus do sarampo nas 12 crianças pesquisadas. No entanto, um médico que o auxiliou no trabalho veio a público dizer que, na verdade, não havia encontrado o víruswazamba saque pixnenhuma delas - e que Wakefield ignorou essa informação para não prejudicar o estudo.

Em 2010, o Conselho Geralwazamba saque pixMedicina do Reino Unido julgou Wakefield "inapto para o exercício da profissão", qualificando seu comportamento como "irresponsável", "antiético" e "enganoso". E a Lancet se retratou do estudo publicado uma década antes, dizendo que suas conclusões eram "totalmente falsas".

Por fim, a entidade americana Autism Speaks, dedicada a estudos e debates sobre o autismo, decidiu se posicionar a favor da vacinação. "Vacinas não causam autismo", escreveu a entidadewazamba saque pixseu sitewazamba saque pix2015. "Pedimos encarecidamente que todas as crianças sejam vacinadas."

Imunidade coletiva

No Brasil, estudiosos têm observado na última década um movimento, sobretudo nas classes A e B,wazamba saque pixpais que evitam vacinar seus filhos.

"Pelos dados que temos, são pessoas que têm acesso a informação e levantam a associação entre a vacinação e algumas patologias, apesarwazamba saque pixmuitos estudos comprovarem que essa relação não existe", diz à BBC Brasil José Cássiowazamba saque pixMoraes, especialistawazamba saque piximunização e professor da Faculdadewazamba saque pixCiências Médicas da Santa Casawazamba saque pixSão Paulo.

Bebê sendo vacinado

Crédito, Fiocruz Imagens

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Médico diz que não há problemaswazamba saque pixdar diversas vacinaswazamba saque pixuma só vezwazamba saque pixcrianças

A pediatra Carolina Luisa Alves Barbieri conversou com diversos desses pais parawazamba saque pixtesewazamba saque pixdoutorado sobre vacinação, defendidawazamba saque pix2014 na Faculdadewazamba saque pixMedicina da USP.

"Os casais que não vacinaram relataram sentimentowazamba saque pixmedo diante da perdawazamba saque pixautonomia nas decisões sobre a saúdewazamba saque pixseus filhos", escreve Barbieri emwazamba saque pixtese.

Ela cita, por exemplo, um casal que decidiu não dar a vacina da gripe a seu filho por insegurança com "vacinas novas"; ou outro que escolheu quais vacinas dariawazamba saque pixseus bebês por causa das reações adversas que as injeções poderiam causar - evitando, por exemplo, a MMR "por medowazamba saque pixsua associação com o autismo"; há também uma mãe que decidiu pela não vacinação totalwazamba saque pixseus filhos porque "buscava um modowazamba saque pixvida mais natural, sem intervenções nem medicamentos".

Para José Cássiowazamba saque pixMoraes, a coberturawazamba saque pixvacinação do Brasil ainda é satisfatória, "mas se aumenta o númerowazamba saque pixpessoas suscetíveis (aos vírus), corremos o riscowazamba saque pixperder a imunidade coletiva".

'Um contamina dez'

Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacionalwazamba saque pixImunização do Ministério da Saúde, argumenta que o medo dos pais por possíveis efeitos adversos da vacina não pode se sobrepor ao perigo, muito mais grave, da doençawazamba saque pixsi.

"A diminuição da mortalidade infantil no Brasil se deve à vacinação", argumenta à BBC Brasil. "E não procede achar que 'meu filho é bem nutrido e não precisawazamba saque pixvacina'. Ainda temos no mundo casoswazamba saque pixpólio e sarampo, como mostra o surto na Europa. Com o livre-comércio e turismo, sempre há a chancewazamba saque pixse pegar e passar adiante."

"Uma pessoa com sarampo, por exemplo, consegue contaminar outras dez. E é uma doençawazamba saque pixelevada mortalidade e sequelas importantes, como cegueira e surdez", prossegue.

Ainda assim, Domingues acredita que as oscilações nos índiceswazamba saque pixvacinação se devem mais à "desinformação" do que a uma contrariedade às vacinas.

"Muitos pais já não veem mais algumas doenças acontecerem e acham que não precisam mais vacinar", diz ela. "No ano passado, quando houve surtowazamba saque pixinfluenza, a cobertura da vacina da gripe chegou a 96% no Brasil. Neste ano, porém, só nove Estados tiveram uma cobertura acimawazamba saque pix90%."

Criança com sarampo

Crédito, Getty Images

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Europa viu o retorno do sarampo após baixa na imunização

Moraes diz também que as rotinaswazamba saque pixmães e pais que trabalham precisam ser levadaswazamba saque pixconta.

"Às vezes há dificuldadeswazamba saque pixacesso ao sistemawazamba saque pixsaúde pública: muitos pais não conseguem ir (durante o horáriowazamba saque pixexpediente) ao postowazamba saque pixsaúde dar as vacinas, o que diminui a cobertura, por exemplo, das doseswazamba saque pixreforço ou das que são dadas quando a criança tem um anowazamba saque pixidade."

Segundo o especialista, muitos dos questionamentos que afastam os pais da vacinação têm resposta.

Ele argumenta que as doses múltiplaswazamba saque pixvacinas não causam problemaswazamba saque pixbebês. "Quando a criança nasce, entrawazamba saque pixcontato com milhareswazamba saque pixsubstâncias novas. Ela dá conta com folga do volumewazamba saque pixantígenos (presente nas vacinas múltiplas)."

Sobre o timerosal, que causa temores por causa do mercúrio,wazamba saque pixfato a substância pode causar problemas neurológicos, maswazamba saque pixdoses mais altas. "A vacina tem uma dose mínima, ewazamba saque pixqualquer forma o timerosal é só usado para as multidoses (em que um mesmo frasco serve para vacinar múltiplos pacientes), cada vez mais raras no Brasil."

Em relação às críticas à indústria farmacêutica, Moraes afirma que "uma parcela importante das vacinas brasileiras é feita por laboratórios públicos, como o Butantan. É claro que há interesses comerciais, mas acredito que a exigênciawazamba saque pixsegurança para vacinas seja maior do que para os medicamentos comuns".

Hoje, segundo a OMS, as vacinas salvamwazamba saque pix2 a 3 milhõeswazamba saque pixvidas por ano no mundo.