As mulheres nas sanguinárias gangues da América Central:conta da betano

Uma das bases do Barrio 18,conta da betanoSan Pedro Sula, Honduras
Legenda da foto, Mulheres são poucasconta da betanogangues, mas realizam tarefas vitais. Mesmo assim, são consideradasconta da betanosegunda categoria | Foto: Leire Ventas

Minha infância foi realmente uma m*rda."

Em uma horaconta da betanoentrevista, Teresa* só demonstrou emoçãoconta da betanoduas ocasiões: quando se lembrou da infância e quando contou sobre os filhos.

No resto do tempo, era como se ela não estivesse relatando cenasconta da betanoespancamentos, torturas, assassinatos, mas, sim, uma espécieconta da betanorotina diária.

Ela tem 27 anos e um metro e meioconta da betanoaltura. Chega com o rosto lavado e os cabelos presosconta da betanoum raboconta da betanocavalo. O figurino - calça jeans, casaco esportivo e sapatilha nova - esconde as diversas tatuagens que tem no corpo.

Quem vê Teresa custa a acreditar que ela cumpre penaconta da betano198 anosconta da betanoprisão por uma sérieconta da betanoassassinatos e outros crimes, como extorsão.

Ela é uma das poucas mulheres membros da gangue Barrio 18.

Barrio 18 e Mara Salvatrucha 13 são duas facções rivais que atuam no Triângulo do Norte da América Central, formado por El Salvador, Guatemala e Honduras, colaborando para a escalada da violência na região.

Ser mulher e pertencer por vontade própria a um desses grupos é raro.

Talvez seja por isso que pouco tenha se falado sobre elas até hoje,conta da betanocomparação aos diversos artigos jornalísticos e acadêmicos publicados sobre os integrantes homens.

A maioria das mulheres não ocupa um papel central na estrutura das facções e se limita a realizar tarefas periféricas, embora vitais.

Apesar disso, os membros do sexo masculino as consideram figurasconta da betanosegunda categoria.

Assim, o sistema patriarcal que prevalece nas comunidades vizinhas é reproduzido dentro das gangues - e as mulheres também se tornam alvoconta da betanoviolência extrema.

A BBC Mundo viajou para a América Centralconta da betanobuscaconta da betanorelatos para tentar entender o papel duplo -conta da betanoalgozes econta da betanovítimas - desempenhado por essas mulheres.

Teresa foi entrevistada no Centroconta da betanoOrientação Feminina (COF), uma prisão para mulheres, no municípioconta da betanoFraijanes, a 21 quilômetros da Cidade da Guatemala.

Mulheres e criançasconta da betanoRivera Hernández,conta da betanoSan Pedro Sula, Honduras
Legenda da foto, Mulheres e crianças são reféns da violência na regiãoconta da betanoRivera Hernández,conta da betanoSan Pedro Sula, Honduras | Foto: Leire Ventas

'Somos o cérebro da gangue'

"Minha família verdadeira é o Barrio 18. O sangue fazconta da betanovocê um parente, mas é o respeito da gangue que fazconta da betanovocê parteconta da betanouma família.

Eles me aceitaram porque eu conhecia as pessoas, porque minha mãe também era membro da gangue. Foi antesconta da betanoprenderem ela.

A primeira coisa que eu fiz foi vender droga nas escolas. Colocava meu uniforme e ninguém suspeitava.

Depois, eu comecei a recrutar membros para a gangue, especialmente criançasconta da betanorua.

Eu chegava e dava comida para eles. No outro dia, levava sapatos, o que eles precisassem. Assim, você ganha a confiança deles e pode pedir qualquer coisa. Que matem pela gangue, por exemplo."

Além disso, Teresa conta que também costumava "acompanhar" as vítimas até o local onde seriam assassinadas.

"É o que as mulheres costumam fazer, porque somos mais discretas, passamos despercebidas. Quem vai pensar que vamos matá-lo?

Pensam que somos mais frágeis. Que não suportamos. Mas não. E não somos submissas.

Somos o cérebro da gangue. Criamos o plano e eles executam. Apesarconta da betanoque, quando eu conto essa teoria aos meus colegas, eles riemconta da betanomim.

É por isso que eu quero ser um dos líderes. Até hoje, apenas homens são líderesconta da betanocélulas - e eu sou tão boa quanto eles.

