'Como posso comer se estou morto?' - as pessoas que vivem com a síndrome do 'cadáver ambulante':bayern rb leipzig

  • By Pippa Stephens
  • BBC World Service
Desenhobayern rb leipzigcérebro
Legenda da foto,

Um grande númerobayern rb leipzigfatores contribui para que a Síndromebayern rb leipzigCotard se desenvolva | Empics

bayern rb leipzig "Foi um períodobayern rb leipzigabsoluta escuridão. Eu acreditava que tinha morrido." Recuperando-sebayern rb leipzigum sério acidentebayern rb leipzigmoto, Warren McKinlay começou a pensar que não existia mais, que estava morto.

Então, o soldado britânico paroubayern rb leipzigcomer porque achava que não precisava mais.

"Terapeutas podiam até tentar falar comigo, mas eu dizia: por que tentar melhorar se eu estou morto?", conta ele.

"Eu não sentia a necessidadebayern rb leipzigcomer, não sentia fome. Quanto mais eles tentavam me convencer a comer, menos eu queria. Achava que estavam tentando me enganar", diz o soldado.

"Eu não via a necessidadebayern rb leipzigcomer pelo mesmo motivo que me fazia não querer colaborar com a reabilitação. Pensava: 'por que vou comer se estou morto?"

Warren,bayern rb leipzig36 anos, vivenciou a síndromebayern rb leipzigCotard, também conhecida como síndrome do cadáver ambulante - um problema psiquiátrico que afetou menosbayern rb leipzig100 pessoas no mundo desde que foi descrita pelo neurologista francês Jules Cotard,bayern rb leipzig1880.

Quem apresenta a síndrome acredita que está morto, ou apodrecido e que seus órgãos desapareceram ou necrosaram.

Warren McKinlay
Legenda da foto,

Pacientes como o soldado britânico Warren McKinlay acreditam que estão mortos ou que seus órgãos não existem mais (Foto: Warren McKinlay)

Casos como obayern rb leipzigWarren já foram relatadosbayern rb leipzigpaíses como China, Índia, México, Estados Unidos e Suécia. Essa ilusãobayern rb leipzig"morte" se apresentabayern rb leipzigdiferentes formas.

Um mexicano foi levado ao hospital depoisbayern rb leipzigdizer parabayern rb leipzigfamília que seu pênis havia diminuído até desaparecer. Aos médicos ele afirmou que não tinha mais olhos nem coração - alegava que eles haviam sido removidos por um médicobayern rb leipziguma salabayern rb leipzigemergência. O homem também dizia quebayern rb leipzigmão esquerda estava morta.

Em Portugal, após perder seu marido repentinamente, uma pensionistabayern rb leipzig66 anosbayern rb leipzigidade começou a ficar desconfiada: ela decidiu pararbayern rb leipzigcomer até quase morrerbayern rb leipzigfome, reclamando que seu esôfago e seu estômago estavam colados. Ela foi internadabayern rb leipzigum hospital depoisbayern rb leipzigperder 19 quilos.

Danos no cérebrobayern rb leipzigum paciente com a síndrome
Legenda da foto,

A Síndromebayern rb leipzigCotard pode estar ligada a danos no cérebro causados por traumas físicos (Foto: Jesus Bermudez-Ramirez)

Na Caxemira, uma donabayern rb leipzigcasabayern rb leipzig28 anos foi internada depoisbayern rb leipzigdizer que seu fígado estava podre e que seu coração e estômago não existiam mais. Ela dizia que não sentia seu corpo quando andava.

Já uma britânicabayern rb leipzig59 anos procurou ajuda médica, pois acreditava que era um cadáver podre e que suas pernas estavam caindo.

'Eu não tinha nenhum sentimento'

No caso do soldado Warren, ele acredita que seus delíriosbayern rb leipzigmorte decorrembayern rb leipzigcomo ele lidou com seu acidentebayern rb leipzigmoto.

Ele bateubayern rb leipziguma árvore quando voltava para casa depoisbayern rb leipzigum treinamento no exército britânico - o soldado estava prestes a embarcar para o Afeganistão. No acidente, Warren fraturou a pelvis e a coluna, alémbayern rb leipzigter danos no cérebro.

Warren McKinlay e Colin Turkington
Legenda da foto,

O soldato inglês Warren à direita, com o pilotobayern rb leipzigcorridas Colin Turkington (Foto: Warren McKinlay)

"Não me lembrobayern rb leipzignada. Não lembrobayern rb leipzigbater na árvore nembayern rb leipzigquebrar os ossos do meu corpo", diz o soldado, que teve uma filha durante a recuperação. "Eu esperava me lembrar do sentimentobayern rb leipzigdor, mas não conseguia. Eu não tinha nenhum sentimento, e era difícil me importar com qualquer coisa."

Segundo o soldado, a faltabayern rb leipzigmemória do episódio o fez acreditar que tinha morrido no acidente. Meses depois, ele foi internado no Headley Court, um hospital no sul da Inglaterra. Para ele, o local era como "uma salabayern rb leipzigespera fantasmagórica".

Warren McKinlay,bayern rb leipzigmulher Sarah and dois filhos
Legenda da foto,

Warren hoje dá risadas sobre o sentimento que tinha: ele achava que estava morto (Foto: Warren McKinlay)

"Homens e mulheres voltavambayern rb leipzigzonasbayern rb leipzigguerra (para o hospital) com ferimentos horríveis e com históriasbayern rb leipzigmortes, e eu acreditava que estavabayern rb leipziguma espéciebayern rb leipzigvida após a morte", conta ele.

Médicos e enfermeiros perguntavam por que, caso estivesse morto, ele havia escolhido ficarbayern rb leipzigum hospital e nãobayern rb leipzigoutro lugar. "Eu pensava que era uma punição", diz Warren.

Ter sofrido ferimentos no cérebro é uma das condições para o desenvolvimento da síndromebayern rb leipzigCotard. Outros indutores podem ser depressão severa e esquizofrenia, segundo Helen Chiu, professorbayern rb leipzigpsiquiatria na Universidade Chinesabayern rb leipzigHong Kong.

A síndrome também é associada ao Malbayern rb leipzigParkinson, febre tifóide, enxaqueca, esclerose múltipla e complicaçõesbayern rb leipzigtransplantebayern rb leipzigcoração.

Warren McKinlay
Legenda da foto,

Apesar da síndrome afetar pessoas mais velhas, como Warren McKinlay, há registrosbayern rb leipzigcasosbayern rb leipzigadolescentes e crianças (Foto: Warren McKinlay)

"Alémbayern rb leipzigrazões biológicas, fatores psicológicos e sociais também são relevantes", explica o professor Chiu. "A personalidade, família, circunstâncias financeiras e sociais, alémbayern rb leipzigeventos da vida da pessoa vão moldar como serão os delírios (de morte)", diz.

Essas imagens podem durar semanas ou mesmo anos. Apesar da síndrome afetar pessoas mais velhas, há registrosbayern rb leipzigcasosbayern rb leipzigadolescentes e crianças.

Não há causas únicas da síndromebayern rb leipzigCotard, no entanto. Muitos dos estudos científicos sobre a doença são baseadosbayern rb leipzigcasos individuais, devido àbayern rb leipzignatureza rara.

CT scam

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Pessoas com a síndrome podem ter passado por acidentes traumáticos

Segundo estudobayern rb leipzig2010, liderado por Jesús Ramírez-Bermúdez, do Instituto Nacionalbayern rb leipzigNeurologia e Neurocirurgia do México, a síndromebayern rb leipzigCotard pode ser um resultadobayern rb leipzigdois fatores combinados: pacientes que sofreram acidentes traumáticos, como o casobayern rb leipzigWarren, podem desenvolver um sentimentobayern rb leipzigvazio.

Essa sensação, combinada com a perdabayern rb leipzighabilidadebayern rb leipzigacreditarbayern rb leipzigalgo e o sentimentobayern rb leipzigculpa, pode resultar na Cotard, segundo o estudo.

Cérebros com a Síndromebayern rb leipzigCotard
Legenda da foto,

Problemasbayern rb leipzigmetabolismo e danos no cérebrobayern rb leipzigáreas responsáveis por controlar o raciocínio podem causar o problema (Foto: Cortex)

Razões neurológicas incluem baixa atividade metabólicabayern rb leipzigregiões do cérebro responsáveis pela introspecção, redução ou aumento do tamanho do cérebro, danos logo atrás da testa - região importante para controlar o raciocínio e o comportamento.

Warren diz que encontrar outro portador da síndrome o ajudou a se recuperar. Depoisbayern rb leipzigvoltar para a casabayern rb leipzigsua família, ele começou a melhorar.

"É um pouco inadequado dizer isso, mas hoje dou risada quando penso sobre o que aconteceu", diz.