Embora sejamos muito poucas, (as mulheres dentro da gangue) nos tratam bem, como irmãs.

Aquelas que executam determinados trabalhos, como extorsão, sem ser membros da gangue, estãoconta da betanosituação pior. Por causaconta da betanoum simples erro, eles podem matá-las. E se elas forem presas, como não têm mais serventia, eles as esquecem ou se livram delas.

Mas é verdade que ser mulher dentroconta da betanouma gangue é mais difícil às vezes.

Quando pulamconta da betanocimaconta da betanovocê, você tem que suportar, por exemplo, que os homens, que são mais fortes, te cubramconta da betanosocos e pontapés."

Uma das bases do Barrio 18,conta da betanoSan Pedro Sula, Honduras
Legenda da foto, Deixar-se espancar é um dos rituaisconta da betanoentrada para mulheres no Barrio 18; a outra opção é ser estuprada por diversos homens | Foto: Leire Ventas

Deixar-se espancar é um dos rituaisconta da betanoentrada nas gangues da região. Consisteconta da betanoaguentar apanharconta da betanovários membros do grupo durante um determinado tempo - 18 segundos (Barrio 18) e 13 segundos (Mara Salvatrucha 13).

Mas há também outro ritualconta da betanoiniciação para as mulheres, mencionado no relatório Violentas e violentadas: relaçõesconta da betanogênero na Mara Salvatrucha e Barrio 18 no Triângulo do Norte da América Central, publicadoconta da betano2013 pelo escritório regional para a América Latina da organização Interpeace.

Conhecido como "trenzinho", o ritual prevê manter relações sexuais com vários membros do grupo por um período similarconta da betanotempo. Mas, segundo o relatório, "praticamente todas (as mulheres) optam por serem espancadas, ao invésconta da betanoestupradas".

Teresa afirma que descartou a segunda opção.

"As punições dentro da organização também são difíceis para as mulheres.

Além disso, se você encontra alguém da gangue rival, você deve estar disposta a matá-lo. Não é porque você é mulher que você vai se livrar disso.

Por esse mesmo motivo, matamos igual (aos homens).

E torna-se um vício, uma droga. É como se você usasse crack: sempre quer voltar a fumar, econta da betanocada vez mais quantidade.

Quando eu estavaconta da betanooutra prisão, por exemplo, me mandaram matar uma detenta da gangue rival.

Eu mal a conhecia, você pode pensar. Mas os sentimentos negativos da infância são como uma espécieconta da betanomotor para ajudar a odiar quem não fez nada para você.

Agora eu olho para trás e talvez a única coisaconta da betanoque me arrependa sejaconta da betanoter levado meus filhosconta da betanouma missão."

Teresa tem dois filhos, uma meninaconta da betano10 anos e um meninoconta da betano8 anos. O pai das crianças também é membro da gangue e está preso.

Eles vivem com a avó dela. E, embora nunca tenham visitado a mãe, Teresa diz que estão sempreconta da betanocontato. Da prisão, ela cuida para que seja providenciado tudo que os filhos precisam -conta da betanopijamas a sapatos.

"Me lembroconta da betanouma vezconta da betanoque a missão era enganar um taxista que não pagou a extorsão e conduzi-lo à morte.

Eu levei a minha filha e sentei no bancoconta da betanotrás. Como ele poderia imaginar que eu o levaria para o matadouro?

Ele foi morto a tiros.

Os tiros... Minha filha ficou tão acostumada com aquele som...

Mas essa fase acabou.

Aqui (na prisão), a única coisa que eu faço é levantar por volta das 6h da manhã, tomar banho e ir para o pátio fumar maconha até as 10h.

Depois, tomo café da manhã, escovo os dentes e falo ao telefone. Dizem que você não pode ter um telefone celular aqui, mas (as pessoas) têm. "

Ela levanta a calça e me mostra as tatuagens na perna esquerda. Entre outros símbolos emblemáticos do Barrio 18, há a tatuagemconta da betanouma caveira com uma foice e um manto preto.

Ele explica que a única coisaconta da betanoque a gangue acredita, alémconta da betanoem si mesma, é na Santa Muerte, figura popularconta da betanoorigem mexicana que personifica a morte. Venerada por alguns, é classificada como diabólica por outros.

"Se já penseiconta da betanodeixar a gangue? Não. Porque seria uma ilusão.

É como um fio que te dão e vão afrouxando, ele se alonga, se alonga. Mas a qualquer momento podem cortá-lo.

Porque pela gangue você precisa estar disposto a tudo: a matar e a morrer."

Centroconta da betanoDetençãoconta da betanoMulheres Santa Teresa,conta da betanoGuatemala.
Legenda da foto, Gangues disputam poderconta da betanoregião entre El Salvador, Guatemala e Honduras | Foto: Leire Ventas

'Quando você é mulherconta da betanoum membro da gangue, ele te compartilha com todos'

Nas gangues da América Central, há poucas mulheres como Teresa, que pertencem à facção por vontade própria e tatuam no corpo os respectivos "números" (1 e 8, no caso do Bairro 18) e "letras" ( M e S, quando se trata do Mara Salvatrucha 13) das gangues.

A maior parte das mulheres não passaram por um ritualconta da betanoiniciação.

São esposasconta da betanomembros das gangues, que cuidam deles, criam seus filhos e mantêm o sensoconta da betanocomunidade enquantoeles vivem foragidos. São aquelas que os homens usam para "caçar" o inimigo, que os visitam na prisão e que levam ordensconta da betanouma penitenciária para outra. São seus olhos e ouvidos. São responsáveis ainda por cobrar extorsões e por reconhecer corposconta da betanomembros da facção no Instituto Médico Legal.

Jessica tem 26 anos, cabelos loiros e compridos, presosconta da betanoum raboconta da betanocavalo que ela balança enquanto fala.

De top e calçaconta da betanoginástica, ela recebe a equipe da BBC no pátio do Centroconta da betanoDetenção Femininoconta da betanoSanta Teresa, localizadoconta da betanoum complexo penitenciário da Cidade da Guatemala.

No último dia 17conta da betanonovembro, Jessica cumpriu oito dos 18 anosconta da betanoprisão a que foi condenada por extorsão.

Ela faz parteconta da betanoum grupoconta da betanocercaconta da betano80 mulheres ligadas ao Barrio 18 que estão presas na penitenciária e são mantidas isoladas "paraconta da betanoprópria segurança" e das demais detentas, conforme explica a subdiretora do presídio, Diana Marisol Simón.

Jessica se apresentaconta da betanoforma doce e sorridente, mas a personalidade combativa logo aparece, quando a conversa se volta para as relaçõesconta da betanopoder entre as detentas que carregam o fardo do Barrio 18. E, sobretudo, quando falamos sobre seu passado como esposaconta da betanoum membro da gangue.

Entrada do Centroconta da betanoDetençãoconta da betanoMulheresconta da betanoSanta Teresa,conta da betanoGuatemala
Legenda da foto, Esposasconta da betanomembros do Barrio 18 são mantidas isoladas na prisão por questãoconta da betanosegurança | Foto: Leire Ventas

"Eu já sabia que meu parceiro era membro da gangue. Sabia desde o início, mas gostava da adrenalina.

O que eu não tinha ideia era dos assassinatos. Só fiquei sabendo quando fui morar com ele. Eu tinha 16 anos, e ele 14. Ele começou nisso bem jovem.

Quando você é mulherconta da betanoum membroconta da betanogangue, ele te compartilha com todos.

Mas isso incomodava meu marido. Então, quando diziam: 'olha como ela é linda', ele falava para se ferrarem, que eu eraconta da betanoesposa. E não me deixava sair da casa.

Nós corremos duas vezes mais risco. Podemos ser mortas pela gangue rival para ferir nosso parceiro, porque tem que bater onde dói mais.

Mas também podemos ser mortas por nossa própria gangue, se acham que você os está espionando, que os entregou ou os traiu.

Ou podem dizer ao seu marido: 'Olha, ela sabe demais'. E pedir a ele para te matar. Aí você pode acabar com a garganta cortada."

Por causaconta da betanouma menina que terminou assim, o pastor evangélico Daniel Pacheco começou a conversar com as diversas gangues que controlama regiãoconta da betanoRivera Hernández.

Rivera Hernandez foi durante anos a região mais perigosaconta da betanoSan Pedro Sula, capital industrialconta da betanoHonduras, que até recentemente liderava as estatísticas dos municípios mais sanguinários do planeta.

"Quando Jessica tinha apenas 13 anos, foi torturada e estuprada por dias.Eles a enterraramconta da betanouma das bases da gangue, onde realizam as reuniões. Mas antes, enquanto a torturavam, chamaram a mãe dela, que teve que ouvir os gritos da filha. Foi exagerado. Algo tinha que ser feito", diz Pacheco.

Hoje, ele ganhou o respeito das gangues e um certo status nos bairros da região, tentando reduzir o nívelconta da betanobrutalidade.

Mas Jessica é cética.

"Com a gente, a violência é diária.

Porque eles também podem te matar se sabem que você está saindo com alguém que não é seu parceiro na gangue. Embora eles possam ter duas, três, quatro, até cinco mulheres.

E há outros tiposconta da betanocastigo.

Podem achar que por cometer um erro, a mulher não merece a morte. Então ela é violentada, por 10, por 20. Fazem o que quiser com ela.

Minha sorte é que não tive filhos com meu marido. Agora ele tem outra mulher. Mas se tivéssemos um filho, ele diria para eu entregá-lo e eu jamais poderia ir embora."

Segundo o relatório da Interpeace, as mulheres são constantemente controladas pelos homens, dentro e fora da gangues.

"Os homens não confiam plenamente nelas", afirma Ana Glenda Tager, diretora do escritório regional da organização.

"Eles as consideram fracas,conta da betano'língua frouxa', e as deixamconta da betanosegundo plano. Por isso, têm pouca chanceconta da betanoconseguir respeito e poder dentro das gangues. Nesses grupos, é reproduzido o sistema patriarcalconta da betanofora e isso também fica evidente na apropriação dos corpos dessas mulheres. Eles acham que o corpo delas é propriedade da gangue."

"É uma formaconta da betanocontrole brutal", conclui a especialista. Jessica sabe bem disso.

 "Se eu gostariaconta da betanoser um membro da gangue, ao invésconta da betanoesposaconta da betanoum dos integrantes? Não. Você precisa matar para isso. E eu sou da opiniãoconta da betanoque não se pode tirar a vidaconta da betanoninguém.

Embora eu tenha consciênciaconta da betanoque algumas extorsõesconta da betanoque participei tenham terminadoconta da betanoassassinato.

Quando eu sair daqui, vou me afastarconta da betanotudo isso. Eu vou para o mais longe possível. Para os Estados Unidos talvez."

E ela começa a imaginar o futuro, como se ainda não tivesse mais 10 anos atrás das grades.

Abigail
Legenda da foto, Abigail está na dúvida se deve voltar ao Barrio 18 depoisconta da betanocumprir a pena | Foto: Leire Ventas / Arte: Kako Abraham

'Não vou viver muitos anos'

Já Abigail* está longeconta da betanochegar às conclusõesconta da betanoJessica. No momento, está dividida entre "reintegrar-se" ou não ao Barrio 18, gangue que controla o bairro onde mora, na regiãoconta da betanoRivera Hernández.

Grávidaconta da betanotrês meses, ela recebeu uma advertência da facção: se não cuidar do bebê, a matarão.

"Eu me juntei a elesconta da betano26conta da betanodezembroconta da betano2016.

Comecei a fumar maconha com um cara da gangue (Bairro 18) na esquina. Logo perguntaram se eu queria me juntar a eles. E como minha avó tinha me expulsadoconta da betanocasa, aceitei. Eu só falei com um homem para entrar. Foi assim, nada mais."

Abigail termina cada frase com hesitação. Mantém a cabeça inclinada, a boca ligeiramente aberta e uma postura desafiadora - mãos no bolso da calça e pernas separadas.

Não reconhece a imagem que estampaconta da betanocamiseta - 'Che Guevara? Não faço ideia'.

Ao ouvir seu relato, não parece que ela tem apenas 14 anos e só estudou até o quarto ano do ensino fundamental.

Ela não conhece o pai e não vê a mãe desde a infância, embora suspeite que ela more no Norte, com outras filhas. Mas nunca pensouconta da betanoprocurá-la.

Abigail ficou com a avó, que ela diz ser alcoólatra. Ela conta que as duas brigavam com frequência e que a avó a expulsou diversas vezesconta da betanocasa.

Nestas ocasiões, ela afirma que conseguiu sobreviver porque um "velho" lhe pagava para lavar roupa. Mas quem a conhece diz que Abigail se prostituía por cercaconta da betanoUS$ 4, o que ela nega.

Histórias como a dela não são raras na região. Em um lugar onde a ausência do Estado impera, os moradores ficam à mercêconta da betanotodos os tiposconta da betanoviolência. E no casoconta da betanomeninas, adolescentes e mulheres adultas, predominam casosconta da betanoabuso sexual.

Neste contexto, a gangue surge como uma opçãoconta da betanopeso para os mais jovens.

Foi assim com o tioconta da betanoAbigail, que, segundo ela, se juntou ao Barrio 18 quando tinha nove anos. Agora, aos 15 anos, ele espera uma sentença do tribunal.

Abigail na janela
Legenda da foto, "Aqui você se acostuma com a violência", diz meninaconta da betano14 anos membroconta da betanogangue, diz Abigail | Foto: Leire Ventas

"Ele é acusadoconta da betanoextorsão. Não sei quantos anos vai pegar, mas o pior é que ele andava armado.

Eu não fazia isso. Apenas vigiava para ver se aparecia a polícia ou algum membro do MS-13, a gangue rival, e distribuía comida para as unidades (de vigilância). São cercaconta da betano10 que se revezam.

Uma vez também me mandaram para Tegucigalpa, por contaconta da betanodrogas. Não gostei."

Foi a única ocasiãoconta da betanoque Abigail saiuconta da betanoRivera Hernández.

"Na gangue, tudo é compartilhado. Se tiver um pratoconta da betanocomida, mas 10 pessoas, as 10 comem. Se alguém morre, dão dinheiro para o caixão, para o sepultamento... para tirar o peso dos familiares. Também mandam comida para os detentos, providenciam artigosconta da betanouso pessoal, como tênis. Cuidamconta da betanovocê.

Olha, não pedi permissão para deixar a gangue.

Mas recebi uma mensagem dizendo que eu estava desativada.

Se foi por causa do bebê? Não sei. Alguns acreditam nisso, mas outros dizem que é por causa do meu jeito."

Sobreconta da betanomaneiraconta da betanoser, ela não se estende muito. E tampouco faz referência à barriga que começa a despontar.

Menciona apenas que ainda não foi ao médico e que engravidouconta da betanoum membro da gangue, que não quer o bebê.

— E você, quer?

— Não.

Ela esboça um sorriso difícilconta da betanosaber se é inconsciente ou cínico.

— Melhor entregá-lo (para adoção).

Dito isso, ela me mostra a trouxinhaconta da betanomaconha que tem no bolso, um sinalconta da betanoque a gravidez não impede seus vícios econta da betanoque ela não tem intençãoconta da betanose cuidar. Custou 20 pesos (cercaconta da betanoUS$ 0,85), ela diz. E conta que também não parouconta da betanoir ao Bigote, cantinaconta da betanoque os moradores do bairro se reúnem para beber aos sábados.

Ela segueconta da betanocontato com a gangue.

Abigail come ove, arroz e feijão
Legenda da foto, Abigail está grávidaconta da betanotrês mesesconta da betanoum dos membros do Barrio 18, que não quer o bebê | Foto: Leire Ventas

"Agora eles disseram que posso ser reativada. Mas não sei.

Estou prestes a dizer não, porque como civil - como se chama quem não pertence a uma gangue - você pode se mudar. Do contrário, você só pode andar nesta colônia.

Além disso, é muito arriscado pertencer ao Barrio. É mais fácil te..."

Abigail completa a frase passando o polegar lentamente pelo pescoço, da esquerda para a direita, simbolizando com o gesto uma garganta cortada. É mais fácil te matarem, ela quer dizer.

"Aqui você se acostuma com a violência. Já vi um com a cabeça cortada, com o cérebro na mão.

Por isso, o que importa se eu me juntar a eles novamente ou não?

Provavelmente eu também não vou viver muito. Poucos aqui conseguem."

* Estes são nomes fictícios, usados para proteger a identidade das mulheres que contaram suas histórias.